<!doctype html public "-//w3c//dtd html 4.0 transitional//en">
<html>
<body bgcolor="#FFFFFF">
Querido amigo Regis:
<p>Obrigado por sua mensagem.
<br>Gostei de receber essas informações importantíssimas,
com relação aos doutoramentos de 1966 na UnB.
<br>Em meu e-mail anterior, quando falei dos doutoramentos de 1976 e 1977,
tive o cuidado de iniciar minha frase com a expressão "salvo engano". 
Assim, sinto-me salvo em meu engano. Foi no final dos anos 70, dez anos
depois de seu doutorado, que eu e Zé Maria concluimos o doutorado
em Paris. Meu orientador foi Daniel Charles e o orientador do Zé
Maria foi o Jacques Chailley.
<p>Com relação ao plágio de que foi vítima
a Márcia Taborda, creio que essas nossas manifestações
estejam dando boas contribuições para a comissão da
Anppom que vai discutir e elaborar uma proposta de códígo
de ética.
<p>O plágio nos artigos científicos, nas teses e nas monografias
é questão que está melhor equacionada e discutida,
do que o plágio nas obras musicais. Recentemente um jovem compositor
me plagiou em uma obra eletroacústica. Ele copiou um semantema (uma
cascata vertiginosa de 6 segundos) de minha obra <i>Interlude Nº 1
pour Olga</i>. Usou o trecho como material de base. Divertiu-se com ele
com retrogradações, acelerações, filtragens,
reverberações e superposições. O jovem compositor,
anonimamente, inscreveu a peça em um concurso em que fui membro
do júri. Veja só que coincidência e que azar do jovem
plagiador!
<p>Eu denunciei o fato aos outros membros do júri e ao organizador
do concurso. Ao fazer isso, salientei minha dúvidas com relação
à questão muito atual em que se pratica muito o chamado "remix",
a cópia, o processameto, a citação, a mixagem de obras,
tudo isso anunciado como sendo nova vertente estética. Os DJs estão
fazendo isso.
<p>Abraço fraterno,
<br>Jorge Antunes
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<p>            "Regis
Duprat" <reduprat@usp.br>
<br>        To:
<br> 
<p>Regis Duprat wrote:
<blockquote TYPE=CITE><style></style>

<div class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><font face="Arial">Caros Jorge
Antunes e prezada Márcia Taborda</font></div>


