<!doctype html public "-//w3c//dtd html 4.0 transitional//en">
<html>
Caro Rodolfo e demais colegas:
<p>A primeira versão do Étude Violette (1948), de Pierre
Schaeffer, usa um contraponto florido a 3 vozes.
<br>Material bruto: acordes no piano, tocados pelo jovem Boulez, então
com 23 anos, frequentador do Clube d'Essai.
<br>Transformações: manipulations diverses.
<br>Montagem: aleatoire.
<br>Mixagem final: 3 voix de mixage.
<br>Rascunho: voix 1: éolien; voix 2: choqui; voix 3: elément
de souffle.
<p>Citações:
<br>(Grifos nossos)
<p><font color="#7D0FFF">"Le procédé du montage ne permet
pas la superposition polyphonique. Le mixage au contraire, consiste à
<u>superposer en concomitance des monophonies</u> et à enregister
le résultat."</font>
<br>(Schaeffer- À la Recherche d'une Musique Concrète, Paris:
Seuil, 1952, p. 205)<font color="#7A0CFF"></font>
<p><font color="#7A0CFF">"Le piano, variant lui-même du son normal
à des percussions bizarres, était susceptible d'être
introduit en harmonie ou en <u>contrepoint</u> sur ces voix."</font>
<br>(Schaeffer- À la Recherche d'une Musique Concrète, Paris:
Seuil, 1952, p. 66)
<p>Bom domingo para todos,
<br>Jorge Antunes
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<p>Rodolfo Caesar wrote:
<blockquote TYPE=CITE>Meus caros,
<p>Contrariamente ao que disse o Alexandre Bräutigam, Pierre Schaeffer
está
<br>em matéria obrigatória na graduação em
composição pela EM-UFRJ. Seu
<br>Solfège é sempre apresentado e discutido. Mas, em lugar
de substituir o
<br>contraponto florido (vc viu, Carlos, que coisa mais 'camp'!?) ou de
<br>servir como pedra filosofal para a 'compreensão' das músicas,
é
<br>devidamente contextualizado. Todo cuidado é pouco para evitar
essa de 'o
<br>rei morreu, viva o rei', por esforço para não endossar
a monarquia.
<br>Nesses treze anos da disciplina, noto que uma das coisas mais difíceis
é
<br>evitar que os alunos saiam fazendo a écoute réduite de
tudo sem quererem
<br>descobrir que, no 'fundo', não há redução
possível, até porque não
<br>existe fundo. Não dá pé.
<br>Estou de acordo que este 'engenheiro' (que não sabia contraponto
<br>florido) deva ser estudado, sim, sempre. Mas, de acordo com suas
<br>próprias palavras, a morfo-tipologia apenas corresponde a uma
das
<br>diversas etapas da escuta antes de se chegar à 'compreensão'.
Está lá no
<br>Livre IV.
<p>Obrigado e bom domingo!
<p>abs,
<p>Rodolfo
<p>Alexandre Bräutigam wrote:
<br>> Caro Palombini e membros da lista,
<br>>
<br>> Então me parece que na verdade a semântica separa duas
classes que, na
<br>> prática, estariam em alguns momentos, amalgamadas. Ainda mais
quando o
<br>> DJ, além de escolher e ordenar as sequências das músicas
ao vivo,
<br>> também produz as próprias. É o caso do Tiesto
e do Infected Mushroom
<br>> (o primeiro sem formação musical tradicional, diferente
da dupla que
<br>> compõe o IM).
<br>> Na introdução de 'Converting Vegetarians' (IM) seria
incipiente o uso
<br>> apenas de uma análise baseada nos conhecimentos adquiridos
em aulas
<br>> formais de harmonia tonal ou contraponto (seja ele florido ou não).
<br>> Muito mais útil seria a tipomorfologia schaefferiana - não
como um
<br>> sistema pronto e acabado, mas como algo que apresenta ferramentas
mais
<br>> adequadas para tal.
<br>> Apesar disso, muitos alunos de composição dos cursos
de graduação de
<br>> nossas universidades saem dele sem ao menos saber quem foi Pierre
<br>> Schaeffer. Falo isso por experiência própria, conversando
com colegas
<br>> de mestrado em música. Na UFRJ os cursos que apontam para
esse lado
<br>> são matérias eletivas e portanto nem todos os alunos
recebem este
<br>> conhecimento. Se formam especialistas em harmonia e contraponto,
mas
<br>> desconhecem o Traité de Schaeffer. É isso que queremos
para as
<br>> faculdades de música?
