<!doctype html public "-//w3c//dtd html 4.0 transitional//en">
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Caro Farlley:
<p>Acho importante que nós, esclarecidos, não caiamos na
tentação de olhar apenas as superfícies, sem uso da
perspicácia e sensibilidade política.
<br>Está em curso, no mundo, carregado pela ideologia do neoliberalismo,
um processo de dominação capitaneado pelos USA, pelo Banco
Mundial, pelo BIRD e pelo FMI.
<br>O objetivo é o seguinte: as grandes potências terão
o monopólio da pesquisa, produzindo saberes, para que países
subdesenvolvidos ou "em desenvolvimento" sejam apenas mercado, com cidadãos
consumidores.
<br>O sucateamento das Universidades públicas faz parte dessa estratégia.
A escassez cada vez maior de verbas para pesquisa, também. A banalização
do processo cultural, também. A mediocrização generalizada,
também.
<br>O astronauta brasileiro, que fez turismo espacial, fez parte desse
processo: não existe verba para a pesquisa espacial brasileira,
mas houve dinheiro para o passeio sideral.
<br>Onde você vê arrogância existe, no âmago, a
visão crítica desse processo, que deve ser denunciado e combatido.
O governo ao invés de injetar verbas nas Universidade Federais,
prefere isentar, de impostos, os empresários da educação,
em troca de bolsas de estudo. A educação como mercadoria
é a meta. Esse é o Prouni. Isso faz parte da estratégia
dos donos do planeta Terra, de que falei acima, com objetivos claros: precarizar
o ensino, formar robôs-humanos consumidores, lavar cérebros
jovens que têm tendência à inquietação,
à busca e ao questionamento, desenvolver na juventude habilidades
específicas.
<br>Para essa gente, é importante formar gente capaz de "fazer"
e "operar". Intelectos questionadores são perigosos. Para os donos
do poder é perigoso inventar, perguntar, questionar, criar, pesquisar,
inovar, ...
<br>A iniciativa privada inventa, no mesmo processo, cursos de curta duração
para construir operários das novas tecnologias importadas das grandes
potências.
<br>Abraço,
<br>Jorge Antunes
<br> 
<br> 
<br> 
<p>Farlley wrote:
<blockquote TYPE=CITE> <font face="Arial">Bom dia a todos, gostaria
de oferecer uma visão ao que se vem falando nesta plenária
sobre "performance", "performer", "intérprete", "interpretação".
Meu nome é Farlley Derze. Derze é sobre nome de família,
meu avô era mulçumano, libanês, eu não tenho
vínculo algum com nenhuma ideologia "religiosa salvadora"; o nome
Farlley é apenas porque minha mãe tinha como fã o
ator Farlley Granger, ela tinha 19 anos na época, nasceu e cresceu
em Xapuri-AC. Nomes são heranças ou invenções,
quando os inventamos para outras finalidades. Mas tudo isso para informar
aos amigos que não se trata de um estrangeiro falando, sou brasileiro,
como seria libanês, iraniano, grego, argelino, embora ter nascido
em determinado lugar parece ser o critério sumário para aplicar
um valor, melhor ou pior,  a outro povo, suas tradições,
suas crenças. Toco piano desde os 7, tenho 44. Quando eu comecei
a tocar piano (desculpem a falta de rigor acadêmico ao tentar me
comunicar) lembro apenas de no início perceber uma coincidência
que aos poucos foi se cristalizando: cada vez que eu apertava na mesma
tecla, saía o mesmo som, e aquele som tinha na partitura o mesmo
desenho. Já não se pode dizer o mesmo com a evolução
dos sintetizadores (instrumentos que abracei nos anos 80, sem abandonar
o piano), pois há certos timbres que quando se aperta a mesma tecla,
digamos, 12 vezes, cada ocorrência produz uma alteração
do timbre, e fica aqui a minha dúvida como é que se poderia
grafar aqueles sons. Se se estiver considerando os sintetizadores como
"tecnologia de audio", de qual tipo o "ler música" se estaria falando?
Vou correr o risco de acreditar que as palavras de Jorge Antunes "picaretagem"
se refira a um exemplo similar ao que tentei expor relacionado ao "ler
música". E enquanto eu crescia tocando piano, lidando com tantas
coincidências entre gestos, teclas e símbolos, sequer imaginava
que poderia estar atuando como "intérprete" ou fazendo uma performance.
Eu apenas acreditava no que meus pais diziam, "o Farlley já está
tocando a Valsinha da vovó". Meus pais não são acadêmicos,
sequer possuem curso superior, seja de longa ou curta duração,
eram apenas pais orgulhosos por ter um filho fazendo algo diferente do
que faziam em Xapuri na década de 50, ou simplesmente, porque se
podia chamar de música aquilo que ouviam. Mais tarde fui parar dentro
da Faculdade de Música e lá dentro conhecer inúmeras
terminologias. Na época eu já tinha composto algumas músicas,
mas ao me deparar com o CURSO BACHARELADO, CURSO DE COMPOSIÇÃO,
fiquei até com medo de mostrar minhas composições
pois eu não havia feito um Curso Superior, de COMPOSIÇÃO.
Eu tinha 23 anos.</font><font face="Arial">Hoje percebi que não
há correspondência entre MÚSICA ou SONS e as palavras
que pretendem "dizer" sobre tais eventos. Há, a meu ver, uma arrogância.
A arrogância das palavras ou a arrogância dos "saberes" ou
a arrogância dos "diplomas" para validar uma ação que
em sua infância era apenas "som" ou "música". Entendi que
as palavras do Silvio "</font><font face="Verdana"><font color="#FF0000">Enqto
discutimos feito tontos se somos performers ou interpretes" </font></font><font face="Arial"><font color="#000000">
possa ser um resultado da defasagem entre "o fato" e "o que se diz sobre
o fato" , cuja incomprrensão não justificaria invalidar ou
ridicularizar a discussão daqueles que tentam chegar a um entendimento
sobre os nomes que herdaram de seus avós. A prole linguística,
e suas variações "morfogenéticosemânticas" já
batizaram o "apertar de algumas teclas", fazendo circular terminologias
como "percepção auditiva", "ler música", etc. Ou ainda,
fazendo circular <i><u>saberes </u></i>de uns na contramão de <i><u>saberes</u></i>
de outros. Parece que se lida com a prática alheia como se o outro
fizesse parte do "ranking" de onde se está situado. Seria então
outra defasagem, a meu ver: validar o trabalho do outro a partir dos valores
cultivados no âmbito do seu. Possivelmente o Curso de Curta Duração
esteja adequado às exatas teclas que pretendem apertar no teclado
do mercado, diferentemente de um Curso Superior de Longa Duração
que pretendem apertar outras teclas, ou até as mesmas, mas em outra
tonalidade e com outra finalidade. Estou tentando ser prudente e não
cair na armadilha de julgar um Curso do qual não faço parte,
onde se lida, possivelmente, com outros saberes, embora se façam
circular as terminologias batizadas e outorgadas pelo meio acadêmico
como "percepção auditiva" (talvez meus pais não tivessem
a percepção auditiva quando ouviam a Valsinha da vovó)
e outras terminologias herdadas de um "mundo sabido anterior e superior
pós-atlântico", de modo que o Silvio parece ter detectado
a dificuldade do nosso meio acadêmico em lidar com a transição
dos significados dos termos, tanto quanto Jorge Antunes parece haver detectado
a dificuldade em se aceitar uma <i>tal "universidade anhembi-morumbi",
</i>como talvez seja difícil a Sorbonne aceitar uma tal "universidade
federal brasileira", tanto quanto os sacerdotes cristãos da Idade
Média em aceitar uns tais Galileus e Galileis quando se inventou
algo diferente do "saber hegemônico". Enfim, de defasagem em defasagem,
de arrogância em arrogância, uns querem validar outros a partir
de "seus" próprios valores (aposto que herdaram dos avós),
instituições pretendem validar instituições
à distância. Assim, entre a interpretação e
a performance, entre os altares das tradições e os tombos
da modernidade, paira a Santa Virgem da Defasagem Semântica entre
o mundo que se escolheu e o mundo que se estica fora de si, entre a tecla
do piano e a tecla do sintetizador, entre o nome que você escolhe
para o seu filho ou aquele que precisa perpetuar por causa do avô.</font></font> <font face="Arial">Nomes
são heranças ou invenções, quando os inventamos
para outras finalidades. O mesmo deve valer para as idéias.</font> <font face="Arial">Farlley
Derze</font>  ----- Original Message -----
<blockquote 
style="PADDING-RIGHT: 0px; PADDING-LEFT: 5px; MARGIN-LEFT: 5px; BORDER-LEFT: #000000 2px solid; MARGIN-RIGHT: 0px">
<div 
  style="BACKGROUND: #e4e4e4; FONT: 10pt arial; font-color: black"><b>From:</b>
<a href="mailto:antunes@unb.br" title="antunes@unb.br">Jorge Antunes</a></div>

