<div dir="ltr"><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif">Entrevista concedida à <i>Gazeta Online</i>, do Espírito Santo, integralmente publicada.<br><span class=""><br><font size="4">Fotógrafo causa polêmica na internet mostrando os bastidores de bailes funk no Rio de Janeiro<br>
<br> </font></span><font size="4">
</font><div class=""><font size="4">
</font><div class=""><font size="4">
</font><a class="" rel="1493477"><img src="http://gazetaonline.globo.com/imagens/2014/btLer.png" title="Ler depois"></a> <a target="_blank"><img src="http://gazetaonline.globo.com/imagens/2014/btFacebook.png" title="Facebook"></a> <a target="_blank"><img src="http://gazetaonline.globo.com/imagens/2014/btTwitter.png" title="Twitter"></a>
</div>
<p class="">
28/07/2014 - 12h57 - Atualizado em 01/08/2014 - 00h05<br> Autor: <span class="">Laila Magesk | <a href="mailto:lmagesk@redegazeta.com.br">lmagesk@redegazeta.com.br</a></span>
</p>
</div>
<div class="" style="margin-bottom:15px;margin-top:15px">
<h3><b>Vincent Rosenblatt retratou, em fotos, o comportamento e a sensualidade dos frequentadores </b></h3>
</div>
<h4>
<div><div class="" style="width:620px!important">
<span>Foto: Vincent Rosenblatt</span>
<img src="http://midias.gazetaonline.com.br/_midias/jpg/2014/07/30/62020004_expo_paris_maison_europe__enne_de_le_photographie_2011-1436602.jpg" style="width: 620px;" class=""><br>Registro de uma das exposições de Vincent
</div></div>
<div><br>Ele conheceu o Brasil através de um intercâmbio da Escola Nacional
Superior das Belas Artes de Paris com a Fundação Armando Alvares
Penteado de São Paulo (Faap). Era para o fotógrafo Vincent Rosenblatt
ficar três meses no país, mas acabou prolongando a primeira viagem para
nove meses.</div>
<div> </div>
<div>Interessado pelo universo brasileiro, em especial pelas favelas do
Rio de Janeiro, ele voltou outras vezes e há 12 anos escolheu morar no
Brasil. Nas últimas semanas, as fotos de Vincent, mostrando os
bastidores dos bailes funk cariocas - como a sensualidade e o
comportamento dos frequentadores -, ganharam destaque nas redes sociais.
Elogiado por parte dos internautas e criticado por outra parcela, em
entrevista ao <b>Gazeta Online</b>, ele conta como surgiu o
interesse pelo tema e a experiência de conviver tão de perto com uma
realidade pouco conhecida por grande parte da sociedade. </div>
<div> </div>
<div><div class="" style="width:320px!important">
<span>Foto: Vincent Rosenblatt</span>
<img src="http://midias.gazetaonline.com.br/_midias/jpg/2014/07/30/09_gq_italia_junho2014_min_dbebf-1436626.jpg" style="width: 320px;" class="">Baile funk carioca<br><br>
</div></div>
<div><span style="color:rgb(43,95,143);font-family:'Arial Black',arial;font-size:12pt;font-weight:bold">Você fez uma exposição com as suas imagens?</span></div>
<div><br>O acervo não para de se enriquecer com novas imagens, mês após mês,
ao longo dos anos. Fiz uma primeira exposição no Instituto Oi Futuro,
no Rio, em 2006, onde também organizei mesas-redondas e encontros sobre
“Funk e liberdade de expressão”, com a participação dos mais importantes
MCs e DJs. Em 2011, fiz uma exposição na Maison Européenne de la
Photographie, um espaço muito importante para a fotografia em Paris,
minha cidade natal. Também levei projetores em alguns bailes, para
mostrar nas paredes o conjunto do trabalho. Essas exposições
improvisadas atingem o meu público funkeiro, permitindo que eles possam
se ver em grande formato no baile e ter um <i>feedback</i>. Este
intercâmbio com os protagonistas do funk carioca acontece muito nas
redes sociais, onde dançarinos, MCs, DJs e donos de equipes de som
utilizam muito as minhas imagens. Dia 5 de setembro, em São Paulo, será
aberta, no antigo Hospital Matarazzo, uma exposição coletiva, “Made by
Brazilian”, organizada pelo curador Marc Pottier, onde terei uma
instalação de projeções. Também desenvolvo o blog <a href="http://www.riobailefunk.net/" target="_blank">www.riobailefunk.net </a>e tento atualizar a página <a href="https://www.facebook.com/RioBaileFunk" target="_blank">www.facebook.com/riobailefunk </a>assim como o meu site <a href="http://vincentrosenblatt.photoshelter.com/index" target="_blank">www.vincentrosenblatt.com</a>, com as últimas imagens.