<br>>
<br>> um abraço a todos,
<br>>
<br>> Alexandre Bräutigam.
<br>>
<br>>
<br>>
<br>> > Date: Thu, 18 Oct 2007 15:58:50 -0300
<br>> > From: palombini@terra.com.br
<br>> > To: anppom-l@iar.unicamp.br
<br>> > Subject: [ANPPOM-L] o DJ e o compositor (era que música
queremos?)
<br>> [longa]
<br>> >
<br>> >
<br>> >
<br>> > Alexandre Bräutigam escreveu:
<br>> > > Estendendo a discussão sobre o compositor, seu papel,
seus meios de
<br>> > > produção e registro assim como a delicada discussão
dos direitos
<br>> > > autorais (tudo o que envolve dinheiro, no mundo dos Homens, é
<br>> > > complicado), qual a opinião dos professores a respeito
dos remixes e
<br>> > > dos DJs como compositores? Cito um exemplo : o DJ Tiësto
(holandês) e
<br>> > > sua música 'Adagio for strings'.
<br>> > Minha opinião --- e já que vc só quer ouvir
os professores, vou ser bem
<br>> > professoral --- é que... "DJ" e "compositor" são
termos que refletem as
<br>> > práticas, os usos e costumes de grupos bem distintos. Pode-se
<br>> apresentar
<br>> > o DJ como compositor ou o compositor como DJ a fim de esclarecer
a
<br>> > questão eterna das origens (uma obsessão minha).
Meu exemplo preferido:
<br>> > o processo de criação de "Étude pathétique"
de Schaeffer (de modo algum
<br>> > um compositor no sentido que se tem usado este termo aqui, i.e.
aquele
<br>> > rapaz ou aquela moça que sabe tudo o que um teórico
austríaco do século
<br>> > XVII escreveu em latim num livro publicado em 1725) como descrito
pelo
<br>> > próprio (por favor, se forem publicar o que se segue, digam
que a idéia
<br>> > é minha) o apresenta fazendo exatamente o que um DJ moderno
faz. Ele
<br>> > dispõe de 4 pratos (como se chamava no meu tempo a superfície
giratória
<br>> > daquilo que se denomina hoje pickup) sobre os quais vai colocando,
como
<br>> > ele mesmo diz, o que lhe cai nas mãos: uma barca dos canais
de França,
<br>> > sacerdotes de Bali, uma harmônica ou acordeon norte-americano,
um disco
<br>> > com a tosse de uma radialista interrompendo uma gravação
de Sacha
<br>> > Guitry. Depois, como ele mesmo diz, "exercício de virtuosidade
nos
<br>> > quatro potenciômetros e nas oito chaves de ignição".
Este estudo nasce
<br>> > em poucos minutos: o tempo de gravá-lo, o próprio
Schaeffer afirma. As
<br>> > diferenças entre o que Schaeffer e Garnier fazem seriam
tão
<br>> > esclarecedoras quanto as analogias, embora não seja apropriado
<br>> > discuti-las aqui. Isto quer dizer que Schaeffer foi o primeiro
DJ
<br>> > moderno, em 1948? Não exatamente. A figura do DJ-produtor
se
<br>> constrói em
<br>> > várias etapas. A melhor fonte a este respeito é _Last
Night a DJ Saved
<br>> > My Life: The History of the Disc Jockey_, de Bill Brewester e Frank
<br>> > Broughton (New York: Grove Press, 2000); o que se segue é
mais uma
<br>> > interpretação.
<br>> >
<br>> > A primeira destas etapas, acredito, é o surgimento de uma
cena onde
<br>> seus
<br>> > serviços sejam requeridos. Os swing kids da alemanha nazista
raramente
<br>> > fizeram mais do que discotecar e dançar swing norte-americano.O
funk
<br>> > carioca existiu por quase duas décadas como "mundo funk
carioca"
<br>> (título
<br>> > do livro de Vianna, que o escreveu no momento em que a cena estava
para
<br>> > gerar a música), alimentado por James Brown, soul da Filadélfia
e Miami
<br>> > Bass antes de passar a existir como música, em 1989 (i.e.
