<!doctype html public "-//w3c//dtd html 4.0 transitional//en">
<html>
Caro Rogério:
<p>Seus valiosos dez centavos enriquecem o debate.
<br>Os estudantes que chegam, com paciência e muito trabalho, até
ao contraponto florido a dois coros, acabam por entender e dominar complexidade
que abarca qualquer construção musical com menor nivel de
complexidade.
<br>A polirrítmia da música afro-brasileira é sub-conjunto
da complexidade maior englobada pelo contraponto a que me referi.
<br>O domínio e a prática do contraponto, a que me refiro,
inclui as polirritmias mais complexas. A polirritmia afro-brasileira, a
que você chama de complexa, agrupa a simultaneidade de ritmos em
que o tempo é dividido em razões simples, em múltiplos
de dois e três. Não existem quiálteras de sete ou nove
na rítmica afro-brasileira.
<br>Quem chega a praticar o contraponto florido a oito vozes, com porritmias
complexas, estará pronto para entender qualquer sub-grupo desse
total complexo: desde os motetos de Perotin, em que até os textos
poéticos são contrapontados; as experimentações
dos Gabrieli; a polirritmia afro-brasileira; a polirritimia das músicas
folclóricas latino-americanas; os contrastes polirrítmicos
e fonéticos de John Cage (Dissertação sobre Nada,
para 4 locutores); passando pelo microcontraponto imbricado das texturas
ligetianas; até o contraponto das vozes de mixagem da música
eletroacústica, desde o Estudo nº 1 de Stockhausen, até
as Fabulae de Bayle.
<br>Abraço,
<br>Jorge Antunes
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<p>Rogerio Budasz wrote:
<blockquote TYPE=CITE>Colegas,
<p>A Universidade já existia antes do "contraponto clássico
tonal" e vai continuar a existir depois dele. O contraponto funciona muito
bem como ferramenta de composição e análise da música
da Europa e de suas colônias. Aliás, eu diria até que
nesses casos é indispensável. Mas se, no âmbito da
universidade, eu desejo entender a complexidade polirrítmica da
música afro-brasileira, talvez eu devesse começar pelo tambor
de onça mesmo, como ponto de partida para explorar esse universo.
<p>Não se trata de sugerir a inclusão dessa disciplina no
currículo, de querer que a universidade ensine a tocar tambor de
onça, porque vai ensinar mal, mesmo porque nunca vai conseguir replicar
todo o contexto envolvido na interpretação. Além disso
há a questão do poder, já colocada antes na lista.
Se o tambor de onça vira instrumento da elite, é bem provável
que ele seja substituído na origem por outra coisa. Entretanto,
devem haver meios para valorizar a arte do tocador de tambor de onça
(metaforicamente falando, prá ficar no exemplo citado) e aprender
com ele, mesmo dentro da universidade.
<p>De qualquer forma, e sem conseguir fugir da contradição,
é bom não esquecer que a polifonia ocidentental (e a partir
dela a disciplina que chamamos "contraponto") se desenvolveu a partir de
práticas populares, como a heterofonia, sendo incorporada e transformada
na música das elites (ver Hoppin, Judkin, etc). Exemplos assim temos
aos montes. Se um dia as estruturas polirrítmicas da música
africana virarem disciplina nas nossas academias (se é que já
não o são em algumas), é porque estarão sendo
úteis para nós de alguma forma. Se algum dia o "contraponto
clássico tonal" deixar de ser disciplina acadêmica ou for
relegado a uma posição periférica (e isso vai ocorrer,
cedo ou tarde, como ocorreu com o isorritmo, o baixo cifrado, e tantas
técnicas que pareciam eternas em suas épocas), é porque
já não nos serve.
<p>meus dez centavos
<p>Rogério
<p><b><i>Jorge Antunes <antunes@unb.br></i></b> wrote:
<blockquote class="replbq" style="border-left: 2px solid rgb(16, 16, 255); margin-left: 5px; padding-left: 5px;"> Oi,
Hugo:Não façamos confusão com as metas gerais da civilização
brasileira, com palavras de ordem e com os chavões.
<br>Diversidade cultural é panorama de meta e prática, como
um todo, para a vida e para as políticas culturais governamentais.
<br>A Universidade não é instituição que deva
cobrir, na totalidade, a pesquisa e a formação brasileira.
<br>Além dela, existem outras instituições que garantem
a completude da formação profissional-cultural: as escolas
de samba, os grupos folclóricos, os grupos de hip-hop, os clubes
do choro, as escolas de rock, as gafieiras, os bailes funk, as festas rave,
etc, etc.