<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><?xml:namespace prefix = o
ns = "<A HREF="urn:schemas-microsoft-com:office:office">urn:schemas-microsoft-com:office:office</A>" /><o:p></o:p>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><font face="Arial">Plágios
e doutorados</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><o:p></o:p>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><b><font face="Arial">Doutorado</font></b><o:p></o:p>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><font face="Arial">Meu prezadíssimo
amigo, colega e confrade Jorge Antunes. Nutro por você uma imensa
admiração e respeito como compositor, acadêmico, docente
e pensador. Acompanho com interesse os seus e-mails na lista porque neles
sempre se encontra a voz da experiência. Sempre nos demos bem e jamais
qualquer estremecimento perturbará nossas sólidas relações
de amizade e respeito mútuo.</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt; TEXT-INDENT: 35.4pt"><font face="Arial">É
com essa certeza que me constrange ter que lhe revelar que fui o primeiro
brasileiro a receber um título de doutor em música por uma
Universidade brasileira...<span style="mso-spacerun: yes"></span>Isso ocorreu
em junho de 1966. Na minha carreira acadêmica, que iniciei na Universidade
de Brasília, onde lecionei durante quatro anos, até a rebordosa
de 1968, utilizei sempre o Diploma de doutorado da UnB, registrado no MEC,
e que traz a data de 20 de junho de 1966. Na Universidade de Brasília
concebida por Darcy Ribeiro não havia defesa de tese com encenação.
Meu orientador foi Sérgio Buarque de Holanda e a Banca Examinadora
era composta pelo orientador e mais Gilbert Chase, da Universidade de Tulane,
New Orleans, e Cláudio Santoro, então coordenador do Dep
de Música da UnB. Possuo em meu arquivo cópia dos pareceres
dos três membros da Banca Examinadora. Minha tese foi “A música
na matriz e sé de São Paulo colonial”. Esse texto foi publicado
no Brasil em 1968, 1970 e 1995 e nos Estados Unidos em 1975.</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt; TEXT-INDENT: 35.4pt"><font face="Arial">O
segundo doutorado em música também foi outorgado pela UnB
dois anos depois, antes da demolição de 1968, para a Professora
Nise Poggi Obino, também do Dep de Música; <span style="mso-spacerun: yes"></span>grande
pianista, docente competentíssima e mestra de Nelson Freire, e que
depois de Brasília lecionou na Royal University de Londres, e falecida
em 1995.</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><span 
style="mso-tab-count: 1"></span><font face="Arial">Agora
vejo que tendo você defendido sua tese em 1976, os títulos
outorgados pela UnB em 66 e 68 permaneceram durante dez anos os únicos
títulos de doutor em música no Brasil. As vicissitudes por
que passou a UnB nos tempos amargos foram responsáveis, também,
pela fragmentação das tradições da instituição,
com conseqüências no fluxo das informações sobre
a história dela. Mas isso tudo não lhe arrebata ser detentor
de um dos primeiros títulos de doutor em música, outorgados
em nosso país. <span 
style="mso-spacerun: yes"></span>Meu
caro Jorge, você e eu somos, dentre os vivos, os primeiros a receber
o título de doutor em música neste país... Eta nós!
Como diziam os modernistas de 22... não é?</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><o:p></o:p>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><b><font face="Arial">Plágios</font></b><o:p></o:p>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><font face="Arial">Mas o principal
do meu mail, como para o seu, é a história do plágio
contra Márcia Taborda. Vc está muito certo nas considerações
gerais que tece quanto à escalada da doentia febre de titulação
para o acesso aos empregos nas universidades e as conseqüências
disso para a nossa vida acadêmica. É exatamente isso que vc
descreveu. E tem razão quando diz que o orientador da tal figura
que plagiou é mais responsável que o próprio pivete,
porque devia orientar e não o fez. Mas também não
falta razão à Márcia quando exige reconhecimento institucional
