[Carreirasespeciais-l] ENC: Carta de um cidadão ao Presidente da República do Brasil pelo PAC com PAD

ja.mannis ja.mannis em uol.com.br
Dom Fev 25 03:03:09 BRT 2007


Colegas das Carreiras Especiais da Unicamp

 

Compartilho com Vcs esta mensagem enviada ao Presidente da Republica,
enquanto simples cidadão

buscando que em algum momento algo de efetivo e de bom senso relativamente a
questões básicas

de segurança, educação, bem estar social de fato se produza em nosso país.

 

Melhores saudações

 

José Augusto Mannis

 

 

 

Excelentíssimo Senhor 

Luis Inácio Lula da Silva

Presidente da República do Brasil

 

Estou plenamente de acordo com Sua Excelência quando afirmou que não adianta
reduzir a maioridade penal como medida para combater o crime.

De fato, se baixar para 16 passarão a ser escaladas crianças até 15 anos. Se
então baixarmos para 13, serão escaladas crianças até 12 anos, e assim por
diante.

A medida que se espera de impacto, corre sério risco de ser inócua, e
desgastar sensivelmente a imagem dos políticos e do Estado brasileiro.

 

Por outro lado, observo que de uns anos para cá os crimes hediondos me
parecem estar afligindo vítimas de idades bem mais baixas do que costumava
constatar antes em crimes semelhantes.

O que antes atingia pessoas adultas está cada vez mais se alastrando para
pessoas cada vez mais jovens. Ou seja, estão envolvidos em crimes pessoas
que mal entraram na adolecência, se não são ainda crianças, e igualmente as
vitimas. Tivemos recentemente o triste caso de João Hélio onde a vítima era
uma criança e um dos algozes um adolescente, menor de idade.

 

Portanto, Senhor Presidente, vejo que ambas as tendências, a da idade dos
criminosos se estender para baixo e a idade das vitimas igualmente, têm uma
progressão natural.

 

Se isso ocorre é porque há facilidades para isso. Tantos os menores tem
punições abrandadas como as crianças são indefesas e mais fáceis de serem
usadas, sobretudo em seqüestros. O mesmo com pessoas idosas ou portadores de
deficiência. Isso é tão natural quanto uma leoa ao atacar um bando de
animais, escolhe o mais fraco, às vezes doente, ou um filhote, sobretudo
estes por reagirem com menos astúcia, aspecto prático importante, e por
terem a carne mais tenra e saborosa, o que compensa para a qualidade da
ação. Se bem que os animais tem um principio ético louvável mais nobre, eles
somente matam o que precisam para comer, nunca para acumular. E ainda
dividem a presa com os demais animais ao redor, garantindo alimento a muitos
outros e não somente a si. Assim não matam a um grande animal por ganância,
mas podem matar um pequeno se é o que eles precisam para hoje.

 

Portanto, as coisas estão ocorrendo com naturalidade, como a água que
procura sempre o melhor caminho para correr. Mesmo se o caminho for um
labirinto, a água acha a saída com uma rapidez incrível.

Não há como impedi-la de seguir seu caminho, a não ser interpondo-lhe
barreiras. Mas mesmo assim, ela ainda é capaz de contornar os obstáculos das
formas mais surpreendentes e imagináveis. Não me espantaria se alguém se
perguntasse se existiria alguma inteligência na água. Para algumas culturas
primitivas, a água poderia até ter algo em si ou fazer parte de algo muito
maior que ela. Mas nossa cultura racional tem desprezado muitas
considerações cientificamente não comprovadas. 

 

Acredito que combater a criminalidade reduzindo a maioridade penal é de fato
a mesma coisa que colocar uma pedra diante do trajeto da água. Atrapalha mas
não impede.

 

Fico feliz que Sua Excelência tenha essa percepção das coisas e que esteja
procurando uma solução que de fato seja efetiva. Pois é um caminho desses
que precisamos tomar: ações que sejam de fato eficientes.

 

Porém Senhor Presidente que perspectiva de futuro podem ter esses jovens
rapazes e o adolescente que acabaram matando o pobre João Hélio?  E todas as
crianças e adolescentes que estão detidos? E todos aqueles que estão
destinados a entrar para o crime e que hoje ainda são pessoas inocentes?

