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<DIV style="FONT: 10pt arial">----- Original Message -----
<DIV style="BACKGROUND: #e4e4e4; font-color: black"><B>From:</B> <A
title=edinokrieger@predialnet.com.br
href="mailto:edinokrieger@predialnet.com.br">Edino Krieger</A> </DIV>
<DIV><B>To:</B> <A title=anadehollanda@uol.com.br
href="mailto:anadehollanda@uol.com.br">ana de hollanda</A> ; <A
title=cultural@cbm-musica.org.br
href="mailto:cultural@cbm-musica.org.br">Conservatório Brasileiro de Música</A>
; <A title=comercial@sarauagencia.com.br
href="mailto:comercial@sarauagencia.com.br">Sarau Agencia de Cultura</A> ; <A
title=comus@funarte.gov.br
href="mailto:comus@funarte.gov.br">comus@funarte.gov.br</A> ; <A
title=pro.arte@veloxmail.com.br href="mailto:pro.arte@veloxmail.com.br">Pro
Arte</A> ; <A title=hbello@rionet.com.br
href="mailto:hbello@rionet.com.br">Herminio Bello de Carvalho</A> </DIV>
<DIV><B>Sent:</B> Wednesday, April 26, 2006 2:17 PM</DIV>
<DIV><B>Subject:</B> CARTA ABERTA A NOCA DA PORTELA</DIV></DIV>
<DIV><BR></DIV><B>Um forte abraço a todos os amigos<BR>Edino<BR></B> CARTA
ABERTA A NOCA DA PORTELA <BR><BR>Prezado Noca <BR><BR>Permito-me o tratamento
informal porque no momento em que lhe escrevo já não sou seu subordinado, mas
apenas um colega músico, embora militando em outra vertente da criação musical.
<BR><BR>Confesso que fiquei perplexo ao tomar conhecimento de minha demissão
pelo jornal. Penso que o meu passado de trabalho em todas as instituições pelas
quais passei mereceria um tratamento menos indigno – como de resto qualquer
subordinado. <BR><BR>Não discuto o seu direito de substituir qualquer ocupante
de cargos de confiança de sua Secretaria, tanto que coloquei o meu à sua
disposição tão logo soube de sua nomeação. Mas não aceito a forma grosseira com
que isso foi feito. E nem posso levar em consideração as desculpas que me
apresentou por telefone (depois de reações e críticas que recebeu em sua própria
Secretaria) de que a notícia “vazou” para a imprensa antes da hora, porque você
sabe tão bem quanto eu QUEM ligou para a coluna do jornal passando a informação.
<BR><BR>Perplexo também fiquei porque essa medida desmentia a sua própria
afirmação, na cerimônia de sua posse, de que todos ficassem tranqüilos porque
não haveria mudanças nas equipes competentemente formadas por seu antecessor e
que, segundo suas palavras, estavam tendo um excelente desempenho, pois, segundo
afirmou, “como em campeonato de futebol, em equipe que está vencendo não se
mexe”. Você disse uma coisa e fez outra – o que não significa que palavra de
sambista não mereça crédito, mesmo porque eu jamais duvidaria da palavra de
amigos portelenses como Monarco (com quem tive o prazer de conviver e até mesmo
oportunidade de escrever na pauta musical, a seu pedido, um e outro samba de sua
autoria, quando éramos colegas no JB), ou o grande Paulinho da Viola, exemplo de
talento e de caráter, ou ainda do salgueirense Haroldo Costa, doutor em samba e
carnaval. Tampouco duvidaria da palavra de meu pai, chorão e sambista em sua
juventude, e nem dos meus dois filhos profissionais do samba e da MPB, e que
também são exemplos de retidão e caráter. Considero, portanto, o seu ato como de
responsabilidade estritamente pessoal, não obstante as justificativas que me
apresentou por telefone, de que obedecia a “injunções de natureza política” –
certamente não da maiúscula Política Cultural, mas da minúscula política do
apadrinhamento, do interesse pessoal e do corporativismo. Lamento que uma
Secretaria como a de Cultura, para mim a mais importante não por seu minguado
orçamento, mas por sua abrangência e significação no contexto da Sociedade,
possa estar à mercê desse tipo de política. <BR><BR>Finalmente, quero confessar
que me entristece ser atropelado em meio a um trabalho amplamente reconhecido de
modernização do MIS, e que vem sendo realizado graças não aos recursos
orçamentários, diminuídos em quase 50% nos últimos dois anos, mas ao aporte
financeiro de instituições de apoio à cultura como a Petrobras, que investiu
mais de um milhão em projetos de recuperação da sede da Lapa (com o apoio do
INEPAC) e de digitalização de partituras e acetatos históricos da Rádio Nacional