do plágio. No Brasil de hoje não podemos mais conviver com
tais canalhices, por mais que reconheçamos a fragilidade da formação
da nossa área de música. Urge que os brios sejam incorporados
em toda a sua extensão em nossas práticas acadêmicas.</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><span 
style="mso-tab-count: 1"></span><font face="Arial">Nos
Estados Unidos eu soube que um professor titular de Yale teria sido dispensado
da sua universidade pelo fato de ter utilizado texto de outro autor sem
a devida citação convencional. Naquele país é
comum nos cursos de pós- graduação nas universidades,
o uso e o estudo de manuais como o de John M Swales & Christine B Feak
(Academic Writing for Graduate Students. Ann Arbor. The Univ of Michigan
Press, 1994) que analisam com a maior seriedade os problemas do plágio
e das transgressões aos direitos intelectuais de autor, já
nos bancos da graduação.</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><span 
style="mso-tab-count: 1"></span><font face="Arial">Mas
o plágio não consiste apenas na cópia e reprodução
de palavras e frases sem citação de autoria. O plágio
é também, principalmente a cópia e apropriação
indébita de idéias, a omissão proposital de trabalhos
e idéias alheias anteriores devidamente registradas em bibliografia
da área; é a falta de ética de toda sorte. Aliás,
o plágio se identifica, grosso modo, com a falta de ética,
com a desonestidade intelectual e acadêmica. Nos países evoluídos
é muito comum que um acadêmico se poupe de enveredar sequer
por um tema que esteja sendo estudado por outro colega. Espera-se-lhe a
publicação para um revide civilizado. Isso é ética.
Nós, brasileiros temos às vezes certa informalidade perniciosa
nesse terreno, sobre um assunto que devia fazer parte de nossa cultura
acadêmica. Plágio, enfim, como dizem os autores acima citados,
é a atitude deliberada e consciente de copiar obra de outro, na
parte ou no todo; sua caracterização deve se basear em que
idéias e expressões originais são propriedade intelectual
de seus criadores, como uma patente nas invenções.</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><span 
style="mso-tab-count: 1"></span><font face="Arial">Eu
sei o que é ser plagiado, pois sofri plágio praticado por
duas pessoas diferentes; se é que podemos chamar de pessoas às
cobras venenosas. Foi nos tempos em que não havia lista de Anppom
pra gente botar a boca no mundo como fez agora Márcia Taborda com
toda propriedade. Um dos moleques safados já foi pro beleléu,
mas o segundo ainda canta de galo por aí, fantasiado de professor
universitário e até de coordenador de “festivais”, apesar
de não passar de um impostor e falsário que não merece
sequer que se gaste 1 tostão furado com advogados para que um juiz
lhe mande dar 50 chibatadas nos fundilhos. Mesmo após essas constatações
vi muita gente que eu julgava adulta dando a mão à cobra
pra reiterar os plágios. O pior é que eu pensava estar formando
um discípulo, orientando-o e até lhe arranjando um emprego
que mantém até hoje, quando na verdade acoitava uma cobra
venenosa...</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><span 
style="mso-tab-count: 1"></span><font face="Arial">Num
país como o nosso, em que a justiça tarda e não se
impõe, dada a fragilidade das leis dos direitos autorais, vc está
arriscado a gastar uma fortuna para instituir advogado, lutar na justiça
por seus direitos autorais e nunca ver os resultados; precisamos cerrar
fileiras em nossa área para tornar inviável qualquer deslize
que se cometa em nosso meio. Só o nosso próprio controle
e vigilância poderão minimizar a ação antiética
dessas pessoas sem caráter, despreparadas e sem formação
adequada para atuar no nosso meio acadêmico.</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><span 
style="mso-tab-count: 1"></span><font face="Arial">Um
imenso abraço para Jorge Antunes e toda a minha solidariedade para
Márcia Taborda. </font><span style="mso-tab-count: 1"></span>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt"><font face="Arial">régis
duprat</font>