<br>Cada macaco em seu galho. A Universidade não deve ter a ousadia
tresloucada de pretender ensinar a um brincante de bumba-meu-boi a tocar
tambor-onça.
<br>O estudo do contraponto clássico não contempla apenas
uma vertente musical como você pensa. O microcontraponto que Ligeti
e outros usaram e usam na construção de tramas e texturas,
não pode ser realizado e analisado por quem não estudou contraponto
clássico tonal. Essa técnica escolástica contempla
todas as vertentes musicais e abre a mente para o enfrentamento com todas
as situações complexas do cotidiano.
<br>Abraço,
<br>Jorge Antunes
<br> 
<br> 
<br> Hugo Leonardo Ribeiro wrote:
<blockquote type="CITE">Caro Jorge,Gosto de pensar o estudo do contraponto
exatamente como essa metáfora do xadrez, como um exercício
de lógica e domínio de conteúdo. Porém, onde
fica a diversidade cultural num currículo que só contempla
uma vertente musical? Ou devemos deixar a diversidade cultural somente
no discurso? Ou isso não deve ser sequer discutido? Talvez em outra
lista?Quando disse nós, eu me referia aos professores universitários
responsáveis pela eleição dos conhecimentos válidos
a serem ensinados na universidade,  àqueles responsáveis
pela construção desse currículo linear que faz com
que todos sejam obrigados a cursar as mesmas disciplinas (com um mínimo
de flexibilidade), àqueles que decidem quem pode ser um educador
musical ou não.Ou vocês realmente acham que um professor de
instrumento, composição ou harmonia não é um
educador musical?Hugo Ribeirop.s.1 Meu laptop encontrou uma rede sem fio
descriptografada... Estou de volta à civilização :)p.s.2
Jussamara Souza bem lembrou que nas décadas de 1960 e 70 a Educação
Musical estava uito próxima dos compositores (vide as oficinas de
música, Schaffer, Cage, Grupo de Compositores da Bahia..). O que
houve de lá pra cá? Porquê desse distanciamento tão
nocivo para ambas as áreas?
<br><span class="gmail_quote">Em 10/10/07, <b>Jorge Antunes</b> <<a href="mailto:antunes@unb.br">antunes@unb.br</a>>
escreveu:</span>
<blockquote class="gmail_quote" style="border-left: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0pt 0pt 0pt 0.8ex; padding-left: 1ex;"> Caro
Eduardo:Não vejo nada de problemático no que se refere a
uma acertada decisão sobre o que deve servir para as futuras gerações.
<br>A nação ideal será aquela formada de cidadãos
de grande capacidade intelectual e crítica, capazes de dominar as
complexidades.
<br>Um povo que só compreende sistemas simples e banais, com baixo
nível de complexidade, será um povo consumidor de produtos,
estruturas, discursos, ideologias e tecnologias importadas. Será
um povo submisso aos donos do mundo, meros consumidores de máquinas,
sistemas e saberes importados.
<br>O sucateamento da Universidade e a prática que considera a educação
como mercadoria, iniciadas com o advento do neoliberalismo, visam exatamente
isso: formar um povo que não terá condições
de criar saberes novos, porque o ponto máximo a ser alcançado
será o status de técnico, apertador de botões (botões
de tecnologias importadas do primeiro mundo).
<br>É por isso que eu discordo daqueles que são contra o
estudo de Contraponto nos cursos de música. O bom músico,
seja qual for a área de atuação profissional, deve
adquirir formação em que se trabalhe o Contraponto a 2, 3,
4, 5 e 8 vozes, nas claves. Acho que, por isso mesmo, todos deveriam aprender
a jogar xadrez.
<br>Abraço,
<br><span class="sg">Jorge Antunes</span><span class="e" id="q_1158c590047f79a5_2">
<br></span></blockquote>
</blockquote>
________________________________________________
<br>Lista de discussões ANPPOM
<br><A HREF="http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l">http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l</A>
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<br>Prof. Dr. Rogério Budasz
<br>Departamento de Artes
<br>Universidade Federal do Paraná
<br>rogeriobudasz@yahoo.com
<br>budasz@ufpr.br
<br><A HREF="http://www.artes.ufpr.br/departamento/docentes/rogeriob.htm">http://www.artes.ufpr.br/departamento/docentes/rogeriob.htm</A>
<p>
<hr size=1>Yahoo! oneSearch: Finally, <a href="http://us.rd.yahoo.com/evt=48252/*http://mobile.yahoo.com/mobileweb/onesearch?refer=1ONXIC">mobile
search that gives answers</a>, not web links.</blockquote>
</html>