MEMÓRIA E VERDADE - 10/08/2012<br clear="all"><br><p>Professor baiano surpreendeu os presentes na cerimônia ao narrar
depoimentos que reforçam a suspeita de que Anísio Teixeira, fundador da
Universidade, foi assassinado pelo regime militar</p><a href="mailto:debcronemberger@gmail.com" class="assina1">Débora Cronemberger</a><span class="assina1"> - Da Secretaria de Comunicação da UnB</span><br><br><a href="http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6934">http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6934</a><br>
<br><p class="texto">Um pedaço sombrio da história do Brasil começou a ser
esclarecido no final da manhã desta sexta-feira, 10 de agosto. Quatro
décadas após ser encontrado sem vida no fosso de um elevador, no Rio de
Janeiro, um depoimento inédito pode mudar a versão oficial da morte de
Anísio Teixeira, fundador da Universidade de Brasília e um dos nomes
mais importantes da educação brasileira. </p><p class="texto">O relato,
feito inesperadamente durante a instalação da Comissão da Verdade da
instituição dirigida por Anísio Teixeira de junho de 1963 a abril de
1964, reforçou a importância da criação desta instância de investigação
pelo reitor José Geraldo de Sousa Junior. Batizada com o nome do
educador, a Comissão da Verdade nasce cumprindo seu propósito principal:
resgatar a verdade de fatos ocorridos durante o regime militar, entre
eles os desaparecimentos dos alunos do campus Darcy Ribeiro Honestino
Guimarães, Ieda Santos Delgado e Paulo de Tarso Celestino.</p><p class="texto">Ao
pedir a palavra, durante a cerimônia, João Augusto de Lima Rocha,
professor da Universidade Federal da Bahia, surpreendeu os cerca de 150
docentes, alunos e autoridades presentes. Na tribuna do auditório da
Reitoria, o professor revelou o conteúdo de três depoimentos colhidos
por ele nos anos seguintes ao sepultamento do pioneiro da Educação Nova.</p><p class="texto">As
narrativas reforçam a suspeita de que Anísio Teixeira foi assassinado
pelo regime militar, ao contrário do que relatam os documentos da época.
O professor João Augusto afirma ter ouvido de Luiz Viana Filho,
governador da Bahia quando Anísio Teixeira foi encontrado morto, que o
educador foi preso no dia 11 de março de 1971 e levado para o quartel da
Aeronáutica.</p><p class="texto">A data é a mesma em que o educador
desapareceu, após sair em direção à casa do filólogo Aurélio Buarque de
Holanda, localizada no edifício Duque de Caxias, na Praia do botafogo,
número 48. O corpo foi encontrado no fosso do elevador dois dias depois,
em 13 de março. “Em dezembro de 1988, Luiz Viana Filho me confessou que
Anísio foi preso no dia que desapareceu e levado para o quartel da
Aeronáutica, em uma operação que teve como mentor o brigadeiro João
Paulo Burnier, figura conhecida do regime militar e que tinha o plano de
matar todos os intelectuais mais importantes do Brasil na época”, disse
João Augusto, no auditório da Reitoria.</p><p class="texto">De acordo
com os relatos de policiais da 10ª Delegacia de Polícia, responsáveis
pela investigação do caso à época, Anísio Teixeira estava “de cócoras,
com a cabeça junto aos joelhos, sob um platô de cimento armado, meio
metro acima do fundo do poço”. Havia ferimentos na base da cabeça e no
rosto e respingos de sangue na parte interna da casa de força. Pasta de
documentos e óculos estavam intactos ao lado do corpo. Os depoimentos
dos agentes estão detalhados na edição de 15 de março do jornal Última
Hora. Leia aqui.</p><table id="FT10082012_65081" align="center" border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="400px"><tbody><tr><td class="cred-foto">Paulo Castro/UnB Agência</td></tr><tr><td><img class="fotos" src="http://www.unb.br/noticias/galeria/images/ESTILO_DE_VIDA_E_LAZER/TURISMO/2012/Ago/10/comissao/thumbs/pqcomissao1.jpg" alt="" align="alinhamento" border="0" width="390"></td>
</tr><tr><td class="legenda"> Instalação da Comissão marca final do mandato do reitor José Geraldo </td></tr></tbody></table><p class="texto">Além
do testemunho de Luiz Viana Filho, João Augusto ouviu dois legistas que
viram o corpo de Anísio Teixeira durante a necrópsia. “Os médicos
Afrânio Coutinho e Clementino Fraga Filho tiveram acesso ao corpo de
Anísio devido a um engano do Exército. No dia que o corpo de Anísio foi
encontrado no fosso do elevador, um militar havia se suicidado no mesmo
bairro. Quando o rabecão passou para pegar o corpo do oficial, pessoas
do prédio onde Anísio foi localizado pediram que levassem o corpo”,
contou. “Se soubessem quem era, talvez a necropsia não tivesse
ocorrido”.<br><br>De acordo com o professor, Afrânio e Clementino
afirmaram que os graves ferimentos de Anísio Teixeira jamais poderiam
ter resultado de uma queda no fosso do elevador. “Ele teve todos os
