<html><div style='background-color:'><P>Prezado Hugo, realmente, sou muito sincera e não falo por meias palavras. Continuo mantendo o que eu disse pois  a minha visão não é uma simples opinião , mas constitui a filtragem somatória de um consistente e profundo trajeto profissional no âmbito da Filosofia, da Musicologia e da Educação Musical. </P>
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<DIV class=RTE>
<P>Os meus estudos filosóficos não pararam em Platão, Aristóteles, Kant, Hegel, Merleau-Ponty, Husserl mas, sim, foram desaguar em Heidegger e na Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Marcuse, Walter Benjamin e Habermas). </P>
<P>Esses estudos ainda hoje continuam a ocupar grande parte do meu tempo, e tenho o prazer de realizá-los com grande independência e auto-crítica, agora também no âmbito da fenomenologia e da semiótica, o que me permite reconhecer, sem dúvida, no <EM>campo de forças </EM>das teorias sobre a sociedade, aquelas  <STRONG>convergências filosóficas recorrentes </STRONG>que  desvelam, num dado nível,  "verdades e princípios universais", que, para mim, como observadora e estudiosa, estão se mantendo até prova em contrário.</P>
<P> A negação disto é a causa da desorientação desse mundo sem referências. E tais evidências e princípios universais que tenho vislumbrado estão também vigentes no campo da Etnomusicologia e não desmentem as palavras dos autores que citou.</P>
<P>Minha tese de Mestrado em Filosofia foi publicada em 1966, com o título <STRONG>"Elementos de uma filosofia da educação musical em Theodor Wiesengrund Adorno" </STRONG> e já tecia uma crítica violenta à <STRONG>Indústria Cultural,</STRONG> descrit,a minuciosamente, em suas estratégias por esse mesmo filósofo, muito antes  da crise que presenciamos hoje e que agora se encontra no ápice. Enfim, estudei estes problemas bem antes dos debates que hoje a área de música engendra e que já estavam no topo dos Cursos de Pós-Graduação em Filosofia de primeira linha, no Brasil, em 1991.</P>
<P>Quando falo da música folclorica como bem coletivo, eu me remeto aos tempos em que isto foi sentido de modo verdadeiro e natural, ou seja, quando <STRONG>a mídia não era dona da cultura, determinando as opções do povo e a mudança manipulada dos costumes e dos valores.</STRONG> </P>
<P>As  antigas canções folclóricas brasileiras constituem um bem precioso que deve ser resgatado e preservado na educação musical, inclusive como objeto de análise intersemiótica para se verificar os seus valores intrínsecos, investigando-se, inclusive, por que razão constitutiva elas foram preservadas como bem coletivo. Hoje estão praticamente abandonadas, sufocadas pela produção divulgada pela mídia.</P>
<P>Existem idéias que norteiam a educação que são válidas, por unanimidade, dentro da ótica dos valores cultivados pelos maiores educadores de todos os tempos e que constituem nosso referencial. Apoiam-se , por exemplo, - para ser bem simples nesse momento - na Declaração Universal dos Direitos do Homem, cuja síntese é a busca constante do bem e do desenvolvimento pleno, harmonioso e integral de <STRONG>todos</STRONG> os seres humanos, sem qualquer distinção (raça, língua ou credo), respeitando-se  as  características das diferentes culturas. Em nome desse ideal, a educação pode caminhar sem vacilações.</P>
<P> A época dos sofistas já  era ( e isto foi no século V antes de Cristo). A crítica à neutralidade se estende até a área da análise musical quando se ataca o nível neutro, objetivo ou imanente da Teoria da Tripartição de Jean Molino e Jean-Jacques Nattiez e as teorias da Física Quântica nos fazem mesmo duvidar do que estamos vendo diante de nós. Nem por isto podemos abdicar de nossos valores e convicções.  Conhecemos a árvore pelos frutos e, se ela não dá frutos, pelo que  significa para a comunidade por mais simples e humilde que seja.</P>
