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Colegas musicistas:
<p>Morreu o General Augusto Pinochet. O fim dessa figura merece, sobretudo
para as novas gerações, a evocação do contra-exemplo
que deu, pautada que foi sua vida pela violência autoritária
e pela corrupção. Há uma coincidência histórica:
no dia em que a humanidade celebra o 58º aniversário da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, seu maior violador vivo deixa de existir.
A História reservará ao ditador Pinochet algo mais que o
esquecimento: o lugar desonroso que cabe aos truculentos, aos torturadores,
aos traidores, num plano oposto aos que seu regime fascista destruiu, entre
os quais o músico VICTOR JARA.
<br>Pinochet deu o golpe truculento em 11 de setembro de 1973. Nesse dia
o estádio de futebol de Santiago foi usado como campo de concentração
para a prisão de milhares de chilenos. Entre eles estava um jovem
compositor de música popular, líder do movimento chamado
Nueva-Canción. Esse é o mesmo movimento que em Cuba recebeu
o nome de Nueva-Trova e que no Brasil foi chamado Música de Protesto.
Na América Latina, participando daquele movimento estético
e político, se destacavam jovens músicos na faixa dos 20
anos de idade: Silvio Rodriguez, Pablo Milanez, Chico Buarque, Carlos Varella,
Benjamin Acevedo e aquele jovem prisioneiro de Pinochet: Victor Jara.
<br>No estádio de futebol, Victor estava com seu violão.
Para confortar os compatriotas prisioneiros no campo-de-futebol-concentração,
ele começou a tocar seu instrumento. Os militares mandaram ele parar
de tocar. Ele não parava. Agarraram-no e o arrastaram para um canto.
Executaram cruelmente o único recurso que não mais lhe permitiria
tocar violão: com um facão cortaram as duas mãos de
Victor. Seus gritos ecoaram no estádio. Mas, teimosa e bravamente,
Victor misturava seus gritos a cantos melancólicos com alguns versos
fortes e de protesto de suas canções. Aqueles trechos musicais
lancinantes de conhecidas melodias da Nueva-Canción, que haviam
embalado a campanha presidencial de Salvador Allende, precisavam ser calados
pelos milicos. Um tiro na cabeça do Victor Jara sem mãos,
sangue aos borbotões saindo de pulsos dilacerados, acabou com uma
das maiores promessas da música latinoamericana.
<br>Pela memória do músico Victor Jara, assassinado em 11
de setembro de 1973.
<br>Abraço a tod@s,
<br>Jorge Antunes</html>