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Querido Damián:
<p>Não tenho qualquer acusação a fazer. Só
conto com a observação pessoal com respeito à ingenuidade
acadêmica e científica de alguns de nossos pares. Essa ingenuidade,
essa despolitização, que às vezes chega às
raias da mediocridade, tem dado enorme prejuizo à prática
e ao ensino das artes na Universidade brasileira.
<br>Então, quando um acadêmico da área de artes toma
assento em colegiado rodeado de cientistas, filósofos, sociólogos,
muitas vezes faz intervenções risíveis. A saída,
então, passa a ser aquela de se apregoar que nossa área tem
especificidades que os da área de ciências não entendem.
<br>Muitos defendem, inclusive, que o resultado da prova de habilitação
em música tenha muito peso, reivindicando maior diminuição
dos pesos, no vestibular, das provas de ciências, história
e línguas. O emburrecimento e a alienação das novas
gerações, com isso, vem sendo aumentados. Parece que não
se deseja formar violinistas. O que se quer é formar tocadores de
violino.
<br>Parece que não se pretende mais formar compositores intelectuais
de sólida formação em acústica, psicoacústica
e eletroacústica. O que se pretende é formar arranjadores
submissos ao mercado, ao bispo, ao papa e ao pastor.
<br>O formando, observamos, não precisa saber falar bem, escrever
bem, pensar bem, criticar bem, opinar bem. Essas coisas tem ficado ao encargo
do pastor e da prática no culto. Na Universidade o importante é
ele saber tocar o que está escrito no pentagrama, quietinho, caladinho,
sob a batuta de espoliadores e autoridades.
<br>Pretender que se implante um exame de aptidão numa Universidade
é de um reacionarismo inaceitável.
<br>Quem usa a palavra "aptidão" tem que ser realmente desconsiderado.
Ao se defender um "exame de aptidão", com essa designação,
não se está cometendo um equívoco de linguagem. O
que está acontecendo é a defesa da idéia de que se
acredita na existência de "talentos" e de "pendores inatos". E que
na Universidade só deve entrar "quem tem talento".
<br>Menos mal será defender, pelo menos por enquanto, a aplicação
de "provas específicas". Essas provas não avaliam "talento".
Essas provas não avaliam "aptidões". Essas provas não
avaliam "pendores artísticos". Elas avaliam grau de conhecimentos
teórico-musicais e domínio auditivo do sistema tonal. O que,
aliás, também é lamentável. O que se deseja
é o ingresso de bons solfejadores. A maioria dos avaliadores busca
candidatos que saibam reconhecer e distinguir o modo maior do modo menor,
o timbre do oboé do timbre do violino, o acorde de sétima
da dominante do acorde de sétima da sensível. Mas os avaliadores
não acham importante saber distinguir uma onda senoidal de uma onda
dente-de-serra.
<br>Abraço,
<br>Jorge Antunes
<p>PS. Yo Brasileiro.
<br> 
<br> 
<br> 
<p>Yo Argentino wrote:
<blockquote TYPE=CITE>>Date: Thu, 04 Oct 2007 16:51:32 -0300
<br>From: Jorge Antunes <antunes@unb.br>
<br>Subject: Re: [ANPPOM-L] Fim do exame de aptidão no Acre
<br>To: anppom-l@iar.unicamp.br
<br>Message-ID: <4705443D.2E98B60D@unb.br>
<br>Content-Type: text/plain; charset="iso-8859-1"
<p>>Colegas:
<p>>Muitos professores de música que ocupam cargos na administração
<br>>universitária
<br>não têm aptidão para lidar com as pessoas de ciência
da administração
<br>superior e
<br>de orgãos colegiados. A relação, nesses casos,
se torna azeda, acre.
<p>Antunes,
<p>Se você tem alguma acusação a fazer, faça-a
de forma explícita, com nome e
<br>sobrenome.
<p>Obrigado,
<br>Damián
<p>Dr. Damián Keller
<br>Coordenador, Curso de Música
<br>Universidade Federal do Acre
<p>Chair, Division of Music
<br>Federal University of Acre
<br><a href="http://ccrma.stanford.edu/~dkeller">http://ccrma.stanford.edu/~dkeller</a>
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