[ANPPOM-L] Re: brasileiro vc norte-americano (era Choro)
silvio
silvio.ferraz em terra.com.br
Sex Mar 16 23:12:29 BRT 2007
pra mim não chateou não
foi meio uma aula
silvio
>Caro Silvio,
>Ótimas perguntas! São inteiramente pertinentes
>ao assunto da improvisação no choro, embora
>transbordem o tema em direção a outros pontos
>igualmente instigantes dessa polarização
>ianquetupiniquim.
>Alguns devaneios sobre improvisação e contraponto, lá e cá:
>O Jazz de New Orleans costuma ser considerado
>como a primeira manifestação do gênero, e o
>ragtime uma espécie de pré-história dessa
>música. Não se improvisava no ragtime, seu
>vínculo com o que viria a ser jazz é
>essencialmente rítmico (ragged time). Em New
>Orleans, como você bem sinaliza, estabeleceu-se
>uma prática de improvisação contrapontística,
>nos termos da orquestra típica: trompete com a
>melodia, trombone com notas de apoio harmônico e
>clarinete 'ponteando' entre os dois. Convém
>notar que o contraponto não desapareceu do jazz
>quando a livre improvisação coletiva foi
>preterida, em demanda da improvisação solista (é
>nesse momento que desponta, em Chicago, Louis
>Armstrong). Pouco tempo depois disso é a vez do
>'walking bass' reafirmar o uso de contraponto
>improvisado, linhas que se constroem na
>regularidade da semínima, como alicerce
>rítmico-harmônico do gênero. Os trios de Jimmy
>Giufree sem seção rítmica, e os quartetos sem
>piano de Gerry Mulligan, um deles com o tão
>comentado Chet Baker, são outros exemplos de
>contraponto, mais ou menos improvisado em cada
>caso.
>Mas todos improvisam no jazz standard, ou seja,
>não só o(s) solista(s) mas também os
>acompanhadores. O pianista de um combo bebop não
>segue esquemas pré-definidos para a harmonia,
>tratando instantaneamente a disposição do acorde
>na vertical e a conseqüente condução de vozes
>para o próximo, tocando acentos rítmicos,
>reações a todo tipo de impulso que vem do ‘em
>curso’.
>O desenvolvimento da improvisação melódica
>sintática no jazz, entretanto, parece ter
>seguido um rumo diferente da improvisação
>melódica no choro, que gravita mais em torno da
>melodia, ou recorre à variação. No jazz standard
>o que se busca é um texto alternativo ao
>original, que ganha relevância na medida em que
>possibilita ao ouvinte reconhecer a ‘estrada’,
>ao passo que segue o aventureiro por caminhos às
>vezes impensados. No regional também se
>improvisa, mas se um centro de cavaco começa a
>ficar muito saliente, ou a baixaria começa a
>subir demais, aí turma olha feio: “muito
>jazzístico”. Alguns chorões antigos se gabavam
>de não improvisarem, no sentido ‘jazzístico’,
>argumentando que não fariam uma melodia ‘mais
>bonita’ que a original. Nem precisa explicar que
>eles não entenderam o espírito da coisa, que não
>perceberam beleza no instantâneo, irreversível,
>muitas vezes defeituoso, vivo. Alguns jazzistas
>novos seguem desenfreadamente em direção a esse
>novo sem se preocuparem com o tema, que quando
>conhecido, serve-lhes como código compartilhado
>com a audiência.
>Nem tão lá nem tão cá, parece que recentemente o
>choro e o jazz tem-se aproximado mais.
>Quanto ao blues, a polca, às harmonias do
>primeiro jazz e do choro tradiça, o sentido da
>notação musical no jazz e na música popular como
>um todo, alguma 'invasão' jazzística anterior ao
>cakewalk de Debussy... aí fica pra uma próxima.
>Espero não ter chateado ninguém com essas coisas todas.
>abraços,
>hermilson
>
>
>silvio escreveu:
>>legal este debate sobre choro e origens e jazz
>>e aproveito a barca pra conhecer um pouco mais
>>desta história q parece instigante,
>>tenho uma série de perguntas:
>>- qual a data das primeiras partituras de jazz?
>>- quais as primeiras aparições do jazz na
>>música européia, é em debussy mesmo ou tem
>>coisa antes?
>>- me lembro de uma bonita palestra do bernstein
>>com orquestra e tudo em que fazia nascer um
>>blues de um coro cantando gloriagloriaaleluia,
>>a coisa vem por aí mesmo? a harmonia dos corais
>>protestantes e a pentatônica encavalada?
>>- os primeiros jazz eram em contraponto livro
>>como o new-orleans, q não é uma região de trad.
>>norte-americana mas francesa?
>>- ernesto nazreth conhecia jazz, e chiquinha gonzaga?
>>- as diferenças da harmonia do choro e da
>>harmonia do primeiro jazz, são facilmente
>>reconhecíveis ou é igual?
>>- qual a relação do jazz com a polca, com a mazurca, com as valsas?
>>imagino q sejam perguntas de out-sider, mas
>>realmente é interessante saber um pouco mais
>>sobre esta tradição..
>>abraços
>>silvio
>>________________________________________________
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>>________________________________________________
>
>
>
>HERMILSON G. NASCIMENTO
>Professor Assistente
>Universidade Federal de Uberlândia
>nascimento em fafcs.ufu.br
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