<div dir="ltr">O engenheiro químico Denis Lima Guerra, protagonista do <a href="http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-60/anais-da-ciencia/os-alquimistas">maior caso de fraude científica que já envolveu pesquisadores brasileiros</a>,
foi demitido em janeiro da Universidade Federal do Mato Grosso, onde
era professor. Guerra era objeto de um processo administrativo que se
arrastava há mais de dois anos. A comissão de inquérito responsável pelo
caso recomendou a exoneração do pesquisador, decisão acatada pela
reitoria.
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A exoneração de Guerra foi <a href="http://www.portaldatransparencia.gov.br/expulsoes/detalheServidor?codigoPunicao=14677" target="_blank">publicada em 13 de janeiro</a> no <em>Diário Oficial da União</em>,
com base em quatro fundamentos legais: valer-se do cargo para tirar
proveito pessoal, improbidade administrativa, faltar com lealdade à
instituição que servia e desrespeito às normas legais e regulamentares.</p>
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Tentei falar com Guerra sem sucesso para comentar a notícia. Em seu <a href="http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4777802J5" target="_blank">currículo Lattes</a>, atualizado pela última vez há uma semana, ele ainda não comunicou seu desligamento da UFMT.</p>
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Em 2011, Guerra teve onze artigos de sua autoria anulados (<em>retracted</em>)
pela Elsevier, maior editora científica do mundo. Ele e seus coautores
foram acusados de forjar dados obtidos por ressonância magnética nuclear
usados nos artigos. Comissões independentes de especialistas montadas
pela Elsevier, pela UFMT e pela Unicamp investigaram o caso e entenderam
que houve, sim, falsificação de dados.</p>
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Nunca antes um caso de má conduta atribuída a pesquisadores brasileiros
havia envolvido um número tão grande de artigos – até hoje, continua
sendo o maior episódio de fraude em série revelado no país. O caso foi
relatado na reportagem <a href="http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-60/anais-da-ciencia/os-alquimistas">“Os alquimistas”</a>, publicado na <em>piauí </em>60, de setembro de 2011.</p>
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A acusação de fraude envolveu também o químico Claudio Airoldi, decano
do Instituto de Química da Unicamp. Orientador de Guerra em seu
doutorado, Airoldi foi coautor dos onze trabalhos com dados forjados.
Quando estive com ele em seu laboratório em 2011, ele contou que sequer
havia lido os trabalhos antes da publicação, confirmando o que me
dissera Guerra.</p>
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A Unicamp foi mais ligeira para julgar o caso: em outubro de 2011, puniu Airoldi com <a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe0110201102.htm" target="_blank">45 dias de suspensão</a>.
O atraso do processo administrativo da UFMT se deveu em parte a medidas
protelatórias tomadas pelos advogados de Guerra. “A Comissão
Processante solicitou inúmeras prorrogações, considerando a complexidade
dos fatos, e a realização de análises periciais, documentais e
testemunhais, com 14 testemunhas”, esclareceu, por e-mail, a reitora da
UFMT, Maria Lúcia Cavalli Neder. “A UFMT zela pela qualidade e
credibilidade de suas produções científicas e lamenta que esse caso
tenha ocorrido, sobretudo em um momento de expansão de sua graduação,
pós-graduação e pesquisa”, acrescentou a reitora.</p>
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Este não é o primeiro caso no Brasil de demissão de um pesquisador
vinculado a uma instituição pública de pesquisa em decorrência de má
conduta científica. Em fevereiro de 2011, a USP <a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2002201101.htm" target="_blank">exonerou o biólogo Andreimar Martins Soares</a>, acusado de plagiar imagens de um artigo de pesquisadores da UFRJ.</p>
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O caso de fraude protagonizado por Guerra motivou a criação pelo CNPq de
uma Comissão de Integridade na Atividade Científica para investigar
denúncias de má conduta. O médico e biofísico Paulo Sérgio Lacerda
Beirão, professor da UFMG que comandou a comissão por dois anos e meio,
lembrou que o episódio surpreendeu muito a comunidade. “Preferíamos
achar que esse tipo de problema não existia, até que a realidade mostrou
que era diferente.”</p>
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Sonia Vasconcellos, pesquisadora da UFRJ que estuda a ética na ciência,
lembrou que a notícia chega num momento em que o Brasil está no foco do
interesse dos estudiosos da área. “Estamos sendo vistos como um país que
está levando a sério a questão da integridade em pesquisa”, afirmou,
acrescentando que o Rio sediará a 4ª Conferência Mundial sobre
Integridade em Pesquisa em 2015.</p>
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<em>(foto: Riccardo Cuppini - CC 2.0 BY-NC-ND)</em></p>
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Atualização: Este post foi atualizado às 19:45 de 12/02/14 para incluir as declarações da reitora da UFMT.</p>
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<strong>Leia também:</strong><br>
<a href="http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-60/anais-da-ciencia/os-alquimistas">Os alquimistas</a><br>
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<br>-- <br><div dir="ltr"><div>carlos palombini<br>professor de musicologia ufmg<br><a href="http://proibidao.org" target="_blank">proibidao.org</a><br></div><a href="http://ufmg.academia.edu/CarlosPalombini" target="_blank">ufmg.academia.edu/CarlosPalombini</a><br>
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