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<BODY bgColor=#ffffff>
<DIV>Prezado Jorge e todos os colegas,</DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV>Com relação ao seu e-mail, concordo com a idéia geral (exigibilidade de
titulação levando à massificação de pós-graduandos, muitos sem preparo,
interesse ou vocação para a pesquisa), mas acredito que a excessiva
generalização precisa ser apontada, bem como a idéia de que pós-graduações em
outras áreas seja motivada apenas pela "busca desesperada de titulação" ("A
busca desesperada da titulação faz com que, por exemplo, ao invés de fazerem
doutorado em Música, músicos façam doutorado em Sociologia, Antropologia,
Arquitetura e outras áreas"). </DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV>Tenho toda a certeza de que vc não tencionava fazer essas duas
generalizações indiscriminadamente, mas o fato é que é isso que está legível em
seu e-mail, e não posso deixar de apontá-las. </DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV>Nem todos nos tempos atuais estão apenas em busca de titulação e salário.
Fiz meu mestrado em Educação e o meu doutorado em Teoria da Literatura,
Linguagem e Literatura Brasileira. Atualmente estou fazendo um segundo
doutorado, este em musicologia, não porque eu considere minha formação
inadequada ou falha para um docente na área de etnomusicologia (área que estudo
há anos e na qual tive treinamento durante dois anos na Brown University, EUA,
pelos etnomusicólogos Paul Austerlitz e Jeff Titon), mas porque não quero ser
eventualmente deixado de fora em um concurso por um edital que exija títulos na
área (problema da disciplinaridade e/ou corporativismo).</DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV>Escolhi fazer um mestrado em Educação pois o programa que escolhi possuía
um enfoque que ao invés de privilegiar técnicas e métodos (treinamento, e não
educação) focalizava um estudo aprofundado das Ciências Sociais, além de ter a
linha de pesquisa Psicanálise da Educação, na qual fui orientado por um antigo
orientando do filósofo Cornelius Castoriadis. Nada tenho a me queixar dessa
formação interdisciplinar, pois já tinha tido treinamento em música
(Licenciatura em Música pela Unirio) e meu tema foi em música (a educação
musical dentro da comunidade jazzista entre os anos 30 e 60). Pelo contrário,
foi essencial sair da área estrita da música e ver como os especialistas em
educação entendiam e refletiam sobre a educação, o que foi, a meu ver,
muito proveitoso, e tem sido muito proveitoso para meus alunos de graduação.
</DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV>Escolhi fazer um doutorado em Teoria Literária, Linguagem e Literatura
Brasileira na PUC-Rio (com um tema mais uma vez musical, a MPB dos anos 60) para
estudar aprofundadamente teoria contemporânea, estruturalismo,
pós-estruturalismo e estudos culturais, e estes estudos estão mais desenvolvidos
naquelas áreas. Mais uma vez, meus alunos se beneficiam do rigor com que fui
educado em áreas que são tão comumente violentadas por leituras capengas e um
pensamento de senso comum que viceja mesmo na academia.</DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV>O que isto indica é que, ao contrário de associar a transdisciplinaridade
com algo negativo, é necessário fazermos um esforço muito maior para ampliar a
transdisciplinaridade. Não sou eu quem o diz, está nos Parâmetros Curriculares
da Educação (PCN) como "interdiciplinaridade". E está nos PCN porque há nada
menos que 40 anos se discute a disciplinaridade como contraproducente em
diversos níveis (ver Foucault a respeito, além de muitos outros). </DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV>A música tem um estatuto especial nessa discussão, a meu ver devido à sua
ideologia de autonomia em relação à sociedade. É por isso que não tive
treinamento em pesquisa na minha graduação em música, e é por isso que os
estudantes de graduação na área de letras, por exemplo, já na graduação
apresentam papers rotineiramente e estudam autores que só fui conhecer no meu
mestrado e doutorado, nas áreas de Antropologia, Sociologia, História, Filosofia
e outras. Em última análise, isso os leva a não serem
ingênuos politicamente, ou desconhecedores das implicações ideológicas de
suas práticas, o que é a realidade das áreas que ainda tentam impor a
disciplinaridade. <BR></DIV>
<DIV>Abraços</DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV>Alvaro</DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial">----- Original Message -----
<DIV style="BACKGROUND: #e4e4e4; font-color: black"><B>From:</B> <A
title=antunes@unb.br href="mailto:antunes@unb.br">Jorge Antunes</A> </DIV>
<DIV><B>To:</B> <A title=marciataborda@globo.com
href="mailto:marciataborda@globo.com">Marcia Taborda</A> ; <A
title=anppom-l@iar.unicamp.br
href="mailto:anppom-l@iar.unicamp.br">anppom-l@iar.unicamp.br</A> </DIV>
<DIV><B>Sent:</B> Tuesday, December 11, 2007 12:51 PM</DIV>
<DIV><B>Subject:</B> Re: [ANPPOM-L] Plágio</DIV></DIV>
<DIV><BR></DIV>Cara Márcia:
<P>Sou do tempo em que as titulações (mestrado e doutorado) não resultavam em
aumentos salariais ou outras vantagens. <BR>Fiz meu doutorado em 1976. Salvo
engano, foi o primeiro doutoramento em música de brasileiro. Logo em seguida o
José Maria Neves terminou o dele. Na época nem existiam bolsas do CNPq. Ambos
fizemos tudo com bolsas do governo francês. Quando voltei à UnB e mostrei minha
tese de 664 páginas (<I>Son nouveau, nouvelle notation</I>) ao chefe do
departamento (Moisés Mandel), ele me disse: -Pra que serve isso? Tem gente pra
tudo! <BR>Naquela época os jovens pesquisadores tinham um projeto de pesquisa,
uma tese a ser demonstrada, e então buscavam, como saída para a ansiedade de
desenvolver o trabalho, o mestrado e o doutorado. <BR>Depois que surgiram os
aumentos salariais para os que têm titulações, e a obrigatoriedade destas para o
ingresso na carreira acadêmica, começou a busca desenfreada, às vezes cega e
irresponsável, de se fazer um mestrado e um doutorado a todo custo. <BR>Começou
então uma nova fase, bem surrealista. O graduado mete na cabeça que tem que
fazer o mestrado e o doutorado de qualquer maneira. Não importa em qual área.
