<h2>Com “universidades de integração”, Brasil aposta na diplomacia do diploma</h2>
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</p><p>Cada vez mais inserido no processo de internacionalização
acadêmica, País aposta em universidades transnacionais para fortalecer
integração com América Latina e África.</p>
<p><b>Via <a href="http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/26557/atraves+do+ensino+superior+brasil+quer+firmar+posicao+como+lider+regional+solidario.shtml?__akacao=1235533&__akcnt=e512888e&__akvkey=a23d&utm_source=akna&utm_medium=email&utm_campaign=Boletim_OM_200113">Opera Mundi</a></b></p>
<p>A recente ascensão do Brasil como potência mundial emergente
ressuscitou uma antiga tese, muito difundida especialmente na América do
Sul durante os anos de ditadura, que enxerga o gigante sul-americano
como uma nação imperialista. Como exemplos contemporâneos que contribuem
para a má fama estão os protestos de trabalhadores contra condições
precárias de trabalho e o forte impacto ambiental causado por
mineradoras de origem brasileira na África, especialmente em Moçambique;
ou o envolvimento de empreiteiras nacionais em zonas reivindicadas por
populações nativas, como na Bolívia.</p>
<p>Por outro lado, o País também procura demonstrar, por meio de uma
série de iniciativas pioneiras na Educação, que também é capaz de
exercer uma liderança regional sobre bases diferentes. Com o ensino
superior cada vez mais inserido no processo de internacionalização, o
governo adotou os princípios de cooperação solidária e integração
regional para nortear as parcerias no setor, especialmente com países
latino-americanos e africanos.</p>
<p>A cooperação solidária se baseia em acordos de mão dupla, onde todos
possam sair ganhando: estímulo à transferência e compartilhamento de
experiências e conhecimento e fortalecimento do intercâmbio e de
parcerias entre instituições de ensino superior, principalmente através
de redes.</p>
<p>Com base nesses princípios foram criadas recentemente duas
instituições de caráter transnacional, a Unila (Universidade Federal da
Integração Latino-Americana), em Foz do Iguaçu, na Fronteira
Trinacional, voltada a todo o continente latino-americano e o Caribe; e a
Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira), na pequena Redenção (Ceará), primeira cidade
brasileira a abolir a escravidão, em 1883. Ela é voltada aos países da
CPLP (Comunidades de Países da Língua Portuguesa).</p>
<p>A primeira, iniciada em 2010, incentiva os alunos latino-americanos a
voltarem aos seus países de origem para lá poderem aplicar seus
conhecimentos. A segunda, que teve os primeiros cursos iniciados em
2011, determina que os três últimos trimestres de cada curso sejam
realizados em países africanos ou no Timor Leste – caso estes tenham
parcerias, equivalência e condições para oferecê-los.</p>
<div id="attachment_8598" class="wp-caption aligncenter" style="width:460px"><a href="http://novobloglimpinhoecheiroso.wordpress.com/2013/01/21/com-universidades-de-integracao-brasil-aposta-na-diplomacia-do-diploma/unila01/" rel="attachment wp-att-8598"><img class="size-full wp-image-8598" alt="Unila01" src="http://novobloglimpinhoecheiroso.files.wordpress.com/2013/01/unila01.jpg?w=450&h=300" height="300" width="450"></a><p class="wp-caption-text">
O atual campus da Unila, no Paraná, é vizinho nas obras da segunda unidade da instituição; acima, o rio Iguaçu.</p></div>
<p>Ao mesmo tempo em que procura se tornar um polo de atração para
estudantes e professores do exterior, o Brasil incentiva os estudantes a
voltarem para os seus países de origem, sem incentivar a “fuga de
cérebros”. E o interesse dessa iniciativa é claramente geoestratégico.</p>
<p>“O Brasil, há alguns anos, se considerava autossuficiente. Sua
abundância em recursos naturais fazia pensar que não precisávamos dos
outros. Vivíamos de costas para a América do Sul, voltados para nós
mesmos. Essa visão mudou. O país está cada vez mais inserido no cenário
internacional. Sua presença é cada vez maior no continente africano, mas
busca crescer através de uma relação diferente às das tradicionais
grandes potências”, afirma Paulo Speller, reitor da Unilab, em
entrevista a Opera Mundi. “Para nós, a formação acadêmica tem o foco na
cooperação solidária”, complementa, em contraposição ao modelo voltado
ao mercado de trabalho e à iniciativa privada.</p>
<p>“O processo de internacionalização na Unila não mostrará resultados
iniciais, pois não tem fins lucrativos. O modelo voltado ao mercado
apresenta vantagens mensuráveis. Já nós abrimos a universidade para
alunos de todos os países da região para que eles possam retornar para
casa com a bagagem adquirida aqui”, conta. A vantagem para o Brasil?
