<!doctype html public "-//w3c//dtd html 4.0 transitional//en">
<html>
<body bgcolor="#FFFFFF">
Caro Alvaro:
<p>Obrigado por sua mensagem.
<br>Evidentemente, em minhas ponderações e opiniões
eu não pretendo, nunca, generalizar.
<br>Mas, como você sabe, as exceções confirmam a regra.
<br>Sua trajetória é exceção. Existem outras
exceções.
<br>Abraço,
<br>Jorge Antunes
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<p>Alvaro Neder wrote:
<blockquote TYPE=CITE><style></style>
Prezado Jorge e todos os colegas, Com
relação ao seu e-mail, concordo com a idéia geral
(exigibilidade de titulação levando à massificação
de pós-graduandos, muitos sem preparo, interesse ou vocação
para a pesquisa), mas acredito que a excessiva generalização
precisa ser apontada, bem como a idéia de que pós-graduações
em outras áreas seja motivada apenas pela "busca desesperada de
titulação" ("A busca desesperada da titulação
faz com que, por exemplo, ao invés de fazerem doutorado em Música,
músicos façam doutorado em Sociologia, Antropologia, Arquitetura
e outras áreas"). Tenho toda a certeza de que vc não
tencionava fazer essas duas generalizações indiscriminadamente,
mas o fato é que é isso que está legível em
seu e-mail, e não posso deixar de apontá-las. Nem todos
nos tempos atuais estão apenas em busca de titulação
e salário. Fiz meu mestrado em Educação e o meu doutorado
em Teoria da Literatura, Linguagem e Literatura Brasileira. Atualmente
estou fazendo um segundo doutorado, este em musicologia, não porque
eu considere minha formação inadequada ou falha para um docente
na área de etnomusicologia (área que estudo há anos
e na qual tive treinamento durante dois anos na Brown University, EUA,
pelos etnomusicólogos Paul Austerlitz e Jeff Titon), mas porque
não quero ser eventualmente deixado de fora em um concurso por um
edital que exija títulos na área (problema da disciplinaridade
e/ou corporativismo). Escolhi fazer um mestrado em Educação
pois o programa que escolhi possuía um enfoque que ao invés
de privilegiar técnicas e métodos (treinamento, e não
educação) focalizava um estudo aprofundado das Ciências
Sociais, além de ter a linha de pesquisa Psicanálise da Educação,
na qual fui orientado por um antigo orientando do filósofo Cornelius
Castoriadis. Nada tenho a me queixar dessa formação interdisciplinar,
pois já tinha tido treinamento em música (Licenciatura em
Música pela Unirio) e meu tema foi em música (a educação
musical dentro da comunidade jazzista entre os anos 30 e 60). Pelo contrário,
foi essencial sair da área estrita da música e ver como os
especialistas em educação entendiam e refletiam sobre a educação,
o que foi, a meu ver, muito proveitoso, e tem sido muito proveitoso para
meus alunos de graduação. Escolhi fazer um doutorado
em Teoria Literária, Linguagem e Literatura Brasileira na PUC-Rio
(com um tema mais uma vez musical, a MPB dos anos 60) para estudar aprofundadamente
teoria contemporânea, estruturalismo, pós-estruturalismo e
estudos culturais, e estes estudos estão mais desenvolvidos naquelas
áreas. Mais uma vez, meus alunos se beneficiam do rigor com que
fui educado em áreas que são tão comumente violentadas
por leituras capengas e um pensamento de senso comum que viceja mesmo na
academia. O que isto indica é que, ao contrário de associar
a transdisciplinaridade com algo negativo, é necessário fazermos
um esforço muito maior para ampliar a transdisciplinaridade. Não
sou eu quem o diz, está nos Parâmetros Curriculares da Educação
(PCN) como "interdiciplinaridade". E está nos PCN porque há
nada menos que 40 anos se discute a disciplinaridade como contraproducente
em diversos níveis (ver Foucault a respeito, além de muitos
outros). A música tem um estatuto especial nessa discussão,
a meu ver devido à sua ideologia de autonomia em relação
à sociedade. É por isso que não tive treinamento em
pesquisa na minha graduação em música, e é
por isso que os estudantes de graduação na área de
letras, por exemplo, já na graduação apresentam papers
rotineiramente e estudam autores que só fui conhecer no meu mestrado
e doutorado, nas áreas de Antropologia, Sociologia, História,
Filosofia e outras. Em última análise, isso os leva a não
serem ingênuos politicamente, ou desconhecedores das implicações
ideológicas de suas práticas, o que é a realidade
das áreas que ainda tentam impor a disciplinaridade.Abraços Alvaro     
<div style="FONT: 10pt arial">----- Original Message -----
<div style="BACKGROUND: #e4e4e4; font-color: black"><b>From:</b> <a href="mailto:antunes@unb.br" title="antunes@unb.br">Jorge
Antunes</a></div>
<b>To:</b> <a href="mailto:marciataborda@globo.com" title="marciataborda@globo.com">Marcia
Taborda</a> ; <a href="mailto:anppom-l@iar.unicamp.br" title="anppom-l@iar.unicamp.br">anppom-l@iar.unicamp.br</a><b>Sent:</b>
Tuesday, December 11, 2007 12:51 PM<b>Subject:</b> Re: [ANPPOM-L] Plágio</div>
 Cara Márcia:
<p>Sou do tempo em que as titulações (mestrado e doutorado)
não resultavam em aumentos salariais ou outras vantagens.
