<br><h3>Por que as músicas de Pedro Boi foram parar no disco de um homem 
chamado Nelson Moralle? A resposta lembra uma sinistra obra de ficção </h3>
                                                                        <div class="bb-md-noticia-fecha">09 de fevereiro de 2013 | 7h 00<br><br><div class="bb-md-noticia-autor">Julio Maria - O Estado de S.Paulo</div>
                                                                                                
                                                                                                        <p style="font-size:14px">Nelson Moralle Junior existe. É um homem moreno, cabelos
 grisalhos, estatura média, acabou de comprar um violão e mora com a mãe
 em uma casa simples numa das principais ruas de São Roque, no interior 
de São Paulo. Sua fala é baixa, seu olhar não vacila e, não fosse uma 
incontinência verbal que o faz repetir a frase "cê tá me entendendo?" 
quando aparenta nervosismo, seria um mestre da persuasão. Nelson Moralle
 existe, mas o mundo que habita pode ser uma assustadora obra de ficção.</p><p style="font-size:14px"><br>  <img src="http://render.estadao.com.br/ext/selos/icone-bullet.gif" alt="link" border="0">   <a href="http://tv.estadao.com.br/videos,MUITO-A-EXPLICAR,194371,253,0.htm" title="TV Estadão: Assista trecho da entrevista com Nelson Moralle">              <strong>TV Estadão: Assista trecho da entrevista com Nelson Moralle</strong> </a></p>
<p style="font-size:14px"><br></p><div class="bb-md-noticia-extras"><div class="bb-md-noticia-foto"><div><img alt="Nelson Moralle: Muito a explicar sobre cada detalhe que aparece em seu disco - JF Diorio/AE" title="Nelson Moralle: Muito a explicar sobre cada detalhe que aparece em seu disco - JF Diorio/AE" src="http://www.estadao.com.br/fotos/NelsonMoralle_JFDiorio_Estadao288.jpg"></div>
<div class="bb-md-noticia-foto-autor">JF Diorio/AE</div><div class="bb-md-noticia-foto-bajada">Nelson Moralle: Muito a explicar sobre cada detalhe que aparece em seu disco</div></div></div>

<p>A faísca que virou fogueira nas redes sociais chama-se <em>Naturalmente Brasileiro</em>,
 um CD lançado por ele em 2010. A capa tem o rosto e o nome de Nelson 
Moralle e o encarte traz uma lista de 15 músicas, todas creditadas a ele
 como compositor. O nome de Almir Sater aparece como "produtor e 
arranjador" do álbum, além de parceiro de Moralle na música <em>Vida de Violeiro</em>.
 Os logos das empresas Caixa Econômica Federal e Petrobrás estão na 
contracapa, como se fossem patrocinadoras do projeto. Além do CD, o 
material traz um DVD com um documentário chamado <em>Quilombolas</em>. 
Foi com esse material que Moralle se apresentou em casas de show, 
programas de TV, deu entrevistas a rádios e rendeu matérias em jornais. 
Ele afirma que fechou 2012 com 102 apresentações, cobrando cachês que 
vão de R$ 1,5 mil a R$ 6 mil.</p>
<p>Em 2011, Moralle foi entrevistado por Antonio Abujamra no programa <em>Provocações</em>,
 da TV Cultura, como líder de uma comunidade quilombola de São Roque. 
Chegou a ser apresentado por Abujamra como exemplo de superação, um 
homem que aprendeu a ler e a escrever aos 35 anos. Em outro programa, do
 Canal Rural, é descrito pela apresentadora como "um músico com 30 anos 
de carreira que já trabalhou com Clara Nunes, João Bosco e Alceu 
Valença". Uma trajetória perfeita, se o mundo não fosse um pouco menor 
do que Moralle imaginou.</p>
<p>A 832 quilômetros de São Roque, em Montes Claros, Minas Gerais, o 
cantor e compositor Pedro Boi atendia clientes em seu bar quando um 
amigo chegou intrigado: "Acho que ouvi alguém cantando uma música sua lá
 no Recife". Um tempo depois e Pedro, 59 anos e 35 de carreira, recebeu 
de outros amigos de São Paulo o CD com o nome de Nelson Moralle na capa.
 Ao ouvi-lo, seu coração foi à boca e seus instintos primitivos 
afloraram. "Eu só queria matar aquele moço", diz. As 15 músicas do disco
 <em>Naturalmente Brasileiro </em>eram exatamente as mesmas gravações que estavam em seu álbum, <em>Passarim</em>,
 lançado dois anos antes. Mais do que plágio, as canções que apareciam 
no CD de Moralle, diz Pedro, haviam sido "transferidas" para o disco de 
Nelson. Ou seja, Nelson estaria dublando sobre a voz do mineiro e 
assumindo as autorias de suas canções, mudando apenas o título de cada 
uma delas no encarte do disco. <em>Romance de Colibri</em>, assinada por Pedro e seu parceiro Braúna, virava <em>Colibri Apaixonado</em>; <em>Su</em> aparecia como<em> Sereia de Água Doce</em>; <em>Meu Cavalo se Chama Disco Voador</em>, também de Pedro e Braúna, ganhava o nome de <em>Histórias de Pescador</em>.</p>

