[ANPPOM-Lista] CHAMADA DE TRABALHOS - Revista ORFEU - Dossiê Música e Política (v.8 n.2, 2023)

Guilherme Sauerbronn guisauer em gmail.com
Quarta Setembro 7 14:28:10 -03 2022


Prezadas e prezados colegas,

Orgulhosamente anunciamos o lançamento da *chamada de trabalhos para o
Dossiê Música e Política (v.8 n.2, 2023)*, coordenado por Guilherme
Sauerbronn de Barros (UDESC) e Teresa Mateiro (UDESC), editores permanentes
da revista ORFEU. *Submissões até 30 de abril de 2023.*
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Dossiê Música e Política

Zijian, discípulo de Confúcio, após estudar com o Mestre, tornou-se
ministro da localidade de Danfu. Segundo consta, era justo e compassivo
para com o povo e sabia reconhecer e recompensar o valor das pessoas.
“Desse modo, não precisava descer do salão de sua casa, *fazia ressoar sua
cítara e assim governava.*”[1]
Música e política são manifestações que acompanham a humanidade desde o seu
alvorecer. Cerca de meio século antes da Era Cristã, Confúcio, no Oriente,
e Platão, no Ocidente, convergiam ao atribuir à música um lugar fundamental
na formação humana: no plano individual, relacionavam-na ao aprimoramento
do caráter e da sensibilidade; no plano social, atribuíam-lhe o poder de
influir na ordem e na harmonia do Estado.
Na “longa Idade Média”, a música constituiu um instrumento fundamental na
propagação da fé e do poder da igreja e, tanto na Reforma como na
Contra-Reforma, esteve no centro da disputa.
Na modernidade, a preocupação com a música ganha novos contornos na obra de
pensadores da ordem social e da moral, como Rousseau e Diderot. Como uma
“emanação da Revolução”, a fundação do Conservatório de Paris em 1795
confirmou a educação musical como pauta prioritária da nova ordem social e
política.
Na esteira da consagração da música austro-germânica em toda Europa no
século XIX, o filósofo Schopenhauer separou a música das demais artes,
atribuindo-lhe um status ontológico e cosmológico sem paralelo. Como
desdobramentos, os conceitos de “música pura” e “música absoluta”, bem como
o projeto político-estético-nacionalista de Wagner, materializado na sua
“Obra de Arte total”, marcaram o período.
No Brasil, desde o início do século XIX o investimento oficial na promoção
da música não foi pequeno: da manutenção de temporadas operísticas para o
entretenimento da Corte, até a fundação do Conservatório (nos moldes do de
Paris), um projeto cultural nacionalista começa a se desenhar. Arauto do
Modernismo, Mário de Andrade constrói uma obra crítica e uma cartilha
estética de amplo alcance. Na era Vargas, Villa-Lobos implementa um
programa de educação musical de cunho nacionalista. Marco nas discussões
político-culturais no Brasil, as cartas-abertas trocadas por Guarnieri e
Koellreutter agitam o meio musical e artístico e expõem suas contradições.
A doutrinação estética nos regimes totalitários encontra resistência nas
“entrelinhas” das obras musicais, que se utilizam de metáforas com grande
poder simbólico e ideológico. Na segunda metade do século XX, a música
popular assume um protagonismo alavancado pela indústria cultural e se
torna um fenômeno de massa. A contracultura encontra novos recursos e
linguagens, promovendo misturas e dando voz à juventude e aos excluídos.
Não se pode esquecer da relação do ocidente com as músicas de povos
tradicionais e de culturas “exóticas”. Seu status artístico e teórico foi e
continua a ser revisto em função do desenvolvimento da antropologia, da
musicologia e da etnomusicologia. Se as teorias evolucionistas,
eurocêntricas, estabeleciam uma clara hierarquia entre “primitivos” e
“civilizados”, tal distinção se desfaz à luz das grandes crises que abalam
o mundo contemporâneo. A constatação de que a instrumentalização da arte e
da natureza por meio da razão científica tem proporcionado não apenas
ganhos, mas prejuízos à humanidade, aponta para um resgate da dimensão
ritual, intuitiva e mágica que pautou o fazer musical desde seus primórdios.
Em suma, música e política sempre caminharam juntas, numa relação recíproca
e complexa. Esta chamada é um convite à reflexão sobre seus nexos, seus
matizes locais, históricos e culturais. Seguem, à guisa de sugestão para
eventuais contribuições ao dossiê, alguns tópicos relativos ao tema:

Ideologia e currículo;
Educação musical e Estado;
Música como representação de poder;
Nacionalismos musicais;
Manifestos estéticos;
Música e hierarquia;
Música e identidade social;
Música e movimentos sociais;
Cultura de massa e indústria cultural;
Música e radiofonia;
Música e redes sociais;
Jingles de campanha;
Hinos nacionais;
Música de/e guerra;
Música de/e trabalho;
Etc.

[1]
<https://www.revistas.udesc.br/index.php/orfeu/management/settings/announcements#_ftnref1>
Confúcio,
Os Analectos; tradução comentário e notas de Giorgio Sinedino. SP: Editora
UNESP, 2012, p.141 (grifo nosso).

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*Diretrizes para autores(as)*

* Além de artigos originais, incentiva-se também a submissão de traduções
de textos-chave nas temáticas delineadas, desde que sejam providenciadas as
devidas autorizações de publicação.

Os trabalhos devem ter entre 6.000 e 12.000 palavras, incluindo título,
resumo, palavras-chave e referências. Podem ser escritos em inglês,
espanhol ou em português. As diretrizes para autores estão disponíveis no
seguinte link:

h
ttp://www.revistas.udesc.br/index.php/orfeu/about/submissions#authorGuidelines
<http://revistas.udesc.br/index.php/orfeu/user/register>

Pesquisadoras e pesquisadores não devem citar seus próprios nomes nos
documentos enviados. Os trabalhos submetidos serão avaliados por
pareceristas ad-hoc e a versão final do documento deverá seguir as
orientações e comentários sugeridos no processo de revisão.

Data final para submissão de trabalhos ao Dossiê: 30 de abril de 2023

Profa. Dra. Teresa Mateiro
Prof. Dr. Guilherme Sauerbronn de Barros
Editores da Revista ORFEU


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