<div dir="ltr">Colegas<div><br></div><div>Responderei ao maestro, embora não me considere um especialista em "ciências da música popular", até porque, na minha perspectiva, em concordância com a visão "praxial" de Wayne Bowman e Sparshott, não existe uma música popular, mas "músicas", populares e outras. Nessa via, "os valores da(s) música(s) não são intrínsecos, incondicionais, ou absolutos, e não existe significado fora das práticas e interações nas quais está incorporada. Isso significa que o valor da música só pode ser medido em referência a necessidades e interesses humanos específicos. E como Sparshott demonstra, tais necessidades e interesses são múltiplos e diversos como a própria atividade humana em si" (BOWMAN in ELLIOT et al, 2005). Nesse sentido, falo aqui, na perspectiva da musica popular que tem como parâmetros de compreensão intelectual a sistematização dos aspectos verticais e horizontais proposta pelo Jazz (PACHECO e CASTRO, 2010) e que faz parte daquilo que o o pesquisador Dmitri Tymoczko considera  como "Extended Common Practice".<br>
<div><br></div><div>Não conheço os livros mencionados pelo maestro Jorge Antunes, no entanto, me interessa saber onde foi recolhida essa informação a respeito da influência  desses livros no trabalho de Ian Guest e de Chediak (aluno de Guest). Suponho que as influências de Guest (que já  entrevistei)  e consequentemente de Chediak, estejam ligadas diretamente à Berklee College of Music, de Boston nos E.U.A, onde Guest estudou e onde boa parte da sistematização da relação escala/acorde, do ensino da harmonia  e da improvisação de um "determinado tipo" de música popular,  se difundiu, inclusive pelo Brasil (ver manuais de Guest, FREITAS 1994,2010;PACHECO e CASTRO,2010 etc..) . A título de curiosidade, é importante observar que a Influência do compositor e matemático russo Joseph Schillinger foi crucial nessa sistematização, inclusive  a instituição tinha o nome de Schillinger House antes de se chamar Berklee…</div>
<div><br></div><div>Agora, não me recordo de ter visto  a expressão DÓ MAIOR, ou Lá maior ou Sol maior ou qualquer outra do tipo, sendo utilizada para representar a tríade de dó maior ou qualquer outra tríade no trabalho de Ian Guest. No entanto, a expressão <b>acorde ou tríade de DÓ MAIOR</b> é corrente em todo o tipo de material que já li, inclusive em  autores acadêmicos, como Tymoczko e Antokoletz, por exemplo. A palavra <b>MAIOR</b> não é exclusividade da tonalidade, por isso existe a expressão <b>acorde de DÓ MAIOR</b>, que designa a estrutura, o tipo da tríade, mas não determina a função, nem a tonalidade em que estaria essa <b>tríade de DÓ MAIOR. Considerando </b>como fundamental  a nota Dó temos o acorde ou tríade de DÓ MAIOR, não vejo exatamente um problema nisso<b>. </b>Obviamente, imagino que esta seja a questão mais profunda colocada pelo maestro, o acorde não existe "per se", em especial numa perspectiva tonal,  mas sempre tem um endereço funcional, pode ser o I,  o  bVI, o bIII de alguma tonalidade, se relaciona com um contexto. Mas, de qualquer maneira, ele continuaria sendo uma tríade maior de Dó com diferentes funções. Talvez se designarmos como <b>tríade maior de Dó</b> ficaria mais clara a situação, ou não?</div>
<div> </div><div>No entanto, se encarássemos essa estrutura ( DÓ-MI-SOL)  pela perspectiva dos "Significados Múltiplos", pelo "Mehrdheutigkeit" de Weber, Vogler etc (ver SASLAW,1992,; PACHECO,2010; FREITAS, 2010) a suposta tríade teria dezenas de diferentes nomes possíveis, em especial, se considerarmos as possibilidades enarmônicas. Por exemplo, a estrutura poderia ser encarada como um Ab7M(#5) sem a fundamental, no caso seria  o bIII das escalas de Fá menor Harmônica ou Fá menor Melódica, ou ainda, o bVI da escala de Dó maior Harmônica, poderia ainda ser o I da Escala de Lá bemol Lídio Aumentado (terceiro modo da escala menor melódica ou a sétima rotação da Escala Acústica (Si bemol acústica) de Antokoletz (1993) etc. Desculpe o uso da cifra aí (Ab7M#5), mas explicarei de onde vem isso, e não considero que seja de uma prática amadorística e leiga não, vem de um desdobramento da tradição teórica do século dezenove.</div>
<div><br></div><div>Na tradição teórica Austro-germânica do século dezenove  autores como  Gottfried Weber já propunham sete tipos básicos de acordes  as tríades <b>maiores</b>, menores e diminutas e quatro acordes de sétima (seventh chords, tétrades) dominante, <b>maior</b>, menor e meio-diminuta ( ver livros do próprio Weber ou The Cambridge  History of Western Theory, Christensen organizador) . A tétrade diminuta era considerada, por vários  autores da época e mais tarde também por Schoenberg ( ver Funções Estruturais da Harmonia) como um acorde de nona menor sem a fundamental. Suponho que o <b>MAIOR</b> ( sem perfeito) aí do DÓ MAIOR venha dessa caracterização, dessa sistematização das tríades e tétrades feita por Weber, já que no final do século dezenove seu trabalho se espalhou para a França e posteriormente para a América do Norte (ver CHRISTENSEN, 2002).</div>
<div><br></div><div>Desde Rameau ( aliás, no século dezessete já se falava nisso)  sabemos que  todo acorde é gerado de algum grau de alguma escala de determinado tom, como nos explica o maestro acima. Todo acorde tem um endereço funcional e na maior parte dos livros, inclusive os dos "amadores e leigos"( reitero que os mencionados pelo maestro, Mascarenhas e Reis, desconheço) utilizamos os numerais romanos I II  V  ii  vi etc para indicar os graus nas diferentes escalas. Mesmo assim, voltando ao DÓ MAIOR, nos livros de Weber o uso da expressão "acorde de  Dó Maior", "C major chord"  "C dur akkord",  inclusive representado por variações da letra  C é utilizado correntemente para designar a <b>tríade maior de Dó</b>, assim como nos trabalhos a que me referi anteriormente.Também vem daí (tradição Austro germânica) toda a simbologia hoje utilizada nas "representações simbólicas" ou  "cifragens" de acordes pelos leigos e amadores e  por toda  a sistematização dos aspectos verticais e horizontais proposta pelo Jazz ( ver PACHECO e CASTR0, 2010). </div>
<div><br></div><div><br></div><div><br></div><div>Genil de Castro Pacheco Júnior</div></div></div><div class="gmail_extra"><br><br><div class="gmail_quote">2013/10/28 Jorge Antunes <span dir="ltr"><<a href="mailto:antunes@unb.br" target="_blank">antunes@unb.br</a>></span><br>
<blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex"><div dir="ltr">Colegas:<div><br></div><div>Não existe nota "Dó Maior".</div><div><br><div>Mas esse erro do ENEM vem a calhar.<div>
Faz-me lembrar de outro equívoco comum, que acontece quando músicos chamam o acorde DÓ-MI-SOL de acorde de Dó Maior.</div>
<div>Esquecem-se de que o acorde DÓ-MI-SOL não é exclusividade do "Dó Maior". Ele existe em Fá Maior, em Dó Maior, em Lá menor, em Sol Maior etc.</div><div>O acorde DÓ-MI-SOL é apenas um acorde Perfeito Maior.<br>