 

Até agora eles se aperfeiçoam somente para sobreviver. Eles acabam
aprendendo o que precisam para permanecerem vivos. E não aprendem nada para
melhorar porque eles não têm onde buscar algo de melhor.

 

Nem mesmo o lazer básico eles têm. A escola é um caos, é ruidosa, não tem
conforto térmico, tem aspecto descuidado, negligenciado. Os professores
estão desanimados e também procuram sobreviver fazendo um trabalho mesmo que
percebam que ele não é efetivo, mas ele lhes dá o que comer.

 

A juventude poderia conhecer coisas que nunca viu, lugares que nunca
visitou, idéias que nunca pensou, encontrar uma infinidade de coisas e
caminhos, formarem uma bagagem suficiente para poder elaborar seu percurso
pessoal. Mas a única coisa que permite isso é a LEITURA. O hábito de ler, de
entender outras idéias, se questionar, tirar conclusões. E finalmente
exercitar o pensamento para poder operar com as coisas e saber se algo é
certo ou é errado. Se for correr um risco, se vale a pena. Poder antever as
conseqüências de algum ato e ponderar suas ações. Tudo isso vem do
PENSAMENTO. As pessoas precisam poder ter o direito de pensarem. Mas para
isso elas tem que estar instrumentadas e treinadas. Só assim elas não vão
mais deixar serem enganadas pelos mais espertos. Pois, na verdade, o que
impera na ignorância, é sempre a esperteza, a mente astuta, que raciocina
apesar de não ter elementos para direcionar o curso das idéias (como a
água...) e as idéias vão pelo caminho mais fácil.

 

Assim Senhor Presidente, as pessoas estão procurando resolver os problemas
pelo jeito mais fácil e que dão retorno a curto prazo. Poucos tem pensado a
longo prazo. A sociedade de hoje precisa de impacto, pois a velocidade dos
acontecimentos é muito maior agora do que há 20 anos atrás. Hoje se faz em
um dia o que antes se fazia em uma semana. E para dar conta disso, não estão
podendo enxergar o que é certo e o que é errado, somente o que é possível, o
que dá resultado e, como não estão devidamente instrumentados para isso,
acabam achando o caminho mais fácil (como á água...).

 

O nosso herói de hoje é o malandro da ópera. Nunca estudou e foi honrado com
uma música do Chico Buarque. Driblou tudo e com sua esperteza se saiu bem. O
herói de hoje é o mecânico analfabeto que conserta bem os motores. É motivo
de orgulho para todos os familiares e amigos. “Esse sim. Nunca pois o pé na
escola e conserta o carro como ninguém. Dá banho em muito engenheiro.” E de
fato, conheço pessoas assim e as admiro muito. Porém, se fossem instruídas,
poderiam fazer mil vezes mais do que estão fazendo hoje. Beneficiando muito
mais pessoas com seus talentos e ganhando muito mais do que ganham hoje.
Talvez esses talentos sejam uns Cesar Lattes que não conseguiram seguir na
escola. Imagine Senhor Presidente se todos os brasileiros que pudessem
ganhar um Premio Nobel o ganhassem de fato. O Brasil brilharia no mundo,
muito mais do que brilha agora. Porém, essas pessoas estão sendo
desperdiçadas. Os talentos estão se exaurindo sem terem se desenvolvido como
deveriam. Estão encerrados dentro de uma vida que não lhes cabe dentro. Deve
ser muito desesperante essa clausura. O pior acontece quando um desses
gênios ao invés de usar toda sua energia na medicina, na economia, nas
artes, nos desenvolvimentos técnicos, acaba achando saídas de escape para o
seu dia a dia do jeito mais fácil (como a água...).

 

A população do Brasil ultrapassa 180 milhões de habitantes. Nosso PIB em
2006 foi de 1,5 trilhão de Reais. A carga tributária do Brasil atinge 37%.
Isso faz com que o Estado arrecade aproximadamente 555 bilhões de Reais por
ano. Considerando que o Estado trabalha e opera para todos os brasileiros, a
cada um corresponderia em média R$ 3.083 por ano. O Estado arrecada esse
valor para cuidar de cada brasileiro, ou seja, da nação, administrando o
país. 

