<!doctype html public "-//w3c//dtd html 4.0 transitional//en">
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<font color="#5918BB"><font size=+1>Car@s colegas e amig@s:</font></font><font color="#5918BB"><font size=+1></font></font>
<p><font color="#5918BB"><font size=+1>Saiu hoje, dia 2 de abril, no Correio
Braziliense, meu artigo intitulado "<b>A Cultura, o IBGE e o MinC</b>".</font></font>
<br><font color="#5918BB"><font size=+1>Nele eu denuncio o projeto de mediocrização
da cultura brasileira que o MinC vem implantando com base em pesquisa do
IBGE (que eu qualifico de estelionato estatístico).</font></font>
<br><font color="#5918BB"><font size=+1>Convido à leitura.</font></font>
<br><font color="#5918BB"><font size=+1>Abraço,</font></font>
<br><font color="#5918BB"><font size=+1>Jorge Antunes</font></font>
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<br> <b><font size=+1></font></b>
<p><b><font size=+1>A Cultura, o IBGE e o MinC</font></b>
<br>Jorge Antunes
<br>maestro, compositor, professor titular da UnB
<p>Quando o IBGE inventou nova metodologia para cálculo do PIB,
lembrei-me do diferencial delta da Proconsult, que dava a derrota a Brizola
nas eleições para governador do Rio em 1982. Presenciamos,
recentemente, a abertura do espetáculo do crescimento brasileiro:
da noite para o dia pulamos um ponto acima na classificação
mundial da economia.
<br>Já há algum tempo o IBGE vem aplicando passes de mágica
em seus cálculos. O Ministério da Cultura tem feito uso de
dados esdrúxulos do IBGE para implementação de sua
política cultural nefasta. A análise das políticas
culturais do MinC torna evidente seu objetivo: ampliação
dos mercados com vistas à auto-sustentabilidade da prática
cultural, para que o Estado abandone de vez o cumprimento ao preceito constitucional
de apoio à Cultura.
<br>Só podem ser auto-sustentáveis as práticas culturais
de massa em que a cadeia produtiva se sucede num infindável círculo
vicioso de exploração capitalista, com o império da
mediocridade. A ignorância e a ingenuidade atraem o capital estrangeiro.
É isso que interessa ao governo Lula. Assim, é preciso que
se extingam as orquestras sinfônicas, que não se combata o
turismo sexual, que se acabem as temporadas de ópera e que se precarize
o ensino superior gratuito.
<br>Essa opção política é danosa para a diversificada
cultura brasileira, porque os eventos artísticos de pequeno público
são exatamente aqueles cujas inovacões estéticas são
os alicerces da arte do futuro. A história mostra que obras de arte
de pequeno público, feitas por artistas inovadores, tornaram-se
rentáveis algumas décadas depois. A Villa-Lobos não
bastaria o talento: foi preciso o apoio do governo estadonovista para que,
hoje, sua obra pudesse vir a ser a que mais arrecada direitos autorais
para o Brasil.
<br>Para abalizar sua política, o MinC impõe nova palavra
de ordem nos círculos de artistas: a economia da cultura. Na medida
em que são escassos os grupos de artistas organizados, o Minc organiza-os,
induzindo e apoiando a montagem de feiras, fóruns e câmaras
setoriais onde, impositivamente, o tema é discutido.
<br>Para vender seu peixe, o MinC se apoia em dados do IBGE dizendo que
a cultura é o quarto item de consumo das famílias brasileiras
e que as atividades culturais já movimentam 7,9% da receita líquida
do país.
<br>Quem se debruça nos documentos do IBGE e, em especial, no Sistema
de Informações de Indicadores Culturais, se dá conta
da grande farsa procosultiana que vem sendo montada para que, definitivamente,
se mediocrize a cultura brasileira.
<br> Segundo a mencionada pesquisa do IBGE "as famílias brasileiras
gastam em média com cultura R$ 115,50 por mês, dos quais R$
50,97 com telefonia, seguida pela aquisição de eletrodomésticos
ligados à área cultural (R$ 17,25) e atividades de cultura,
lazer e festas (R$ 13,82)".
<br> O grande estelionato estatístico se revela ao estudarmos
a metodologia do IBGE no trato do fenômeno cultural. As atividades
econômicas direta e indiretamente relacionadas à cultura deveriam
ser aquelas ligadas aos costumes, ao lazer e às artes. Assim, os
itens deveriam estar ligados ao livro, ao rádio, ao vestuário,
à televisão, ao teatro, à música, às
artes visuais, ao espetáculo, às bibliotecas, aos arquivos,
aos museus, ao patrimônio histórico, etc.
<br> Os quadros do IBGE bem esclarecem as razões de tão
surpreendentes conclusões. O telefone está lá presente,
como item decisivo da economia da cultura. Só agora compreendo porque
é difícil implantar-se a proibição de telefones
celulares nos presídios. Isso certamente prejudicaria a economia
da cultura.
<br>Nas tabelas do IBGE existem outros itens estranhos, relacionados como
atividades do setor cultural: computadores, telefones, artefatos para caça,
reparação e aluguel de veículos automotores, pesquisa
de ciências físicas e supervisão de joalheria.
<br>Para a pesquisa de orçamentos familiares, o IBGE considerou
itens também curiosíssimos: datilografia, casamento, aluguel
de cadeira de praia, curso de primeiros socorros, cópia xerox, taxa
de instalação de interfone e curso de mecânica em refrigeração.
<br> Estranhei a ausência de um item importante para a economia
da cultura: a fabricação de vidro para janelas de automóveis.
Somos inúmeros os cidadãos brasileiros que usamos a janela
de vidro do carro para nos protegermos dos ataques sonoro-culturais de
motoristas. Eu, pelo menos, aciono imediatamente o vidro de meu carro quando,
ao lado, outro carro toca um som funkiano em último volume.
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