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Car@s colegas:
<p>Gostaria de lhes apresentar algumas considerações referentes
às últimas mensagens sobre o "curso de rock".
<p>Em primeiro lugar quero manifestar meu contentamento com o fato de que
o assunto despertou a lista de discussão da Anppom.
<br>Infelizmente ela andou totalmente apagada, sem mensagens, sem conversas,
sem troca de idéias, sem debate, sem discussão e, portanto,
alimentando nosso tão triste e habitual distanciamento.
<br>A lista existe para isto: nossa troca de idéias, contatos e
debates. Então, o anunciado curso de rock acaba de dar sua primeira
grande contribuição.
<p>Em segundo lugar, gostaria de comentar aquelas mensagens opinativas,
que diziam estar a Universidade sem sintonia com a realidade. Existem colegas
que defendem a idéia de que a Universidade deve estar atenta às
demandas do mercado. Eu, como socialista convicto, que sonho com uma sociedade
futura de direitos e oportunidades iguais para todos, uma sociedade fraterna,
solidária, penso justamente o contrário. Acho que a Universidade
deve, sim,  estar atenta às demandas do mercado, mas de modo
crítico, para não correr o risco de trazer o inimigo para
dentro da barricada. Entendo que a Universidade deve ser uma trincheira
de luta contra a má realidade externa, forjada na ganância
do capitalismo e de empresários que fabricam demandas de modo a
aumentar a competição, a disputa fratricida e a exploração
do homem pelo homem, aumentando cada vez mais as desigualdades, à
custa do embrutecimento do povo e da repressão de sua capacidade
criativa. A banalização cultural e as "musicas" comerciais
de rápido e fácil consumo fazem parte desse processo.
<br>Digo que a Universidade não deve ser um supermercado. No Carrefour,
quando existe uma forte demanda de yoghurt pelo público consumidor,
seus proprietários enchem as prateleiras de yoghurt. A Universidade
não pode ser assim. Nossas prateleiras não devem se encher
de rap, hip hop, rock, samba, funk, techno, só porque o mercado
apresenta grande demanda desses gêneros.
<br>Devo esclarecer que nada tenho contra essas manifestações
culturais. Pelo contrário, adoro samba, rap, hip hop, rock, funk,
techno, quando eles são bem feitos. Mas a "academização"
desses gêneros certamente mataria suas espontaneidades e belezas.
<br>A totalidade dos rocks e roqueiros que conheço, e que fizeram
e fazem bom rock, não estudou rock na Universidade. Pelo contrário,
muitos deles estudaram música erudita na Universidade, ou outras
áreas do conhecimento na Universidade, desembocando seus saberes,
adquiridos na academia, na linguagem pop.
<br>É preciso se convencer de que não é qualquer atividade
que pode ou deve ou precisa ser aprendida na Universidade. Muitas delas
podem e devem ser estudadas em outros lugares. Por exemplo, o corte e costura
não precisa, ou não deve, ser estudado na Universidade. O
bumba-meu-boi também não. Ao trabalhar com meu queridíssimo
amigo Seu Teodoro, de 80 anos idade, no projeto Speculum Brasilis, aprendi
mil saberes novos. Seu Teodoro é o maranhense criador e diretor
do famoso bumba-meu-boi de Brasília. Para economizar grana, o boi
que eu queria usar adotaria o tambor-onça, dois pandeiros, o puxador
e apenas uma matraca. Seu Teodoro rebelou-se: "- Com uma matraca só,
não dá a tonalidade!" Depois, experimentando, vi que ele
tinha razão. Conclusão: a poliritmia e o politimbrismo do
boi do Seu Teodoro, com duas matracas, com sua "tonalidade" perfeita, casou
maravilhosamente com a atonalidade de meus sons eletrônicos.
<br>Existem saberes que não podem correr o risco de serem contaminados
pelos virus acadêmicos, porque correriam o risco de se transmutarem,
se deformarem.
<br>Abraços para tod@s, com votos de boas festas.
<br>Jorge Antunes
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