“Confirmar sua vocação latino-americana de solidariedade com o resto do
continente”, responde Andrea Ciacchi, pró-reitor de Pesquisa e
Pós-Graduação na Unila – italiano de nascimento e há mais de 20 anos no
Brasil, também ouvido pela reportagem. “Não se dá para mensurar
concretamente, o retorno [<i>dessa iniciativa</i>] se dará por mil outros aspectos”.</p>
<p>“A ideia da Unila é a colaboração. Estamos longe ainda da primeira
turma de formandos, mas quando eles completarem os cursos, não faremos
nada para manter os estrangeiros aqui. A não ser que eles queiram, é
claro. Serão bem-vindos para realizar uma pós. Porque a ideia não é
dizer’ venha e fique no Brasil porque somos melhores’. Esse passado do
Brasil subimperialista foi uma teoria corrente nos anos 1960”, lembra.
Ciacchi diz que, em 20 anos, dezenas de milhares de profissionais
liberais latino-americanos já terão passado pelo país e “deixarão um elo
de amizade e parceria”.</p>
<p>Como um exemplo dessa diferença de mentalidade, ele cita o curso de
Letras, que ao contrário das outras universidades brasileiras, não se
volta prioritariamente à Literatura Brasileira ou aos cursos de Língua
Portuguesa. “Em nossa grade curricular, o Português tem o mesmo peso do
Espanhol. As literaturas são estudadas em grupos regionalizados, não
nacionais [<i>como, por exemplo, Literatura da Comarca Andina ou de Fronteira Norte/Sul</i>]. Ele deve vir procurar um ensino diferenciado, não só porque conseguiu vaga por meio do Sisu”, explica Ciacchi.</p>
<p>Speller lembra que a iniciativa visa formar profissionais preparados
para voltar seus conhecimentos ao mercado de trabalho em seus países de
origem. E que, pelas redes de cooperação, eles possam futuramente
aproveitar esses laços, o que resulta em retorno para o Brasil. “A
expectativa é mais longa e ainda estamos atendendo as demandas de todos
os outros países associados [<i>à CPLP</i>].”</p>
<p>Ainda em fase de estruturação, nenhuma turma ainda foi formada nas
duas universidades e os trabalhos acadêmicos ainda nem tiveram tempo
para gerar frutos. Mas ambas estão em fase de expansão. A meta da Unila é
chegar a 10 mil estudantes, dividida em 50% por brasileiros e
estrangeiros – atualmente são 1.241 (608 e 633, respectivamente) – e um
novo campus, vizinho ao atual e projetado por Oscar Niemeyer, está em
construção.</p>
<div id="attachment_8599" class="wp-caption aligncenter" style="width:460px"><a href="http://novobloglimpinhoecheiroso.wordpress.com/2013/01/21/com-universidades-de-integracao-brasil-aposta-na-diplomacia-do-diploma/unilab01/" rel="attachment wp-att-8599"><img class="size-full wp-image-8599" alt="Unilab01" src="http://novobloglimpinhoecheiroso.files.wordpress.com/2013/01/unilab01.jpg?w=450&h=302" height="302" width="450"></a><p class="wp-caption-text">
Campus
da Unilab, destinada à integração entre brasileiros e integrantes de
países lusófonos. Atrás, a pequena cidade de Redenção, de 26 mil
habitantes.</p></div>
<p style="text-align:center">
</p><p>Mais nova, a Unilab constrói uma segunda unidade em São Francisco
do Conde, interior da Bahia, 73 quilômetros ao norte de Salvador. É a
única universidade no Brasil a ter todos seus 78 professores com título
de doutorado. Seu nível de internacionalização, no entanto, é mais
modesto: dos 1.008 estudantes, só 220 são estrangeiros – e a maioria
deles, 71, do Timor Leste, o único país não africano incluído (não há
alunos portugueses). Entre os brasileiros, os cearenses são, de longe,
mais numerosos. O objetivo também é chegar a 50% entre brasileiros e
estrangeiros.</p>
<p>Outra similaridade entre as duas universidades é que os respectivos
processos de internacionalização têm como prerrogativa respeitar o
contexto e as necessidades locais em que estão inseridos – o que
influencia desde a escolha dos cursos até os objetivos das áreas de
pesquisa.</p>