</div><div> </div>
<div> </div>
<div><span style="font-family:'Arial Black',arial!important;font-size:12pt!important;color:rgb(43,95,143)!important;font-weight:bold">De onde surgiu o seu interesse pelos bailes?</span></div>
<div><br>Surgiu progressivamente. Quando dava aula para jovens fotógrafos do
Morro Santa Marta eu já passava perto do baile. Eu morava em Santa
Teresa e dava para ouvir os graves da equipe de som no baile do Morro
Santo Amaro, abalando e fazendo tremer até os prédios, do outro lado do
vale. E as letras dos funks eram muito fortes, sejam sexuais ou
guerreiras, os “proibidões”. Esse tremor vindo do baile soava como
“trombetas de Jericó” contemporâneas, uma verdade muito crua, que abala a
cidade, sua consciência burguesa e a sua hipocrisia. Comprei um CD do
Mr. Catra, chamado "O Fiel". Isso foi por volta de 2005. Esse CD era um
verdadeiro guia de sobrevivência do trânsito entre a favela e o asfalto,
os mandamentos valem até hoje. Não resisti e caí de paraquedas na porta
de um baile funk na Zona Oeste, "O Castelo", na favela de Rio das
Pedras. Peguei um táxi e fui para lá. Por sorte, os donos do baile me
autorizaram a fotografar e encontrei algo que viria a me ocupar por
muito tempo. Em seguida, “descobri” o Baile do Boqueirão, perto do
Aeroporto Santos Dumont, perto também de onde eu morava. Na interseção
estratégica do Centro com a Zona Sul, em meados dos anos 2000, o Baile
do Boqueirão era uma plataforma de comunicação entre funkeiros do
“asfalto” e das favelas das zonas Norte e Sul. Proprietário da equipe de
som “Curtisom Rio” e organizador do baile nas noites de sábado,
Reginaldo Hermínio, recebia todos os MCs, bondes de dançarinos e outras
equipes de som vindos do Rio de Janeiro inteiro para mostrar a
exuberância da cena. Quando a polícia proibia ou invadia os bailes nas
favelas próximas, o refúgio seguro e a trincheira dos funkeiros era o
Boqueirão do Passeio. Quando parou, toda uma juventude urbana ficou sem
se encontrar e sem dançar. Foi lá que conheci muitos MCs, DJs e bonde de
dançarinos. Essas pessoas que me convidaram para ir em suas respectivas
favelas.</div>
<div> </div>
<div><div class="" style="width:320px!important">
<span>Foto: Vincent Rosenblatt</span>
<img src="http://midias.gazetaonline.com.br/_midias/jpg/2014/07/30/10303447_753908297992913_9062305455051564238_n_min_dca-1436591.jpg" style="width: 320px;" class="">
<p style="padding:5px">O fotógrafo apresenta o seu trabalho para os frequentadores do baile
</p></div></div>
<div><span style="font-family:'Arial Black',arial!important;font-size:12pt!important;color:rgb(43,95,143)!important;font-weight:bold">O que você viu que mais chamou a sua atenção?</span></div>
<div><br>O funk é maior que a soma dos seus componentes. O que está em jogo
vai muito além da música, de festa e do entretenimento. Num baile de
comunidade, de favela, no seu auge, cada um tem uma função, do
frequentador ao DJ, como num teatro coletivo, onde cada um interpreta o
seu papel, sendo atravessada por conflitos, alianças, rivalidades,
solidariedades e também muita opressão. É como se Shakespeare estivesse
sendo reinterpretado à cada final de semana. Amor e guerra, sexo e
traições, batalhas épicas, jogos de poderes. A quadra do baile é como a
assembleia da Grécia antiga, a Ágora, onde todos os acontecimentos estão
em pauta, cantados e dançados em coro, como no teatro dos primórdios.
