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<BODY bgColor=#ffffff>
<DIV>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial>Caros Jorge Antunes e
prezada Márcia Taborda</FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><?xml:namespace prefix = o ns =
"urn:schemas-microsoft-com:office:office" /><o:p><FONT
face=Arial> </FONT></o:p></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial>Plágios e
doutorados</FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><o:p><FONT
face=Arial> </FONT></o:p></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><B
style="mso-bidi-font-weight: normal"><FONT
face=Arial>Doutorado<o:p></o:p></FONT></B></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial>Meu prezadíssimo amigo,
colega e confrade Jorge Antunes. Nutro por você uma imensa admiração e respeito
como compositor, acadêmico, docente e pensador. Acompanho com interesse os seus
e-mails na lista porque neles sempre se encontra a voz da experiência. Sempre
nos demos bem e jamais qualquer estremecimento perturbará nossas sólidas
relações de amizade e respeito mútuo. </FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt; TEXT-INDENT: 35.4pt"><FONT face=Arial>É
com essa certeza que me constrange ter que lhe revelar que fui o primeiro
brasileiro a receber um título de doutor em música por uma Universidade
brasileira...<SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>Isso ocorreu em junho
de 1966. Na minha carreira acadêmica, que iniciei na Universidade de Brasília,
onde lecionei durante quatro anos, até a rebordosa de 1968, utilizei sempre o
Diploma de doutorado da UnB, registrado no MEC, e que traz a data de 20 de junho
de 1966. Na Universidade de Brasília concebida por Darcy Ribeiro não havia
defesa de tese com encenação. Meu orientador foi Sérgio Buarque de Holanda e a
Banca Examinadora era composta pelo orientador e mais Gilbert Chase, da
Universidade de Tulane, New Orleans, e Cláudio Santoro, então coordenador do Dep
de Música da UnB. Possuo em meu arquivo cópia dos pareceres dos três membros da
Banca Examinadora. Minha tese foi “A música na matriz e sé de São Paulo
colonial”. Esse texto foi publicado no Brasil em 1968, 1970 e 1995 e nos Estados
Unidos em 1975. </FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt; TEXT-INDENT: 35.4pt"><FONT face=Arial>O
segundo doutorado em música também foi outorgado pela UnB dois anos depois,
antes da demolição de 1968, para a Professora Nise Poggi Obino, também do Dep de
Música; <SPAN style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>grande pianista, docente
competentíssima e mestra de Nelson Freire, e que depois de Brasília lecionou na
Royal University de Londres, e falecida em 1995. </FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial><SPAN
style="mso-tab-count: 1">
</SPAN>Agora vejo que tendo você defendido sua tese em 1976, os títulos
outorgados pela UnB em 66 e 68 permaneceram durante dez anos os únicos títulos
de doutor em música no Brasil. As vicissitudes por que passou a UnB nos tempos
amargos foram responsáveis, também, pela fragmentação das tradições da
instituição, com conseqüências no fluxo das informações sobre a história dela.
Mas isso tudo não lhe arrebata ser detentor de um dos primeiros títulos de
doutor em música, outorgados em nosso país. <SPAN
style="mso-spacerun: yes"> </SPAN>Meu caro Jorge, você e eu somos, dentre
os vivos, os primeiros a receber o título de doutor em música neste país... Eta
nós! Como diziam os modernistas de 22... não é?</FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><o:p><FONT
face=Arial> </FONT></o:p></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><B
style="mso-bidi-font-weight: normal"><FONT
face=Arial>Plágios<o:p></o:p></FONT></B></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial>Mas o principal do meu
mail, como para o seu, é a história do plágio contra Márcia Taborda. Vc está
muito certo nas considerações gerais que tece quanto à escalada da doentia febre
de titulação para o acesso aos empregos nas universidades e as conseqüências
disso para a nossa vida acadêmica. É exatamente isso que vc descreveu. E tem
razão quando diz que o orientador da tal figura que plagiou é mais responsável
que o próprio pivete, porque devia orientar e não o fez. Mas também não falta
razão à Márcia quando exige reconhecimento institucional do plágio. No Brasil de
hoje não podemos mais conviver com tais canalhices, por mais que reconheçamos a
fragilidade da formação da nossa área de música. Urge que os brios sejam
incorporados em toda a sua extensão em nossas práticas acadêmicas. </FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial><SPAN
style="mso-tab-count: 1">
</SPAN>Nos Estados Unidos eu soube que um professor titular de Yale teria sido
dispensado da sua universidade pelo fato de ter utilizado texto de outro autor
sem a devida citação convencional. Naquele país é comum nos cursos de pós-
graduação nas universidades, o uso e o estudo de manuais como o de John M Swales
& Christine B Feak (Academic Writing for Graduate Students. Ann Arbor. The
Univ of Michigan Press, 1994) que analisam com a maior seriedade os problemas do
plágio e das transgressões aos direitos intelectuais de autor, já nos bancos da
graduação. </FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial><SPAN
style="mso-tab-count: 1">
</SPAN>Mas o plágio não consiste apenas na cópia e reprodução de palavras e
frases sem citação de autoria. O plágio é também, principalmente a cópia e
apropriação indébita de idéias, a omissão proposital de trabalhos e idéias
alheias anteriores devidamente registradas em bibliografia da área; é a falta de
ética de toda sorte. Aliás, o plágio se identifica, grosso modo, com a falta de
ética, com a desonestidade intelectual e acadêmica. Nos países evoluídos é muito
comum que um acadêmico se poupe de enveredar sequer por um tema que esteja sendo
estudado por outro colega. Espera-se-lhe a publicação para um revide civilizado.
