<html><div style='background-color:'><P><BR><FONT size=3>Prezado prof. Jorge e colegas da ANPPOM,</FONT></P>
<P><FONT size=3>também venho acompanhando as discussões na lista geradas pela criação do curso de rock. Compartilho o ideário socialista com o prof. Jorge Antunes e outros colegas e por isso mesmo concordo plenamente que a autonomia universitária deva ser mantida para que se possa fazer frente rumos aos avanços do capitalismo tardio. Sendo assim, compreendo e concordo com a posição do prof. Antunes de que a Universidade deva se posicionar ciritamente frente à realidade forjada pelo sistema e por um mercado que, já desde os tempos de Adorno e Marcuse, vem impondo a banalização cultural.</FONT></P>
<P><FONT size=3>Mas, se por um lado a Universidade deve lutar para nao  se tornar um supermercado de produtos culturais, por outro ela precisa estar dialogando criticamente com a realidade na qual está inserida de modo a formar pessoas questionadoras e competentes, mas não apenas músicos eruditos conhecedores do repertório clássico-romântico da tradição européia. É certo que os saberes veiculados na formação dos cursos de graduação em música ainda são muito eurocêntricos, mas pode-se verificar uma enorme demanda por parte dos que entram nos cursos para uma abertura a  outras tradições musicais e ao novo. </FONT></P>
<P><FONT size=3>Portanto, se quisermos continuar fiéis ao ideário socialista, é preciso refletir sobre os motivos pelos quais alguns saberes têm estado na universidade, ocupando uma posição privilegiada e outros ainda "não podem estar"... por que não o rock? ou a música sertaneja ou o jazz/ blues? ou a música de outros povos (africanos. japoneses, indianos, balineses)? e por que não os saberes do seu Teodoro e de outros tantos mestres? </FONT></P>
<P><FONT size=3> talvez uma análise sociológica revele que essa situação reflete, no nível do conhecimento, a exclusão social que caracteriza a realidade brasileira. Parece-me intrigante (prá nao dizer suspeito!) o fato de que, conforme dados fornecidos pelo prof. José Jorge de Carvalho, " 99% dos profs. das universidades públicas de maior presença nacional são brancos, em um país em que os negros representam 47% da população" (Inclusão Étnica e Racial no Brasil, 2006: 13).</FONT></P>
<P><FONT size=3>Acho ótimo que os membros da ANPPOM estejam começando a discutir essas questões...mas me parece que o problema é mais sério do que aparenta ser...com raízes históricas e culturais. Um novo ano está raiando e novas possibilidades sempre surgem nesses momentos de revisão. Aproveito para desejar a todos boas festas e um 2007 de muitas realizações e sucessos!</FONT></P>
<P><FONT size=3>Marcus S. Wolff</FONT></P>
<P>(pesquisador vinculado ao Laboratório de Etnomusicologia, Escola de Música, UFRJ <BR></P>
<BLOCKQUOTE style="PADDING-LEFT: 5px; MARGIN-LEFT: 5px; BORDER-LEFT: #a0c6e5 2px solid; MARGIN-RIGHT: 0px"><FONT style="FONT-SIZE: 11px; FONT-FAMILY: tahoma,sans-serif">
<BLOCKQUOTE style="PADDING-RIGHT: 0px; PADDING-LEFT: 5px; MARGIN-LEFT: 5px; BORDER-LEFT: #000000 2px solid; MARGIN-RIGHT: 0px">
<DIV style="FONT: 10pt arial">-----<BR></DIV><A href="mailto:Car@s">Car@s</A> colegas:
<P>Gostaria de lhes apresentar algumas considerações referentes às últimas mensagens sobre o "curso de rock".
<P>Em.
<P>Em segundo lugar, gostaria de comentar aquelas mensagens opinativas, que diziam estar a Universidade sem sintonia com a realidade. Existem colegas que defendem a idéia de que a Universidade deve estar atenta às demandas do mercado. Eu, como socialista convicto, que sonho com uma sociedade futura de direitos e oportunidades iguais para todos, uma sociedade fraterna, solidária, penso justamente o contrário. Acho que a Universidade deve, sim,  estar atenta às demandas do mercado, mas de modo crítico, para não correr o risco de trazer o inimigo para dentro da barricada. Entendo que a Universidade deve ser uma trincheira de luta contra a má realidade externa, forjada na ganância do capitalismo e de empresários que fabricam demandas de modo a aumentar a competição, a disputa fratricida e a exploração do homem pelo homem, aumentando cada vez mais as desigualdades, à custa do 
embrutecimento do povo e da repressão de sua capacidade criativa. A banalização cultural e as "musicas" comerciais de rápido e fácil consumo fazem parte desse processo. <BR>Digo que a Universidade não deve ser um supermercado. No Carrefour, quando existe uma forte demanda de yoghurt pelo público consumidor, seus proprietários enchem as prateleiras de yoghurt. A Universidade não pode ser assim. Nossas prateleiras não devem se encher de rap, hip hop, rock, samba, funk, techno, só porque o mercado apresenta grande demanda desses gêneros. <BR>Devo esclarecer que nada tenho contra essas manifestações culturais. Pelo contrário, adoro samba, rap, hip hop, rock, funk, techno, quando eles são bem feitos. Mas a "academização" desses gêneros certamente mataria suas espontaneidades e belezas. <BR>A totalidade dos rocks e roqueiros que conheço, e que fizeram e fazem bom rock, não estudou rock na 
Universidade. Pelo contrário, muitos deles estudaram música erudita na Universidade, ou outras áreas do conhecimento na Universidade, desembocando seus saberes, adquiridos na academia, na linguagem pop. <BR>É preciso se convencer de que não é qualquer atividade que pode ou deve ou precisa ser aprendida na Universidade. Muitas delas podem e devem ser estudadas em outros lugares. Por exemplo, o corte e costura não precisa, ou não deve, ser estudado na Universidade. O bumba-meu-boi também não. Ao trabalhar com meu queridíssimo amigo Seu Teodoro, de 80 anos idade, no projeto Speculum Brasilis, aprendi mil saberes novos. Seu Teodoro é o maranhense criador e diretor do famoso bumba-meu-boi de Brasília. Para economizar grana, o boi que eu queria usar adotaria o tambor-onça, dois pandeiros, o puxador e apenas uma matraca. Seu Teodoro rebelou-se: "- Com uma matraca só, não dá a tonalidade!" 
Depois, experimentando, vi que ele tinha razão. Conclusão: a poliritmia e o politimbrismo do boi do Seu Teodoro, com duas matracas, com sua "tonalidade" perfeita, casou maravilhosamente com a atonalidade de meus sons eletrônicos. <BR>Existem saberes que não podem correr o risco de serem contaminados pelos virus acadêmicos, porque correriam o risco de se transmutarem, se deformarem. <BR>Abraços para tod@s, com votos de boas festas. <BR>Jorge Antunes <BR>  <BR>  <BR>  <BR>  <BR> 
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<P></P>________________________________________________<BR>Lista de discussões ANPPOM <BR>http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l<BR>________________________________________________
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