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<div class="article_title">
<h3><a href="http://www.vice.com/pt_br/music">Música</a></h3>
<h1>A Guerra da Thatcher Contra o Acid House</h1>
<p class="author">
<span class="author">By Michael Holden</span> </p>
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<br><div class="article_content">
<p>
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<p>
<em>Primeiro ela foi atrás do leite. Aí ela foi atrás dos mineiros.
Depois ela ficou sem ter o que perseguir, então foi atrás dos torcedores
de futebol que arranjavam brigas para se divertirem e do acid house.</em></p>
<p>
Pode parecer muito improvável numa época em que todo pub do Reino Unido
obrigatoriamente tem um par de telões passando Sky Sports, mas se você
queria bater de frente com o sistema no final da era Thatcher, o jeito
mais rápido de ser fichado pela polícia era assistir futebol ou ouvir
músicas com batidas repetitivas com o intuito de dançar.</p>
<p>
Se você está procurando uma medida de como a Inglaterra mudou desde o
reino Thatcher, considere como duas constantes do mainstream atual —
futebol e música eletrônica — já foram pintadas como demônios
folclóricos por um regime que rapidamente ficava sem coisas novas para
onde apontar sua polícia montada.</p>
<p>
Claro, os torcedores de futebol tinham poucas ilusões sobre como eram
vistos nos anos 1970, e qualquer um que tivesse ligações com indústrias
ou sindicatos já prestava atenção na política Tory bem antes de Thatcher
subir ao poder em 1979. Mas para quem é mais jovem, e especialmente
para quem é mais jovem e mais do sul da Inglaterra, o quanto o governo
Thatcher pegou pesado com os demônios gêmeos do futebol e da música
dance parece até loucura.</p>
<p>
<img alt="" src="http://assets.vice.com/content-images/contentimage/no-slug/1db49af5260c39b8495bc8cc52e6b4d9.jpg" style="width: 640px; height: 956px; "></p>
<p>
<em>Foto por Gavin Watson.</em></p>
<p>
Foi só quando fugi de uma festa em Dalston em 1989 que senti isso em
primeira mão. O motivo da minha partida precipitada foi a súbita entrada
de um grupo de policiais da delegacia de Stoke Newington, notórios no
local por sua selvageria. Eles entraram, tiraram os números dos
uniformes e começaram a quebrar as coisas da maneira mais violenta
possível sem usar armas de fogo, indo para cima tanto dos caras quanto
das minas sem distinção. Pode falar o que quiser sobre violência — e é
isso que o Estado geralmente esquece quando escolhe aplicá-la —, mas
isso não te faz ficar focado. Se você está procurando por um jeito de
estimular a cabreragem das últimas pessoas que não estavam putas no país
(homens brancos de classe média que usavam drogas eufóricas, como era o
meu caso), então mandar o Grupo de Apoio Territorial para arrebentar
uma pista de dança era uma maneira bem eficiente atingir esse objetivo.</p>
<p>
No entanto, até que a lei realmente voltasse seu cassetete para elas,
era difícil encontrar pessoas que realmente se importassem com como o
governo as tratava na época. O fotógrafo Gavin Watson — autor de <em><a href="http://www.djhistory.com/books/raving" target="_blank">Raving '89</a>,</em>
que documenta de um jeito bem engraçado as raves de acid house do final
dos anos 1980 e começo dos 1990 — concorda: “A política se tornava
supérflua durante as raves. Toda a merda que a Thatcher fazia entrava
por um ouvido e saía pelo outro, estávamos tão envolvidos com a cultura
que simplesmente não tínhamos tempo de nos importar com política”.</p>
<p>
<img alt="" src="http://assets.vice.com/content-images/contentimage/no-slug/321f8be016bc314acdd964fa49ca8f62.jpg" style="width: 640px; height: 353px; "></p>
<p>
<em>As capas do </em>Boy's Own<em>.</em></p>
<p>
Cymon Eckel, cofundador do fanzine de acid house e futebol <em>Boy's Own</em>,
pensa como Gavin. “Uma coisa meio trágica sobre rave era que,
diferentemente das outras cenas musicais, essa era completamente
despolitizada”, ele explica. “Acho que se pode dizer que as pessoas
queriam escapar da negatividade da política naquela época, ou que tinham
mesmo desistido dessa porra.”</p>
<p>
De qualquer maneira, o que se seguiu foi uma lição objetiva de como
transformar hedonistas em hereges. “Como poucas pessoas tinham o poder
de reunir milhares de jovens com um telefonema, o governo pensou que
havia ali um ângulo político que na verdade não existia”, diz Andrew
Weatherall, outro cofundador do <em>Boy's Own</em> e hoje uma das
principais figuras da história da música dance britânica. “O governo, e