Isso é ética. Nós, brasileiros temos às vezes certa informalidade perniciosa
nesse terreno, sobre um assunto que devia fazer parte de nossa cultura
acadêmica. Plágio, enfim, como dizem os autores acima citados, é a atitude
deliberada e consciente de copiar obra de outro, na parte ou no todo; sua
caracterização deve se basear em que idéias e expressões originais são
propriedade intelectual de seus criadores, como uma patente nas invenções.
</FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial><SPAN
style="mso-tab-count: 1">
</SPAN>Eu sei o que é ser plagiado, pois sofri plágio praticado por duas pessoas
diferentes; se é que podemos chamar de pessoas às cobras venenosas. Foi nos
tempos em que não havia lista de Anppom pra gente botar a boca no mundo como fez
agora Márcia Taborda com toda propriedade. Um dos moleques safados já foi pro
beleléu, mas o segundo ainda canta de galo por aí, fantasiado de professor
universitário e até de coordenador de “festivais”, apesar de não passar de um
impostor e falsário que não merece sequer que se gaste 1 tostão furado com
advogados para que um juiz lhe mande dar 50 chibatadas nos fundilhos. Mesmo após
essas constatações vi muita gente que eu julgava adulta dando a mão à cobra pra
reiterar os plágios. O pior é que eu pensava estar formando um discípulo,
orientando-o e até lhe arranjando um emprego que mantém até hoje, quando na
verdade acoitava uma cobra venenosa... </FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial><SPAN
style="mso-tab-count: 1">
</SPAN>Num país como o nosso, em que a justiça tarda e não se impõe, dada a
fragilidade das leis dos direitos autorais, vc está arriscado a gastar uma
fortuna para instituir advogado, lutar na justiça por seus direitos autorais e
nunca ver os resultados; precisamos cerrar fileiras em nossa área para tornar
inviável qualquer deslize que se cometa em nosso meio. Só o nosso próprio
controle e vigilância poderão minimizar a ação antiética dessas pessoas sem
caráter, despreparadas e sem formação adequada para atuar no nosso meio
acadêmico. </FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial><SPAN
style="mso-tab-count: 1">
</SPAN>Um imenso abraço para Jorge Antunes e toda a minha solidariedade para
Márcia Taborda. <SPAN style="mso-tab-count: 1">
</SPAN></FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt"><FONT face=Arial>régis duprat </FONT></P>
<P class=MsoNormal style="MARGIN: 0pt; TEXT-INDENT: 35.4pt"><o:p><FONT
face=Arial> </FONT></o:p></P></DIV>
<BLOCKQUOTE
style="PADDING-RIGHT: 0px; PADDING-LEFT: 5px; MARGIN-LEFT: 5px; BORDER-LEFT: #000000 2px solid; MARGIN-RIGHT: 0px">
<DIV style="FONT: 10pt arial">----- Original Message ----- </DIV>
<DIV
style="BACKGROUND: #e4e4e4; FONT: 10pt arial; font-color: black"><B>From:</B>
<A title=antunes@unb.br href="mailto:antunes@unb.br">Jorge Antunes</A> </DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial"><B>To:</B> <A title=marciataborda@globo.com
href="mailto:marciataborda@globo.com">Marcia Taborda</A> ; <A
title=anppom-l@iar.unicamp.br
href="mailto:anppom-l@iar.unicamp.br">anppom-l@iar.unicamp.br</A> </DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial"><B>Sent:</B> Tuesday, December 11, 2007 12:51
PM</DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial"><B>Subject:</B> Re: [ANPPOM-L] Plágio</DIV>
<DIV><BR></DIV>Cara Márcia:
<P>Sou do tempo em que as titulações (mestrado e doutorado) não resultavam em
aumentos salariais ou outras vantagens. <BR>Fiz meu doutorado em 1976. Salvo
engano, foi o primeiro doutoramento em música de brasileiro. Logo em seguida o
José Maria Neves terminou o dele. Na época nem existiam bolsas do CNPq. Ambos
fizemos tudo com bolsas do governo francês. Quando voltei à UnB e mostrei
minha tese de 664 páginas (<I>Son nouveau, nouvelle notation</I>) ao chefe do
departamento (Moisés Mandel), ele me disse: -Pra que serve isso? Tem gente pra
tudo! <BR>Naquela época os jovens pesquisadores tinham um projeto de pesquisa,
uma tese a ser demonstrada, e então buscavam, como saída para a ansiedade de
desenvolver o trabalho, o mestrado e o doutorado. <BR>Depois que surgiram os
aumentos salariais para os que têm titulações, e a obrigatoriedade destas para
o ingresso na carreira acadêmica, começou a busca desenfreada, às vezes cega e
irresponsável, de se fazer um mestrado e um doutorado a todo custo.