um ano após a
<br>> > publicação do livro de Vianna). O hip-hop existiu
como cena desde a
<br>> > primeira metade dos anos 70, quando o DJ jamaicano Kool Herc se
mudou
<br>> > para o Bronx (na Jamaica, o que chamamos de DJ chamava-se selector
e o
<br>> > que chamamos de MC chamava-se DJ, mas Herc era DJ no sentido nosso,
ou
<br>> > quase), alimentado por rock, disco e funk (submetidos a processos
de
<br>> > discotecagem forjados pelos DJs pioneiros da cena disco de Manhattan
e,
<br>> > depois, pelo scratch, inventado no próprio Bronx) antes
da explosão de
<br>> > "Rapper's Delight", do Sugar Hill Gang (aquela música que
utilizou a
<br>> > base de "Good Times" do Chic, que também foi usada por um
grupo de rock
<br>> > e Gabriel o Pensador no célebre "2345meia78"). A disco foi
uma cena de
<br>> > festas e clubes (sobretudo gays negros e latinos) de Manhattan,
<br>> > alimentada de rock, soul, experimentalismo e pop desde o final
dos anos
<br>> > 60 antes de gerar a música disco, por uma mutação
do soul, no final da
<br>> > primeira metade dos anos 70. É na cena disco que surge a
figura do
<br>> > DJ-produtor, com Walter Gibbons, Tom Moulton, François Kevorkian
etc. O
<br>> > veículo principal da arte do DJ-produtor é o single
de 12 polegadas (ou
<br>> > 305mm, na versão nacionalista), descoberto por Moulton por
um acaso,
<br>> > quando foi prensar uma mixagem sua e descobriu que não havia
material
<br>> > para o single de 7 polegadas (que no meu tempo chamava-se compacto
<br>> > simples). Quando Moulton recebeu o LP com uma faixazinha na borda,
deu
<br>> > uma gargalhada e julgou que o comprador se consideraria ludibriado.
A
<br>> > faixa foi espalhada pela superfície inteira do disco e descobriu-se
que
<br>> > o volume de um disco destes era muito mais alto. (Estes discos
podiam
<br>> > ser de vinil ou acetato.)
<br>> >
<br>> > A questão da autoria não é problema na cena
dançante. Os grupos que
<br>> > produzem esta música não tem cara. Um autor pode
ter várias caras,
<br>> > simples ou múltiplas (i. é, sozinho ou em parcerias)
às quais vai
<br>> chamar
<br>> > projetos, e estes projetos, por sua vez, podem jamais revelar,
a não
<br>> ser
<br>> > em texturas sonoras (o próprio invólucro do single
e às vezes até seu
<br>> > selo não sendo mais do que uma superfície branca),
a persona corpórea
<br>> > do "autor". A música eletrônica dançante é,
praticamente, uma música
<br>> sem
<br>> > cara. Por isso é tão difícil orientar-se no
labirinto das tendências.
<br>> > Para o "compositor" isto não seria importante, porque tudo
estaria na
<br>> > música. Mas quem tenha estudado um pouco as implicações
estésicas das
<br>> > tecnologias sabe que não é exatamente assim: "escuta
reduzida",
<br>> > "situação acusmática", "pseudo-instrumento",
"objeto sonoro" de
<br>> > Schaeffer; "perda da aura", "declínio do valor de culto",
"aumento do
<br>> > valor de exibição" de Benjamin; "fetichismo na música",
"regressão da
<br>> > audição" de Adorno; "Im-posição" de
Heidegger...
<br>> >
<br>> > Quanto ao Tiesto, dizem que é o "maior DJ do mundo". Tanto
quanto posso
<br>> > julgar pelo vídeo, prefiro o baile de sábado do Clube
Boqueirão de
<br>> > Regatas, no aterro do Flamengo (entre o MAM e o aeroporto): a
<br>> acústica é
<br>> > horrível, não há luzes nem ar condicionado
e pode haver pancadaria (de
<br>> > cunho recreativo, nada que a segurança do baile não
domine), mas o
<br>> > público não fica todo virado e embasbacado, levantando
os braços para
<br>> > "o maior DJ do mundo".
<br>> >
<br>> > Carlos
<br>> >
<br>> > --
<br>> > carlos palombini (dr p)
<br>> > professor adjunto de musicologia
<br>> > universidade federal de minas gerais
<br>> > <cpalombini@gmail.com>
<br>> >
<br>> > "Ed anco pare riconosciuto generalmente che ai giovani appartenga
<br>> una specie di diritto di volere il mondo occupato nei pensieri loro."
<br>> (Giacomo Leopardi, Pensieri XL, 1845)
<br>> >
<br>> > ________________________________________________
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