<div style="FONT: 10pt arial"><b>To:</b> <a href="mailto:silvio.ferraz@terra.com.br" title="silvio.ferraz@terra.com.br">silvio</a>
; <a href="mailto:anppom-l@iar.unicamp.br" title="anppom-l@iar.unicamp.br">anppom-l@iar.unicamp.br</a></div>

<div style="FONT: 10pt arial"><b>Sent:</b> Monday, December 11, 2006 12:38
PM</div>

<div style="FONT: 10pt arial"><b>Subject:</b> Re: [ANPPOM-L] para curtir</div>
 Querido Silvio:
<p>Quê que é isso?
<br>Não confunda "passo massacrante" com "picaretagem"!!!
<br>Lamento você estar ajudando a divulgar essa coisa, dessa tal
"universidade anhembi-morumbi".
<br>O texto fala em um curso 'superior' de CURTA DURAÇÃO,
que promete:
<br>"você será capaz de conjugar o domínio do instrumental
tecnológico com o conhecimento musical necessário para essa
atividade, sabendo ler música, com uma perpepção auditiva
consciente para cumprir suas funções adequadamente."
<br>O mais engraçado, na propaganda desse <u>curso superior de curta
duração,</u> é que eles destacam com negrito as expressões:
"ler música" e percepção auditiva".
<br>Abraço,
<br>Jorge Antunes</blockquote>
</blockquote>

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