Damián,<br><br><div class="gmail_quote"><blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex">
Tentando esclarecer o que eu falei: um parecer bem fundamentado dá<br>
suporte a um projeto bem fundamentado.<br></blockquote><div><br>Sem dúvida, esse caso é fácil, mas tão raro quanto projetos bem fundamentados (sinto dizê-lo, mas a realidade é essa). Muito mais necessários são pareceres bem fundamentados para projetos mal fundamentados. As próprias agências insistem nisso.<br>
 </div><blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex">
> Outro fator  […] é o mérito dos projetos avaliados.<br>
<br>
Isso não fica claro nos pareceres emitidos pelas agências de fomento<br>
(por sinal, quem emite o parecer é o técnico encarregado da área e não<br>
os pesquisadores PQ. Pelo que consta nos editais, a agência se reserva<br>
o direito de recusar propostas com fundamento em fatores<br>
orçamentários, ou seja, em fatores que não têm relação com o mérito da<br>
proposta). Se a tua sugestão estiver correta, talvez o problema seja<br>
somente a transcrição do parecer ad hoc para o parecer do técnico.<br></blockquote><div><br>Tanto quanto eu o entenda ou imagine, o processo é o seguinte. O CNPq recebe os projetos e os avalia do ponto de vista formal. Essa avaliação, suponho, só filtra erros gritantes. Digo isso porque já recebi projeto de dois anos para edital de três, projeto de infra-estrutura para edital de pesquisa etc, etc, etc. A seguir, um técnico define os consultores ad-hoc que avaliarão a proposta. É, evidentemente, uma etapa crucial. A julgar pelas propostas que me têm sido encaminhadas, os técnicos do CNPq são dotados de discernimento e crescente finura. Os pareceres recebidos, o representante da área os compara, pondera e encaminha para o comitê da grande área, onde as prioridades são definidas. Daí, o processo sobe para uma área técnica, que define: temos dinheiro para satisfazer a demanda desse grupo até a prioridade n.<br>
 </div><blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex">
> Já vi editoria de periódico creditada como organização de livro. Já vi texto de manual de vestibular inserido como capítulo de livro. Quem faz isso, se desmoraliza.<br>
<br>
Concordo. Os temas que discutimos aqui na lista em relação a<br>
classificação e critérios de avaliação da produção são recorrentes:<br>
- o sistema atual de aferição de impacto não reflete a realidade da nossa área<br></blockquote><div><br>Em comparação com as áreas duras, estamos em desvantagem. Essa desvantagem numérica é intrínseca. Mas o CNPq é claro em dizer que as metas e os padrões de excelência da área são definidos por ela (e os da nossa, como uma mensagem anterior de Fernando sugere, são complacentes). O problema da relação entre ciência mole/dura não é exclusividade brasileira ou disciplinar. Mas é evidente que a classificação de periódicos reflete a discrepância entre padrões nacionais e internacionais (anglo-saxões, sobretudo). Quem publique em bons periódicos de língua inglesa, ou simplesmente em língua inglesa, está em posição vantajosa no quesito citações. Tanto assim que os pesquisadores franceses têm sido instruídos a publicar em língua inglesa (quem conheça o chauvinismo francês em matéria de idioma será capaz de avaliar o peso da injunção). Há maneiras de inflar citações. Mas citações infladas de pesquisa sem impacto são reconhecíveis e, uma vez identificadas, desqualificam, se não a pesquisa, o proponente. Quando você está inserido num campo de pesquisa, não são os indicadores que fornecem a dimensão da relevância do trabalho de A, B, C ou D. A pergunta de um pesquisador honesto não seria "de que maneira vou dar um jeito de receber mais citações?", e sim, "de que modo meu trabalho se tornará mais relevante para a comunidade X?", ou "de que modo ele se tornará passível de publicação nos periódicos ou anais mais seletivos, que tendem a ser aqueles que geram mais citações?", (porque constam das melhores bases, porque têm um leitorado mais exigente, melhor