<p>A saga de como as músicas do disco de Pedro chegaram às mãos de 
Nelson é contada pelo mineiro, que diz ter hoje dificuldades para ouvir o
 próprio disco. "Não consigo. Logo me vem à mente o rosto dele e eu fico
 louco de raiva." Pedro narra que, depois de conhecer suas canções em um
 show em Porto Seguro, na Bahia, Nelson ligou para sua casa pedindo uma 
cópia de seu disco. Apresentou-se como um funcionário do Sesc que 
gostaria de agendar shows para o músico em São Paulo. Nelson teria ainda
 ligado outras vezes, pedindo o número do protocolo dos Correios para 
localizar o disco. Pedro passou os dados e esperou pela data de show. 
"Ele nunca mais atendeu aos meus telefonemas", diz Pedro.</p>
<p>A reportagem foi primeiro atrás dos nomes e das empresas citadas no 
encarte do disco de Nelson Moralle. Almir Sater seria mesmo o produtor e
 arranjador do CD, além de parceiro de Moralle em uma das canções? "Eu? 
Nunca ouvi falar o nome desse rapaz", diz o violeiro. A Petrobrás seria 
mesmo uma das empresas patrocinadoras do projeto, conforme indica a 
contracapa do disco? "Não encontramos em nossos arquivos registro de 
patrocínio ao projeto mencionado." E foi além: "Estamos analisando 
eventuais medidas cabíveis, diante do uso indevido da logomarca", 
informou, por meio de sua assessoria de imprensa. Segundo a empresa, o 
logo usado no material não condiz com a marca impressa em projetos 
patrocinados no Brasil. A Caixa Econômica Federal também não encontrou 
nenhum registro de patrocínio, nem no nome do artista nem da empresa que
 seria a proponente, segundo Nelson Moralle: a JMSMusic. José Martins, 
responsável pela JMS Music, diz que não é proponente nem responsável por
 captação de recursos. "A única coisa que fiz aqui foi imprimir as 
cópias do disco, que já chegou gravado."</p>
<p>O Ecad, escritório central que cuida dos direitos autorais no Brasil,
 registra várias das músicas que estão no disco de Nelson Moralle em 
nome de Pedro Boi: <em>Francisco</em>, <em>Jequitaí</em>, <em>Mariana</em>, <em>Meu Cavalo se Chama Disco Voador</em>, <em>Meu São João</em>, <em>Passarim Cantadô</em>, <em>Passarinho Canoro</em>, <em>Romance de Colibri</em>, <em>Saudade da Vila</em>, <em>Su</em>, <em>Tem Dó</em>, <em>Ventania</em> e <em>Zumbi</em>.
 Não há nenhum registro no nome de Nelson Moralle Junior. Na esteira de 
Pedro Boi, outras autorias assumidas por Nelson começaram a ser 
contestadas. "Nelsinho Moralle é um plagiador. Em nada difere de um 
ladrão de obras de arte", diz o compositor Marcelo Ribeiro, amigo de 
Pedro Boi. A cantora baiana Ju Motta chegou a gravar <em>Romance de Colibri</em>,
 "cedida" por Nelson Moralle, em um disco que não chegou a lançar. "Eu 
não sabia que a música era do Pedro Boi e do Braúna, fui uma vítima", 
diz. "Ele me fez assinar um contrato para 23 shows na Europa, mas os 
patrocínios nunca saíram", conta outra cantora, France da Matta, que 
chegou a namorar Moralle.</p>
A delegacia de São Roque registra uma prisão preventiva de Moralle, 
em 2006, por falsificação de documento e estelionato. Uma outra 
condenação saiu em 2008, em Sorocaba, por parcelamento irregular do 
solo. "Fui preso por uma armação política", diz Moralle. A reportagem 
encontrou com ele em um café de São Roque. Moralle levou o violão, 
rebateu as acusações e se disse vítima de uma perseguição. Quando a 
reportagem pediu que ele tocasse as músicas que estão em seu disco, ele 
disse que não sabia.
<br><br>

                                                                                                        <a href="http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,balada-numero-171,994846,0.htm">http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,balada-numero-171,994846,0.htm</a><br></div><br clear="all"><div><div>carlos palombini<br>
</div><a href="http://www.researcherid.com/rid/F-7345-2011" target="_blank">ufmg.academia.edu/CarlosPalombini</a><br><span>"Ici je ne tiens à charmer personne." (Paul Valéry)</span><br><div></div><div></div><div>
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