[ANPPOM-L] sobre pioneiros: os primeiros serão os últimos?

d_garcia em iar.unicamp.br d_garcia em iar.unicamp.br
Sáb Jul 4 15:56:00 BRT 2009


Querido Flô,

mesmo quando não temos identidade estética aos primeiros experimentos  
daqueles que foram nossos professores - por exemplo, as primeiras  
obras mistas de uma geração de compositores como as de Gilberto  
Mendes, quando mesmo se duvida (e o próprio compositor) que aquilo  
seja música eletroacústica - se pode negar a existência dessas  
realizações. O Laboratório criado por Conrado pode não ter deixado  
rastros materiais no Depto de Música da Unesp, mas deixou marcas muito  
concretas na formação de compositores, como por exemplo José Augusto  
Mannis e Wilson Sukorski.

A idéia da enquete é interessante, mas deveria se perguntar onde se  
faz: se na Bahia, se em Brasília, se no Rio de Janeiro, se em São  
Paulo, se em Porto Alegre... Sem dúvida, as referências em cada um  
desses lugares serão outras e não apenas o estúdio PANaroma. O Brasil,  
Flô não se resume a São Paulo e Rio de Janeiro.

Mesmo quando temos no Brasil por tradição, não ter memória, houve uma  
atividade intensa em difusão e criação de música eletroacústica nos  
lugares em que pesquiso (São Paulo e Rio) nos anos 80 - em São Paulo  
junto ao Núcleo Música Nova criado por Conrado Silva. Se a molecada de  
30 anos não sabe disso é porque não temos a nossa história bem  
documentada, o que começa a mudar com o desenvolvimento da pesquisa  
acadêmica junto aos Programas de Pós-Graduação das diversas  
universidades em todo o Brasil. Espero que cada região documente suas  
realizações para que possamos ter uma idéia mais abrangente e correta  
da história da música brasileira.

O seu livro não abriu o mundo para mim, Flô. Primeiramente, estudei na  
Alemanha de 79 a 84. Em segundo lugar, o meu conhecimento em francês,  
inglês e alemão me permite ler as fontes bibliográficas na língua  
original. Não me referi ao seu livro como um todo, eu me referi  
precisamente à cronologia que publicou no final do livro, que foi sem  
dúvida pouco RIGOROSA em termos musicológicos. Montar uma cronologia  
mundial da música eletroacústica é uma tarefa dificílima, que exige  
muita pesquisa. Abarcar tão amplo espaço de fatos é trabalho de anos.

Portanto, caro Flô, cada macaco no seu galho, não tenho nada que  
continuar ou melhorar as suas realizações. Você, como compositor e  
coordenador do PANaroma, continua aí o seu trabalho. Eu, no meu  
Departamento com as minhas atividades. Não tenho talento nem vontade  
de construir grandes estúdios, em produzir grandes eventos. Mas se  
assumo pesquisar e orientar pesquisas na área da música eletroacústica  
brasileira, sou por meu lado bastante rigorosa e tenho conhecimento  
para comentar afirmações errôneas que surgiram nesta lista.

um abraço,
Denise



Quoting Flo Menezes <flo em flomenezes.mus.br>:

