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<BODY bgColor=#ffffff>
<DIV><FONT face=Arial size=2>Tempo e vez do relativismo!</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2>Luiz Otávio Braga</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2>PPGM/UNIRIO</FONT></DIV>
<BLOCKQUOTE
style="PADDING-RIGHT: 0px; PADDING-LEFT: 5px; MARGIN-LEFT: 5px; BORDER-LEFT: #000000 2px solid; MARGIN-RIGHT: 0px">
<DIV style="FONT: 10pt arial">----- Original Message ----- </DIV>
<DIV
style="BACKGROUND: #e4e4e4; FONT: 10pt arial; font-color: black"><B>From:</B>
<A title=cpalombini@gmail.com href="mailto:cpalombini@gmail.com">Carlos
Palombini</A> </DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial"><B>To:</B> <A title=anppom-l@iar.unicamp.br
href="mailto:anppom-l@iar.unicamp.br">anppom-l@iar.unicamp.br</A> </DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial"><B>Sent:</B> Wednesday, September 17, 2008 10:04
AM</DIV>
<DIV style="FONT: 10pt arial"><B>Subject:</B> [ANPPOM-L] "a voz dos
excluídos", "os porões da ditadura" e a palavra final de Caetano Veloso</DIV>
<DIV><BR></DIV>
<DIV dir=ltr><BR><I>Paulo Cesar Araújo se despede de Waldick Soriano com um
texto cheio de clichês, onde não faltam "a voz dos excluídos", "os porões da
ditadura" e a palavra final de Caetano Veloso. Num contexto em que falar de
Waldick Soriano é cometer um</I> faux pas<I>, um texto interessante. <BR
clear=all></I>
<P style="TEXT-INDENT: 35.4pt; TEXT-ALIGN: justify"><B>Waldick Soriano: a voz
dos excluídos</B> <BR></P>
<P style="TEXT-INDENT: 35.4pt; TEXT-ALIGN: justify">Por um desses mistérios da
criação, coube à Bahia oferecer ao Brasil os dois extremos da nossa música
popular: o cultuado João Gilberto, o criador da bossa nova, e o criticado
Waldick Soriano, a mais completa tradução da chamada música brega ou cafona. E
por coincidência, no mesmo ano em que João é reverenciado pelos 50 anos da
bossa nova, o outro baiano saiu da vida para entrar na História. </P>
<P style="TEXT-INDENT: 35.4pt; TEXT-ALIGN: justify">Ao comentar a morte dele,
Caetano Veloso disse que "se há uma elite para mim, é a elite dos que têm ou
tiveram grande intuição artística. Waldick era um desses". De fato, o cantor e
compositor Eurípedes Waldick Soriano foi um dos mais marcantes e singulares
artistas da música brasileira. Ele começou a carreira em 1959 com o single
<I>Quem és tu </I>e, no ano seguinte, lançou o primeiro álbum com o mesmo
título e orquestrações do maestro Guerra Peixe. A obra de Waldick é, portanto,
contemporânea da bossa nova, do Cinema Novo, do concretismo e da arquitetura
de Oscar Niemayer.<SPAN> </SPAN></P>
<P style="TEXT-INDENT: 35.4pt; TEXT-ALIGN: justify">O projeto
desenvolvimentista da era JK, apesar do clima de euforia que criava, tinha
também o seu lado perverso. Havia um <SPAN> </SPAN>outro Brasil,
abandonado,<SPAN> </SPAN>desfavorecido, que não aparecia nas capas da
revista Manchete. Um Brasil que, sem conhecer as maravilhas da indústria de
consumo, sofria no carne os sacrifícios para implantá-la. A música de Waldick
surgiu neste contexto expressando a tristeza dos marginalizados de bolso e de
coração, como em <I><SPAN style="COLOR: black">O moço pobre,</SPAN></I><SPAN
style="COLOR: black"> que diz: "</SPAN>Um moço pobre como eu não deve amar / E
nem tão pouco alimentar sonhos de amor / O mundo é só de quem tem muito pra
gastar / Um moço pobre como eu não tem valor..."</P>
<P style="TEXT-INDENT: 35.4pt; TEXT-ALIGN: justify">Partindo de experiências
individuais, Waldick transformava suas músicas numa realidade que não era
apenas dele e sim de um vasto público formado por empregadas domésticas,
porteiros, garçons, operários de construção e imigrantes nordestinos que são
freqüentemente humilhados e ofendidos no cotidiano brasileiro. Foi para eles
que o artista baiano compôs temas como <I>Eu também sou gente, Nem cachorro é
maltratado como eu </I>e a emblemática <I>Eu não sou cachorro
não</I>.<SPAN> </SPAN></P>
<P style="TEXT-INDENT: 35.4pt; TEXT-ALIGN: justify">Inicialmente restrito ao
Norte e Nordeste, o sucesso de Waldick foi num crescendo, até que no fim dos
anos 60 explodiu em todo o Brasil. Aí já estávamos na ditadura militar e na
grande repressão política que se seguiu à decretação do AI-5. O embate dele
com a censura aconteceu em 1974 com a proibição de <I>Tortura de
amor<SPAN> </SPAN>– </I>uma das mais lindas e românticas canções já
feitas no Brasil. Os militares ficaram perturbados com a referência a uma
palavra que remetia aos porões da ditadura. Aqueles dias eram assim. Podia
torturar, mas não podia falar em tortura, nem mesmo de
amor.<SPAN> </SPAN></P>
<P style="TEXT-INDENT: 35.4pt; TEXT-ALIGN: justify">A famosa máxima
rodrigueana de que toda unanimidade é burra nunca ficou tão evidente como na
opinião dos críticos sobre Waldick Soriano. Virou lugar-comum subestimar o
talento deste cantor-compositor, mesmo entre aqueles que nunca ouviram um
disco seu. N<SPAN style="COLOR: black">o livro </SPAN><I>Eu não sou cachorro,
não</I> <SPAN style="COLOR: black">defendo a idéia de que </SPAN>existe
determinado parâmetro de julgamento estético de uma obra musical no Brasil.