– recursos captados diretamente ou através de parcerias – e a Fundação Vitae de
São Paulo, que possibilitou o restauro e a digitalização de mais de uma centena
de negativos panorâmicos da Coleção Augusto Malta. Aliás, no mesmo dia em que
saía a notícia de minha demissão na coluna de Ancelmo Góis, o Diário Oficial do
Estado publicava a liberação, pela Petrobras, de um recurso suplementar de
R$80.000,00, por nós solicitado para completar a reforma também dos espaços
internos da sede da Lapa. <BR><BR>Com esses recursos, aplicados rigorosamente,
cada centavo, na execução dos projetos a que se destinavam, foi possível
adquirir dezenas de equipamentos, criar estações de digitalização de acervos,
promover o tratamento e a transferência para suporte digital de 20 mil
partituras e mais de uma centena de acetatos cujos originais corriam o risco de
se perder pela ação deletéria do tempo e do manuseio direto. E em parceria com o
Instituto Jacob do Bandolim, centenas de gravações históricas desse grande
músico foram restauradas e digitalizadas. <BR><BR>Para dar continuidade a esse
trabalho, uma equipe de funcionários recebeu orientação técnica de profissionais
da área, de modo a permitir que, a médio prazo, todo o acervo do mais importante
centro de memória audiovisual do país possa ser digitalizado e assim preservado
definitivamente. <BR><BR>Todo esse trabalho tem sido realizado com carinho,
dedicação e persistência pela pequena, mas valiosa, equipe de museólogas,
técnicos e estagiários, além de técnicos terceirizados, especialmente
contratados com recursos dos próprios projetos. O espírito de equipe prevaleceu
durante toda a gestão da administração que agora se despede, e que sai com a
consciência tranqüila pela certeza de haver dado o melhor de si num trabalho
voltado exclusivamente para os interesses da instituição. <BR><BR>Ao deixar a
FMIS, acredito ter cumprido o compromisso que assumi ao ser convidado pela então
Secretária Helena Severo, de priorizar o tratamento e a preservação do acervo,
que representa a própria razão de ser da instituição. <BR><BR>Fundamental, para
o cumprimento dessa tarefa apenas iniciada, foram a competência e a dedicação
das museólogas responsáveis pelas diversas coleções e da Gerência de Acervos, a
seriedade, firmeza e determinação da Diretoria Administrativa e Financeira e sua
equipe de apoio, e a total dedicação, inteligência e capacidade de planejamento
e execução da Vice-Presidência. <BR><BR>É toda essa estrutura, em pleno
funcionamento não obstante as muitas limitações e dificuldades, que agora se
desmonta – e oxalá isso não comprometa o projeto de modernização de que a
instituição necessita para sua própria sobrevivência. No sonho, ficam também
outros projetos que não foram realizados por falta de recursos e condições, como
a restauração da sede histórica da Praça XV, a recuperação do Cine MIS e a
digitalização de todo o acervo da extraordinária coleção de Depoimentos para a
Posteridade (projeto recentemente encaminhado à CAIXA para apoio financeiro e em
fase de análise), a formação de uma coleção de Instrumentos Musicais
Brasileiros, para reunir, numa mostra permanente de caráter didático e
musicológico, todos os instrumentos utilizados em manifestações populares de
todo o país, a realização de exposições temporárias e permanentes uma vez
concluída a reforma da sede histórica, a implantação de um Plano de Cargos e
Salários, a organização de uma Associação de Amigos e a retomada dos depoimentos
e das edições gráficas e fonográficas para divulgação do acervo. Projetos que,
esperamos, possam ser realizados pelas próximas administrações. <BR><BR>Por
último, assinalo, por curioso, o fato de que um músico, que talvez exerça pela
primeira vez uma função administrativa, tenha feito de seu primeiro ato a
destituição de outro músico, sem se preocupar em conhecer o seu trabalho e sem
aviso prévio. Como disse um dos meus filhos, “o Noca desafinou... na ética”.
<BR><BR>Formulo, apesar de tudo, os melhores e mais sinceros votos para que sua
gestão não se paute por ações como essa, mas que atenda efetivamente aos reais
interesses da Cultura em todas as suas vertentes. <BR><BR>Rio de Janeiro, 26 de
abril de 2006 <BR><BR>Edino Krieger <BR></DIV></BODY></HTML>