<!doctype html public "-//w3c//dtd html 4.0 transitional//en">
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Caros Farlley e Wolff:
<p>Gostaria de esclarecer alguns pontos de meu pensamento.
<br>O Wollf diz:
<br><font color="#4618C6">"Portanto, se quisermos continuar fiéis
ao ideário socialista, é preciso refletir sobre os motivos
pelos quais alguns saberes têm estado na universidade, ocupando uma
posição privilegiada e outros ainda "não podem estar"...
por que não o rock? ou a música sertaneja ou o jazz/ blues?
ou a música de outros povos (africanos. japoneses, indianos, balineses)?
e por que não os saberes do seu Teodoro e de outros tantos mestres?"</font><font color="#4618C6"></font>
<p><font color="#000000">Não acho que ocupa posição
privilegiada o saber que está na Universidade.</font>
<br><font color="#000000">A música eletroacústica está
na Universidade e não tem qualquer privilégio. O mesmo acontece
com o piano, o violino, a composição musical, etc. Estes
cursos não têm qualquer privilério na sociedade.</font>
<br><font color="#000000">O quê é privilégio?</font>
<br><font color="#000000">O teclado Yamaha tem mais privilégios
que o piano de cauda.</font>
<br><font color="#000000">O compositor de música popular tem mais
privilégios que o de música erudita.</font>
<br><font color="#000000">Acho que privilegiados estão o rock, o
funk, a música "sertaneja" comercial que, graças ao jabá
pago por multinacionais do disco, estão no rádio, na TV,
nas prateleiras das lojas de disco, no Domingão do Faustão,
nas novelas, na boca do povo, no Programa do Gugu, etc.</font>
<br><font color="#000000">Quando me digo socialista, não estou dizendo
que sonho com um futuro em que todos os saberes estarão na Universidade.</font>
<br><font color="#000000">É infantilidade pretender formar brincantes
ou compositores de maracatu na Universidade. O máximo que se deve
fazer, e isso já se faz, é estudar o maracatu em disciplinas
tais como etnomusicologia, folclore, dança, sociologia, culturas
de tradição oral, etc.</font>
<br><font color="#000000">O lema socialista que adoto é: "De cada
um conforme suas capacidades, para cada um conforme suas necessidades".</font>
<br><font color="#000000">Sonho com um futuro em que todos os trabalhadores,
sejam eles compositores, camponeses, cientistas, repentistas, brincantes,
artistas circenses, comerciários, lixeiros, poetas, economistas,
sociólogos, pianistas, etc, façam seus trabalhos com prazer,
qualidade e amor, sendo igualmente remunerados de modo a terem, todos,
vidas dignas.</font>
<br><font color="#000000">É só isso.</font>
<br><font color="#000000">Não dá para formar roqueiros na
Universidade. Dá, sim, para oferecer ao jovem que se interessa pelo
rock, ou pelo samba, ou pelo chorinho, ou pela música eletrônica
pop, um bom período de vida acadêmica na Universidade, para
que ele, ao final, faça a arte de que gosta, munido de um lastro
de conhecimentos vasto para produzir arte de qualidade.</font>
<br><font color="#000000">Tenho exemplos paradigmais dessa experiência.
Cito um: Hamilton de Holanda. Este gênio do bandolim e do chorinho
foi meu aluno na UnB. Formou-se em composição musical. Fez
comigo os três semestres de contraponto. No total trabalhou seriamente
as cinco espécies a quatro vozes, o misto, o contraponto a dois
coros (oito vozes) e a fuga. Ele concluiu a fuga com magnífico trabalho:
uma fuga-choro. Outro exemplo: Roberto Corrêa. Este fez Física
e, em seguida, composição musical. Hoje é compositor
virtuose da viola caipira e pesquisador importante de nosso folclore.</font>
<br>É preciso que os saberes de tradição oral, continuem
com tradição oral.
<br>Nos anos 40 e 50 alguns folcloristas equivocados e, por isso, criminosos,
chegaram ao ponto de passar para o papel pautado, com notinhas do sistema
tonal, "melodias" dos pregões de rua, de aboios, etc. Essa conta
de chegar acadêmica e erudita foi criminosa, porque a escrita mata
os melismas, os quartos de tom, os sextos de tom, que aqueles cantos têm.
<br>Por enquanto basta.
<br>Continuemos com nossas reflexões e troca de idéias. Nada
é definitivo em minha cabeça. Não sou dono da verdade.
<br>Abraço,
<br>Jorge Antunes
<p> 
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<p>Farlley Jorge Derze wrote:
<blockquote TYPE=CITE>Prezado colegas, na garupa de Wolff e Antunes, complementaria
sobre o foi
<br>colocado:
<p>"Portanto, se quisermos continuar fiéis ao ideário socialista,
é preciso
<br>refletir sobre os motivos pelos quais alguns saberes têm estado
na
<br>universidade, ocupando uma posição privilegiada e outros
ainda "não podem
<br>estar"... por que não o rock? ou a música sertaneja ou
o jazz/ blues? ou a
<br>música de outros povos (africanos. japoneses, indianos, balineses)?
e por que
<br>não os saberes do seu Teodoro e de outros tantos mestres?"
<p>... conforme a preocupação trazida, o desafio talvez resida
em ter que se lidar
<br>com a raiz histórica de como os currículos foram construídos
e consolidados na
<br>grade universitária, isto é, no que tange às razões
de estarem lá estes ou
<br>aqueles conteúdos. Entretanto, o processo de consolidação
parece ter se
<br>resultado no que poderiamos considerar como "uma sistematização"
da prática
<br>ensino/aprendizagem universitária, e o que isso abarca: avaliação,
menções,
<br>resultados, critérios "x", "y", "z"... assim, que
<br>saberes/conhecimentos/critérios poderiam ser considerados em
um "processo de
<br>sistematização do conhecimento" sobre rock,jazz, música
de outros povos, para
<br>que tais conhecimentos transitem ou se figurem na prática docente/discente
<br>universitária? Não pergunto como se estivesse questionando
o valor da inserção
<br>de tais saberes na "grade" universitária. Longe disso ! Pergunto
com o tom de
<br>preocupação de quem não conseguiu localizar uma
referência anterior que pudesse
<br>oferecer um caminho para que o ideário socialista que Antunes
coloca, se
<br>desenvolvesse, se consolidasse. Salvo falha em minha interpretação,
uma
<br>Universidade aberta a todos (pessoas/gêneros musicais) sem abdicar
de sua
<br>função crítica !
<p>Percebo, neste espaço de discussões, que estamos tentando
remover os obstáculos
<br>que limitam, provisoriamente, o alcance de um consenso em favor da
inserção do
<br>patrimônio musical acumulado, na Universidade.
<p>As argumentações que estamos negociando, Wolff, Antunes,
Silvio, Sekeff,
<br>Mannis, Mauricio, Palombini, Marcos Filhos, Lilia Rosa, onde ora a
nota (o som)
<br>vem em uníssono, ora vem em “cluster”, é o azeite da
maquinaria crítica e
<br>questionadora, que promove o crescimento individual pela mútua
participação de
<br>todos. Eu tenho crescido muito com a oportunidade de negociar/trocar/tocar
com
<br>todos vocês.
<p>Farlley Derze</blockquote>
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