[ANPPOM-L] STF e OMB

mariomarcaljr mariomarcaljr em gmail.com
Sáb Ago 13 20:43:32 BRT 2011


Caro Maestro Jorge Antunes,

Concordo plenamente com o Sr. Rogerio Budasz em relação as suas afirmações, e acredito que há uma certa confusão nas argumentações que utiliza para justificar que a incompetência "técnica-musical" ou "artística-musical" (a esse ponto já não sei qual delas se refere, se é que existe um limite entre uma e outra)  possa causar um mal social.

Primeiro referente ao seu exemplo:
Se a pesquisa citada argumenta que jovens perderam parte de sua capacidade auditiva pelo fato de estarem expostos a um determinado volume de sons, isso não qualifica a qualidade da música em sí. 

O que quero dizer é que, no trio eletrico referido poderia ter um som de britadeira de uma música contemporânea interpretada por pedreiros, ou poderia ser a Filarmônica de Berlin interpretando a Nona Sinfonia de Beethoven, a qualidade musical nao estaria em julgamento. Ou seja, os jovens poderiam ter ficado surdos pelo volume de som e não pela qualidade músical ou competência técnico-artística.

Fato: não há como avaliar competência em arte, caso contrário a mesma se descaracterisa como arte e se transforma em ciência exata. 

No caso de querer que sua interpretação seja exatamente interpretrada como queres, o Sr. Rogerio foi muito claro citando Stravinsky.

Com relação a outros assuntos:

Acredito que a regulamentação obrigatória traz mais danos a sociedade e a cultura não só do país como à história da música no mundo, do que a não regulamentação.
 
Não esqueçam que estamos tratando aqui da Ordem dos Musicos do Brasil, que compreende todo o território nacional e todos que vivem de fazer música (ou seja, arte), e que não há possibilidade alguma de se nivelar musicos de diferentes regiões, classe social, estilo, gênero, etc, etc, em um país tão grande e rico em diversidade cultural quanto o nosso. 

Imagine que um repentista nordestino não pudesse ir a São Paulo apresentar sua arte porque sua arte é considerada profissão e para exercer essa profissão é nescessario passar por um teste ou ter uma formação acadêmica! 

Toda e qualquer música de tradição, de raiz deixariam de existir ou seriam interpretadas por acadêmicos, e novas formas de música que poderiam vir a existir nascendo do meio não acadêmico não nasceriam. 

Você conseguiria viver num mundo assim? Onde música só poderia ser interpretada por pessoas que detivessem o conhecimento teórico/técnico da música ocidental?  

Bem, existem outros assuntos colocados mas vou me ater ao que estabeleceu!

Abraços,
Mario Marçal Jr


Mário Marçal Jr.


Em 13/08/2011, às 17:23, "SBME ." <sbme em sbme.com.br> escreveu:

> Olá, caro colega Rogerio:
> 
> "Não se revoltaram as vanguardas do passado contra critérios rançosos de competência artística? Quem estabelece os critérios para a avaliação da competência artística, a academia ou o artista individual? Não estaremos criando um monstro que vai nos morder daqui a pouco?"
> 
> Evidentemente é a academia que deve estabelecer os critérios para a avaliação da competência. Isso não pode ser feito por algum artista individual ou algum grupo escolhido por sufrágio em pleito político.
> Sua indagação faz-me voltar àquela observação de que pouco se sabe da Ordem dos Músicos do Brasil no que concerne sua criação, a motivação que levou José Siqueira à luta para sua criação, e ao próprio texto da lei que a criou.
> O artigo 28 da Lei Nº 3.857, de 22 de dezembro de 1960 em suas alíneas a, b, c, d, e, e f estebele justamente isso: que os egressos da Academia, dos Conservatórios, etc etc são admitidos e recebem suas habilitações automaticamente sem burocracias ou testes.
> 
> Mas, meu caro amigo Rogério, você está me envolvendo e conseguindo fazer com que eu me afaste de meu tema inicial. Você está me levando a opinar sobre a OMB.
> Não me sinto ainda suficientemente informado para opinar sobre a decisão do STF. A questão que me indignou não foi a decisão do STF. O que me indignou foi o conjunto de argumentos encontrados pelos Ministros para justificar a decisão. Entre os argumentos, aquele que dizia: a não regulamentação da profissão de músico não causa danos sociais.
> Afirmações menos drásticas, ideologias e cientificismos menos radicais, já fazem com que a área da Música seja pouco prestigiada e até menosprezada dentro das Universidades. As afirmações dos Ministros do STF, se levadas ao pé da letra e desenvolvidas, servirão de munição para o tiro de misericórdia no ensino superior da Música. Esses pensamentos têm resultado em situações preocupantes, junto à própria demanda da sociedade. Na UnB, por exemplo, vivemos a seguinte situação: é cruel a luta por vagas, no vestibular, em todas as áreas, menos na Música, onde muitas vezes as vagas não são preenchidas por causa da falta de candidatos. Creio que a comunidade externa já se convence de que para ser profissional de qualquer área é preciso fazer a graduação e a pós-graduação, mas não para ser músico.
> Abraço,
> Jorge Antunes
> 
> 
> 
> 
> 
> Em 13 de agosto de 2011 13:12, Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com> escreveu:
> Maestro,
> Entendo a sua preocupação e solidarizo-me com a sua angústia, mas me parece que o senhor está falando de duas coisas distintas. 
> Uma coisa é a defesa do músico perante o empregador e facilitando o seu acesso à seguridade social, coisas que o Sindicato deveria fazer.
> Mas não acredito que a OMB deva ter algum papel em regulamentar a arte. Volto a tocar no mesmo ponto: vamos agora entregar a um Zhdanov ou Goebbels tupiniquim a fiscalização da nossa competência artística? O senhor se submeteria a ter um burocrata da OMB avaliando a "competência técnico-musical" de sua obra? 
> Não se revoltaram as vanguardas do passado contra critérios rançosos de competência artística? Quem estabelece os critérios para a avaliação da competência artística, a academia ou o artista individual? Não estaremos criando um monstro que vai nos morder daqui a pouco?
> Ou, voltando ao assunto anterior, será que a sua preocupação nesse ponto não é apenas com os intérpretes e operadores de som? Mais ou menos como a célebre queixa de Stravinsky sobre intérpretes que "interpretavam" demais? Mesmo assim, não consta que ele tivesse pensado em delegar a algum burocrata que fiscalizasse isso.
> 
> abraço
> Rogério
> 
> 
> --- On Sat, 8/13/11, SBME . <sbme em sbme.com.br> wrote:
> O que defendo não tem nada a ver com jdanovismo, stalinismo, dirigismo estético. Tem a ver somente com competência artística, competência técnico-musical, ou seja, com tudo aquilo que lutamos construir em nosso trabalho nas Universidades.
> 
> 
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
> 
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20110813/86807dfc/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L