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  <title></title>
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<body bgcolor="#ffffff" text="#000000">
<br>
Leitoras e leitores,<br>
<br>
A questão "que música queremos em nossas universidades" não me parece
de suma importância.  Esta formulação mostra bem o pendor exclusivista
("a música"), a pretensão universalista ("Universidades") e a ambição
apropriadora ("nossas").  Fazendo uso da metáfora lingüística
corriqueira (tão limitada quando se trata de explicitar a natureza do
musical), ela equivale à pergunta "que línguas queremos em nossos
cursos de lingüística" ou "que literaturas em nossos cursos de letras".
Ela só faz sentido para quem acredite que a função dos cursos
superiores de música seja formar instrumentistas e/ou compositores.
Nenhuma música é intrinsicamente melhor ou pior do que outra. Não há
objetos mais ou menos nobres de pesquisa. Acabo de ler um livro sobre
_A vida cultural sob Vichy_ e o capítulo mais esclarecedor tanto sobre
a economia quanto sobre o espírito do tempo da França ocupada é aquele
que trata dos destinos da alta costura sob a ocupação alemã. O problema
é que, nestas discussões, geralmente se equaciona Universidade com
Conservatório, e cada um quer ocupar esta arena com aquilo que melhor
se coadune com sua ideologia.  <br>
<br>
Ou não?<br>
<br>
Carlos Palombini<br>
<br>
<br>
<blockquote cite="mid:771369.83867.qm@web30210.mail.mud.yahoo.com"
 type="cite">A Universidade já existia antes do "contraponto clássico
tonal" e vai continuar a existir depois dele. O contraponto funciona
muito bem como ferramenta de composição e análise da música da Europa e
de suas colônias. Aliás, eu diria até que nesses casos é indispensável.
Mas se, no âmbito da universidade, eu desejo entender a complexidade
polirrítmica da música afro-brasileira, talvez eu devesse começar pelo
tambor de onça mesmo, como ponto de partida para explorar esse
universo. <br>
  <br>
Não se trata de sugerir a inclusão dessa disciplina no currículo, de
querer que a universidade ensine a tocar tambor de onça, porque vai
ensinar mal, mesmo porque nunca vai conseguir replicar todo o contexto
envolvido na interpretação. Além disso há a questão do poder, já
colocada antes na lista. Se o tambor de onça vira instrumento da elite,
é bem provável que ele seja substituído na origem por outra coisa.
Entretanto, devem haver meios para valorizar a arte do tocador de
tambor de onça (metaforicamente falando, prá ficar no exemplo citado) e
aprender com ele, mesmo dentro da universidade.<br>
  <br>
De qualquer forma, e sem conseguir fugir da contradição, é bom não
esquecer que a polifonia ocidentental (e a partir dela a disciplina que
chamamos "contraponto") se desenvolveu a partir de práticas populares,
como a heterofonia, sendo incorporada e transformada na música das
elites (ver Hoppin, Judkin, etc). Exemplos assim temos aos montes. Se
um dia as estruturas polirrítmicas da música africana virarem
disciplina nas nossas academias (se é que já não o são em algumas), é
porque estarão sendo úteis para nós de alguma forma. Se algum dia o
"contraponto clássico tonal" deixar de ser disciplina acadêmica ou for
relegado a uma posição periférica (e isso vai ocorrer, cedo ou tarde,
como ocorreu com o isorritmo, o baixo cifrado, e tantas técnicas que
pareciam eternas em suas épocas), é porque já não nos serve.<br>
  <br>
meus dez centavos<br>
  <br>
Rogério<br>
  <br>
  <b><i>Jorge Antunes <a class="moz-txt-link-rfc2396E" href="mailto:antunes@unb.br"><antunes@unb.br></a></i></b> wrote:
  <blockquote class="replbq"
 style="border-left: 2px solid rgb(16, 16, 255); margin-left: 5px; padding-left: 5px;">
Oi, Hugo:
    <div>Não façamos confusão com as metas gerais da civilização
brasileira, com palavras de ordem e com os chavões. <br>
Diversidade cultural é panorama de meta e prática, como um todo, para a
vida e para as políticas culturais governamentais. <br>
A Universidade não é instituição que deva cobrir, na totalidade, a
pesquisa e a formação brasileira. <br>
Além dela, existem outras instituições que garantem a completude da
formação profissional-cultural: as escolas de samba, os grupos
folclóricos, os grupos de hip-hop, os clubes do choro, as escolas de
rock, as gafieiras, os bailes funk, as festas rave, etc, etc. <br>
Cada macaco em seu galho. A Universidade não deve ter a ousadia
tresloucada de pretender ensinar a um brincante de bumba-meu-boi a
tocar tambor-onça. <br>
O estudo do contraponto clássico não contempla apenas uma vertente
musical como você pensa. O microcontraponto que Ligeti e outros usaram
e usam na construção de tramas e texturas, não pode ser realizado e
analisado por quem não estudou contraponto clássico tonal. Essa técnica
escolástica contempla todas as vertentes musicais e abre a mente para o
enfrentamento com todas as situações complexas do cotidiano. <br>
Abraço, <br>
Jorge Antunes <br>
  <br>
  <br>
  </div>
    <div>Hugo Leonardo Ribeiro wrote: </div>
    <blockquote type="CITE">Caro Jorge,
      <div>Gosto de pensar o estudo do contraponto exatamente como essa
metáfora do xadrez, como um exercício de lógica e domínio de conteúdo.