> Denise Garcia,
>
> 'resgata-se' ou pode-se 'resgatar' algo de que existem ao menos traços,
> e, mesmo se existissem (não existiam!!!), algo com o qual se sente
> um mínimo de identidade estética.
>
> Quando não há traços, e quando o RIGOR estético leva você a um outro
> continente de atuação artística, fazem-se as coisas DO ZERO, como eu fiz!!!
>
> Sinto se incomodo por ter virado uma página na história que você, Denise,
> procura abordar na orientação a seus alunos, qual seja: a história da
> música eletroacústica em solo brasileiro. Aproveite para fazer uma enquete
> junto à geração que hoje está chegado aos 30, 35 anos e pergunte QUEM
> ouvia falar de COMPOSIÇÃO ELETROACÚSTICA antes das atividades que iniciei
> junto ao recém-fundado Studio PANaroma a partir de 1993/1994.
>
> Quanto ao primeiro livro em português sobre a ME (meu livro junto à Edudsp),
> que acaba de sair em segunda edição depois de estar esgotado há 8 anos:
> não foi o 'mundo que desaparaceu' em meu livro, como você afirma de maneira
> tão triste. Foi um MUNDO INTEIRO que se abriu ao público brasileiro:
> meu livro traz a todos, inclusive a VOCÊ, textos que nem sequer conhecíamos
> por aqui, pedras fundamentais da teoria história da música eletroacústica
> (Schaeffer, Stockhausen, Boulez, Berio, Pousseur e tantos outros...).
>
> Obrigado por afirmar que me torno centro em meio a tantos gênios.
> Você foi generosa comigo.
>
> Mas segue uma sugestão: dê continuidade ao que comecei!!!
> Faça ainda melhor!!!
> E quem sabe assim a música eletroacústica 'brasileira" decole de fato.
>
> abs
>
>
> On 4/7/09 12:46 PM, "d_garcia em iar.unicamp.br" <d_garcia em iar.unicamp.br>
> wrote:
>
>> Prezados colegas,
>>
>> Peço que desculpem pela longa mensagem que segue e sugiro para quem
>> não se interessa pelo assunto, que apague antes de ler, economizando
>> seu tempo e paciência.
>> Tampouco, como o Conrado, gosto de participar ativamente de colóquios
>> dessa ordem. Mas, como atuo como pesquisadora e oriento pesquisas na
>> área de história e análise da música eletroacústica brasileira, me
>> sinto no dever de participar.
>>
>> É muito triste que sejam publicados documentos com pouco rigor de
>> pesquisa musicológica. E se nota deslizes nesse sentido no caderno da
>> "Coletânea" - não apenas a dedução até lógica de que o estúdio
>> Panaroma seria fruto de um espaço institucional já aberto antes da
>> chegada de Flô Menezes à Unesp - mas também outros que não caberia
>> citar aqui, senão em um documento mais extenso e fundamentado.
>>
>> Mas se há deslizes na "Coletânea", não deixa de haver em documentos
>> publicados pelo próprio  Flô Menezes, como por exemplo, na sua
>> cronologia da música eletroacústica, publicada em seu livro "Música
>> Eletroacústica  - História e Estéticas", quando pontua apenas três
>> eventos brasileiros antes da década de 1990 e depois da década de 90
>> as atividades de Flô Menezes se tornam o centro da cronologia (mesmo o
>> resto do mundo desaparece)... Neste sentido, parece que, tanto na
>> "Coletânea" quanto em "Música Eletroacústica - História e Estéticas"
>> cada curador/autor tenha puxado a sardinha para o seu lado, dando uma
>> versão pessoal da história da música brasileira sem muito rigor
>> musicológico.
>>
>> Caro Flô,  ninguém desconhece o mérito de seu empreendimento e
>> produção à frente do PANaroma. É de se admirar a sua capacidade,
>> obstinação e sucesso em conseguir financiamento para ter construído o
>> Estúdio PANaroma na Escola Santa Marcelina, depois no I.A. Unesp na
>> sua antiga sede e agora a construção de um novo estúdio na nova e bela
>> sede do I.A. Unesp na Barra Funda. No Estado de São Paulo, o curso de
>> graduação da Unesp é o primeiro curso a ter implantado de fato a
>> formação em composição eletroacústica em nível de graduação, a partir
>> dos anos 90 de forma definitiva graças à atuação de Flô Menezes.
>> Também se deve observar que os Concursos internacionais de Música
>> Eletroacústica promovido pelo PANaroma levaram São Paulo para o
>> circuito internacional de difusão de música eletroacústica e que a
>> Bienal de Música Contemporânea de São Paulo traz para nós um panorama
>> importante da produção internacional.
>>
>> Mas mesmo não havendo sobrado sequer uma fita cassete dos tempos de
>> Conrado na Unesp, e que você tenha materialmente começado do zero,
>> você não pode desconhecer a história do Departamento onde atua e deve
>> saber que, tendo havido um trabalho anterior ao seu naquele espaço,
>> havia a disponibilidade para que ele fosse retomado e desenvolvido da
>> maneira admirável como você desenvolveu.
>>
>> Além disso, uma observação de outra ordem que me permito fazer aqui
>> pela amizade que tenho a você e ao Conrado, é que você não pode cobrar
>> de um professor de uma Universidade a responsabilidade pela produção
>> acadêmico/artística de outro professor da mesma universidade. Como que
>> o Conrado, em lealdade a você (!!!) iria interferir na publicação de
>> responsabilidade de Jorge Antunes?  Vê-se pelo estilo do texto
>> histórico da "Coletânea" que o autor fez entrevistas tanto com Conrado
>> Silva como com outros compositores. Depois de dada uma entrevista, o
>> entrevistado não pode ser responsabilizado pelo texto final, nem mesmo
>> tendo sido o autor um ex-aluno. Muito provavelmente, o entrevistado
>> fala de suas atividades e realizações; outras atividades e realizações
>> que vieram depois dele em uma mesma instituição não devem ter sido
>> informações dadas por ele.
>>
>> Enfim, me desculpem pela longa mensagem, mas é impossível acompanhar
>> essas discussões passivamente quando o assunto é nosso tema de pesquisa.
>>
>> um abraço,
>>
>> Denise Garcia
>> Depto. de Música I.A.
>> UNICAMP
>>
>>
>>
>>
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> Brasil
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> Chefe do Departamento de Música/Unesp;
> Compositor & Diretor Artístico do
> Studio PANaroma
> de Música Eletroacústica da Unesp
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> Telefone: ++55/11/4781-6775
> Celular: ++55/11/8282-0960
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