[ANPPOM-L] consulta sobre sub-área de interpretação

Adriana Giarola Kayama akayama em iar.unicamp.br
Sáb Out 22 22:30:09 BRST 2005


Prezados associados,
Depois de enviar o e-mail óntem sobre a proposta da ANPPOM para a nova Tabela de
Áreas de Conhecimento, fui preparar o material para a consulta que mencionei no
referido e-mail.
Assim que ficou pronto, fui enviar, mas tive problemas com meu servidor. Agora,
com os problemas solucionados, percebo que já se iniciou uma votação e mais
discussão em torno da questão, inclusive, com uma nova proposta.
Apresento abaixo, então, a consolidação de todas as discussões que tivemos na
lista sobre a questão da terminologia da sub-área "performance musical" /
"práticas interpretativas" / "processos interpretativos" e agora, com a
sugestão da Carole G., aproveitando para incluir a mais recente sugestão:
"teoria e prática da interpretação musical".
Como já disse no e-mail óntem, os 4 termos estão apresentados em ordem
alfabética, para evitar qualquer conotação tendenciosa. Para evitar um
congestionamento na lista, peço, encarecidamente, que enviem seus votos
diretamente para o e-mail: akayama em iar.unicamp.br .
Cordial abraço a todos,
Adriana G. Kayama
Presidente da ANPPOM

A) PERFORMANCE MUSICAL

Acredito que o fazer musical e a reflexão sobre este fazer foi contemplada de
maneira brilhante pelas duas edições do Seminário Nacional de Pesquisa em
Perfomance Musical (BH2000 e Goiania2002). Trabalhos representativos de todo o
Brasil foram apresentados em todas as vertentes desta sub-área. Por isto, e
pela abrangência implicada na expressão, creio que PERFORMANCE MUSICAL seja o
termo mais apropriado para as práticas interpretativas e para as reflexões
sobre aspectos diversos da interpretação.

Concordo com a proposta da Sônia Ray de que a sub-área da performance musical
seja denominada “Sub-área Performance Musical” e não Práticas Interpretativas
(termo muito restritivo) ou Execuçao Musical (este, então, da época do onça) no
CNPq. Foi a própria sub-área quem deliberou sobre isto nos I e II Seminários
Nacionais de Pesquisa em Performance Musical. Afinal, o termo “Performance
Musical” inclui não apenas os processos de interpretação, mas também aqueles de
criação na performance (improvisação, encenação) e outros que envolvem a
psicologia da performance (ansiedade, medo de palco, memorização) e
comportamento motor (gestual, controle motor, movimentos e técnica).

Só porque houve uma decisão num seminário de Performance, isto não significa que
a decisão não possa ser revista.

[Vocês] deveriam saber que performance deixou há muito de ser um termo cotidiano
pra se tornar um conceito e bastante diverso do meramente tocar.

...o conceito de Performance é amplo e abrange todo um processo.

[Sou pelo anglicismo] Estou com Peirce que acreditava na criação de termos que
definissem com mais exatidão aquilo a que se pretende referir.

…No dicionário (Webster): Performance - 1) the act of performing  2) operation
or functioning, usually with regard to effectiveness, as of an airplane  3)
something done or performed: deed or feat  4) a formal exhibition of skill or
talent as: a play, musical program, etc.: a show.
Acho que isso é tudo o que nós não procuramos com a nossa pesquisa.

(Webster International)
The carrying into execution or action / representation by action (as the
performance of an undertaking or a duty)/ action of an elaborate or public
character / the effective working capacity of an engine, combined plant, etc..
/ completion / consummation / production / work / action
PERFORMER: one that executes an undertaking, fulfills a promise or acts a part
in some performance / a worker / a doer

…. no Aurélio tem:
PERFORMANCE: 1)  atuação, desempenho (especialmente em público)  2) O desempenho
de um desportista (ou de um cavalo de corrida) em cada uma de suas exibições.

O termo Performance é utilizado pelo pessoal do teatro que tem um corpus teórico
razoável sobre o assunto.

Em todos os dicionários que consultei, encontrei este termo _sempre_  aliado à
idéia de _desempenho_.  Mesmo quando usado em relação a atividades artísticas,
tem a ver com o desempenho no palco, com a  apresentação pública.  O termo,
quando começou a ser usado nas universidades e escolas de música, vinha
influenciado pela idéia  romântica do artista- intérprete / "performer", aquele
que tem um  desempenho espetacular no palco.  Aquele que não se preocupava nem
um  pouco com pesquisa histórica, com análise musical, com "Zeitgeist" (mais  -
era antagônico a tudo isso).  Só nas últimas décadas do sec.XX começou a surgir
algo como a "pesquisa em interpretação", até hoje ainda incipiente e sofrendo
muito a dificuldade de _se_ definir corretamente.  Daí vem também a minha
preocupação com o termo.

