<div dir="ltr"><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif">Heloísa,<br><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif">Também não recebi convite, mas minha experiência é bem diferente da sua. Em 2010 publiquei o ensaio "perdido" de Schaeffer que você conhece. Verdade que o autor tinha certo prestígio, mas o texto reconstituído por mim saiu com vasto aparato crítico, tão longo quanto o ensaio que reconstituímos, na França; maior que ele, no Brasil. Lá publiquei com uma pequena editora comercial e no Brasil com uma grande editora acadêmica. Não tenho queixas nenhumas. A editora francesa, originalmente especializada em situacionistas, tornara-se conhecida por publicar uma tradução completa de Leopardi ao francês. Ela fez uma edição barata elegantíssima da qual tirou 3.000 exemplares, minha porcentagem sobre os 3 mil recebida no ato da assinatura do contrato. <br><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif">Aproximadamente aos três meses de meu trabalho de pesquisa, um amigo francês, literato, disse: há duas editoras para o seu trabalho, Klincksieck e Allia. Perguntei: qual a melhor? Ele disse: Allia. Meu amigo, veja, teve a oportunidade de publicar suas memórias pela Allia aos 21 anos de idade, e recusou porque não queria cortes. Ele me disse que tinha um amigo que trabalhava com o dono e procuraria reatar relações para que o amigo me apresentasse. Entrementes escrevi para Klincksieck. Não responderam. Um outro amigo comum defendia a publicação na Seuil, que à época andava numa reviravolta. Eu já estava com Allia na cabeça.<br><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif">Poucos dias antes de meu retorno ao Brasil, Guillaume conseguiu obter pra mim o encontro com o amigo que trabalhava para Allia. Foi encantador: ele me disse que estava a fundar sua própria editora, melhor que a do ex-patrão, e era com ela que eu deveria publicar. Mas não voltei ao Brasil de mãos abanando. Guillaume me havia dito que o dono possuía um curioso método para decidir se publicava ou não. Ele chamava o autor, cuja obra havia lido, para uma conversa e, olhos nos olhos, decidia. Pensei: se é assim, o intermediário é o caminho errado. Escrevi um e-mail com o manuscrito em PDF, ele respondeu, se interessou, e disse que em três meses daria uma resposta. Eu estaria de volta à França no início de 2010. Passados três meses, não havia resposta, e se aproximava a data de minha viagem. Telefonei do Brasil. Ele: passe aqui para conversarmos. Fui, discutimos o projeto, o que entraria, o que não entraria (ele só cortou prefácio e introdução, porque do contrário haveria mais texto meu que de Schaeffer, e o livro teria de ser vendido sob meu nome), me mostrou seu catálogo, seus funcionários, seus projetos mais bem sucedidos, a casa. Ao final da revisão, eu disse: bem, agora, tecnicamente, temos de submeter o texto a Sophie, que já revisou tudo e me disse que a palavra final era minha, mas se ela ler o livro, tenho certeza que irá retroceder. Ele me chamou para uma longa conversa e um café. Disse-me que era um editor independente, que não estava ligado a nenhuma <i>cotêrie</i> (a França é pior que o Brasil nesse aspecto), que o que ele queria era uma visão independente, e essa visão era a minha. Sophie se escabelou quando o impresso chegou da fábrica italiana, mas acabou por aceitar.<br><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif">A pequena editora independente além de graficamente sofisticada era conhecida por empenhar-se na divulgação do que imprimia. Palavras do dono: "só publico aquilo pelo qual estou preparado para me empenhar, do contrário seria desonesto." O resultado talvez não tenha sido um sucesso de vendas, mas foi um sucesso de crítica, com comentários na <i>Crtitique</i> e na <i>ArtPress</i>, entre várias outras. Detalhe: qualquer problema, o telefone dava direto na mesa do dono, que resolvia tudo, ou me passava para o funcionário encarregado.<br></div><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif"><br>É uma longa história que conto aqui porque essa de que as grandes editoras não nos querem e as pequenas nos enganam me parece patologia.<br><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif">Abraço,<br><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif">Carlos<br></div><div class="gmail_extra"><br>
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