ossos quebrados, o que seria impossível acontecer com a queda no fosso”,
contou o professor à plateia, que, perplexa, ouvia atentamente e em
silêncio. <a href="http://www.revistadarcy.unb.br/?page_id=1156">Leia aqui reportagem da revista DARCY sobre a trajetória de Anísio Teixeira.</a></p><p class="texto">Nenhum
dos depoimentos foi gravado. Luiz Viana Filho e Afrânio Coutinho
morreram, o primeiro em 1990 e o segundo dez anos depois. Clementino
Fraga Filho é o único ainda vivo. “Eles não aceitaram fazer o registro”,
disse o professor. “Era uma outra época. As pessoas tinham medo de
falar. A própria família de Anísio tinha receio, mas os filhos querem
agora reaver essa história”, comentou João Augusto. Segundo ele,
Clementino está com 94 anos. “Vou tentar convencê-lo a falar
publicamente sobre o que me disse”, completou.<br><br>João Augusto, que
participou da cerimônia porque estava em Brasília para uma reunião da
Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de
Ensino Superior (Proifes) e viu o anúncio da instalação da Comissão da
Verdade, revelou ainda que Afrânio Coutinho confidenciou ter escrito um
texto contando a história da necropsia. O material, segundo o professor,
teria sido deixado na sede da Academia Brasileira de Letras com a
recomendação de que fosse tornado público apenas em 2021. “Passei 20
anos em busca de provas destas histórias. Ao saber da criação da
Comissão, percebi que era hora de contar”, disse. <a href="http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6935">Leia aqui entrevista com o professor em que narra em detalhes o que ouviu.</a></p><table id="FT10082012_65082" align="center" border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="400px">
<tbody><tr><td class="cred-foto">Paulo Castro/UnB Agência</td></tr><tr><td><img class="fotos" src="http://www.unb.br/noticias/galeria/images/ESTILO_DE_VIDA_E_LAZER/2012/Ago/10/comissao/thumbs/pqcomissao1.jpg" alt="" align="alinhamento" border="0" width="390"></td>
</tr><tr><td class="legenda"> Depoimento
do professor João Augusto sobre morte de Anísio Teixeira surpreendeu
coordenadora do Comitê da Verdade do Distrito Federal </td></tr></tbody></table><p class="texto"><strong>NOVO SIGNIFICADO – </strong>O
relato do professor da Universidade Federal da Bahia surpreendeu
participantes da cerimônia e conferiu significado ainda mais amplo à
Comissão da Verdade da UnB. “Não conhecia esses depoimentos sobre a
morte de Anísio. É um caso para se investigar. Inclusive podemos
trabalhar em conjunto com a Comissão da Verdade da UnB”, disse Gilnei
Viana, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
“Esse pode ser o nosso fio da meada. Além da importância inquestionável
para a UnB, Anísio Teixeira é um dos principais nomes da história da
educação brasileira”, comentou o coordenador de investigação da Comissão
da Verdade Anísio Teixeira, o professor do Instituto de Ciências
Humanas José Otávio Nogueira Guimarães. <br><br>Iara Xavier Pereira, da
coordenação do Comitê da Verdade do Distrito Federal, afirmou que sempre
houve dúvidas quanto à morte de Anísio Teixeira. “Sempre houve
suspeita, mas nunca surgiu nada concreto. Esses depoimentos, citados
pelo professor, são novidade”, disse.<br><br>Criada para investigar os
casos de repressão que envolvem a UnB, a Comissão Anísio Teixeira conta
com 11 integrantes, entre professores e ex-alunos vítimas do período da
repressão e tem como presidente o ex-reitor Roberto Aguiar. É a primeira
Comissão com esta finalidade criada por uma universidade brasileira. <a href="http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6935">Leia aqui depoimentos de vítimas da ditadura militar narrados durante a instalação da Comissão.</a></p>
<p class="texto"><strong>TRABALHO CONJUNTO –</strong>
José Geraldo abriu a cerimônia com mensagem enviada por Paulo Sérgio
Pinheiro, membro da Comissão Nacional da Verdade, instalada pela
presidenta Dilma Rousseff em maio deste ano para elucidar os crimes do
período da repressão em âmbito nacional. “Afirmo meu desejo de ajudar a
estreitar todos os vínculos de cooperação com a Comissão Nacional da
Verdade, que tem o poder de convocar qualquer cidadão, assim como tem
acesso a todos os documentos existentes em nosso país em qualquer nível
de acesso que estejam. Creia que nossa competência está à plena
disposição da Comissão da Memória e Verdade Anísio Teixeira para a
realização plena de seus objetivos”, disse na carta. Para José Otávio
Guimarães, essa possibilidade de convocar pessoas para depor será
fundamental para os trabalhos.<br><br>O reitor José Geraldo ressaltou
que a Comissão Anísio Teixeira surge com a proposta de complementaridade
com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. “Não há
redemocratização plena se não resgatarmos a memória desta experiência.
