[ANPPOM-Lista] Radio MEC patrimônio cutural nacional

José Augusto Mannis jamannis em unicamp.br
Qua Jul 10 12:46:52 -03 2019


Todos nós, músicos, musicistas, profissionais da música e da comunicação,
estivemos sempre investidos numa atuação intensa pela manutenção,
desenvolvimento e reconhecimento da música no Brasil, pela sua memória,
pelo seu conhecimento, pelo aprofundamento dos conhecimentos, pelo
fortalecimento de sua expressão e de sua prática. Mas como lutar para que
nossa música sobreviva e se desenvolva se em nossa própria casa ela não é
reconhecida? Será mesmo inexorável o destino de nossa cultura musical que
esteja fora da indistria cultural? Podemos agir ainda para que isso se
reverta?


Em 1922 comemorou-se o Centenário da Independência do Brasil
<https://www.facebook.com/hashtag/independênciadobrasil?source=feed_text&epa=HASHTAG>
inaugurando as transmissões de rádio em nosso país, e criando a Rádio
Sociedade do Rio de Janeiro, que transmitia em AM - ainda hoje a Radio MEC
<https://www.facebook.com/hashtag/radiomec?source=feed_text&epa=HASHTAG>
AM. Às vésperas do Bicentenário
<https://www.facebook.com/hashtag/bicentenário?source=feed_text&epa=HASHTAG>
de nossa Independência (2022) querem fechar a EMISSORA QUE MARCOU O
CENTENÁRIO DE NOSSA INDEPENDENCIA! Viva a Radio MEC AM e FM. #VivaoBrasil
<https://www.facebook.com/hashtag/vivaobrasil?source=feed_text&epa=HASHTAG>!

A primeira transmissão radiofônica no Brasil aconteceu no dia 7 de setembro
de 1922, nas comemorações do centenário da independência, mas, foi em 1923
que a primeira emissora, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, começou a
operar. Roquette Pinto, médico que pesquisava a radioeletricidade para fins
fisiológicos é quem convenceu a Academia Brasileira de Ciências a
patrocinar a criação da Rádio Sociedade e, como forma de homenagem ao
grande incentivador da radiodifusão no Brasil, no dia 25 de setembro, data
de seu nascimento, é comemorado o Dia do Rádio.

Infelizmente, os governantes deste país estão tentando cumprir um ideal de
poupar gastos públicos, mas estão equivocados na estratégia e nos métodos
para alcançar esse objetivo quando generalizam uma medida sem refletir
sobre a particularidade de cada caso. Há despesas que não dão retornos a
curto prazo mas que não são gastos a fundo perdido, e sim investimentos a
longo prazo. Incentivar a escuta reflexiva dos ouvintes é uma forma de
educação. Pessoas com educação mais ampla podem tomar melhores decisões na
área de sua abrangência e, assim, criar um ambiente melhor e proporcionar
mais progresso cujo impacto está na soma das mini ações de cada cidadão.
Precisamos sensibilizar o poder legislativo de que algumas decisões do
poder executivo precisam ser analisadas e revistas.

A Rádio MEC vem passando por um processo de sucateamento desde 1995,
quando, logo no início de seu governo, Fernando Henrique Cardoso
desvinculou a Rádio daquele ministério e colocou-a, junto com a TVE — atual
TV Brasil —, sob a tutela da Secretaria de Comunicação da Presidência da
República. Em seguida o governo PT diluiu a Radio MEC na EBC (v. texto de
Renato Rocha a seguir) e agora está praticamente em vias de extinção pelo
atual governo.

A Rádio MEC, é uma rádio de resistência cultural, e tem prestado um
inestimável serviço. Uma legião de ilustres colaboradores produziu, ao
longo de 7 décadas, uma programação única. Produtores, músicos, escritores,
radioatores, poetas e jornalistas como Cecília Meireles
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles>, Carlos Drummond de
Andrade <https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Drummond_de_Andrade> e Manoel
Bandeira <https://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_Bandeira>, Fernanda
Montenegro <https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernanda_Montenegro> e Fernando
Torres <https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_Torres_(ator)>, Sergio Viotti
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Sergio_Viotti>, Otto Maria Carpeaux
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Otto_Maria_Carpeaux>, Edna Savaget
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Edna_Savaget>, Nestor de Holanda
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Nestor_de_Holanda>, Francisco Mignone
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Mignone>, Alceo Bocchino
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Alceo_Bocchino>, Edino Krieger
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Edino_Krieger>, Marlos Nobre
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Marlos_Nobre>, Paulo Santos, entre muitos
outros.

ACERVO
O Acervo da Rádio MEC, um dos mais importantes do país, remonta à década de
1960. Da programação e do* cast* de rádio teatro que a rádio manteve até
final dos anos 1980, restam poucos exemplares. Aproximadamente são 3000
programas documentados representando três grandes realizações da emissora:
o rádio educativo e o rádio cultural (cujo capítulo principal foi escrito
em parceria com a Orquestra Sinfônica Nacional).