Começando timidamente a encher pela 1h da manhã, um bom baile de
comunidade atinge o seu auge pelas 3h, 4h, até chegar numa catarse
coletiva. Um morro ou uma favela se expressa ali na sua diversidade
através da dança, dos estilos, dos raps, e recebe “comitivas” de outras
favelas, de outros polos de poder, solidariedade e de cultura, como
frequentadores do asfalto, se o baile tiver fama suficiente. Ali se
tecem muito mais que encontros efêmeros. Os bailes de clube, de asfalto,
usam ou usavam os bailes de favela como referência e espelho
inspirador, uma música para vencer no mundo funk, tem que pegar primeiro
na favela, obter ali a sua base popular. Se os bailes de favela param,
os bailes de asfalto padecem também.<br><br><span style="font-family:'Arial Black',arial!important;font-size:12pt!important;color:rgb(43,95,143)!important;font-weight:bold">Você fotografava a noite toda ou curtia o baile e quando algo chamava a atenção registrava?</span><br>
<br>A
tendência é ficar num estado de atenção permanente, para o novo, ao que
pode me surpreender, procurar a galera que dança mais, mas também ficar
atento aos trabalhadores da equipe de som e documentar o espaço do
baile e do local. Tem horas que me deixo carregar pela catarse das
batidas, outras volto a um estado de atenção. Tem noites que uma certa
“embriaguez fotográfica” me faz acreditar que fiz boas imagens,
impressão dissipada na luz do dia. Tem bailes dos quais guardo apenas
uma imagem, ou nenhuma, e outros onde sinto que estou bem inspirado. Mas
nunca me arrependo da noite passada sem dormir, valeu a pena ter vivido
mais um baile.</div>
<div> </div>
<div><span style="font-family:'Arial Black',arial!important;font-size:12pt!important;color:rgb(43,95,143)!important;font-weight:bold">As pessoas não se incomodavam ao virem você as fotografando tão de perto?</span><br>
<br>Eu
já fui tímido, mas a fotografia cura. Eu gosto de ir num corpo a corpo
fotográfico com os funkeiros, deslizar no meio da multidão. Em geral,
fotografo primeiro e mostro a minha foto em seguida para quem está nela,
para não perder a espontaneidade ou o <i>insight</i> do momento
psicológico dos retratados. O pior coisa que pode me acontecer é o
público achar que sou o “fotografo da balada” e fazer poses padronizadas
com sorrisos forçados e polegares erguidos. Às vezes, tenho que fazer
essas fotos, para todos esquecerem de mim e ficarem à vontade.</div>
<div> </div>
<div><div class="" style="width:320px!important">
<span>Foto: Vincent Rosenblatt</span>
<img src="http://midias.gazetaonline.com.br/_midias/jpg/2014/07/30/1_07_dagens_n__ringsliv__noruega__com_abertura_dos_hawaianos_2013-1436619.jpg" style="width: 320px;" class="">As fotos de Vincent também são publicados no exterior<br>
<br></div></div>
<div><span style="color:rgb(43,95,143);font-family:'Arial Black',arial;font-size:12pt;font-weight:bold">Como você fazia para ter trânsito livre dentro da comunidade?</span></div>
<div><br>Cada comunidade tem seus DJs, MCs, produtores culturais,
organizadores de bailes, que gozam de independência e da confiança até
do "movimento" (tráfico). O que esses protagonistas da cultura local
fizeram foi apostar a vida deles no fato que podiam confiar em meu
genuíno interesse em mostrar esse povo funkeiro, que luta para poder
continuar a desenvolver a sua cultura, que sobrevive entre a presença do
tráfico de um lado e do outro a repressão da polícia, e a rejeição de
uma grande parte da sociedade. Afinal é muito mais difícil obter a
autorização de fotografar num shopping center ou num condomínio de luxo
do que numa favela carioca. O funk me interessa é o que ultrapassa as