Porém, onde fica a diversidade cultural num currículo que só contempla
uma vertente musical? Ou devemos deixar a diversidade cultural somente
no discurso? Ou isso não deve ser sequer discutido? Talvez em outra
lista? </div>
      <div>Quando disse nós, eu me referia aos professores
universitários responsáveis pela eleição dos conhecimentos válidos a
serem ensinados na universidade,  àqueles responsáveis pela construção
desse currículo linear que faz com que todos sejam obrigados a cursar
as mesmas disciplinas (com um mínimo de flexibilidade), àqueles que
decidem quem pode ser um educador musical ou não. </div>
      <div>Ou vocês realmente acham que um professor de instrumento,
composição ou harmonia não é um educador musical? </div>
      <div>Hugo Ribeiro </div>
      <div>p.s.1 Meu laptop encontrou uma rede sem fio
descriptografada... Estou de volta à civilização :) </div>
      <div>p.s.2 Jussamara Souza bem lembrou que nas décadas de 1960 e
70 a Educação Musical estava uito próxima dos compositores (vide as
oficinas de música, Schaffer, Cage, Grupo de Compositores da Bahia..).
O que houve de lá pra cá? Porquê desse distanciamento tão nocivo para
ambas as áreas? <br>
      <span class="gmail_quote">Em 10/10/07, <b>Jorge Antunes</b> <<a
 moz-do-not-send="true" href="mailto:antunes@unb.br">antunes@unb.br</a>>
escreveu:</span> </div>
      <blockquote class="gmail_quote"
 style="border-left: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0pt 0pt 0pt 0.8ex; padding-left: 1ex;"> Caro
Eduardo:
        <div>Não vejo nada de problemático no que se refere a uma
acertada decisão sobre o que deve servir para as futuras gerações. <br>
A nação ideal será aquela formada de cidadãos de grande capacidade
intelectual e crítica, capazes de dominar as complexidades. <br>
Um povo que só compreende sistemas simples e banais, com baixo nível de
complexidade, será um povo consumidor de produtos, estruturas,
discursos, ideologias e tecnologias importadas. Será um povo submisso
aos donos do mundo, meros consumidores de máquinas, sistemas e saberes
importados. <br>
O sucateamento da Universidade e a prática que considera a educação
como mercadoria, iniciadas com o advento do neoliberalismo, visam
exatamente isso: formar um povo que não terá condições de criar saberes
novos, porque o ponto máximo a ser alcançado será o status de técnico,
apertador de botões (botões de tecnologias importadas do primeiro
mundo). <br>
É por isso que eu discordo daqueles que são contra o estudo de
Contraponto nos cursos de música. O bom músico, seja qual for a área de
atuação profissional, deve adquirir formação em que se trabalhe o
Contraponto a 2, 3, 4, 5 e 8 vozes, nas claves. Acho que, por isso
mesmo, todos deveriam aprender a jogar xadrez. <br>
Abraço, <br>
        <span class="sg">Jorge Antunes</span><span class="e"
 id="q_1158c590047f79a5_2"> </span></div>
      </blockquote>
    </blockquote>
________________________________________________<br>
Lista de discussões ANPPOM <br>
<a class="moz-txt-link-freetext" href="http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l">http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l</a><br>
________________________________________________</blockquote>
  <br>
  <br>
  <br>
========================<br>
Prof. Dr. Rogério Budasz<br>
Departamento de Artes<br>
Universidade Federal do Paraná<br>
<a class="moz-txt-link-abbreviated" href="mailto:rogeriobudasz@yahoo.com">rogeriobudasz@yahoo.com</a><br>
<a class="moz-txt-link-abbreviated" href="mailto:budasz@ufpr.br">budasz@ufpr.br</a><br>
<a class="moz-txt-link-freetext" href="http://www.artes.ufpr.br/departamento/docentes/rogeriob.htm">http://www.artes.ufpr.br/departamento/docentes/rogeriob.htm</a>
  <p> </p>
  <hr size="1">Yahoo! oneSearch: Finally, <a moz-do-not-send="true"
 href="http://us.rd.yahoo.com/evt=48252/*http://mobile.yahoo.com/mobileweb/onesearch?refer=1ONXIC">
mobile search that gives answers</a>, not web links.
  <pre wrap="">
<hr size="4" width="90%">
________________________________________________
Lista de discussões ANPPOM 
<a class="moz-txt-link-freetext" href="http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l">http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l</a>
________________________________________________</pre>
  <pre wrap="">
<hr size="4" width="90%">
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Checked by AVG Free Edition. 
Version: 7.5.488 / Virus Database: 269.14.6/1061 - Release Date: 10/10/2007 08:43
  </pre>
</blockquote>
<br>
<pre class="moz-signature" cols="72">-- 
carlos palombini (dr p)
professor adjunto de musicologia
universidade federal de minas gerais
<a class="moz-txt-link-rfc2396E" href="mailto:cpalombini@gmail.com"><cpalombini@gmail.com></a>

"... et la variété des choses est en réalité ce qui me construit." (Francis Ponge, "My Creative Method", 27 de dezembro de 1947)</pre>
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