</div></div><div>Ele não é "acorde de Dó Maior". Ele não é "o Dó Maior".</div><div>Ele é apenas o acorde que se faz no I grau de Dó Maior, no V grau de Fá maior, no III grau de Lá menor, ....</div><div>

<br></div><div>Os livros de "Violão Sem Mestre", tipo Dilermando Reis, Mario Mascarenhas, etc, difundiram a nomenclatura leiga e amadorística, que foi abraçada por Almir Chediak, Yan Guest, etc, e a prática se estabeleceu.</div>

<div><br></div><div>Falta uma discussão sobre isso.</div><div>Com a palavra os especialistas nas ciências da música popular.</div><div><br></div><div>Jorge Antunes</div><div><br></div><div><br></div></div></div><div class="gmail_extra">

<br><br><div class="gmail_quote">Em 28 de outubro de 2013 11:06, Lílian <span dir="ltr"><<a href="mailto:lilian_sgoncalves@yahoo.com.br" target="_blank">lilian_sgoncalves@yahoo.com.br</a>></span> escreveu:<br><blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex">
<div><div class="h5">
Caros colegas,<br>
<br>
Seria o caso da ANPPOM manifestar-se quanto a esta questão?<br>
<br>
Att.<span><font color="#888888"><br>
<br>
-- <br>
Lílian Sobreira Gonçalves<br>
Mestre em Música - UFPR<br>
Especialista em Educação Musical<br>
Especialista em Regência Coral<br>
<br>
</font></span><br></div></div><div class="im">________________________________________________<br>
Lista de discussões ANPPOM<br>
<a href="http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l" target="_blank">http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l</a><br>
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