[ANPPOM-Lista] Enc: Matéria sobre avaliação diferenciada entre arte e ciência

Daniel Lemos dal_lemos em yahoo.com.br
Qui Maio 31 02:15:39 BRT 2012


Caro Álvaro e demais colegas,

Sua afirmação é pertinente e bem fundada. Porém, gostaria de deixar uma pequena observação sob outro ponto de vista.

Que tipo de incentivo um professor de Engenharia tem quanto para fazer uma consultoria?
E ao professor de Artes, que incentivo por parte da sociedade ele possui para realizar sua produção artística? Quem financiaria um pianista hoje em dia para fazer um recital com peças
 de Chopin? E quem financiaria um engenheiro para achar reservas de 
petróleo?

Ao contrário das outras áreas, a Universidade oferece às Artes grande parte do aporte que ela precisa para sobreviver como campo de conhecimento. Grandes engenheiros trabalham em firmas importantes, grandes médicos trabalham em hospitais e grandes jornalistas trabalham em empresas de comunicação. E os grandes artistas? Aqueles que não são de famílias abastadas vão conseguir manter seus ofícios de forma plena somente com Leis de "Incentivo à Cultura"? Os artistas de hoje que possuem o mesmo reconhecimento de um importante profissional de outras áreas geralmente trabalha com a mídia, ou seja: é especialista em um tipo de prática artística que muitas vezes é momentâneo, e não tem a preocupação de preservar o patrimônio de outros estilos e épocas.

Engana-se quem acha que este patrimônio sobrevive somente por textos e gravações. Se for interrompida a transmissão oral de habilidades na Performance Musical - por exemplo - toda a bagagem de interpretação musical de séculos estará sob o risco de acabar, pois o conhecimento musical exige a transmissão de informações sensoriais, ainda incapazes de serem registradas por outra forma além da relação mestre e aprendiz.

Creio que restringir o assunto somente à questão conceitual do que é o papel do professor universitário nos contratos de hoje - "Ensino, Pesquisa, Extensão e Administração" - já se mostrou insuficiente para abarcar com as necessidades da área de Artes. Isto é o que precisa ser modificado. Vi um Edital de concurso para a Unicamp que definia claramente para professores de Artes a função de "Carreira do Magistério Artístico", constituindo então um plano de carreira baseado em regimento diferenciado com relação às demais áreas tradicionais da Ciência (corrija-me algum professor desta instituição caso eu esteja enganado).

Basta observar a realidade sociocultural brasileira para perceber que há diversos tipos de prática artística em sério risco de desaparecer. Arte não é Tecnologia. Nesta última, ao se lançar um novo produto, o antigo se torna obsoleto.



Daniel L. Cerqueira
Universidade Federal do Maranhão


--- Em ter, 29/5/12, Alvaro Henrique <alvaroguitar em gmail.com> escreveu:

De: Alvaro Henrique <alvaroguitar em gmail.com>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Enc: Matéria sobre avaliação diferenciada entre arte e ciência
Para: 
Cc: anppom-l em iar.unicamp.br
Data: Terça-feira, 29 de Maio de 2012, 23:48

Interessante o artigo, e a discussão é deveras pertinente, especialmente para quem lida com performance, e que está prestes a ter uma associação de pesquisa da área que promoverá congressos, encontros, etc.

Não concordo com a opinião do autor. Acho que a pontuação lattes não é para medir esforços, é para premiar resultado. Um artigo escrito com pouco esforço e aceito por pares de uma revista conceituada tem seu valor não pelo esforço demandado, mas pelo reconhecimento da sua pertinência por quem conhece do assunto. 


Mas o quê mais me incomoda é o que está nas entrelinhas: quem é professor de arte é professor, não é artista pago pelo estado para compartilhar sua vivência artística. O Lattes tem de premiar as funções de um professor. Se aquele romance não envolveu pesquisa, ensino ou extensão, não foi avaliado por pares, e foi apenas uma realização individual daquela pessoa, fruto do quê ela fez no seu tempo livre, ter sido pontuado em si já é um reconhecimento adequado, uma vez que há casos em quê manter essa produção artística indiretamente alimenta aulas melhores, alunos mais motivados, pesquisas mais interessantes, etc. Infelizmente há casos em que a produção artística é desculpa para justificar uma atuação pífia como professor, e é preciso evitar abusos. 


Seguindo a mesma lógica, um professor de engenharia que, prestando consultoria para uma empreiteira, vira responsável por uma obra de grande porte, também deveria ser pontuado no Lattes por isso. 

Infelizmente há um preço a ser pago ao escolher ser professor-escritor ao invés de simplesmente professor ou simplesmente escritor.


Abraços,
Alvaro Henrique






Em 29 de maio de 2012 13:46, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br> escreveu:


Olá Liliana,

Pois é, temos que suscitar esta discussão. Inclusive uma musicista da rede pública de Porto Alegre estava dizendo que produção artística não conta pontos para progressão de carreira na prefeitura.

É fundamental reforçar que a Universidade é o elemento transformador da sociedade; é o principal mecanismo de produção e disseminação do conhecimento. Se nós não resolvermos a questão da Arte em nossos Estatutos e Departamentos, consequentemente os demais organismos não vão se adaptar para comportar os cargos que trabalham exclusivamente com a Arte e tem este tipo de produção.




Cordialmente

Daniel L. Cerqueira
Universidade Federal do Maranhão



--- Em ter, 29/5/12, lilianabollos <lilianabollos em uol.com.br> escreveu:


De: lilianabollos <lilianabollos em uol.com.br>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Enc: Matéria sobre avaliação diferenciada entre arte e ciência

Para: "Daniel Lemos" <dal_lemos em yahoo.com.br>
Data: Terça-feira, 29 de Maio de 2012, 13:30

Caro, Daniel, acho interessantíssimo o artigo e sua atitude de nos colocar a par é louvável. Parabéns! acho um absurdo essa burocracia de pontuação, e pensando em arte x ciência, a primeira sempre
 perde na busca de vagas, orçamento, projetos, etc.

um abraço,
Liliana

http://lilianabollos.com.br/





Em 28/05/2012 13:16, Daniel Lemos < dal_lemos em yahoo.com.br > escreveu:








Caros colegas,

Repasso a vocês uma interessante crítica de jornal enviada por Vinícius Fraga para a Lista de discussão dos estudantes da pós em Música da Universidade Federal da Bahia: um relato do escritor Charles Kiefer ("professor e escritor", segundo ele) sobre a valoração da Arte e da Ciência na Universidade:


http://a1.sphotos.ak.fbcdn.net/hphotos-ak-snc/576275_322289637847075_60210871_n.jpg




Daniel L. Cerqueira
Universidade Federal do Maranhão



--- Em seg, 28/5/12, Vinicius de Sousa Fraga  escreveu:


De: Vinicius de Sousa Fraga 
Assunto: [Estudantes-PPGMus] Matéria sobre avaliação diferenciada entre arte e ciência
Para: estudantes-ppgmus em googlegroups.com

Data: Segunda-feira, 28 de Maio de 2012, 12:47


A matéria a seguir foi publicada no jornal Zero Hora do RS, se não me engano. Nela, Charles Kiefer demonstra como a diferença entre os pesos de avaliação na CAPES entre pesquisa em arte e em ciência gera situações absurdas.

 
Segue:

http://a1.sphotos.ak.fbcdn.net/hphotos-ak-snc7/576275_322289637847075_60210871_n.jpg


 

 
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