não as pessoas que realmente estavam envolvidas, foi quem começou a
politizar a cena colocando a polícia para seguir e filmar esse pessoal, e
discutindo sobre isso no Parlamento.”</p>
<p>
<img alt="" src="http://assets.vice.com/content-images/contentimage/no-slug/bc359d0380d1c302274bb4ba78a86872.jpg" style="width: 640px; height: 411px; "></p>
<p>
<em>Foto por Gavin Watson.</em></p>
<p>
Os conservadores e a mídia, que adoravam propagar sua indignação com a
cena, foram, nas palavras do próprio Gavin, “pegos com as calças na mão —
eles estavam cinco anos atrasados quando começaram a falar disso”. No
que foi provavelmente um dos melhores exemplos de como a mídia estava
desinformada quando se tratava de acid house — e, aparentemente, avesso a
qualquer pesquisa básica —, um jornal chegou a relatar a descoberta de
“embalagens de ecstasy” numa pista de dança depois de uma festa. Watson
elabora: “A tentativa de propaganda deles era uma piada, uma sensação de
total impotência. A gente acabava indo às raves e rindo do governo e
das 'embalagens de ecstasy' deles”.</p>
<p>
E os jornalistas que metiam o pau na cena na imprensa também não eram
avessos à sedução da coisa toda: “Sim, claro que os jornalistas
apareciam!”, ri Weatherall. “Eram as pessoas que trabalhavam nesses
tabloides, sabíamos quem eles eram. Às vezes eles frequentavam as festas
mesmo.”</p>
<p>
<img alt="" src="http://assets.vice.com/content-images/contentimage/no-slug/e4e7cbc1b618057c0601211bdb99cfe3.jpg" style="width: 640px; height: 430px; "></p>
<p>
<em>Foto por Stuart Griffiths.</em></p>
<p>
Antes da introdução dos assentos numerados, o futebol — assim como o
acid house — poderia te jogar no meio de uma multidão que parecia fora
de controle quando vista de fora. Mas o que poderia ser algo eufórico de
se participar se tornou um espetáculo a ser temido. Assim como as
pessoas morriam em jogos de futebol e narrativas mentirosas se
espelhavam pela mídia sugerindo que as vítimas é que deviam ser
culpadas, o acid house e seus passatempos associados também eram
pintados como atividades cujos participantes precisavam ser protegidos
de si mesmos. Ou, se isso não desse certo, totalmente derrotados.</p>
<p>
Eu gosto que isso seja difícil de imaginar numa época em que Stewart
Downing tem permissão para atacar de DJ em seu tempo livre, mas houve
uma época em que ligar um aparelho de som num prédio abandonado atraía
uma resposta da polícia que seria muito mais apropriada para a montagem
de equipamento nuclear. Seja lá o que atiçou o establishment sobre a
cena rave, de sua própria maneira distorcida eles tinham um motivo.
Aquilo <em>era</em> perigoso.</p>
<p>
Antes que as “batidas repetitivas” — como um ato da Justiça Criminal
definiu isso em 1992 — chegassem ao mainstream, a falta de lugares para
ouvir essa música significava que, quando as pessoas conseguiam se
reunir, você tinha gente de todo tipo ouvindo música de nenhum gênero
específico, sob a influência de drogas que as desabilitavam e sem
recorrer à violência. Vários aficionados por futebol na época
frequentemente falam sobre isso: se maravilhar com a maneira com que
homens que eram capazes de lutar por prazer no meio dos anos 1980
acabavam se envolvendo em abraços fraternais e se dissolvendo na grande
perspiração em massa das possibilidades que se desdobravam a cerca de
120 bpm, enquanto a década chegava ao fim.</p>
<p>
<img alt="" src="http://assets.vice.com/content-images/contentimage/no-slug/7e590f6cbce3f9814ce2278415807e32.jpg" style="cursor: default; width: 640px; height: 411px; "></p>
<p>
<em>Foto por Gavin Watson.</em></p>
<p>
Não curto teorias da conspiração, mas até a análise mais simples de
“dividir e conquistar” sugere que, do ponto de vista da classe
dominante, pessoas de todas as raças, origens ou alianças futebolísticas
se dando bem não era algo que poderia continuar por muito tempo. Pelo
menos não sem patrocínio.</p>
<p>
“Rave era mais um lance de união”, explica Watson. “E, diferente das
outras cenas, não havia realmente nenhum rosto em que a sociedade
pudesse se apegar ou usar como bode expiatório, o que deve ter sido
frustrante para o governo e para a mídia na época. Como aquilo era tipo
uma grande massa inclusiva sem rosto, eu também sentia que as pressões
sociais que faziam as pessoas procurarem alívio na cultura rave acabou
trazendo coisas boas para apagar um pouco as divisões.”</p>
<p>
Mesmo que ter que lidar incansavelmente com a polícia estragando a
diversão fosse sem dúvida um puta saco, Eckel vê pontos positivos na