<P>Um abraço e Feliz Natal,</P>
<P>Sandra.       <BR></P><FONT style="FONT-SIZE: 11px; FONT-FAMILY: tahoma,sans-serif"></FONT>
<P><FONT style="FONT-SIZE: 11px; FONT-FAMILY: tahoma,sans-serif">From:  <I>Hugo Ribeiro <hugolribeiro@yahoo.com.br></I><BR>To:  <I>anppom-l@iar.unicamp.br</I><BR>Subject:  <I>Re: [ANPPOM-L] música popular e música folclórica</I><BR>Date:  <I>Sat, 23 Dec 2006 14:01:12 -0200</I><BR>>Prezada Sandra, desculpe-me, mas não pude me conter.<BR>><BR>>Apesar de afirmar que a Universidade é um território neutro, você <BR>>não<BR>>parece ser nem um pouco neutra. E na bem da verdade, não somos nem<BR>>podemos ser neutros. Classificar músicas como de "valor autêntico" e<BR>>outras de "péssima qualidade" é muito perigoso, e por mais <BR>>controversa<BR>>que essa discussão tenha chegado, ninguém ainda tinha se atrevido a<BR>>afirmar tão categoricamente uma visão tão preconceituosa.<BR>><BR>>Sua visão de música folclórica e 
popular já não mais reflete a <BR>>realidade<BR>>que as recentes pesquisas etnomusicológicas brasileiras (ou no <BR>>Brasil,<BR>>se assim preferirem) refletem. Na minha dissertação de mestrado <BR>>sobre as<BR>>Taieiras de Sergipe (disponível em<BR>>http://www.hugoribeiro.com.br/downloads_textos_hugo_01.html), por<BR>>exemplo, eu demonstro a fragilidade dessa noção de anonimidade, bem<BR>>coletivo, e preservação ingênua. Atualmente, os grupos tradicionais <BR>>já<BR>>estão "calejados" com os folcloristas das décadas de cinquenta e<BR>>sessenta, assim como com os festejos culturais, de interesses <BR>>puramente<BR>>turísticos, que se utilizam de uma dita tradição para credibilizar <BR>>sua<BR>>festa, e deturpam toda a ideologia que havia nas práticas culturais<BR>>locais. Aceitar que as tradições mudem é uma coisa, aceitar que 
<BR>>agentes<BR>>inescrupulosos interfiram nas práticas populares para terem <BR>>benefícios<BR>>próprios é outra.<BR>><BR>>Voltando à neutralidade da Universidade, cito um dos mais <BR>>interessantes<BR>>e provocadores filósofos da educação no Brasil. Em seu breve <BR>>"Conversas<BR>>com quem gosta de ensinar", Rubem Alves diz:<BR>><BR>>"Todo pensamento sai do nosso ventre, como o fio da teia. Cada <BR>>teoria é<BR>>um acessório da biografia, cada ciência um braço do interesse. Pelo<BR>>menos tenho em Gunnar Myrdal um companheiro: 'ciência social<BR>>desinteressada nunca existiu, e por razões lógicas, nunca pode <BR>>existir"<BR>>(Objectivity in social research, Nova York, Pantheon books, 1969, p.<BR>>55). E também Alvin Gouldner, que diz candidamente que "Cada teoria<BR>>social é também uma teoria que expressa e coordena as 
experiências<BR>>pessoais dos indivíduos que a propõem. Muito do esforço do homem <BR>>para<BR>>conhecer o mundo ao seu redor resulta de um desejo de conhecer <BR>>coisas<BR>>que lhe são pessoalmente importantes (Alvin Gouldner, The coming <BR>>crisis<BR>>of western sociology, Nova York, Avon Books, 1971)." (Rubem Alves,<BR>>Conversas com quem gosta de ensinar, Campinas, São Paulo, Papirus, <BR>>2000,<BR>>p. 42)<BR>><BR>>E segue mais adiante:<BR>><BR>>"Se cada teoria social é uma teoria pessoal, falar no impessoal, sem<BR>>sujeito, não passa de uma consumada mentira, um passe de mágica que<BR>>procura fazer o perplexo leitor acreditar que não foi alguém muito<BR>>concreto que escreveu o texto, mas antes um sujeito universal, que<BR>>contempla a realidade de fora dela. (...) Este assunto exigiria uma<BR>>outra conversa. Por ora, 