fronteiras do que é legal dizer, quando acrescenta limites do que temos
direito de expressar. Ele trabalha na ponta extrema do espectro da
liberdade de expressão. Está sempre no limite, seja guerreiro, político
ou pornográfico. Acredito que isso tem também a ver com a função da
fotografia, que deve buscar ampliar o espectro do “domínio do visível”. O
que temos direito de fotografar, o que tornamos tema digno de registro e
interesse?</div>
<div> </div>
<div><span style="font-family:'Arial Black',arial!important;font-size:12pt!important;color:rgb(43,95,143)!important;font-weight:bold">O baile funk é muito relacionado ao uso de drogas e à violência. Como você vê essas questões?</span><br>
<br>Quem
nunca foi num baile, não entrou na favela e só escuta as letras, pode
ressentir aquilo como um espantalho: é um espelho distorcido, um verbo
apavorante que às vezes o funk “mostra” para o “asfalto” ao entorno. Mas
tudo é bem mais complexo do que parece. A violência cantada serve de
catarses; a violência real, da opressão econômica, da falta de
oportunidades de educação e empregos, de saúde, do racismo, e dos abusos
policiais e da carência de cidadania, todo esse contexto vivido na pele
é muito mais violento do que qualquer letra cantada no baile. A
violência dos traficantes se espelha também nas letras que refletem uma
realidade, mas não são a causa desta. Os proibidões mais marcantes são
talvez a mais autêntica literatura bruta e cruel do que se fez nos pais.
É também de notoriedade mundial que o tráfico e a presença de armas
acontece com a conivência de setores da polícia e do Estado. Não há
trafico de drogas e armas sem que uma parte da renda obtida seja
revertida para além da favela. As drogas e as armas não são produzidas
nas favelas. Elas também estão presentes dias e noites, independente de
ter baile funk ou não. Assim foram tratados os bairros de baixa renda,
pela conveniência de interesses dos mais poderosos. Mas quem tem o poder
prefere “atirar no mensageiro” que tentar resolver o problema. E a
liberdade de expressão?</div>
<div> </div>
<div><img src="http://midias.gazetaonline.com.br/_midias/jpg/2014/07/30/09_gq_italia_junho2014_min_dbd-1436625.jpg" alt="Baile funk carioca" class="" align="middle" height="405" width="320"><br><br></div>
<div><span style="color:rgb(43,95,143);font-family:'Arial Black',arial;font-size:12pt;font-weight:bold">Já passou por alguma situação embaraçosa?</span></div>
<div><br>Eu pude viver, como "turista", o que os moradores das favelas e os
funkeiros vivem na pele desde criança: invasões da polícia para reprimir
os bailes, destruir as equipes de som, bater em inocente. Isso acontece
todo final de semana em algum baile. Aconteceu ontem (a noite do 27 de
julho), no Baile da Galinha na Zona Norte. Eu presenciei duas vezes, em
2009, no Morro do Chapadão e no Baile da Chatuba, a entrada do caveirão
(carro da polícia) por motivos torpes (como propina que não foi paga ou
simples desejo de destruição e castigo). Lembro do grito dos
traficantes: “Vamos meter o pé, ninguém vai trocar tiro com polícia,
aqui está cheio de crianças”. Assim o público do baile ficou refém das
humilhações, rajadas de balas vindo da PM estalando a poucos metros, de
nós, bombas de gás, choro e terror vividos pelos jovens, e o barulho
terrível do blindado se jogando contra a equipe de som para derrubar e
quebrá-la. Roubaram também a mesa do DJ. Quer dizer, quem quer curtir um
baile de favela, arrisca a vida, e isso demonstra a importância visceral
do funk para a identidade da juventude das favelas, da periferia.
