[ANPPOM-Lista] Digest Anppom-l, volume 91, assunto 27

Jean Menezes da Rocha jean.rudess em gmail.com
Qua Nov 14 14:50:39 BRST 2012


Em 13-11-2012 19:42, Damián Keller escreveu:
> Caro Jean,
>
> Obrigado pelo link. A intenção do Morozov parece boa, mas falta
> fundamentação. Ele está substituindo o discurso tecnocrático pelo
> discurso tecnofóbico.
>

Certo, Damián. Concordo com sua constatação de que o tom do texto 
torna-se radical em alguns pontos, mas não sei se chega ao pico de uma 
tecnofobia. Talvez, no máximo, deslizes dramáticos devido ao "calor da 
discussão" que se evidencia no no linguajar e no frequente 
direcionamento _ad hominem_ contra o casal Khanna (que não deixa de ser 
um vício do discurso). Mas você ainda tem razão: textos assim requerem 
cuidado extra na leitura, pelo menos para que não se entre no clima 
beligerante.

> O acesso a tecnologia não é por definição negativo. O problema está
> no acesso ao know-how. Como ele coloca, tecnologia simplesmente
> <importada> não resolve nossos problemas. Mas o acesso universal a
> recursos tecnológicos pode abrir algumas portas que antes ficavam
> fechadas.
>

Seu ponto de vista, mais uma vez, converge com o meu. Mas a crítica do 
texto me parece mais direcionada a outra faceta da proposta dos Khanna: 
o uso da tecnologia como meio de construção de um simulacro de capital 
intelectual e _status_ social. É como um discurso motivacional _high 
tech_ e, levando a metáfora ao exagero, soa como o procedimento daquelas 
igrejas neopentecostais, em que há o "endeusamento" de um ente ao mesmo 
tempo poderoso e fugidio, que provê salvação, proteção e autoconfiança 
em meio à sua sociedade, para aqueles que o adotam (adoram), custe o que 
custar (normalmente 10% ou mais do seu salário). Isto sem contar o 
interesse mal disfarçado de estabelecer liderança para aqueles que 
primeiro dominam os artifícios de sua linguagem, seus meandros e 
escrevem suas regras e especificações de _modus operandi_.

> Pega como exemplo o acesso a partituras. Hoje qualquer professor de
> música pode disponibilizar uma versão em PDF e múltiplas
> interpretações de obras históricas e recentes. Isso é possível
> através de 3 ferramentas: internet, repositórios abertos e licenças
> não-comerciais. Te pergunto, quantos professores usam isso no
> dia-a-dia nas escolas?
>
> O exemplo do projeto OLPC (ProUCA aqui no Brasil) é relevante. A
> distribuição de computadores ou a instalação de telecentros não é
> suficiente para garantir o acesso ao uso criativo de tecnologia. O
> que tem que mudar é o sistema usuário-tecnologia. E essa mudança
> acontece a partir das demandas dos usuários, ou seja, nós.
>
> Abraços, Damián
>

Exatamente. O ataque do texto é justamente àqueles que tentam engendrar 
um mecanismo de acesso à tecnologia já com as demandas devidamente 
dogmatizadas (com o perdão da aliteração). Demandas que surgem "de cima 
para baixo" são coisa que já deveria estar superada há tempos, e cabe a 
nós a reflexão e a disseminação de aplicações que realmente supram 
demandas genuínas daqueles a quem atendemos.

Abraços!





Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L