<p>E, para o Brasil, tornar-se um polo de atração <a href="http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/25928/brasil+e+franca+firmam+parceria+para+aumentar+a+concessao+de+bolsas+de+estudo.shtml">não implica diminuir a presença de estudantes brasileiros no exterior</a>. Pelo contrário, a outra via do intercâmbio foi incrementada com o programa <a href="http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/21410/programa+brasileiro+podera+mandar+12+mil+alunos+ao+canada.shtml">Ciência Sem Fronteiras</a>, onde se pretende oferecer mais de cem mil bolsas em quatro anos para estudantes brasileiros no exterior.</p>
<p><b>Os limites do mercado</b></p>
<p>Em um caminho diferente do que está sendo planejado pelo Brasil,
Chile e Canadá são dois exemplos clássicos que apostam assumidamente na
fórmula do ensino superior voltado às necessidades do mercado e com
ênfase em universidades privadas e pagas (capítulos 10 e 11 do livro <i><a href="http://operamundi.uol.com.br/conteudo/entrevistas/16580/chile+mostra+esgotamento+do+modelo+%26%2339privatista%26%2339+de+educacao+superior+diz+pesquisador.shtml">Internacionalização do Ensino Superior</a></i>,
Ed. Alameda, 536 págs.). No entanto, desde 2011 esse modelo tem sido
colocado em xeque por seus respectivos movimentos estudantis e
associações de professores, ao ponto de, no último semestre, terem-se
tornado tema decisivo nas últimas disputadas eleitorais regionais.</p>
<div id="attachment_8600" class="wp-caption aligncenter" style="width:460px"><a href="http://novobloglimpinhoecheiroso.wordpress.com/2013/01/21/com-universidades-de-integracao-brasil-aposta-na-diplomacia-do-diploma/quebec01/" rel="attachment wp-att-8600"><img class="size-full wp-image-8600" alt="Quebec01" src="http://novobloglimpinhoecheiroso.files.wordpress.com/2013/01/quebec01.jpg?w=450&h=300" height="300" width="450"></a><p class="wp-caption-text">
Estudantes quebequenses protestam contra a alta nas universidades.</p></div>
<p>Os dois países foram tomados por grandes manifestações populares exigindo um <a href="http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13888&Itemid=86">ensino público gratuito e de qualidade</a>.
No Chile, os protestos se iniciaram em março de 2011 e contribuíram
para derrotas importantes da coalizão do presidente Sebastián Piñera nas
eleições municipais realizadas em outubro – o que pode vir a ser uma
prévia a disputa presidencial no fim deste ano.</p>
<p>Já a aparentemente calma província canadense do Quebec – que vive uma
histórica tensão separatista com o resto do país – passou por um
processo de ebulição iniciado em abril de 2011, quando o governo local –
comandado pelo liberal Jean Charest – anunciou que iria aumentar as
taxas das instituições públicas de ensino em 75% nos próximos cinco
anos.</p>
<p>Os estudantes não aceitaram e saíram às ruas para pedir reformas
profundas em todo o sistema educacional. O governo chegou a aprovar uma
lei que restringia protestos nas ruas, o que só serviu para aumentar a
popularidade das mobilizações, <a href="http://operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/24104/apos+meses+de+protestos+estudantis+provincia+do+quebec+realiza+eleicao+decisiva.shtml">obrigando Charest a antecipar a eleição provincial para agosto de 2012</a>.
Resultado: vitória da oposição, os nacionalistas do Partido
Quebequense. Embora a nova premiê Pauline Marois não tenha prometido
realizar mudanças significativas, ao menos interrompeu o processo de
desmantelamento do ensino público capitaneada por Charest, que, por sua
vez, não conseguiu sequer manter o próprio assento no Parlamento.</p><br clear="all"><br>-- <br><div>carlos palombini<br></div><a href="http://www.researcherid.com/rid/F-7345-2011" target="_blank">www.researcherid.com/rid/F-7345-2011</a>
<div style id="__af745f8f43-e961-4b88-8424-80b67790c964__"></div>