informado, etc., etc., etc.) Não quero dizer com isso que todos os periódicos estrangeiros sejam modelares, nem que você deva se submeter a todas as suas exigências. Longe disso. Meus dois primeiros artigos foram publicados pela Oxford e pela MIT Press. No processo editorial, discuti com os editores e cheguei mesmo a insultá-los. Nem por isso deixaram de ser publicados. No caso da Oxford, em troca do insulto (injustificado e, portanto, seguido de um pedido de desculpas), recebi um prêmio. É evidente que não temos produção para alimentar tantos periódicos, não importa como a Capes os classifique. É bom, em certas circunstâncias, submeter-se a desafios, e tentar veículos mais seletivos. Por outro lado, "como posso contribuir para melhorar o nível das publicações brasileiras?" também é uma boa pergunta. Seja como for, "como posso fazer para ser mais citado?" me parece a pergunta errada. <br>
 </div><blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex">
- os critérios de exclusão de propostas não são claros<br></blockquote><div><br>Os consultores são instruídos a fundamentar seus pareceres, sobretudo no caso de propostas denegadas. Somos instruídos também a verificar a adequação da proposta aos termos do edital. Respondemos a questionários bastante objetivos que variam de acordo com as linhas de financiamento. Dentro de tais limites, é claro que diferentes consultores têm padrões, concepções e critérios diferentes. Como já disse, minha experiência me diz que os técnicos têm considerável sensibilidade ao identificar consultores adequados à proposta x, y ou z. Eles solicitam dois pareceres. E o representante da área tem o discernimento de julgar não apenas a relação entre um parecer e outro, mas também a relação entre proponente e consultor, e as possíveis anomalias resultantes. O parecer-padrão do CNPq pode não ser estimulante para o autor de uma proposta denegada com base nas determinações orçamentárias. A agência provavelmente considere que o autor de um projeto aprovado pelo comitê da grande área em termos menos enfáticos que os de outro, de uma área para a qual as a alocações sejam superiores (e a demanda, maior, como a competição e, provavelmente, a qualidade) não tenha interesse em saber das virtudes e dos defeitos encontrados. Talvez, como você sugere, essas virtudes e esses defeitos não tenham sido suficientemente observados para merecer comunicação. Os pareceres são sigilosos, de modo que não sei o que disse meu colega X do projeto Y. De todo o modo, sei que alguns de meus colegas são extremamente criteriosos. De minha parte, posso lhe dizer que tenho um prazer enorme em aprovar bons projetos e até mesmo projetos menos bons que revelem uma ou outra qualidade raramente observada. Não há nada mais frustrante que gastar o próprio tempo na justificativa da reprovação de um projeto que não atende ao edital, que foi apressadamente requentado (às vezes, sem que o nome da agência à qual foi anteriormente dirigido tenha sido sequer trocado), que não demonstre qualquer preocupação com o estado da arte das discussões em torno do problema, que não tenha sequer um problema de pesquisa, que não tenha mesmo bibliografia, cuja bibliografia consista exclusivamente de publicações do proponente, ou que tenha a recomendá-lo as hipérboles estereotipadas com as quais o autor descreve seu próprio trabalho. Acredite, essas propostas são numerosas. Por isso, Fernando tem razão em pedir que o maior número possível de pessoas submeta projetos. E que argumentos em prol de um aumento de alocações orçamentárias sejam dificilmente sustentáveis com alguma integridade.<br>
 </div><blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex">
- os grupos mais atingidos são os que não têm a opção de pedir apoio<br>
para agências estaduais<br></blockquote><div><br>É fato, mas são favorecidos, no CNPq, pelas cotas para regiões em desenvolvimento. <br></div><div><br>Abraço,<br>Carlos<br>
</div></div><div style id="__af745f8f43-e961-4b88-8424-80b67790c964__"></div>