 

Assim Senhor Presidente, cada indivíduo que morre em acidente em estradas
mal pavimentadas, cada um que morre por falta de atendimento, cada pessoa
que morre de fome, cada vitima que morre em um assalto ou seqüestro, cada
pessoa que entra para o crime, cada detento, cada jovem delinqüente, cada um
que se corrompe e envergonha a nação, cada um que pratica ações ilícitas e
que acabam prejudicando aos demais, isso significa um prejuízo ao país de R$
3.083 vezes a idade da pessoa.  No ano em que a pessoa morre por uma razão
que não deveria ou em que ela se perde de seu rumo, nesse ano o prejuízo é
de R$ 3.083 vezes o numero de mortos e perdidos. 

 

Se fizermos uma pequena conta, entre 1979 e 2003 morreram no Brasil 550.000
pessoas por arma de fogo, vitimas ou pessoas que se perderam, uma média de
23.000 por ano. A idade média foi de 15 a 24 anos, ou seja, 19,5.
Considerando o PIB atual, isso representaria um prejuízo ocorrido em cada
ano de 1,38 bilhões de reais em valores investidos desde o nascimento das
pessoas. No ano em exercício, somente as mortes dessas pessoas jogaram fora
um valor de 70,7 milhões de Reais. E isso foi somente a conta dos que
morreram oficialmente por arma de fogo. Sem contar todos os demais que
morreram indevidamente por outros meios nem aqueles que se perderam da justa
via.

 

Senhor Presidente. Perdemos muito dinheiro por ano com pessoas que morrem
indevidamente e que se perdem do caminho.

 

Fora o quadro estarrecedor que se constata, ainda temos um enorme prejuízo.

 

Assim, recorro a Sua Excelência rogando que o planejamento estratégico do
país privilegie ações para remediar a essa situação incontrolável que
vivemos.

 

Precisamos cuidar da qualidade de vida das pessoas, dar-lhes alternativas
efetivas e não simulacros de ações que no final das contas acabam não tendo
efeito proporcional ao que deveria ter tido.

 

No Brasil ainda se morre de lepra, há pessoas que não tem saneamento básico
em suas casas, não tem postos de saúde, não tem escola e não tem lazer.

 

O jeito mais fácil dessas pessoas terem lazer, certamente não será o mais
certo.

 

O jeito que encontrarão para sobreviver, não será o mais certo.

 

Farão todas as coisas de um jeito que não será o melhor nem para elas
mesmas, pois não estarão capacitadas para enxergar isso.

 

Cometerão muitos erros e injustiças, por vezes sem saber, por vezes por
revolta, por vezes por não suportarem nem mais uma gota d’água para citar
novamente o Chico Buarque que aliás admiro muito.

 

E a culpa disso tudo continuará sendo socializada entre toda a nação. Me
preocupo quando a solução começar a saturar e não poder dissolver mais nada.
É como açúcar no cafezinho, depois de uma dose ele não se dilui mais. Se
acumula e se sedimenta e acaba ocupando o espaço que deveria ser do café. No
momento em que a culpa socializada saturar, passar da dose máxima de
diluição, haverá uma ruptura. Esse momento está para chegar. E o controle
crítico disso está com o Estado, que é sobretudo representado por Sua
Excelência no sistema presidencialista forte no qual vivemos.

 

Estamos todos nós ouvindo isso há muitos anos. A culpa é de todos nós. Todos
somos responsáveis por isso. E de fato, isso é a pura verdade.

 

Ninguém vive algo que não tenha construído durante toda sua existência até o
momento atual. Todas as opções que fizemos durante todos os dias das nossas
vidas nos tornam responsáveis por tudo o que acontece conosco aqui e agora.
Por isso, tudo o que vivemos agora, as coisas boas e as coisas ruins, esse
estado de coisas é resultado de todas as opções dos brasileiros nos últimos
anos.

A alternância de poder, as sucessões, os ritmos políticos, as oposições
partidárias, os investimentos, todas as políticas, as mudanças, as viradas,
são responsabilidade nossa. Mesmo se não foi uma ação da maioria, foi a ação
dos mais fortes que lideravam todos os que se deixaram liderar enquanto
puderam deixar. Até que fizemos opções, mudamos, procuramos melhorar e
estamos aqui, fruto de nossas escolhas.

