<h1>Pesquisa de qualidade, não de quantidade</h1>
        
                <h5 class="date">25/07/2013</h5>
                
        <p><b>Por Elton Alisson, de Recife</b></p>
<p><b>Agência FAPESP</b> – Depois de crescer em quantidade, a ciência 
brasileira enfrenta o desafio de melhorar a qualidade e aumentar seus 
impactos científico, social e econômico. Para isso, são necessárias, 
entre outras medidas, mudanças nos critérios de avaliação de 
pesquisadores e de instituições adotados pelas agências de fomento à 
pesquisa do país.</p>
<p>A análise foi feita por integrantes de uma mesa-redonda sobre 
“Impacto e avaliação da pesquisa”, realizada na terça-feira (23/07), 
durante a 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da 
Ciência (SBPC), em Recife (PE).</p>
<p>O encontro teve a participação de Carlos Henrique de Brito Cruz, 
diretor científico da FAPESP, Glaucius Oliva, presidente do Conselho 
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e Jorge 
Almeida Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de 
Pessoal de Nível Superior (Capes).</p>
<p>De acordo com dados apresentados por Brito Cruz, desde 1980 vem 
aumentando o número de artigos científicos publicados por autores do 
Brasil. “Isso indica um avanço inconteste do sistema de ciência 
brasileiro, especialmente se levarmos em conta que é um sistema tardio [<i>em comparação com países com tradição científica</i>] e que ainda enfrenta grandes dificuldades”, disse Brito Cruz.</p>
<p>Mas o impacto dos artigos científicos brasileiros – medido pelo 
número de vezes que o trabalho é citado por outros pesquisadores – ainda
 é baixo. “Ao longo de sua história, a ciência feita no Brasil, na 
média, tem tido pouca repercussão internacional, atingindo 60% da média 
do impacto científico do restante do mundo”, ponderou Brito Cruz.</p>
<p>Um dos fatores apontados pelos participantes da mesa-redonda como 
responsável pelo baixo impacto da ciência feita no Brasil é a pouca 
cooperação de cientistas brasileiros com pesquisadores do exterior.</p>
<p>Segundo dados apresentados pelo diretor científico da FAPESP, nos 
últimos anos diminuiu muito a cooperação internacional dos cientistas 
brasileiros, evidenciada pela queda de 40% para 27% da publicação de 
trabalhos em coautoria.</p>
<p>“Esse é um dos menores percentuais de coautoria em artigos 
científicos observado hoje em países que fazem ciência e almejam ter 
alguma relevância no cenário científico mundial. É importante 
recuperarmos nossa capacidade de colaboração científica porque isso 
ajuda a aumentar o impacto”, disse Brito Cruz.</p>
<p>O Brasil publica muito mais trabalhos na área de ciências de plantas e
 animais, por exemplo, do que a Coreia do Sul. O impacto científico dos 
artigos científicos publicados pelos pesquisadores sul-coreanos nessa 
área, no entanto, é superior ao dos trabalhos publicados por 
brasileiros.</p>
<p>Em Física – área na qual a Coreia do Sul aumentou muito nos últimos 
anos sua quantidade de artigos publicados e o Brasil estacionou um pouco
 –, o impacto dos trabalhos publicados por cientistas brasileiros em 
2012 cresceu mais do que o dobro da média mundial.</p>
<p>“Isso tem relação com a participação do Brasil nas grandes colaborações internacionais que há na área da Física [<i>como
 os realizados no Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), 
da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), na Suíça</i>]. 
Esses trabalhos geram artigos muito citados na comunidade científica 
internacional porque têm muitas ideias fundamentais”, disse Brito Cruz.</p>
<p>Guimarães, por sua vez, destacou que os outros países 
latino-americanos colaboram mais com nações europeias e com os Estados 
Unidos do que com o Brasil. “O Chile tem seu observatório astronômico. 
Por isso, todo o mundo colabora com eles e o fator de impacto dos 
artigos científicos deles é mais alto. O Brasil se descuidou da 
colaboração científica internacional”, disse.</p>
<p>As universidades brasileiras também exercem pouca influência 
científica em comparação com instituições congêneres na Europa e nos 
Estados Unidos, destacou Brito Cruz. “É preciso que as universidades 
brasileiras progridam mais em termos de impacto científico mundial”, 
disse.</p>
<p><b>Ações necessárias </b></p>
<p>Uma das ações indicadas por Brito Cruz para aumentar o impacto da 
ciência feita no Brasil é proteger o tempo do pesquisador contra tarefas
 extracientíficas – como o preenchimento de relatórios para prestação de
 contas. Segundo ele, há poucas universidades no Brasil com escritórios 
voltados para auxiliar pesquisadores em tais tarefas, a exemplo do que 
fazem os <i>Grants management offices</i> nos Estados Unidos.</p>
<p>“As agências que financiam a pesquisa no Brasil precisariam cobrar 
muito mais das instituições de ensino e de pesquisa no momento em que se
 concede financiamento a um projeto, com relação à questão da proteção 
do tempo do pesquisador contra tarefas extracientíficas”, ressaltou 
Brito Cruz. “Não é possível obter crescimento de impacto se não dermos 
aos pesquisadores brasileiros condições similares de trabalho às que 
seus colegas nas universidades de Stanford ou de Oxford, por exemplo, 
possuem”, frisou.</p>
<p>Outras medidas sugeridas são aumentar a cooperação internacional, a 
visibilidade e o impacto das revistas científicas publicadas pelo Brasil
 – uma vez que 33% dos artigos científicos de autores brasileiros saem 
em periódicos nacionais –, e valorizar a qualidade, em detrimento da 
quantidade, dos artigos científicos publicados por pesquisadores na 
análise de seus projetos de pesquisa na hora de conceder financiamento 
ou na promoção de cargo, entre outras situações.</p>
<p>A necessidade dessa mudança de critério de avaliação de pesquisadores
 também foi ressaltada por Oliva. “Ao premiarmos a quantidade, em 
detrimento da qualidade dos trabalhos publicados, podemos sinalizar uma 
direção errada, desencaminhar os jovens pesquisadores e, eventualmente, 
contribuir para acomodar cientistas seniores naquilo que aprendemos 
rapidamente a fazer, que é publicar”, disse.</p>
<p>A mudança de critério de avaliação da qualidade dos trabalhos 
científicos publicados, em vez da quantidade, não implicará na 
diminuição do número de publicações, avaliou Oliva.</p>
“Temos que superar a ideia de que quantidade e qualidade são 
necessariamente opostas. É possível manter a produção científica 
brasileira atual e, ao mesmo tempo, almejar mais”, afirmou. <b><br><br><br><a href="http://agencia.fapesp.br/17608">http://agencia.fapesp.br/17608</a><br clear="all"></b><br>-- <br><div>carlos palombini<br>pesquisador visitante, centro de letras e artes, unirio<br>
</div><a href="http://ufmg.academia.edu/CarlosPalombini" target="_blank">ufmg.academia.edu/CarlosPalombini</a><br><a href="http://proibidao.org" target="_blank">proibidao.org</a><br><div></div><div></div><div></div><div></div>
<div></div><div></div><div></div><div></div>
<div style id="__af745f8f43-e961-4b88-8424-80b67790c964__"></div>