Para ser bem qualificada pela crítica esta obra precisa estar identificada ao
que se considera "tradição" (folclore, choro, samba de raiz) ou então ao que
se considera "modernidade" (influências de vanguardas literárias ou musicais
como o jazz, a bossa nova, o rock inglês). É por isso que tem valor cultural
nomes como Nelson Sargento ("tradição") ou Tom Zé ("modernidade"). Quem não se
enquadra aí <SPAN> </SPAN>é desclassificado.<SPAN> </SPAN></P>
<P style="TEXT-INDENT: 35.4pt; TEXT-ALIGN: justify">Porém, indiferente a estas
filigranas das elites culturais do país, o povo brasileiro consagrou Waldick
Soriano como um gigante da nossa música popular. Ao longo se sua carreira ele
gravou 83 discos, compôs cerca de 600 canções, muitas delas grandes sucessos.
<I>Eu não sou cachorro não, </I>por exemplo, está na memória coletiva nacional
assim como <I>Asa Branca, Mamãe eu quero </I>e<I> Luar do sertão</I>. <SPAN
style="COLOR: black">Sim, Waldick se expressava através de um ritmo alienígena
como o bolero, mas como disse o poeta Augusto de Campos à propósito do
tropicalismo. "E daí? Desde quando a arte tem carteira de identidade? Qual a
nacionalidade de Stravinski: russo, francês, americano ou simplesmente
humano?" </SPAN></P>
<P style="TEXT-INDENT: 35.4pt; TEXT-ALIGN: justify">Felizmente, Waldick viveu
a tempo de ver realizado aquele desejo que compartilhava com Nelson
Cavaquinho: "Se alguém quiser fazer por mim / que faça agora". E a atriz
Patrícia Pillar fez dois belos trabalhos em sua homenagem: o CD e DVD
<I>Waldick Soriano ao vivo</I>, lançados em 2007<I>, </I>e o documentário
<I><SPAN style="COLOR: black">Waldick - sempre no meu coração</SPAN></I><SPAN
style="COLOR: black">, exibido neste ano.</SPAN> Eu próprio fiz uma análise da
sua trajetória artística no livro ao qual dei o título <I>Eu não sou cachorro
não</I>, publicado pela editora Record, em 2002. Entretanto, há ainda muito
mais a ser revelado na obra deste grande artista brasileiro. De qualquer
forma, acho que Waldick Soriano partiu sentindo o seu coração, a sua alma e a
sua história lavados.</P>
<P style="TEXT-ALIGN: justify"> </P>
<DIV style="TEXT-ALIGN: center" align=center>
<HR align=center width="100%" color=#aca899 noShade>
</DIV>
<P style="TEXT-ALIGN: justify"><SPAN style="FONT-SIZE: 10pt">PAULO CESAR DE
ARAÚJO é historiador e jornalista, autor de <I>Eu não sou cachorro, não</I> e
<I>Roberto Carlos em detalhes</I>.<SPAN> </SPAN></SPAN></P><BR>--
<BR>carlos palombini<BR><<A
href="mailto:cpalombini@gmail.com">cpalombini@gmail.com</A>><BR><BR>maison
suger<BR>16-18 rue suger<BR>paris 6<BR><BR>tél. 01.44.41.32.41<BR></DIV>
<P>
<HR>
<P></P>________________________________________________<BR>Lista de discussões
ANPPOM
<BR>http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l<BR>________________________________________________</BLOCKQUOTE></BODY></HTML>