Se formos levar em conta o Aurélio ou outras referências que não conseguem
acompanhar a mobilidade da língua portuguesa, o termo performance, de fato, se
restringe a “desempenho”. Mais do que isto, o termo “interpretação” é que está
ligado à idéia romântica do intérprete que não faz pesquisa e é tratado sempre
como secundário ao texto, à figura do compositor. Por outro lado, “Performance
Musical” é muito mais do que o que foi sugerido por vocês e inclui, entre
outras coisas, processos criativos, processos interativos (dentro da música,
com outras artes e com outras áreas), aspectos psicológicos (ansiedade, medo de
palco etc.), aspectos fisiológicos (postura, lesões etc.) e aspectos do
comportamento motor (controle e aprendizagem) envolvidos na performance
musical. Quando houve um referendum sobre esta questão em 2000 (um congresso
nacional com mais de 120 pesquisadores apresentando trabalhos de pesquisa na
área de “Performance Musical”) o termo performance foi debatido e o preferido
pela comunidade (em detrimento de todos os outros apresentados).

____________________________

B) PRÁTICAS INTERPRETATIVAS

[Sou favorável à] expressão Práticas Interpretativas pelas seguintes razões:
 1-Não é anglicismo
2 - Performance envolve muitas práticas que são estudadas pela etnomusicologia
3 - A junção da prática (tocar) com a interpretação, que é fazer a hermenêutica
"prática" do texto, envolvendo a realização sonora e a leitura do texto, é
muito mais específico dos diversos instrumentos envolvidos.

Interpretação é um termo extremamente subjetivo e implica necessariamente
leitura e escuta acurados, embora nem todos concordem.

O problema de 'práticas' interpretativas é exatamente ser 'prática' e não abrir
para 'teoria da interpretação'.

Práticas interpretativas já tem lastro na música, inclusive no tocante ao
desenvolvimento de uma metodologia própria.

____________________________

C) PROCESSOS INTERPRETATIVOS

PROCESSO (Aurélio): 1) ato de proceder, de ir por diante; seguimento, curso,
marcha  2) sucessão de estados ou de mudanças  3) Maneira pela qual se realiza
uma operação, segundo determinadas normas: método, técnica  4) Seqüência de
estados de um sistema que se transforma; evolução ......

A pesquisa em interpretação, como nós a conhecemos hoje,  propõe o envolvimento
do intérprete com todo o caminho retórico percorrido pelo autor quando cria a
obra, para levar ao resultado final, que é prerrogativa do intérprete.
- o /exordium/, que é o momento da criação
- o /dispositio/, que é o momento da organização do discurso: que forma terá,
como serão trabalhadas suas partes, etc..
- o /divisio/, que é o momento de elaboração das figuras retóricas, de acordo
com as intenções do autor e as qualidades do público ao qual o discurso se
direciona
- a /memoria/, que é a preparação do discurso
- a /actio (ação)/ - Este é o momento da "performance".

Claro que um excelente desempenho, como entendemos hoje em dia, deve ser
conseqüência de uma excelente pesquisa, mas insisto em defender que a pesquisa
não será em "performance" - a pesquisa será nos elementos que levarão a uma boa
performance.
Insisto que o corpo teórico e a metodologia própria, que sem dúvida já existem,
existem para o conceito de "performance" apenas nas duas partes finais do
discurso retórico: a /memoria/ e a /actio/....
Quero lembrar também que muito da pesquisa em interpretação não chega ao palco -
não se transforma em /performance/:  faz parte do processo, quando em
elaboração.  Para sair da minha área e não voltar a falar em retórica, lembro o
trabalho que fazem hoje os intérpretes  juntamente com os compositores, à
procura por novas sonoridades,  surgidas do domínio técnico do instrumento,
aliado ao domínio teórico e à criação.

Acho bem mais pertinentes e coerentes essas duas denominações: "Processos
Interpretativos" ou "Teoria e prática da interpretação musical".
A palavra "performance" se reporta à "presença no palco". A palavra
"performático" se refere apenas aos aspectos cênicos e gestuais.
O estudo da elocução, "léxis" no dizer de Aristóteles, conceito que se opõe ao
de "dianóia", pode ser teórico, estudando-se o processo antes de se chegar ao
palco.

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D) TEORIA E PRÁTICA DA INTERPRETAÇÃO

Acho bem mais pertinentes e coerentes essas duas denominações: "Processos
Interpretativos" ou "Teoria e prática da interpretação musical".
A palavra "performance" se reporta à "presença no palco". A palavra
"performático" se refere apenas aos aspectos cênicos e gestuais.
O estudo da elocução, "léxis" no dizer de Aristóteles, conceito que se opõe ao
de "dianóia", pode ser teórico, estudando-se o processo antes de se chegar ao
palco.






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