Ocultamentos nos levam a incidir sobre novos desvios”, disse. Outra
característica apontada por ele é o aproveitamento de experiências e
trabalhos realizados sobre o tema. José Geraldo citou como exemplo a
reedição do livro Universidade Interrompida, de Roberto Salmeron, dentro
das comemorações do jubileu da UnB.<br><strong><br></strong></p><table id="FT10082012_65084" align="center" border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="400px"><tbody><tr><td class="cred-foto">Paulo Castro/UnB Agência</td>
</tr><tr><td><img class="fotos" src="http://www.unb.br/noticias/galeria/images/ESTILO_DE_VIDA_E_LAZER/2012/Ago/10/comissao/thumbs/pqcomissao3.jpg" alt="" align="alinhamento" border="0" width="390"></td></tr><tr><td class="legenda">
</td></tr></tbody></table><p class="texto">Mateus
Guimarães, sobrinho do líder estudantil Honestino Guimarães, que
estudou Geologia na UnB e desapareceu em 1973, acrescentou outro aspecto
que ele considera fundamental para orientar os trabalhos da Comissão da
Verdade. “O resultado final mais importante será resgatar o projeto
universitário idealizado pelos fundadores da UnB, tão necessário e
fundamental para um país como o nosso”, disse Mateus. “Um projeto
baseado no princípio da emancipação de pessoas”, acrescentou José
Geraldo.<br><br>Cristiano Paixão, coordenador de relações institucionais
da Comissão da UnB, destacou o interesse que o resgate da memória e da
verdade desperta entre várias gerações. “É impressionante a atenção que
estudantes nascidos após a Constituição de 1988 dão a esse tema. A maior
contribuição que podemos dar se insere na dimensão do aprendizado”,
afirmou. Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça, elogiou a
iniciativa pioneira da UnB. “A Comissão de Anistia do Ministério da
Justiça deve muito à Universidade de Brasília. Boa parte dos membros da
Comissão se formaram aqui ou são professores daqui”, destacou em seu
pronunciamento. </p><table id="FT10082012_65080" align="center" border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" width="400px"><tbody><tr><td class="cred-foto">Edu Lauton/UnB Agência</td></tr><tr><td><img class="fotos" src="http://www.unb.br/noticias/galeria/images/DESASTRES_E_ACIDENTES/2012/Ago/10/comissao_memoria_verdade/thumbs/pqcomissao1.jpg" alt="" align="alinhamento" border="0" width="390"></td>
</tr><tr><td class="legenda"> Estudantes
lotam auditório com máscaras com a imagem do rosto de Honestino
Guimarães, alunos desaparecido durante o regime militar </td></tr></tbody></table><p class="texto"><strong><br> E SE HONESTINO ESTIVESSE AQUI –</strong>
A cerimônia foi marcada também por manifestação de estudantes. Usando
máscaras com a imagem do rosto de Honestino Guimarães, em uma
manistação que chamaram “Movimento Honestinas”, os alunos distribuíram
panfletos para divulgar a idéia da chapa Honestino Guimarães de “não
candidato” à reitoria da UnB. Atualmente, está em curso no campus
consulta organizada pelos três segmentos da Universidade para escolha
do próximo reitor. A lista será levada ao Conselho Universitário, a
quem cabe elaborar lista tríplice de indicados destinada à Presidência
da República. Quatro dos candidatos estiveram presentes à cerimônia:
João Batista de Sousa, Márcia Abrahão, Paulo César Marques e Volnei
Garrafa. <br> <br> Na entrada do auditório, os estudantes afixaram
cartazes com a pergunta: “O que faria Honestino Guimarães se fosse
reitor da UnB?” “Essa pergunta me deixou abalado”, disse Paulo Abrão no
final da cerimônia. “Eu acho que se Honestino fosse reitor da UnB. Ele
faria o mesmo que José Geraldo: criaria a Comissão da Verdade da UnB”.<br> <br>
A primeira reunião da Comissão será marcada na próxima semana. A partir
da próxima segunda, a UnB promove festival de cinema para divulgar a
Comissão Anísio Teixeira. <a href="http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=6933">Saiba mais aqui.</a></p>-- <br><div>carlos palombini<br></div><a href="http://www.researcherid.com/rid/F-7345-2011" target="_blank">www.researcherid.com/rid/F-7345-2011</a><br>