Caro Rubens,<br>Infelizmente atualmente estou incapacitado para responder mais profundamente, pois estou no Encontro Nacional da ABEM, em Campo Grande, com acesso restrito à internet. Mas deixo a mesma provocação que fiz à professora Beatriz Ilari, após sua palestra hoje pela manhã:
<br><br>Como podemos nós, da Etnomusicologia, Sociologia da Educação Musical, e Educação Musical falarmos em diversidade musical como uma realidade, como uma prática nas instituições de ensino de música (e não mais como dilema) se, para ser um etnomusicólogo ou um educador musical (muitos diriam que isso é um neologismo) precisamos, obrigatoriamente aprender contraponto e harmonia durante quatro anos?
<br><br>Será que um dia será possível reconhecermos um excelente músico como merecedor de um diploma de curso superior sem ter que obrigá-lo a cursar tais disciplinas dogmáticas?<br><br>Será que seria possível pensarmos num currículo de um curso superior de música, aberto e flexível o suficiente para um aluno de composição, educação musical, violino, ou o que for, escolher não cursar determinadas disciplinas ou ter que executar determinado repertório canônico, e ainda assim poder se formar e seguir adiante profissionalmente?
<br><br>Quando eu voltar para Aracaju, eu continuo...<br><br>Um abraço, e obrigado pela oportunidade da discussão.<br><br>Hugo Ribeiro<br><br><br><div><span class="gmail_quote">Em 09/10/07, <b class="gmail_sendername">Rubens Ricciardi
</b> <<a href="mailto:rrrr@usp.br">rrrr@usp.br</a>> escreveu:</span><blockquote class="gmail_quote" style="border-left: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0pt 0pt 0pt 0.8ex; padding-left: 1ex;">
<div bgcolor="#ffffff">
<div><font face="Arial" size="2">caro Prof. Hugo Leonardo Ribeiro,</font></div>
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div>
<div><font face="Arial" size="2">o senhor escreveu:</font></div><span class="q">
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div>
<div><em>"uma música "antiga", cheia de regras, de preconceitos harmônicos
(consonâncias e dissonâncias)"</em></div>
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div></span>
<div><font face="Arial" size="2">prezado colega, com todo respeito,
preconceituosa é a sua generalização...</font></div>
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div>
<div><font face="Arial" size="2">dissonância(s) e consonância(s) são sempre
historialmente contextuais (em cada época a questão é posta de modo diverso),
ainda quando se pode reduzir a tanto...</font></div>
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div>
<div><font face="Arial" size="2">regras? nenhum único grande compositor deixou de
criar as suas...</font></div>
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div>
<div><font face="Arial" size="2">me perdoe, mas colocar tudo no mesmo saco é
desconhecer os fundamentos das poéticas musicais ao longo da história - e temos
aí pelo menos uns 2500 anos de música escrita,</font></div>
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div>
<div><font face="Arial" size="2">temos que diferenciar melhor este seu "antigo",
pois então sua compreensão do "novo" pode ser prejudicada e
igualmente sua escuta pode se tornar por demais redutiva...</font></div>
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div>
<div><font face="Arial" size="2">mas enfim, é preciso <u>talento</u> antes de
mais nada para se ouvir música... as linguagens, os estilos, as estruturas,
as texturas de fato em suas ricas relações com os parâmetros musicais, os
contrastes, as liberdades formais, o métier, as singularidades
poéticas...</font></div>
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div>
<div><font face="Arial" size="2">não deixa de ser um exercício exaustivo para
aquele que se aventura a "aprimorar o gosto
elitista"...</font></div>
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div>
<div><font face="Arial" size="2">Rubens Ricciardi</font></div>
<div><font face="Arial" size="2"></font> </div>
<blockquote style="border-left: 2px solid rgb(0, 0, 0); padding-right: 0px; padding-left: 5px; margin-left: 5px; margin-right: 0px;"><span class="q">
<div style="font-family: arial; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10pt; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal;">----- Original Message ----- </div>
<div style="background: rgb(228, 228, 228) none repeat scroll 0% 50%; -moz-background-clip: -moz-initial; -moz-background-origin: -moz-initial; -moz-background-inline-policy: -moz-initial; font-family: arial; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10pt; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal;">
<b>From:</b>
<a title="hugolribeiro@yahoo.com.br" href="mailto:hugolribeiro@yahoo.com.br" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">Hugo Leonardo Ribeiro</a> </div>
<div style="font-family: arial; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10pt; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal;"><b>To:</b> <a title="anppom-l@iar.unicamp.br" href="mailto:anppom-l@iar.unicamp.br" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">
anppom-l@iar.unicamp.br</a> </div>
<div style="font-family: arial; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10pt; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal;"><b>Cc:</b> <a title="rrr@usp.br" href="mailto:rrr@usp.br" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">
rrr@usp.br</a> ; <a title="musicoyargentino@hotmail.com" href="mailto:musicoyargentino@hotmail.com" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">Yo Argentino</a> </div>
<div style="font-family: arial; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10pt; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal;"><b>Sent:</b> Monday, October 08, 2007 9:18
AM</div>
<div style="font-family: arial; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-size: 10pt; line-height: normal; font-size-adjust: none; font-stretch: normal;"><b>Subject:</b> [ANPPOM-L] Qual a música que
queremos em nossas Universidades?</div>
<div><font face="Arial" size="2"></font><br></div>Apesar de "lutar" contra
qualquer forma de elitismo musical disfarçado sob o pseudônimo de "dom" ou
"talento" (John Blacking vem logo à mente), acredito que nossos exames de
conhecimento específico estão realmente descontextualizados. Há muitos mais
saberes musicais que poderiam ser aproveitados na academia. Mas as provas
específicas de música são muito limitadas em sua capacidade de avaliar a
musicalidade de uma pessoa. <br><br>Lembro também das palavras de Lucas
Robatto, quando afirmava que Widmer fez uma experiência quando pegava pessoas
"comuns" e as transformava em grandes compositores de música contemporânea,
cujo exemplo mais claro e incontestável foi Agnaldo Ribeiro. Pelo que parece,
para Widmer, o acúmulo de conhecimento sobre as regras e teorias tonais iriam
"atrapalhar" a criatividade latente (Schaffer) que existe dentro de nós,
principalmente no que se referia à liberdade de experimentar novos sons, novas
combinações harmônicas e timbrísticas. <br><br>Uma breve comparação auditiva
entre as obras de dois compositores que foram alunos na UFBA, em períodos
distintos, Agnaldo Ribeiro (livre, sem amarras tonais) e Wellington Gomes
(cujo conhecimento tonal prévio está indiscutivelmente presente em sua obra),
nos revela essa diferença de pensamento composicional. Não há mérito ou
demérito. Há diferentes formas de pensar e sentir música. <br><br>Recentemente
tive uma experiência semelhante durante minha pesquisa para a tese de
doutorado. Deparei com dois músicos com qualidades e saberes diferentes. Cada
qual poderia ser considerado um excelente músico dentro do estilo que tocavam.