<BR>Começou então uma nova fase, bem surrealista. O graduado mete na cabeça
que tem que fazer o mestrado e o doutorado de qualquer maneira. Não importa em
qual área. Não importa em qual tema. <BR>Resumindo, antigamente tinha-se uma
idéia, um tema, um projeto de tese, e buscava-se o curso pós-graduado na área
do tema, com o orientador especialista. <BR>Hoje, começa-se com a
peculiaridade de não se ter idéia alguma, projeto nenhum. Busca-se um
orientador. Alinhava-se um projeto, com conteúdo que se encaixe no curso, que
se encaixe no perfil do orientador desejado. Ao se entrar no curso, muda-se o
projeto. <BR>A busca desesperada da titulação faz com que, por exemplo, ao
invés de fazerem doutorado em Música, músicos façam doutorado em Sociologia,
Antropologia, Arquitetura e outras áreas. <BR>Enfim, para mim, esse jovem que
te plagiou, e que alega ter vivido, no momento da feitura da tese, uma
"instabilidade emocional", é mais uma vítima da conjuntura cruel que promete
emprego somente a quem tem titulação. Pior, abre a possibilidade a carreira
acadêmica a qualquer um que tenha a titulação, pouco se importanto sobre como
e onde ela foi alcançada. Basta ter o diploma. <BR>Códigos de ética
profissional existem para serem cumpridos pelos profissionais. Muitos jovens
mestrandos e doutorandos ainda não são profissionais. Muitos ainda são apenas
estudantes recém-graduados que começam a, desesperadamente, buscar titulação
pós-graduada. E aí, vale tudo para o pobre desorientado. Para ele vale copiar,
vale plagiar, vale fazer o já feito com outro discurso, vale repetir idéias já
reveladas mas pouco ou nada conhecidas pela comunidade. Para disfarçar essas
estratégias, basta fazer um monte de citações de autores famosos. <BR>Enfim,
acima eu usei a expressão "pobre desorientado", porque eu penso que o grande
culpado do plágio que você relata não é o plagiador. Este já reconheceu o
erro, alegou problemas psicológicos, se desculpou e, parece, vai refazer o
trabalho, dessa vez citando a fonte do texto surrupiado. <BR>Para mim o grande
vilão dessa história é o "Orientador" do rapaz. Este sim é o profissional que
deve respeitar, e fazer ser respeitado, o código de ética. É ele quem deveria
ser punido. Está evidente que o "orientador" não orientou coisíssima nenhuma.
Não quero afirmar que o orientador devesse conhecer o teu texto e, assim,
identificar o plágio durante a orientação. Quero apenas dizer que um
"orientador" deve acompanhar passo a passo a pesquisa, a bibliografia, e até
mesmo a redação de cada parágrafo e capítulo. Quando esse trabalho é
desenvolvido criteriosamente pelo orientador, ele é capaz de reconhecer
estilos de escrita e, assim, pelo menos, desconfiar de textos escritos por
autores diferentes que, é óbvio, terão sempre estilos diferentes. <BR>Abraço,
<BR>Jorge Antunes
<P>PS. Talvez essas minhas colocações acima sejam bem polêmicas, podendo
encontrar, na Anppom, opositores radicais. Mas abro-me em reflexões próprias,
sinceras, de experiência de vida acadêmica, para tentar contribuir com o
debate, desde já dizendo que não me considero dono da verdade e que estou
aberto a revisões de minhas convicções. <BR> <BR> <BR>
<BR>
<P>Marcia Taborda wrote:
<BLOCKQUOTE TYPE="CITE">Agradeço a todos pelas mensagens.
<P>Acho que o mais importante no momento <BR>será a revitalização dessa
comissão e o desenvolvimento junto à ANPPOM de <BR>um código de ética,
<BR>que possa nos amparar em casos semelhantes; uma tomada de atitude
<BR>institucional; <BR>Abraço,
<P>Marcia Taborda
<P>________________________________________________ <BR>Lista de discussões
ANPPOM <BR><A
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<BR>________________________________________________</P></BLOCKQUOTE>
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ANPPOM
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