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<br>
<br>
Alexandre Bräutigam escreveu:
<blockquote cite="mid:BLU111-W24937A9F0DF3471A6EC770D1980@phx.gbl"
 type="cite">
  <style>
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  </style>Caro Palombini e membros da lista,<br>
  <br>
Então me parece que na verdade a semântica separa duas classes que, na
prática, estariam em alguns momentos, amalgamadas. Ainda mais quando o
DJ, além de escolher e ordenar as sequências das músicas ao vivo,
também produz as próprias. É o caso do Tiesto e do Infected Mushroom (o
primeiro sem formação musical tradicional, diferente da dupla que
compõe o IM). <br>
Na introdução de 'Converting Vegetarians' (IM) seria incipiente o uso
apenas de uma análise baseada nos conhecimentos adquiridos em aulas
formais de harmonia tonal ou contraponto (seja ele florido ou não).
Muito mais útil seria a tipomorfologia schaefferiana - não como um
sistema pronto e acabado, mas como algo que apresenta ferramentas mais
adequadas para tal.<br>
Apesar disso, muitos alunos de composição dos cursos de graduação de
nossas universidades saem dele sem ao menos saber quem foi Pierre
Schaeffer. Falo isso por experiência própria, conversando com colegas
de mestrado em música. Na UFRJ os cursos que apontam para esse lado são
matérias eletivas e portanto nem todos os alunos recebem este
conhecimento. Se formam especialistas em harmonia e contraponto, mas
desconhecem o Traité de Schaeffer. É isso que queremos para as
faculdades de música? <br>
  <br>
</blockquote>
Olá, Alexandre e demais interessados<br>
<br>
O Tratado é importante sim, mas ele não foi digerido. Michel Chion, que
é certamente a pessoa que melhor conhece o Tratado, expressou isto
muito bem em sua contribuição para a obra de Jocelyne Tournet-Lammer
_Sur les traces de Pierre Schaeffer: archives 1942-1995_: "intégré et
dépassé", isto é, "aproveitado e ultrapassado", só que em marcha a ré.
Chion cita várias instâncias desta falsa ultrapassagem. Eu me limito a
citar uma: a espectro-morfologia de Smalley. Isto porque transformar a
tipo-morfologia e o solfejo inconcluso do objeto sonoro de Schaeffer em
disciplina, parelha à harmonia e ao contraponto, ou em substituição a
estes, não é entendê-lo. Entender o Tratado, me parece, é desmontar a
maquinaria pensante da obra e remontá-la, de um outro jeito, tentando
resolver o paradoxo de uma escuta reduzida  contente de si (na
comunhão com os sons enquanto sons, por analogia à comunhão com os
objetos enquanto objetos de Ponge) e a necessidade de gerar obras,
ainda que num futuro incerto. <br>
<br>
Um sistema de análise se infere de um corpus de obras, que passam a ser
analisáveis nos termos do referido sistema. (Estou sendo muito
ortodoxo?) No que diz respeito à música eletroacústica (vertente
erudita) não me parece que um sistema satisfatório exista. E talvez
seja melhor assim. Não sei se ocorreria a alguém fazer análise
schenkeriana das _Variações para uma porta e um suspiro_ de Pierre
Henry (sem deixar de levar em conta que quem mostrasse a relevância da
Teoria dos Conjuntos para a compreensão de _Concret PH_ de Iannis
Xenakis teria feito um belo trabalho). Em outras palavras, levar em
conta o Tratado, como você intuiu, não seria aplicar a tipo-morfologia
à análise do
Infected Mushroom, mas discernir que características sonoras se
manifestam como valores musicais nos trabalhos do IM e mostrar como
estes valores se expressam e interagem. Ultrapassar o
Tratado seria reconhecer que a importância do IM talvez resida alhures.<br>
<br>
A maioria dos alunos da Escola de Música da UFMG já ouviu falar no
Tratado: detenho a exclusividade de uma disciplina obrigatória,
portanto, todos têm que me suportar por pelo menos um semestre
(coitados!). Anteontem, um aluno (paulistano) estreou na Mostra de
Composições da Escola um funk (carioca) cujo break é uma mistura de
excertos do
Cinco Estudos de Ruídos. Chama-se "Funk do Palomba". Se vc quiser,
mando um mp3 pra vc analisar.<br>
<br>
Carlos
<pre class="moz-signature" cols="72">-- 
carlos palombini (dr p)
professor adjunto de musicologia
universidade federal de minas gerais
<a class="moz-txt-link-rfc2396E" href="mailto:cpalombini@gmail.com"><cpalombini@gmail.com></a>

"O io m'ingnano, o rara è nel nostro secolo quella persona lodata generalmente, le cui lodi non sieno cominciate dalla sua propria bocca." (Giacomo Leopardi, Pensieri XXIV, 1845)</pre>
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</html>