Re: [ANPPOM-L] Hora da união

Carole Gubernikoff gubernik em terra.com.br
Qua Jun 1 12:59:00 BRT 2005


Querido Manuel, estamos juntos na luta para que música se torne, finalmente, uma área da grande área da artes.  
Um abraço afetivo, 

Carole 


----- Original Message ----- 
  From: Manuel Veiga 
  To: anppom-l 
  Sent: Wednesday, June 01, 2005 9:50 AM
  Subject: [ANPPOM-L] Hora da união


  Caríssima Glacy, demais colegas das discussões sobre áreas de conhecimento e da maioria silenciosa da ANPPOM:

  Tenho estado fora dos debates, muitas vezes de olho comprido, mas sem querer interferir meramente me repetindo.
  Hoje é dia D, para nós, se não houver adiamento da data limite estabelecida para a recepção de sugestões. Imagino a imensa tarefa de Glacy, a quem saúdo, tendo de  representar a nós todos, os músicos, e ainda olhar para fora, não apenas para as demais artes, como para o imenso domínio das ciências humanas e sociais aplicadas. O jogo de forças em cujo âmbito estará operando, já o conheço de outras tentativas em que se murmurou sobre a necessidade de modificação de um monstrengo que nos dificulta a vida desde 1982. Em 1993, com alguns anos de experiência na CAPES e no CNPq, vali-me do II Simpósio Brasileiro de Música, realizado em Salvador, em torno do tema geral de Informação Musical no Brasil, para apresentar um pequeno estudo: "Controle social da informação musical vista em caso específico: a tabela de classificação de áreas do conhecimento", Art [Escola de Música da UFBA] 22 ( dez. 1995 : 49-63. Na realidade, deveríamos falar de "áreas do desconhecimento", no que nos diz respeito.Observava como a tabela funcionou (?) numa tentativa da CAPES de cadastramento de seus consultores para Artes/Música. Poupo a todos o desvio quase total nas respostas (95) de 89 consultores que, na melhor das intenções, buscaram se identificar, em maior ou menor detalhe. Não somos uma área confusa: a confusão vem da maneira como nos olham.
  A tentativa atual de revisão, parece-me, é a quarta. As anteriores goraram. Uma enorme energia estará sendo liberada e à disputa pela representatividade e recursos se associarão velhos preconceitos para nos deixarem sem face, esmagados. Paranóia? Sem dúvida.
  Olhados os umbigos dos outros (a descentralização é essencial ao procedimento científico), é hora de olharmos para os umbigos dos músicos.
  Boa gente, não interessa muito, neste momento, estarmos discutindo se a Etnomusicologia fica com a Musicologia (qual delas?)--claro, são muito diferentes--nem se a Semiótica Musical fica perto da Semiologia Musical, nem se se precisa de um nicho especial para a composição de música e recursos eletroacústicos, nem o que iremos fazer para a Comunicação Artística achar seu lugar face à Comunicação Social.

  Perdoem o tom dogmático que não pretendo, nem tenho conhecimento suficiente para manter. Em princípio, entra tudo. Mas há um ponto essencial sobre o qual teremos de fincar o pé e estar unidos, assim facilitando à nossa Glacy falar por todos nós: a disciplina é Música, seja o que isto for. Música, Maurício e Martha hão de concordar, ainda não existe no CNPq e na CAPES (de FINEP nem se fala). Se a atual terminologia de "grandes áreas", "áreas", "sub-áreas" especialidades" for mantida (não se tem certeza disto), Música terá de ser área, na grande-área de Artes ou, aliás, da grande-área do que seja (questão da interdisciplinaridade). Somente assim, ou em nível equivalente, teremos autonomia suficiente para obtenção de recursos que não tenham de ser rateados, além de critérios nossos e julgamento de nossos projetos por nossos pares.

  O primeiro confronto que teremos (permitam ainda a paranóia) será com os representantes de outras artes em nossas respectivas universidades e, provavelmente, no próprio CA. Colegas nossos de outras artes, dignas de nossa admiração e de nosso apoio, vêm pensando que não têm densidade suficiente para pleitear respeito à sua própria disciplinaridade. Perdem a luta antes da hora. Ao contrário de um musicólogo histórico, necessariamente um músico, um historiador de arte (entenda-se, artes plásticas) pode ser produto de cursos de história, com boa dose de estética e crítica, mas não necessariamente vivência artística. O famoso "Fundamentos e crítica das artes" não foi criado para músicos, musicólogos, no caso, mas para eles. Nós todos, músicos, "fazemos coisas" e, pelo que me toca, nem nos tempos de virtuose fui muito tentado pelos que quisessem me ensinar como fazer o pote, não fossem virtuosi como eu.

  Se, de um lado, não devemos interferir na disciplinaridade das outras artes, tampouco deveremos enveredar por uma união de fracos. Há um paralelismo indutor de erro: "artes cênicas" (some a especificidade da Dança, engolida por Teatro), "artes visuais" (muita coisa) e "artes musicais". Destas nunca ouvi falar. Mas, se aceitássemos esse novo nome de batismo para Música, logo não teríamos lugar para colocar as ciências musicais.


  Temos de entender a importância de se tomar uma posição firme de subir a Música para o nível de área. Repito: muitos ainda não se deram conta de que Música não é musica ainda para as agências de fomento. A postura de que "as artes devem permanecer unidas para ter mais força", corre no CA em que nos situamos no CNPq, com exceção certamente de Maurício. Seria possível a ele, um músico, não se dar conta da força incalculável da música? Somos ciência, somos arte, temos um corpo milenar de teoria e densidade suficiente para vivermos sem muletas. Sôo aqui este alarme, diretamente na lista da ANPPOM, com o específico objetivo de alertar também nossa Glacy de que esta é a posição primeira da área de Música: antes de qualquer discussão pra baixo ou pra cima da árvore, Música tem que ser música.

  Perdoem, mil vezes, mas ajudem.

  Manuel Veiga 

   

  Grande abraço 

   

   



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