Importante ressaltar que esses abusos de poder acontecem além dos
bailes, todos os dias os jornais carregam notícias desta guerra contra
os jovens pobres, negros, moradores de favelas...</div>
<div><br><span style="font-family:'Arial Black',arial!important;font-size:12pt!important;color:rgb(43,95,143)!important;font-weight:bold">O funk e a sensualidade caminham juntos. E muito se fala sobre o sexo dentro do baile. Já presenciou?</span><br>
<br>Nunca
presenciei. É uma fantasia da classe média sobre a favela. Na favela, a
dignidade, a reputação e a palavra dada são bens valiosos. O controle
social coletivo é muito forte. Ninguém mexe com ninguém. Mulheres sabem
que poderão dançar sem sofrer assédio. Por mais que as letras falam em
sexo, fica no campo simbólico, do simulacro dançado. Como muitas danças
da diáspora afro-americana ou da África. Olham o fervo do Twerk, nos
EUA. Quem "perde a linha" em bailes de clubes no “asfalto”,
eventualmente são jovens de classe média, os mesmos que podem vir na luz
do dia comprar droga (mesmo nas favelas pacificadas) e a consumir na
frente das crianças e moradores, como se os mesmos fossem invisíveis,
num ato de desprezo social chocante. Esses pecam considerando a favela
como um espaço onde podem se permitir o que julgaram impróprio no
"asfalto". E mesmo se tivesse sexo nos bailes (o que nunca presenciei)? A
quem apavora a sexualidade das classes populares? E nas baladas da
classe média, nos trios elétricos, o que rola? Pegação generalizada. Mas
se um dia a favela acordasse libertina, isto certamente seria crime
também! Aliás, já vi num baile em favela de Unidade de Polícia
Pacificadora (UPP), autorizado pelo comandante local, ser passada a
ordem de que era proibido aos homens tirar a camisa! Outro sintoma
ridículo de controle social e de uma visão fantasmática da sexualidade
dos moradores da favela.</div>
<div> </div>
<div><div class="" style="width:600px!important">
<span>Foto: Vincent Rosenblatt</span>
<img src="http://midias.gazetaonline.com.br/_midias/jpg/2014/07/30/600-1436631.jpg" style="width: 600px;" class="">Segundo Vincent, um dos últimos grandes bailes funk dos antes da pacificação
</div></div>
<div> </div>
<div><span style="font-family:'Arial Black',arial!important;font-size:12pt!important;color:rgb(43,95,143)!important;font-weight:bold">De 2005 a 2014, o que mais mudou no funk carioca?</span><br><br>Como
ritmo, o funk carioca não parou de se reinventar. Ao longo de uma
década, o funk se aliou aos maiores DJs e produtores musicais da Europa e
dos EUA, trocou com o Kuduro Angolano, conquistou o Brasil inteiro: foi
re-interpretado como “Treme” no Pará e se reinventou em São Paulo, a
partir da baixada santista (onde numerosos MCs foram também vítimas de
chacinas). Apesar das tentativas recuperações e comercialização de
subprodutos mais brancos e palatáveis para o “asfalto”, a base funkeira
sempre soube dar luz a novos talentos, novas levas de MCs e, DJs, e do
lado da dança, os bondes de meninas dançando o quadradinho, ou o
passinho, esse último viajando virtualmente de uma favela ou de um
bairro pro outro pelo intermédio de vídeos postados no Youtube ou no
Facebook, mesmo sem baile para serem testados, até surgirem as batalhas
de passinho. Depois deste giro ao mundo, o funk carioca acabou, enfim,