Não é somente o caso pontual da Radio MEC AM que está em jogo. Mas o de
todas as (poucas) rádios culturais e universitárias que se não dão lucro
financeiro nos dão enormes retornos culturais.

Por trás de falsos argumentos de que a Banda AM das emissoras vai passar
para a FM, que ainda está no papel, está a falsa e leviana justificativa de
antecipar o inevitável.

Não podemos deixar que sob nossa observação passiva nos tirem pouco a
pouco, o pouco que ainda temos, em veiculos culturais, canais de
comunicação, espaços artísticos, estruturas artísticas e acervos.

J A Mannis & Janete El Haouli


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ABAIXO ASSINADO PELA RADIO MEC FM

Com a proposta de extinção da EBC a RADIO MEC FM RJ está correndo risco.
Esta rádio está no ar há 35 anos e faz um excelente trabalho de transmissão
ao vivo de programas que atendem a públicos diversos, propaga cultura de
todas as naturezas, dá notí­cias e informações úteis sobre a história da
cultura brasileira e do mundo, além de oferecer um repertório musical, ao
ouvinte, da melhor qualidade. A sua equipe é da melhor qualidade e tem um
senso de responsabilidade com o conteúdo da sua programação e com o
ouvinte, difí­ceis de serem encontrados entre os profissionais da
radiofonia do paí­s. Se a rádio MEC FM deixar de existir, a música
brasileira, como um todo, será afetada, a cultura brasileira será afetada.
A Radio MEC FM é um patrimônio cultural brasileiro e a garantia da sua
permanência é fundamental para a cultura brasileira. Vamos lutar pela Radio
MEC FM.

https://www.change.org/p/câmara-dos-deputados-não-à-extinção-da-radio-mec-fm


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A IMPORTÂNCIA DA RÁDIO MEC PARA A CULTURA SONORA  (Por Renato Rocha)

Assim como a história do cinema, também a história da cultura pode ser
separada em duas eras: a da cultura muda e a da cultura sonora, que só
começa em 1877, com o fonógrafo.

Entre nós, o pioneiro da cultura sonora foi Edgard Roquette-Pinto, que, em
1912, participando da Missão Rondon, adentrou a floresta Amazônica (FOTO),
e registrou os cantos dos índios Parecis em um ditaphone – gravador
primitivo que imprimia em cilindros de cera, e que foi incinerado, com os
cilindros, na catástrofe do Museu Nacional.

Mas o grande marco inaugural da cultura sonora brasileira foi a criação da
Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923 – apenas um ano após a criação
da BBC inglesa! –, pelo próprio Roquette, Henrique Morize e outros membros
da Academia Brasileira de Ciências.

Profeta visionário da mídia eletrônica, Roquette-Pinto vislumbrou no rádio
um veículo perfeito para trabalhar “pela cultura dos que vivem em nossa
terra e pelo progresso do Brasil”, e, por isso, desde o início, a Rádio
Sociedade transmitiu uma programação voltada para a educação e a cultura.

Quando, em 1936, o governo obrigou as emissoras a aumentar a potência dos
seus transmissores, Roquette, em vez de dar o braço a torcer e aceitar
vender espaço para publicidade ou, então, ir ao mercado e conseguir fundos
para equipar a emissora – com a possibilidade de se tornar um magnata da
comunicação, como seu contemporâneo Chateaubriand, por exemplo –, preferiu
fazer um gesto largo, inédito e também pioneiro: doou a emissora ao então
Ministério da Educação e Saúde, com a condição de que ela continuasse a
transmitir programação exclusivamente educativa e cultural.

Quem assinou o documento, junto com Roquette, foi Gustavo Capanema, o
melhor ministro que já ocupou aquela pasta. Para honrar o compromisso e
acolher a emissora no ministério, Capanema criou o SRE – Serviço de
Radiodifusão Educativa, e abrigou-a no hoje lendário prédio da Praça da
República, 141-A, já com o nome de Rádio Ministério da Educação.

Com a construção, no final da década de 1940, do grande estúdio sinfônico –
o maior da América do Sul –, e o advento da Orquestra Sinfônica Nacional,
em 1959 – por decreto de JK, estabelecendo que o objetivo daquela orquestra
rádiosinfônica era a de alimentar a programação –, a emissora estava pronta
para cumprir o seu papel, tornando-se líder da radiodifusão
educativa-cultural e produtora do mais importante volume de gravações de
música de concerto que o país possui, até hoje. Absolutamente todos os
grandes nomes da cultura e todos os grandes músicos brasileiros passaram
por lá e deram a sua contribuição.

Foi o locutor Paulo Santos quem, no início dos anos 1960, criou um novo
nome para a emissora, ao começar a chamá-la, no ar, de Rádio MEC – e o
acrônimo, apesar da oposição de vários colegas, acabou vingando.

A lenta decadência da rádio começou logo após o golpe de 1964, quando houve
expurgos de radialistas e censura escancarada a autores e temas. Para
piorar, o SRE foi extinto, em 1982, e, como a OSN estava lotada naquele
órgão, a rádio acabou perdendo a sua orquestra – que tentou ir para a
Funarte e acabou sendo acolhida pela UFF. Além disso, com o advento da
Rádio MEC FM, no ano seguinte, a programação foi dividida a machado: a AM
ficaria com a parte didática-cultural e a música popular, enquanto a FM
passaria a se dedicar à música de concerto e um pouco de jazz.

