<div dir="ltr">Obrigada professor Palombini por esta ótima dica/ referência.<div><br></div><div>saudações, </div><div>camila</div></div><div class="gmail_extra"><br><div class="gmail_quote">Em 25 de abril de 2016 12:51, Carlos Palombini <span dir="ltr"><<a href="mailto:cpalombini@gmail.com" target="_blank">cpalombini@gmail.com</a>></span> escreveu:<br><blockquote class="gmail_quote" style="margin:0 0 0 .8ex;border-left:1px #ccc solid;padding-left:1ex"><div dir="ltr"><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif"><br></div><div class="gmail_default" style="font-family:arial,helvetica,sans-serif">Resenha do livro de Howard Becker por Cleverton Barros de Lima.<br><br><div>
<p>A atividade da escrita acadêmica é a temática central do livro <em>Truques da escrita,</em>
de Howard Saul Becker. O autor utiliza, numa reflexão sociológica
acurada, a realidade social da produção textual, desde o momento de
formação dos discentes nos cursos de graduação até o ponto final, na
fase profissional. Exatamente quando o pesquisador inclui, entre as suas
principais tarefas e obrigações acadêmicas, a escrita de artigos,
capítulos e livros. </p>
<p>Howard S. Becker é um conhecido sociólogo americano de obras como <em>Uma teoria da ação coletiva</em> (1977); <em>Outsiders</em>: <em>estudos da sociologia dos desvios</em> (2008); <em>Falando da sociedade</em>(2009); e <em>Segredos e truques da pesquisa</em>
(2007), publicadas pela mesma editora do livro desta resenha. Graduado
pela University of Chicago, Becker tem dado relevante contribuição ao
debate no âmbito da sociologia da arte, do desvio e da música.
Recentemente, publicou o livro <em>What About Mozart? What About Murder?</em>(2015), revelando assim uma das referências das Ciências Sociais. </p>
<p>O livro <em>Truques da escrita</em> tem por escopo a reflexão sobre
as condições sociais da escrita, distribuídas nos seus dez capítulos. No
prefácio à edição brasileira, o autor refere-se à tradição de
sociólogos brasileiros do passado, dos quais ele admira, em especial a
escrita de Sérgio Buarque de Holanda e Antonio Candido. Becker percebe
uma tradição instigante no aspecto da narrativa nas obras dos autores de<em>Raízes do Brasil</em> e <em>Os Parceiros do Rio Bonito</em>.
De certo, a produção intelectual destes escritores conferiu ao debate
sociológico a respeito do Brasil um grau inegável de sofisticação e
refinamento. E neste aspecto, a escrita, não só deles, mas de obras como
<em>Casa grande e senzala</em> de Gilberto Freyre, aponta para uma
tradição sociológica frutífera, em que a tessitura da linguagem
tornou-se um ponto emblemático. </p>
<p>Mas o objeto do livro de Becker assinala outro sentido do processo da
escrita, ou seja, o início da formação dos muitos estudantes de
graduação de ciências humanas e sociais que encontram inúmeros
obstáculos, muitas vezes vistos como intransponíveis, na produção de
textos acadêmicos. As dificuldades aumentam gradativamente, caso o
estudante invista na pós-graduação. Nesse sentido, Becker observa os
esforços que, com frequência, deixam os estudantes desconsolados, melhor
dizendo, desolados em função do temor de mostrar aos colegas os
rascunhos dos textos que estão escrevendo.</p>
<p>A ideia central de Howard Becker é pensar sociologicamente as
dificuldades da escrita dos estudantes, pois são fruto não das
deficiências individuais, mas dos "problemas de organização social"
(:8), ou seja, a resposta para o fraco desempenho na escrita acadêmica
resulta não da inépcia pessoal, mas da "organização social" que estaria
forjando as barreiras para os estudantes. Então, a tese importante deste
sociólogo é a de que as pistas para a ineficiência na escrita requerem
observação do ambiente no qual estamos inseridos, pois ele traz as
barreiras que transformam a escrita numa obra de poucos escolhidos. Ao
investigar as peculiaridades desse problema social, ele observa que as