sendo reconhecido pelos DJs da zona Sul do Rio de Janeiro, da cena da
música eletrônica. Como manifestação territorial, o baile funk nunca foi
tão perseguido e enfraquecido pelo Estado. O mesmo Estado
esquizofrênico que proíbe os bailes nas UPP, e manda o Bope tacar fogos
em equipes de som nas outras favelas, lança agora editais na Secretaria
de Cultura para “bancar” alguns bailes escolhidos a dedo. Mas os
funkeiros nunca precisaram da ajuda do Estado, apenas de poder viver em
paz, e desenvolver a sua cena.</div>
<div> </div>
<div><span style="color:rgb(43,95,143);font-family:'Arial Black',arial;font-size:12pt;font-weight:bold">Como estão os bailes após a pacificação?</span></div>
<div><br>A entrada das UPPs, a partir de 2008, em vez de libertar os
empreendedores da cultura e da música criado nas favelas, tirando o
estigma do tráfico, coloca na mão do comandante militar local a decisão
sobre qual tipo de evento pode acontecer ou não na favela. Fora uns
poucos casos particulares, a verdadeira face da pacificação foi
transformar as favelas em dormitórios, onde o povo não tem mais o
direito de ouvir suas músicas e fazer suas festas. O que custava colocar
alguns poucos policiais e deixar o baile rolar? É mais uma oportunidade
perdida do Estado em relação à cultura local e à política cultural da
favela. O cúmulo do absurdo é você ir em uma boate da elite de Ipanema,
Copacabana ou Barra da Tijuca e tocarem os funks e os mais fortes dos
“proibidões”. Na favela, onde tudo nasceu, a juventude vive em silêncio
quase total e precarização econômica – um verdadeiro apartheid cultural.
Porém o funk resiste, seja na internet, no Youtube, nas rádios
comunitárias, nos espaços fora de alcance das UPPs e mesmo em áreas
dominadas por milícias, onde têm bailes consolidados.</div>
<div> </div>
<div><span style="font-family:'Arial Black',arial!important;font-size:12pt!important;color:rgb(43,95,143)!important;font-weight:bold">Para você, o que era o funk antes de frequentar os bailes e depois dessa experiência?</span><br>
<br>Antes,
eu, como muitos, só ouvia as críticas raivosas e preconceituosas de
quem nunca tinha ido a um baile – o que acabou também me motivando em ir
fazer a minha própria opinião. Entrar no mundo funk me fez tecer
amizades na cidade inteira, conhecer a cena e seus artistas, me permitiu
descobrir inúmeras comunidades, bairros, ver a cara real do Rio de
Janeiro. Indo no baile e escutando funk, você sente o pulso da sociedade
e as relações entre gêneros, classes e raças.</div>
</h4></div><a href="http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2014/07/entretenimento/cultura_e_famosos/1493477-fotografo-causa-polemica-na-internet-mostrando-os-bastidores-de-bailes-funk-no-rio-de-janeiro.html">http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2014/07/entretenimento/cultura_e_famosos/1493477-fotografo-causa-polemica-na-internet-mostrando-os-bastidores-de-bailes-funk-no-rio-de-janeiro.html</a><br>
<br>-- <br><div dir="ltr"><div>carlos palombini<br>professor de musicologia ufmg<br>professor colaborador ppgm-unirio<br><a href="http://orcid.org/0000-0002-4365-7673" target="_blank">orcid.org/0000-0002-4365-7673</a><br>
</div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div>
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