<p class="MsoNormal" style="MARGIN: 0pt; TEXT-INDENT: 35.4pt"><o:p></o:p>
<blockquote 
style="PADDING-RIGHT: 0px; PADDING-LEFT: 5px; MARGIN-LEFT: 5px; BORDER-LEFT: #000000 2px solid; MARGIN-RIGHT: 0px">
<div style="FONT: 10pt arial">----- Original Message -----</div>

<div 
  style="BACKGROUND: #e4e4e4; FONT: 10pt arial; font-color: black"><b>From:</b>
<a href="mailto:antunes@unb.br" title="antunes@unb.br">Jorge Antunes</a></div>

<div style="FONT: 10pt arial"><b>To:</b> <a href="mailto:marciataborda@globo.com" title="marciataborda@globo.com">Marcia
Taborda</a> ; <a href="mailto:anppom-l@iar.unicamp.br" title="anppom-l@iar.unicamp.br">anppom-l@iar.unicamp.br</a></div>

<div style="FONT: 10pt arial"><b>Sent:</b> Tuesday, December 11, 2007 12:51
PM</div>

<div style="FONT: 10pt arial"><b>Subject:</b> Re: [ANPPOM-L] Plágio</div>
 Cara Márcia:
<p>Sou do tempo em que as titulações (mestrado e doutorado)
não resultavam em aumentos salariais ou outras vantagens.
<br>Fiz meu doutorado em 1976. Salvo engano, foi o primeiro doutoramento
em música de brasileiro. Logo em seguida o José Maria Neves
terminou o dele. Na época nem existiam bolsas do CNPq. Ambos fizemos
tudo com bolsas do governo francês. Quando voltei à UnB e
mostrei minha tese de 664 páginas (<i>Son nouveau, nouvelle notation</i>)
ao chefe do departamento (Moisés Mandel), ele me disse: -Pra que
serve isso? Tem gente pra tudo!
<br>Naquela época os jovens pesquisadores tinham um projeto de pesquisa,
uma tese a ser demonstrada, e então buscavam, como saída
para a ansiedade de desenvolver o trabalho, o mestrado e o doutorado.
<br>Depois que surgiram os aumentos salariais para os que têm titulações,
e a obrigatoriedade destas para o ingresso na carreira acadêmica,
começou a busca desenfreada, às vezes cega e irresponsável,
de se fazer um mestrado e um doutorado a todo custo.
<br>Começou então uma nova fase, bem surrealista. O graduado
mete na cabeça que tem que fazer o mestrado e o doutorado de qualquer
maneira. Não importa em qual área. Não importa em
qual tema.
<br>Resumindo, antigamente tinha-se uma idéia, um tema, um projeto
de tese, e buscava-se o curso pós-graduado na área do tema,
com o orientador especialista.
<br>Hoje, começa-se com a peculiaridade de não se ter idéia
alguma, projeto nenhum. Busca-se um orientador. Alinhava-se um projeto,
com conteúdo que se encaixe no curso, que se encaixe no perfil do
orientador desejado. Ao se entrar no curso, muda-se o projeto.
<br>A busca desesperada da titulação faz com que, por exemplo,
ao invés de fazerem doutorado em Música, músicos façam
doutorado em Sociologia, Antropologia, Arquitetura e outras áreas.
<br>Enfim, para mim, esse jovem que te plagiou, e que alega ter vivido,
no momento da feitura da tese, uma "instabilidade emocional", é
mais uma vítima da conjuntura cruel que promete emprego somente
a quem tem titulação. Pior, abre a possibilidade a carreira
acadêmica a qualquer um que tenha a titulação, pouco
se importanto sobre como e onde ela foi alcançada. Basta ter o diploma.
<br>Códigos de ética profissional existem para serem cumpridos
pelos profissionais. Muitos jovens mestrandos e doutorandos ainda não
são profissionais. Muitos ainda são apenas estudantes recém-graduados
que começam a, desesperadamente, buscar titulação
pós-graduada. E aí, vale tudo para o pobre desorientado.
Para ele vale copiar, vale plagiar, vale fazer o já feito com outro
discurso, vale repetir idéias já reveladas mas pouco ou nada
conhecidas pela comunidade. Para disfarçar essas estratégias,
basta fazer um monte de citações de autores famosos.
<br>Enfim, acima eu usei a expressão "pobre desorientado", porque
eu penso que o grande culpado do plágio que você relata não
é o plagiador. Este já reconheceu o erro, alegou problemas
psicológicos, se desculpou e, parece, vai refazer o trabalho, dessa
vez citando a fonte do texto surrupiado.
<br>Para mim o grande vilão dessa história é o "Orientador"
do rapaz. Este sim é o profissional que deve respeitar, e fazer
ser respeitado, o código de ética. É ele quem deveria
ser punido. Está evidente que o "orientador" não orientou
coisíssima nenhuma. Não quero afirmar que o orientador devesse
conhecer o teu texto e, assim, identificar o plágio durante a orientação.
Quero apenas dizer que um "orientador" deve acompanhar passo a passo a
pesquisa, a bibliografia, e até mesmo a redação de
cada parágrafo e capítulo. Quando esse trabalho é
desenvolvido criteriosamente pelo orientador, ele é capaz de reconhecer
estilos de escrita e, assim, pelo menos, desconfiar de textos escritos
por autores diferentes que, é óbvio, terão sempre
estilos diferentes.
<br>Abraço,
<br>Jorge Antunes
<p>PS. Talvez essas minhas colocações acima sejam bem polêmicas,
podendo encontrar, na Anppom, opositores radicais. Mas abro-me em reflexões
próprias, sinceras, de experiência de vida acadêmica,
para tentar contribuir com o debate, desde já dizendo que não
me considero dono da verdade e que estou aberto a revisões de minhas
convicções.
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<p>Marcia Taborda wrote:
<blockquote TYPE="CITE">Agradeço a todos pelas mensagens.
<p>Acho que o mais importante no momento
<br>será a revitalização dessa comissão e o
desenvolvimento  junto à ANPPOM de
<br>um código de ética,
<br>que possa nos amparar em casos semelhantes; uma tomada de atitude
<br>institucional;
<br>Abraço,
<p>Marcia Taborda
<p>________________________________________________
<br>Lista de discussões ANPPOM
<br><a href="http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l">http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l</a>
<br>________________________________________________</blockquote>

<hr>
<br>________________________________________________
<br>Lista de discussões ANPPOM
<br><A HREF="http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l">http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l</A>
<br>________________________________________________</blockquote>
</blockquote>

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