dificuldades surgem quando temos receio de expor nossos textos, pois
supostamente seríamos ridicularizados. O escárnio dos leitores, seja o
professor ou o colega, suscita nos alunos os temores que paralisam o
aprimoramento do primeiro rascunho. </p>
<p>Isto posto, Becker acrescenta que o isolamento é a regra geral da
produção acadêmica. Ele alega que escondemos os nossos textos e, assim,
observa-se quase tão somente o produto final publicado pelo professor,
sem nenhuma ideia clara, ou melhor, menos misteriosa, dos processos e
dos rituais de escrita vividos até o resultado final. Desta maneira, o
problema da escrita entre os estudantes universitários seria resultado
daquilo que ele denomina "privacidade socialmente organizada". Em outras
palavras, mesmo que todos passem pelos mesmos problemas na produção do
texto, segundo ele, nós nos escondemos e não sabemos das dificuldades
que até mesmo um pesquisador sênior vivencia. </p>
<p>Ainda de acordo com o autor, existe uma solução para os entraves da
escrita, pois a dificuldade "não é irremediável". Ele completa a sua
instrução: "E que isso sirva de modelo para todos os seus problemas de
redação! Encontre a situação que gera seu problema e mude-a" (:10). A
tarefa sugerida é pensar nas fases da produção da escrita, naquilo que
"está travando" e, em seguida, reescrever a nova versão. O texto seria,
segundo o sociólogo, resultado dos esforços empreendidos para
aprimorá-lo, desde a produção do primeiro rascunho à fase da revisão e,
por último, não menos importante, à da reescrita.</p>
<p>Os truques foram ensinados no seminário de redação que Becker
ministrou para os discentes de pós-graduação em Sociologia na
Northwestern University. Ele aproveitou a oportunidade para exercer os
papéis de professor particular e terapeuta de várias pessoas com os
mesmos problemas na escrita. E nesta experiência, rascunhou as primeiras
análises, publicadas num artigo que ele reuniu no primeiro capítulo
deste livro. A reação às ideias de seu trabalho gerou o interesse de um
público bem maior. O autor relata, por exemplo, receber cartas emotivas
que trazem relatos de como a leitura do artigo foi importante para a
retomada da escrita. Alguns questionaram o fato de alguém descrever em
detalhes os medos e as apreensões de tantos desconhecidos. </p>
<p> É importante o relato da professora Pamela Richards, socióloga que
ensina na Universidade da Flórida. Parte do capítulo intitulado "Riscos"
foi escrito também por ela, ou seja, a reflexão de Becker retoma o fato
de que as dificuldades de escrita não se restringem aos iniciantes. A
socióloga, então, discorre sobre a questão dos riscos que envolvem o
trabalho da escrita acadêmica. O problema apontado por ela está
relacionado ao medo que desenvolvemos quando outras pessoas avaliam os
nossos primeiros rascunhos. Daí o aspecto do isolamento social garantir,
de certa forma, podermos correr os riscos que o trabalho da escrita
exige. Trabalhar num novo projeto pode gerar um padrão angustiante. O
método de Becker para que Richards superasse os bloqueios iniciais foi
escrever de forma contínua as primeiras impressões o mais rápido
possível. Ele prescreveu inicialmente que ela redigisse as primeiras
ideias que lhe viessem à cabeça, sem uma censura preliminar, ou até
mesmo se valesse da consulta às suas anotações, bibliografia e notas de
campo. Liberar o fluxo da escrita seria, então, o truque deste método de
produção textual, que tem por finalidade restaurar a confiança na
percepção; além disso, a crença no entendimento de que o primeiro
rascunho guarda a ideia de um melhoramento futuro. Assim, quando
houvesse algum bloqueio ou dificuldade, o truque seria escrever
"empaquei", e seguir em frente com outro tópico. </p>
<p> Algum tempo sem dar notícias, Pamela Richards escreveu para Howard
Becker. Ela havia alugado uma cabana na floresta com o intuito de