Com o final dos anos de chumbo, a emissora ficou, por duas conturbadas
presidências sob a égide e o descaso do PMDB, e viveu um período de grande
instabilidade e acefalia, devido a uma incessante troca de ministros da
educação – foram seis, durante o governo Sarney, e dois, durante Collor e
Itamar –, o que repercurtia na Rádio, pois cada troca implicava na
indicação de novo diretor.

Bem ou mal, no entanto, o compromisso firmado por Roquette-Pinto e Gustavo
Capanema foi honrado por todos os governos, até que surge Fernando Henrique
Cardoso, que, auxiliado por seu medíocre ministro da Educação, Paulo
Renato, fere de morte a emissora, arrancando-a ilegalmente do MEC e
deslocando-a para a Secretaria de Comunicação da Presidência da República
–um órgão político, ou seja, tudo que Roquette-Pinto quis evitar. Para
culminar, e o significado simbólico dessa medida administrativa é extremo,
o PSDB extinguiu a tradicional e honorável figura do Diretor da Rádio, que
foi substituída pela desidratada figura do Gerente, que, como o nome diz –
e a nomenclatura bancária é bastante reveladora – gerencia mas não dirige.

Com a chegada do PT ao governo, a esperança era a de que a emissora
retornasse ao MEC. Mas o que aconteceu é que sua absurda situação ficou
ainda mais cristalizada, porque, com a criação da EBC, que passou a gerir a
rádio – tida por alguns setores do governo como “elitista” –, a SECON
permaneceu sendo, em todo o mundo democrático, a única secretaria de
comunicação governamental a possuir uma emissora educativa em seu
organograma. Mas o pior aconteceu em 2013, quando o sr. Eduardo Castro, um
obscuro e arbitrário radialista, alçado ao segundo cargo mais importante da
EBC, decidiu expulsar a emissora de sua sede tradicional, alegando uma
leviana razão de segurança no antigo prédio.

Com isso, a Rádio MEC ficou desterritorializada, sem sede, sem estúdio
sinfônico, sem auditório, sem os grandes estúdios do quarto andar e sem
condições de produzir música, o que sempre foi o seu diferencial, pois,
como é sabido, todas as emissoras transmitem música, mas muito poucas
produzem música – o que era o caso da Rádio MEC, que, depois disso, virou
uma espécie de ilusão auditiva, tipo "o que os ouvidos não vêem, o coração
não sente". E assim, tocada por um punhado de funcionários abnegados, a
rádio virou um vitrolão de boa qualidade, com muita reprise e pouquíssima
produção musical, mas que ainda faz a diferença. O ouvinte médio nada
percebe de anormal, mas o ouvinte experimentado percebe e lamenta o que os
ouvidos não escutam mais.

E então, ontem, dia 5 de julho de 2019, ficamos sabendo que a MEC AM, o
prolongamento da pioneiríssima Rádio Sociedade, a detentora do célebre
primeiro prefixo PRA-A, a mais antiga e mais histórica de todas as
emissoras do país, a que serviu de modelo para o radio educativo nacional,
e a que, há seis anos, estava fora do lar, agora vai ficar, também, fora do
ar, e para sempre. Ou seja, não completará cem anos.

Ora, o mínimo que deveriam fazer os irresponsáveis que estão decidindo os
destinos dos nossos aparelhos culturais seria oferecer de volta a concessão
à família de Roquette-Pinto. Mas o correto, mesmo, seria recuperar o prédio
da Praça da República, para que lá funcionasse um museu do rádio
educativo-cultural, e para que a emissora, voltando para lá, voltasse a
funcionar normalmente, mas também como uma rádio-escola, ensinando a fazer
um rádio que está esquecido, voltado para a arte e a cultura sonora – o
radioteatro, a música, a literatura falada, a declamação, a contação de
histórias, a califasia etc –, coisas que não dão dinheiro, mas dão cultura
e educação. E, também, que levasse em consideração, prioritariamente, o
deficiente visual, porque, se depender da programação do rádio brasileiro,
ele será um eterno deficiente cultural.

Infelizmente, estamos cada vez mais longe de Roquette-Pinto. Do seu sonho,
resta apenas a Rádio MEC FM. Por quanto tempo ela ainda permanecerá no ar?



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Prof. Dr. José Augusto MANNIS

Universidade Estadual de Campinas - Unicamp

Instituto de Artes - IA

Depto. de Música - DM

Laboratório de Acústica e Artes Sonoras - LASom

jamannis em unicamp.br

+55 (19) 981163160

Skype: jamannis8531


https://soundcloud.com/user-889742445

sussurro.musica.ufrj.br/klmno/m/mannisjosea/

unicamp.academia.edu/JoseAugustoMannis

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researcherID: B-9522-2012 <http://www.researcherid.com/rid/B-9522-2012>

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