para os meus propósitos, basta reconhecer <BR>>que,<BR>>empiracamente, o tal sujeito portador de uma subjetividade livre de<BR>>valores nunca foi encontrado".<BR>><BR>>Assumindo minha posição pós-moderna, não acredito em verdades<BR>>desinteressadas, nem de posicionamentos neutros. Muito menos de uma<BR>>universidade neutra. E olhe que, minha ideologia etnomusicológica <BR>>pede<BR>>que eu seja neutro. Mas sei que é impossível. Minhas impressões <BR>>pessoais<BR>>transpiram nos meus textos, nas minhas aulas, assim como toda <BR>>impureza<BR>>sai pelos poros da minha pele, sem que eu nada possa fazer a <BR>>respeito.<BR>><BR>>A universidade pode sim, ajudar a transpor nossos preconceitos e <BR>>nossas<BR>>visões estreitas sobre o que música seja, e porque ela existe. <BR>>Merriam<BR>>há muito já havia identificado diversos usos e 
funções da música. <BR>>Dessa<BR>>forma, comparar um funk carioca com um Tom Jobim é um absurdo. Cada <BR>>qual<BR>>tem seus usos e funções específicos. E não cabe a mim dizer que tal<BR>>música deva ser cultivada, enquanto que outra deseduca e embrutece o <BR>>ser<BR>>humano. Platão já morreu faz milênios, e infelizmente sua teoria <BR>>sobre a<BR>>influência da música no ethos ainda persiste.<BR>><BR>>Viva a pluralidade.<BR>><BR>>Hugo Ribeiro<BR>>www.hugoribeiro.com.br<BR>>Doutorando em Etnomusicologia no<BR>>Programa de Pós-Graduação em Música<BR>>UFBA<BR>><BR>><BR>><BR>><BR>>Sandra Reis escreveu:<BR>>><BR>>>Prezados colegas, deixo aqui a minha modesta opinião, para <BR>>>colaborar com este debate que considero muito importante.<BR>>><BR>>>A *música folclórica *é aquela *música popular 
anônima *que foi <BR>>>incorporada à tradição, espontaneamente, como um *bem coletivo*. O <BR>>>povo se identificou com ela e a sua propagação passa de geração <BR>>>para geração num processo natural e prazeroso.<BR>>><BR>>>A *música popular simplesmente dita *é aquela que, por sua <BR>>>acessibilidade, cai no agrado do povo, graças à difusão comercial e <BR>>>tem autor conhecido, com direitos respeitados. Se ela está  fazendo <BR>>>sucesso em virtude de um *valor musical autêntico *(como é o caso <BR>>>dos grandes mestres da música popuilar brasileira como Tom Jobim, <BR>>>Chico, Caetano, Dorival Caimi, Ary Barroso, etc), podemos vê-la  <BR>>>como um processo natural e extremamente salutar que deve ser <BR>>>estudado, respeitado e cultivado.<BR>>><BR>>>*Se é de péssima qualidade*, se 
deseduca e embrutece o ser humano  <BR>>>e mesmo assim, está tendo uma divulgação em massa, condicionando, <BR>>>negativamente,  a infância e a juventude, também deve ser  estudada <BR>>>e criticada cientificamente, ou seja, através da discussão : /por <BR>>>que ela está fazendo tanto sucesso e atingindo o povo apesar de sua <BR>>>péssima qualidade? O que está acontecendo e o que deve ser feito?  <BR>>>/<BR>>><BR>>>O lugar certo para este debate e esta crítica é a Universidade que <BR>>>é um território neutro, onde há pessoas esclarecidas e estudiosas, <BR>>>dedicadas à causa da Educação no seu sentido mais elevado.<BR>>><BR>>>Esta é minha opinião.<BR>>><BR>>>Um abraço,<BR>>><BR>>>Sandra Loureiro de Freitas 
Reis<BR>>><BR>>>     <BR>>>------------------------------------------------------------------------<BR>>><BR>><BR>><BR>><BR>><BR>><BR>>_______________________________________________________ Yahoo! Mail <BR>>- Sempre a melhor opção para você! Experimente já e veja as <BR>>novidades. http://br.yahoo.com/mailbeta/tudonovo/<BR>><BR>><BR>>________________________________________________<BR>>Lista de discussões ANPPOM <BR>>http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l<BR>>________________________________________________<BR></P></FONT></DIV></DIV></div><br clear=all><hr>Inscreva-se no novo Windows Live Mail beta e seja um dos primeiros a testar as novidades. Saiba mais: <a href="http://g.msn.com/8HMABRBR/2728??PS=47575" target="_top">Saiba mais!</a> </html>