<div dir="ltr">Caro Daniel, <div><br></div><div>me desculpe, mas além de farejar um certo ressentimento cultural em suas questões - e não me aprofundarei nas raízes disso, acreditando que uma investigação mais dedicada, feita por você mesmo, trará respostas - preciso fazer um esclarecimento terminológico.<div>
<br></div><div>Como soteropolitano, nascido e criado na cidade de Salvador, me sinto na obrigação de esclarecer que "axé" não é um estilo musical, e sim um conceito iorubá que significa algo como "energia vital", mais ou menos análogo ao "chi" (em chinês) ou "ki" (em japonês) dos orientais. </div>
<div><br></div><div>O que se chama genericamente de "axé music", fora da Bahia, não corresponde a nenhum gênero musical de fato. Há uma profusão de gêneros: samba duro, pagodão, samba reggae, etc, que são classificados genérica e pejorativamente de "axé" por pessoas parcamente informadas, em geral de outros estados, embora às vezes alguns baianos também incorram nesse erro crasso. Só para comparar, seria como chamar Stockhausen de "música clássica" (o que está, para mim, até mais próximo de uma coerência) ou chamar qualquer música instrumental com chorus de improviso de "jazz", com a diferença que "jazz" e "música clássica" têm, para o senso comum, o status de "boa música", ao passo que "axé" costuma-se colocar na prateleira da "música pobre/ruim", junto com "funk", "sertanejo", "arrocha", etc. Rótulos para facilitar os discursos, que no entanto no afastam da real vivência desses fenômenos. </div>
<div><br></div><div>Não digo que você tenha essa leitura rasa, mas o uso leviano de um termo dessa importância por um musicólogo me parece algo mais grave do que a repetição corrente de um preconceito comum por pessoas que não se dedicam a estudar o tema. Além disso, é ofensivo para a espiritualidade afro-brasileira de matriz iorubá (o candomblé, mas não apenas) o uso de um termo tão caro de forma tão irresponsável. </div>
<div><br></div><div>Sobre a questão específica dos editais da FUNCEB, acho que não há um análogo (ainda) porque não existe uma expressão <b>unificada</b> tão forte de um fenômeno popular na Bahia como o funk no Rio - aqui há uma diversidade. A questão é mais complexa, mas não me sinto com respaldo para discuti-la: não sou etnomusicólogo de formação e sim compositor. Apesar disso, não me excluo: acho que precisamos ter um pouco mais de autocrítica para podermos afiar as críticas exógena (você fala do outro, não? o funk não lhe representa, confere?) e torná-la potente para não sermos meros repetidores de discurso em defesa do "nosso quinhão" (seja o que isso for).</div>
<div><br></div><div>Espero ter-me feito entender.</div><div><br></div><div>Abraço!     </div></div></div><div class="gmail_extra"><br><br><div class="gmail_quote">Em 17 de dezembro de 2013 09:38, Daniel Lemos <span dir="ltr"><<a href="mailto:dal_lemos@yahoo.com.br" target="_blank">dal_lemos@yahoo.com.br</a>></span> escreveu:<br>
<blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex"><br>
Prezados,<br>
Aí uma questão a ser discutida... o funk realmente precisa de editais para fomentar sua circulação?<br>
<br>
Por acaso, a FUNCEB (Fundação de Cultura do Estado da Bahia) alguma vez abriu edital para apoio ao axé? E a Secretaria de Cultura de Goiás, apoia música sertaneja?<br>
<br>
A questão envolve o porquê de apoiar estilos que já são evidentemente privilegiados pelas mídias empresariais. Ligue a tv na globo: a maioria das vinhetas usam elementos rítmicos e timbrísticos do funk carioca. Este estilo não precisa de apoio estatal.<br>

<br>
Qual deve ser o papel do Estado ao regular (ou até mesmo intervir) questões culturais? E qual deveria?<br>
<br>
Abraço,<br>
Daniel<br>
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Lista de discussões ANPPOM<br>
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</blockquote></div><br><br clear="all"><div><br></div>-- <br>Pedro Filho Amorim<div><br><div><a href="http://soundcloud.com/peofilho" target="_blank">http://soundcloud.com/peofilho</a><br><a href="http://www.myspace.com/pedrofilho" target="_blank">http://www.myspace.com/pedrofilho</a><br>
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