guerra da sociedade Thatcher contra a cultura jovem. “Se a Thatcher
criou uma carência de cultura com suas políticas e encheu as ruas
principais de marcas, conformismo e coisas mundanas, o que aconteceu foi
que a molecada tentou preencher o vazio, o que só pode ser uma coisa
boa.”</p>
<p>
Weatherall concorda, citando a politização da cena rave acid house como
algo que, de muitas maneiras, realmente ajudou. “Quando os políticos
agiam como se estivessem moralmente ultrajados e discutiam isso no
Parlamento, eles recebiam elogios por serem 'guardiões da moral'. Mas as
pessoas que estavam desafiando a moral, a cultura jovem, também se
davam bem, porque gente jovem gosta de chocar. Choque vende discos e
ingressos para festas de acid house. A cultura jovem é muito simbiótica;
a cultura mainstream e a cultura jovem são os dois lados da mesma
moeda.”</p>
<p>
<img alt="" src="http://assets.vice.com/content-images/contentimage/no-slug/0cee970fb157798659ec1365f6b39d2c.jpg" style="width: 640px; height: 407px; "></p>
<p>
<em>Foto por Gavin Watson.</em></p>
<p>
E o que aconteceu depois? Bom, as coisas se sucederam rapidamente e as
forças da escuridão ficaram mais diabólicas. Mais efetiva do que
qualquer legislação é a assimilação. Primeiro veio a Copa do Mundo de
1990, com uma música tema para a Inglaterra feita pelo New Order, e logo
os estádios e as Technics eram seguros para todo mundo. Agora o
Manchester City faz o “Harlem Shake” para o Comic Relief.</p>
<p>
Mas eu fico feliz, orgulhoso até, de dizer que muitos dos bons momentos
em que me envolvi desde então — numerosos relacionamentos que continuam
até hoje e muito do que eu considero ser o lado bom da minha natureza —
foram moldados por essas forças. Parecia na época que a resistência
política de Thatcher para acabar com a cena tornou aquilo, que de outra
maneira seria apenas uma questão de mero gosto musical, em algo tangível
e forte.</p>
<p>
Com o falecimento da figura principal dessa era, fico com a sensação de
que, mesmo se você não estiver tendo o melhor momento da sua vida num
campo aberto com milhares de outras pessoas, o seu direito de curtir a
balada continua intacto — acima e além de algumas das mais antigas
liberdades civis que se erodiram desde que essa batalha de monstros foi
aparentemente vencida.</p>
<p>
</p>
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<em>Siga o Michael no Twitter: <a href="https://twitter.com/thewrongwriter" target="_blank">@thewrongwriter</a></em></p>
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<em>Mais rave:</em></p>
<p>
<em><a href="http://www.vice.com/pt_br/read/explicando-a-cultura-rave-para-os-norte-americanos" target="_blank">Explicando a Cultura Rave Para os Norte-Americanos</a></em></p>
<p>
<em><a href="http://www.vice.com/pt_br/read/as-raves-ilegais-de-brighton-nos-anos-90" target="_blank">As Raves Ilegais de Bringhton nos Anos 90</a></em></p>
<p>
<em><a href="http://www.vice.com/pt_br/read/drum-and-bass-para-siempre" target="_blank">Drum And Bass Para Siempre</a></em></p>
<p>
<em>ASSISTA - <a href="http://www.vice.com/pt_br/music-world/rave-no-mar-negro" target="_blank">Rave no Mar Negro</a></em></p>
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</div>
<span class="author">By Michael Holden</span> <span class="date ago">4 days ago</span>
<span class="tags">Tags: <span class="tag"><a href="http://www.vice.com/pt_br/tag/Margaret+Thatcher">Margaret Thatcher</a></span>, <span class="tag"><a href="http://www.vice.com/pt_br/tag/Rave">Rave</a></span>, <span class="tag"><a href="http://www.vice.com/pt_br/tag/Pol%C3%ADcia">Polícia</a></span>, <span class="tag"><a href="http://www.vice.com/pt_br/tag/Acid+House">Acid House</a></span>, <span class="tag"><a href="http://www.vice.com/pt_br/tag/Ecstasy">Ecstasy</a></span>, <span class="tag"><a href="http://www.vice.com/pt_br/tag/drogas">drogas</a></span>, <span class="tag"><a href="http://www.vice.com/pt_br/tag/Michael+Holden">Michael Holden</a></span>, <span class="tag"><a href="http://www.vice.com/pt_br/tag/Gavin+Watson">Gavin Watson</a></span>, <span class="tag"><a href="http://www.vice.com/pt_br/tag/Stuart+Griffiths">Stuart Griffiths</a></span></span><br>
<br><a href="http://www.vice.com/pt_br/read/a-guerra-da-thatcher-contra-a-acid-house">http://www.vice.com/pt_br/read/a-guerra-da-thatcher-contra-a-acid-house</a><br><br clear="all"><div><div>carlos palombini<br></div><a href="http://www.researcherid.com/rid/F-7345-2011" target="_blank">ufmg.academia.edu/CarlosPalombini</a><br>
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