Ambos eram guitarristas de Metal. Mas um toca Heavy Metal, com todo um
conhecimento tonal que implica tocar esse estilo. O outro toca Death Metal,
com toda anarquia atonal que o estilo exige. Mas, digamos, se ambos quisessem
fazer um curso superior em Composição, o primeiro sairia na vantagem, pois já
traria uma bagagem de vivência prática e teórica a respeito de um tipo de
música que será a base da avaliação, ou seja, a música tonal, seja em termos
teóricos, gramaticais ou perceptivos. O segundo guitarrista teria que se
esforçar em aprender as regras do sistema tonal, para poder ser admitido, e
todo seu conhecimento musical, sua experiência e prática não seriam levados em
consideração. O paradoxo está no fato que, o primeiro vivencia uma música
"antiga", cheia de regras, de preconceitos harmônicos (consonâncias e
dissonâncias), enquanto que o segundo vivencia uma música muito mais moderna,
contextualizada com o caos urbano, sem preconceitos, sem amarras teóricas, e
com muito mais liberdade sonora (inclusive no uso de texturas densas como um
ruido branco, ou claras como um dedilhado com a guitarra "clean").
<br><br>Inclusive esse guitarrista de Death Metal chegou a me procurar para
ter aulas particulares sobre escalas e harmonias, como ele próprio disse. Nos
desencontramos antes que pudesse dar a resposta. Mas confesso que fiquei com
medo de que, ao ensiná-lo regras tonais, acabasse por reprimir de alguma forma
suas idéias atonais que eu tanto admirava. <br><br>E concordo plenamente com o
Antunes quando ele nos provoca para repensarmos nossos exames de "aptidão
musical". Como podemos esperar compositores, intérpretes e público de música
contemporânea se ainda exigimos que, para entrar na Universidade, eles passem
anos de suas vidas estudando a música de três séculos atrás? Como criticar as
orquestras por tocarem tanto Mozart e Beethoven, se é esse o repertório que
elegemos como "cavalos de batalha", como diria o pajé Manuel Veiga?
<br><br>Vou parar por aqui pois acho que já estou me repetindo, e creio que
vocês já entenderam o que eu queria dizer, ou melhor, provocar.<br><br>Hugo
RIbeiro<br><br><br>
</span><div><span class="gmail_quote">Em 08/10/07, <b class="gmail_sendername">Rubens
Ricciardi</b> <<a href="mailto:rrrr@usp.br" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">rrrr@usp.br</a>>
escreveu:</span>
<blockquote class="gmail_quote" style="border-left: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0pt 0pt 0pt 0.8ex; padding-left: 1ex;"><span class="q">meus
caros, <br><br>então "talento" não existe??? é tudo "crença"???<br><br>pois
viva o mediano! viva o politicamente correto! - aí sim se está salvo
e<br>seguro na própria mesquinhez...<br><br>Rubens
Ricciardi<br><br><br>----- Original Message -----<br>From: "eduardo luedy"
<<a href="mailto:eluedy@yahoo.com" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">eluedy@yahoo.com</a>><br></span><span class="q">To: <<a href="mailto:antunes@unb.br" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">
antunes@unb.br</a>>; "Yo Argentino" < <a href="mailto:musicoyargentino@hotmail.com" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">musicoyargentino@hotmail.com</a>>;<br><<a href="mailto:anppom-l@iar.unicamp.br" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">
anppom-l@iar.unicamp.br</a>><br>Sent:
Friday, October 05, 2007 8:10 PM<br>Subject: Re: [ANPPOM-L] insinuação do
Antunes <br><br><br>Prezados colegas da anppom,<br><br>Este debate está
muito interessante.<br>Concordo em quase tudo que foi dito pelo
Jorge<br>Antunes. Também lamento que a crença no "talento", no<br>"dom
inato" ainda se façam tão presentes em nosso meio
<br>acadêmico.............. Abraços a todos,<br><br>Eduardo
Luedy<br><br>________________________________________________<br>Lista de
discussões ANPPOM<br><a href="http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l" target="_blank" onclick="return top.js.OpenExtLink(window,event,this)">http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
</a><br></span>________________________________________________<br></blockquote></div><br>
<p>
</p><hr><span class="q">
<p></p>________________________________________________<br>Lista de discussões
ANPPOM
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<p>
</p><hr>
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3/10/2007 10:08<br><p></p><p></p></blockquote></div>
</blockquote></div><br>