escrever o primeiro rascunho. De antemão, acreditou ser um "risco" pôr
em prática o conselho do colega, mesmo assim optou pelo "risco". Por
isso, a questão central, nas palavras de Richards, estava no centro dos
seus temores. Na realidade, o risco, para a socióloga, era se "expor ao
escrutínio" dos leitores. A argumentação do livro de Becker sugere
exatamente a solução prática para o risco com o qual estamos envolvidos
socialmente. Temores como os de Richards descrevem um quadro panorâmico
das condições sociais da produção da escrita acadêmica. As exigências
dos pares, os rigores e os temores pessoais são entraves para o contexto
de risco. </p>
<p>O livro de Becker aborda ainda o aspecto da produção da escrita
acadêmica profissional, e só por isso já é um exercício sociológico de
pensar a realidade social da produção textual. Pensar os problemas
relacionados a como escrever na academia não pode ser entendido como
restrito aos sociólogos. A tarefa é refletir a respeito das condições da
escrita que isola, e que direciona a discussão da produção acadêmica
somente ao produto acabado, ou seja, não são visíveis os dilemas e os
impasses do risco de escrever. Neste quesito, o livro <em>Truques da Escrita</em>
levanta as questões referente não só à comunicação científica, mas
também às condições sociais de organização da vida acadêmica, numa
perspectiva instigante. O problema de escrever de forma precária, na
acepção do sociólogo, não se restringe aos estudantes, mas abrange os
ritos acadêmicos que consolidam o desenvolvimento da produção escrita
num viés isolado e, em certo grau, numa sabotagem coletiva. </p>
<p>Por isso, a relevância de uma obra como <em>Truques da Escrita</em>
no período de expansão da cultura acadêmica no Brasil, o que se dá
exatamente pelos novos caminhos de organização acadêmica, em que é
preciso refletir mais a respeito das condições sociais da comunicação
científica. A ideia de trabalhar o texto entendendo os níveis de
melhoramento dos rascunhos consagra as várias operações necessárias para
compreender o desenvolvimento da redação. Neste sentido, o livro revela
os impasses da tarefa do trabalho acadêmico, que necessariamente
precisa romper práticas isolacionistas para então construir um modelo
social de produção acadêmica. </p>
<p>O grande mérito deste livro é trazer para o debate a responsabilidade
da universidade em valorizar o trabalho acadêmico numa perspectiva
colaborativa. A experiência de seminários de redação entre os acadêmicos
constitui uma preocupação quanto à relevância da escrita para o
desenvolvimento profissional. Comunicar as reflexões de pesquisa é uma
das tarefas elementares da Universidade e, neste sentido, Becker
salientou a necessidade de auxiliar os graduandos no início de sua
formação. Assim, a importância da escrita acadêmica é um dos indicadores
da amplitude do debate educacional, especialmente quando este chega ao
leitor com sofisticação e estilo. </p>
</div>
<a name="m_-8425208988981730464_fn1">http://goo.gl/y5hig1</a><span class="HOEnZb"><font color="#888888"><br></font></span></div><span class="HOEnZb"><font color="#888888"><br>-- <br><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div>carlos palombini, ph.d. (dunelm)<br>professor de musicologia ufmg<br>professor colaborador ppgm-unirio<br><a href="http://www.proibidao.org" target="_blank">www.proibidao.org</a><br><a href="http://goo.gl/KMV98I" target="_blank">ufmg.academia.edu/CarlosPalombini</a><br></div><div><a href="http://www.researchgate.net/profile/Carlos_Palombini2" target="_blank">www.researchgate.net/profile/Carlos_Palombini2</a><br><a href="http://scholar.google.com.br/citations?user=YLmXN7AAAAAJ" target="_blank">scholar.google.com.br/citations?user=YLmXN7AAAAAJ</a><br></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div><div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div>
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