[ANPPOM-Lista] situação da composição e da musicologia nos (novos) cursos de música

Alexandre Negreiros alexandrenegreiros em yahoo.com.br
Qua Nov 2 14:57:48 BRST 2011


Oi Jorge,

Antes de tudo, creio que o Felipe Radicetti seja a pessoa gabaritado a prestar esclarecimentos detalhados quanto ao processo. Ele não só o vivenciou ativamente, assumindo pessoalmente e com ônus próprio a condução de diversas ações vitais para a conquista, como voltou a ele como pesquisador no mestrado, sistematizando os dados e efeitos dessa memorável passagem.

A minha impressão, algumas vezes como espectador privilegiado, foi a de que nenhum desses envolvidos no esforço que você cita se arrogou a manifestar "oficialmente" a sua opção pessoal quanto ao "tipo" de educação musical a ser implementado, salvo em rodas informais e sempre com a distância humilde de neófitos em tão espinhoso assunto. Desde que se construiu a opção por esta bandeira, no interior daquele grupo, houve a consciência de que o tema era por demais complexo para que propostas nesse sentido restassem a cargo de não especialistas. Exatamente por isso, lá atrás a Magali Kleber, então já ativa militante na ABEM, foi trazida às discussões e ofereceu inúmeras orientações além de indicações de outros estudiosos, que foram chamados a ilustrar os debates técnicos com suas posições. Lembro das presenças da então presidente da ISME, a Liane Hentschke, do Sérgio Figueiredo, então presidente da ABEM, do Ricardo Breim, do João Guilherme Ripper, e outros.

As presenças dos artistas que cita, por usufruírem de, vamos dizer assim, "expressão midiática", tinham consciência do papel estratégico de suas visibilidades na inserção e posicionamento desse tema na pauta dos legisladores. Estes chafurdam em meio a 500 outros assuntos, sempre prioritários e importantíssimos para cada base de pressão da sociedade brasileira. Não fosse por eles, é provável que nossa proposta ainda estivesse submersa em comissões atoladas, como tantas permanecem por décadas. O Ivan, a Cristina e a Fernanda, com quem pude conviver um pouco mais, certamente só se posicionaram como notáveis interessados, tal como eu e também outros tantos temos o direito de ser. Talvez a mídia tenha dado relevância ao que disseram, mas estou certo de que os próprios, assim como o Ministério da Educação e os condutores do processo, hoje, os percebem como curiosos, e nada mais.

O que é de se chamar atenção é a incapacidade do somatório de especialistas de nossa classe em convergir, ou transigir em suas posições para que se alcance um, ou alguns modelos que tornem efetivo o corolário daquele esforço. Em recente debate, uma crítica me fez muito refletir: a inserção do ensino de história da África ocorreu quase ao mesmo tempo de nossa vitória, mas o movimento negro atuou de forma mais efetiva e sua implementação já é visível, enquanto isso a música bate cabeça entre cabeçudos, em vez de tambores, o os especialistas capacitados não conseguem ser o suficiente para pôr em prática a conquista, que ameaça se perder caso se torne uma obrigação legal desprezada, rejeitada pela sociedade. Ninguém vai usar a polícia pra isso! A insistência pelo sistema perfeito nos impede de aos poucos construir o razoável, uma pena.

Abçs!

Alexandre


Em 02/11/2011, às 10:24, Jorge Antunes escreveu:

> Caro Alexandre:
> 
> Quando usei a expressão "carregados pelos industriais da música comercial", eu não pretendia dizer ou insinuar que artistas tiveram suas passagens e estadias pagas pelas gravadoras multinacionais. Eu quis me referir apenas às motivações e aos objetivos que levavam aqueles cantores populares a viajarem e fazerem lobby. Esses objetivos –sempre transpareceu– se resumiriam em implementar uma educação musical daquele tipo a que eu chamaria deseducação musical: a prática, em sala de aula, de fabricação de mentes jovens potenciais futuros consumidores de música popular comercial.
> Aí sim, caro Alexandre, pode ser que eu esteja enganado. Você então poderia me esclarecer.
> Por favor, informe qual tipo de Educação Musical a Daniela Mercury, o Zezé de Camargo, o Luciano, o Ivan Lins, a Cristina Saraiva, a Joyce e a Fernanda Abreu pretendem ver implantado nas escolas?
> Abraço,
> Jorge Antunes
> 
> 
> 
> Em 01/11/2011, às 09:58, Alexandre Negreiros escreveu:
> 
>> Olá Jorge e Daniel,
>> 
>> Primordial que se cultive o debate e propostas em torno desse tema, e aguardo ansioso a implementação da lei, com todas as incertezas que conduz.
>> Mas preciso ressalvar a notícia de que Ivan e Daniela teriam ido ao Congresso conduzidos pelos industriais da música comercial: as passagens de ambos, na época, foram custeadas ou por gabinetes de políticos que nos apoiavam, ou pelo Sindicato dos Músicos do Rio de Janeiro, ou pelos próprios bolsos. Tivemos o apoio puramente conceitual de diversas organizações ligadas à música, dentre elas a ABMI, que se interessava que apoiássemos o projeto que hoje está prestes a ser votado chamado PEC da música, com incentivos tributários (tardios, é certo) à produção fonográfica, equiparando-a ao livro. A dissertação do Felipe Radicetti, na Unirio, descreve em detalhes a história.
>> 
>> Abçs!
>> Alexandre
>> 
>> 
>> Em 30/10/2011, às 12:15, Jorge Antunes escreveu:
>> 
>>> Oi, Daniel:
>>> 
>>> Aguardo ansioso seu projeto político-pedagógico.
>>> Minha simpatia e luta pelos cursos na área de Performance estão na reserva, no frigorífico, a espera de descongelamento.
>>> A explosão delas poderá acontecer, dependendo do repertório a ser programado e preconizado, e do espaço a ser dado à música erudita contemporânea de hoje.
>>> Abraço,
>>> Jorge Antunes
>>> 
>>> 
>>> Em 30 de outubro de 2011 11:35, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br> escreveu:
>>> 
>>> Caro prof. Jorge Antunes,
>>> 
>>> Muito obrigado por sua mensagem! Não havia visto a situação dessa forma, agradeço por me despertar para uma visão diferente. O canto orfeônico certamente tem suas raízes no ensino tradicional de Música, e sabemos da problemática em torno das ideologias pedagógicas que prega. A Educação Musical realmente tem este compromisso: quanto maior o contato da sociedade brasileira com a Música de forma saudável, espontânea e livre dos "traumas da pedagogia musical tradicional", maiores os benefícios para todos: amadores, admiradores e profissionais. E de fato, qualquer defesa destes "ícones da Música Popular" em prol da Educação Musical certamente é de se desconfiar.
>>> 
>>> A minha preocupação maior é que as Universidades brasileiras tem dado muita atenção à formação de profissionais capazes de atuar na Educação Básica, capazes de adotar metodologias apropriadas a este contexto. Porém, pela natureza dessa formação e das precárias condições que eles hipoteticamente encontrariam nas escolas brasileiras, o ensino da Performance é praticamente deixado de lado na formação destes. É esta a situação que me preocupa, e também a vários colegas daqui. A ampliação da área também precisa acontecer dessa forma.
>>> 
>>> Estamos trabalhando em um projeto político-pedagógico para fundação de um Bacharelado que emergirá da Licenciatura com poucos custos à Universidade, engajado em ampliar as possibilidades de atuação profissional dos bacharéis e adotando idéias muito positivas da Educação Musical. Em breve enviarei o projeto para lista para que todos possam discutir, e quem sabe motivar a abertura desta habilitação em outras Universidades que fundaram a Licenciatura há alguns anos.
>>> 
>>> Grande abraço,
>>> 
>>> 
>>> Daniel Lemos
>>> 
>>> Curso de Música/DEART - musica.ufma.br
>>> 
>>> Grupo de Pesquisa em Ensino da Performance Musical - musica.ufma.br/ensaio
>>> Perfil no academia.edu - ufma.academia.edu/dlemos
>>> Blog Audio Arte - audioarte.blogspot.com
>>> Universidade Federal do Maranhão
>>> 
>>> 
>>> --- Em dom, 30/10/11, Jorge Antunes <antunes em unb.br> escreveu:
>>> 
>>> De: Jorge Antunes <antunes em unb.br>
>>> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] situação da composição e da musicologia nos (novos) cursos de música
>>> Para: anppom-l em iar.unicamp.br, dal_lemos em yahoo.com.br
>>> Data: Domingo, 30 de Outubro de 2011, 11:10
>>> 
>>> 
>>> Caro Daniel:
>>> 
>>> Você, tal como vários outros colegas, usa a frase "volta do ensino de Música na Educação Básica".
>>> Proponho que se passe a usar, no lugar da frase acima, o seguinte: "início do ensino de Música na Educação Básica".
>>> 
>>> Não há como pensar na "volta" de algo que nunca houve.
>>> 
>>> O que houve no passado foi a educação cívica através da música, com a prática do chamado "canto orfeônico", disciplina que fazia com que os estudantes passassem a ter raiva da Música.
>>> 
>>> Quanto aos novos cursos e à grande clientela de Educação Musical e das Licenciaturas, acho isso bastante bom e promissor e necessário.
>>> Temos que construir novas cabeças que possam ocupar o mercado que se abrirá. As "majors", indústrias multinacionais do disco e da música popular comercial estão de olho nesse nicho que se abre. Não é à toa que personalidades da música popular, como Ivan Lins e Daniela Mercury, frequentam o Congresso Nacional fazendo lobby pela Educação Musical, carregados pelos industriais da música comercial.
>>> 
>>> Abraço,
>>> Jorge Antunes
>>> 
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