Não importa em qual tema. <BR>Resumindo, antigamente tinha-se uma idéia, um
tema, um projeto de tese, e buscava-se o curso pós-graduado na área do tema, com
o orientador especialista. <BR>Hoje, começa-se com a peculiaridade de não se ter
idéia alguma, projeto nenhum. Busca-se um orientador. Alinhava-se um projeto,
com conteúdo que se encaixe no curso, que se encaixe no perfil do orientador
desejado. Ao se entrar no curso, muda-se o projeto. <BR>A busca desesperada da
titulação faz com que, por exemplo, ao invés de fazerem doutorado em Música,
músicos façam doutorado em Sociologia, Antropologia, Arquitetura e outras áreas.
<BR>Enfim, para mim, esse jovem que te plagiou, e que alega ter vivido, no
momento da feitura da tese, uma "instabilidade emocional", é mais uma vítima da
conjuntura cruel que promete emprego somente a quem tem titulação. Pior, abre a
possibilidade a carreira acadêmica a qualquer um que tenha a titulação, pouco se
importanto sobre como e onde ela foi alcançada. Basta ter o diploma. <BR>Códigos
de ética profissional existem para serem cumpridos pelos profissionais. Muitos
jovens mestrandos e doutorandos ainda não são profissionais. Muitos ainda são
apenas estudantes recém-graduados que começam a, desesperadamente, buscar
titulação pós-graduada. E aí, vale tudo para o pobre desorientado. Para ele vale
copiar, vale plagiar, vale fazer o já feito com outro discurso, vale repetir
idéias já reveladas mas pouco ou nada conhecidas pela comunidade. Para disfarçar
essas estratégias, basta fazer um monte de citações de autores famosos.
<BR>Enfim, acima eu usei a expressão "pobre desorientado", porque eu penso que o
grande culpado do plágio que você relata não é o plagiador. Este já reconheceu o
erro, alegou problemas psicológicos, se desculpou e, parece, vai refazer o
trabalho, dessa vez citando a fonte do texto surrupiado. <BR>Para mim o grande
vilão dessa história é o "Orientador" do rapaz. Este sim é o profissional que
deve respeitar, e fazer ser respeitado, o código de ética. É ele quem deveria
ser punido. Está evidente que o "orientador" não orientou coisíssima nenhuma.
Não quero afirmar que o orientador devesse conhecer o teu texto e, assim,
identificar o plágio durante a orientação. Quero apenas dizer que um
"orientador" deve acompanhar passo a passo a pesquisa, a bibliografia, e até
mesmo a redação de cada parágrafo e capítulo. Quando esse trabalho é
desenvolvido criteriosamente pelo orientador, ele é capaz de reconhecer estilos
de escrita e, assim, pelo menos, desconfiar de textos escritos por autores
diferentes que, é óbvio, terão sempre estilos diferentes. <BR>Abraço, <BR>Jorge
Antunes
<P>PS. Talvez essas minhas colocações acima sejam bem polêmicas, podendo
encontrar, na Anppom, opositores radicais. Mas abro-me em reflexões próprias,
sinceras, de experiência de vida acadêmica, para tentar contribuir com o debate,
desde já dizendo que não me considero dono da verdade e que estou aberto a
revisões de minhas convicções. <BR> <BR> <BR> <BR>
<P>Marcia Taborda wrote:
<BLOCKQUOTE TYPE="CITE">Agradeço a todos pelas mensagens.
<P>Acho que o mais importante no momento <BR>será a revitalização dessa
comissão e o desenvolvimento junto à ANPPOM de <BR>um código de ética,
<BR>que possa nos amparar em casos semelhantes; uma tomada de atitude
<BR>institucional; <BR>Abraço,
<P>Marcia Taborda
<P>________________________________________________ <BR>Lista de discussões
ANPPOM <BR><A
href="http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l">http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l</A>
<BR>________________________________________________</P></BLOCKQUOTE>
<P>
<HR>
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<HR>
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