<br>Fiz meu doutorado em 1976. Salvo engano, foi o primeiro doutoramento
em música de brasileiro. Logo em seguida o José Maria Neves
terminou o dele. Na época nem existiam bolsas do CNPq. Ambos fizemos
tudo com bolsas do governo francês. Quando voltei à UnB e
mostrei minha tese de 664 páginas (<i>Son nouveau, nouvelle notation</i>)
ao chefe do departamento (Moisés Mandel), ele me disse: -Pra que
serve isso? Tem gente pra tudo!
<br>Naquela época os jovens pesquisadores tinham um projeto de pesquisa,
uma tese a ser demonstrada, e então buscavam, como saída
para a ansiedade de desenvolver o trabalho, o mestrado e o doutorado.
<br>Depois que surgiram os aumentos salariais para os que têm titulações,
e a obrigatoriedade destas para o ingresso na carreira acadêmica,
começou a busca desenfreada, às vezes cega e irresponsável,
de se fazer um mestrado e um doutorado a todo custo.
<br>Começou então uma nova fase, bem surrealista. O graduado
mete na cabeça que tem que fazer o mestrado e o doutorado de qualquer
maneira. Não importa em qual área. Não importa em
qual tema.
<br>Resumindo, antigamente tinha-se uma idéia, um tema, um projeto
de tese, e buscava-se o curso pós-graduado na área do tema,
com o orientador especialista.
<br>Hoje, começa-se com a peculiaridade de não se ter idéia
alguma, projeto nenhum. Busca-se um orientador. Alinhava-se um projeto,
com conteúdo que se encaixe no curso, que se encaixe no perfil do
orientador desejado. Ao se entrar no curso, muda-se o projeto.
<br>A busca desesperada da titulação faz com que, por exemplo,
ao invés de fazerem doutorado em Música, músicos façam
doutorado em Sociologia, Antropologia, Arquitetura e outras áreas.
<br>Enfim, para mim, esse jovem que te plagiou, e que alega ter vivido,
no momento da feitura da tese, uma "instabilidade emocional", é
mais uma vítima da conjuntura cruel que promete emprego somente
a quem tem titulação. Pior, abre a possibilidade a carreira
acadêmica a qualquer um que tenha a titulação, pouco
se importanto sobre como e onde ela foi alcançada. Basta ter o diploma.
<br>Códigos de ética profissional existem para serem cumpridos
pelos profissionais. Muitos jovens mestrandos e doutorandos ainda não
são profissionais. Muitos ainda são apenas estudantes recém-graduados
que começam a, desesperadamente, buscar titulação
pós-graduada. E aí, vale tudo para o pobre desorientado.
Para ele vale copiar, vale plagiar, vale fazer o já feito com outro
discurso, vale repetir idéias já reveladas mas pouco ou nada
conhecidas pela comunidade. Para disfarçar essas estratégias,
basta fazer um monte de citações de autores famosos.
<br>Enfim, acima eu usei a expressão "pobre desorientado", porque
eu penso que o grande culpado do plágio que você relata não
é o plagiador. Este já reconheceu o erro, alegou problemas
psicológicos, se desculpou e, parece, vai refazer o trabalho, dessa
vez citando a fonte do texto surrupiado.
<br>Para mim o grande vilão dessa história é o "Orientador"
do rapaz. Este sim é o profissional que deve respeitar, e fazer
ser respeitado, o código de ética. É ele quem deveria
ser punido. Está evidente que o "orientador" não orientou
coisíssima nenhuma. Não quero afirmar que o orientador devesse
conhecer o teu texto e, assim, identificar o plágio durante a orientação.
Quero apenas dizer que um "orientador" deve acompanhar passo a passo a
pesquisa, a bibliografia, e até mesmo a redação de
cada parágrafo e capítulo. Quando esse trabalho é
desenvolvido criteriosamente pelo orientador, ele é capaz de reconhecer
estilos de escrita e, assim, pelo menos, desconfiar de textos escritos
por autores diferentes que, é óbvio, terão sempre
estilos diferentes.
<br>Abraço,
<br>Jorge Antunes
<p>PS. Talvez essas minhas colocações acima sejam bem polêmicas,
podendo encontrar, na Anppom, opositores radicais. Mas abro-me em reflexões
próprias, sinceras, de experiência de vida acadêmica,
para tentar contribuir com o debate, desde já dizendo que não
me considero dono da verdade e que estou aberto a revisões de minhas
convicções.
<br> 
<br> 
<br> 
<br> 
<p>Marcia Taborda wrote:
<blockquote TYPE="CITE">Agradeço a todos pelas mensagens.
<p>Acho que o mais importante no momento
<br>será a revitalização dessa comissão e o
desenvolvimento  junto à ANPPOM de
<br>um código de ética,
<br>que possa nos amparar em casos semelhantes; uma tomada de atitude
<br>institucional;
<br>Abraço,
<p>Marcia Taborda
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<br><a href="http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l">http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l</a>
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