 

Assim, Senhor Presidente, talvez tenhamos chegado num momento de fazer
novamente opções. E espero que muitas delas sejam boas e efetivas.

 

A proposta de Sua Excelência do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento
é muito positiva e demonstra a vontade de melhorar o país e beneficiar a
nação.

 

Assim, gostaria de fazer uma humilde sugestão, na minha singularidade de
cidadão, 1/180 milhão do Brasil, tão pequeno que nem imagino o quanto seja
ou se mesmo chega a ser alguma coisa.

 

Mas queria pedir que o PAC fosse um pouco um PAD – Programa de Aceleração do
Desenvolvimento.

 

Por quê?

 

Por que pensando intuitivamente, tenho a impressão que crescer é uma coisa e
desenvolver é outra. Para mim, crescer é aumentar e desenvolver é melhorar.

 

Aumentar sem melhorar eu acho que não vale a pena. Se a fruta pequena já tem
praga, o negócio é combater a praga e não fazer a planta crescer mais ainda
proliferando a praga que vive da planta.

 

Na verdade temos parasitas no país. E se crescermos do jeito que estamos
crescendo vamos alimentar todos esses parasitas.

 

Sugiro que Aceleremos o Desenvolvimento para Crescer com Qualidade. Acho que
seria muito mais seguro. A árvore frondosa tem raízes fortes, senão chega
uma hora em que ela cai por si mesma, de tanto crescer.

 

Assim, Senhor Presidente, além de sugerir, queria, com sua permissão, ter a
liberdade de lhe pedir, que dentro do PAC, tenhamos prioridades com coisas
que façam os cidadão se sentirem mais dignos, mais gente. Mas isso
infelizmente não se consegue com o que hoje gostamos tanto: IMPACTO. Isso
demora. São políticas a LONGO PRAZO. Porém, acho que Sua excelência já
venceu tantos obstáculos que agora poderia enfrentar mais esse trabalho.
Tomar decisões que podem não ter nenhum impacto, mas que o façam um dos
maiores chefes de Estado do Brasil, por ter tido a coragem de encetar ações
como ninguém antes fez: Criar meios para um real e efetivo desenvolvimento
progressivo da EDUCAÇÃO, da SAÚDE PREVENTIVA, da CIDADANIA. Sem deixar de
lado os importantes setores de infra-estrutura, mas nossa maior riqueza hoje
são NOSSAS PESSOAS. Precisamos alimentá-las com VALORES CULTURAIS positivos
e construtivos. Mudar do herói marginal para o herói construtor, que faz
tudo a partir do nada. Isso para TODAS AS CAMADAS DA POPULAÇÃO.

 

Por favor, Senhor Presidente, imagino que deva estar numa situação muito
tensa. Pessoalmente fico triste em presenciar a corrida ávida às pastas
ministeriais visando mais os respectivos orçamentos do que levar adiante um
ideal de ver um Brasil melhor. Tanta gente sofrendo e tantos altos
representantes do povo olhando somente o Game que estão jogando. Às vezes as
pessoas encaram a vida como um Game. Mas não é. Por isso, Senhor Presidente,
peço-lhe que não se esqueça de nós. Podemos começar agora a fazer um Brasil
MAIS JUSTO, um Brasil diferente. Vamos fazer como os Caciques das Tribos
sempre fizeram: eles sempre foram o exemplo e começavam as árduas tarefas
para que os demais o acompanhassem. Contamos com Sua Excelência.

 

Com a expressão de meu profundo apreço,

 

Atenciosamente

 

José Augusto Mannis

 

 

Mensagem enviada através do serviço

 

FALE COM O PRESIDENTE

https://sistema.planalto.gov.br/falepr/exec/index.cfm?acao=email.formulario
<https://sistema.planalto.gov.br/falepr/exec/index.cfm?acao=email.formulario
&CFID=934836&CFTOKEN=71235183> &CFID=934836&CFTOKEN=71235183 

em duas partes (dois envios separados pois as mensagens são limitadas a
10.000 caracteres)

PARTE I 

PARTE II

25/Fez/2007 - 00:13 hs

 

 

 

    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

-------------- Próxima Parte ----------
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