[ANPPOM-L] Re: [forumnacionaldemusica] Re: [forumdemusicace] POLÍTICA GIL AMEAÇADA

Jorge Antunes antunes em unb.br
Dom Nov 19 11:39:16 BRST 2006


Colegas:

Reproduzo, abaixo, artigo publicado no Jornal do Brasil de 22 de julho de 2005.
Abraço,
Jorge Antunes


Fora Gil !
Jorge Antunes
maestro,  compositor, professor titular da UnB

Jean Gautier já sabia que eu estava na Europa. Claude Samuel havia lhe falado que eu estaria em Paris em junho e julho de 2004. Isso se confirmou. Saí de Baden-Baden e, depois de cansativa baldeação de dois trens, cheguei a Paris onde concluiria nova etapa de minha pesquisa. Apesar da atração que eu sentia pelo estranho Paris Plage ? a praia artificial à beira do Sena ?, meu destino era ficar trancafiado no estúdio 116 do Groupe de Recherches Musicales, na Radio France.
Mas, só no início de julho Monsieur Gautier descobriu que eu estava hospedado na Cité des Arts. Telefonou-me. Convidou-me para uma conversa na sede da AFAA, avenue de Villars.
Segunda-feira, dia 9 de julho de 2004, lá estava eu pontualmente ao meio-dia. Primeiro fez-me sala Raphaël Bello, commissaire général adjoint do Ano do Brasil na França. O titular, Jean Gautier, ocupado num telefonema internacional, viria a mim meia hora depois.
Cordialidade, animação, idéias, projetos, confidências políticas: a conversa foi longa e ótima. Enfim, o encontro terminou com muita esperança. Ficou elaborada uma estratégia de convencimento do comissário brasileiro, para que nossa música erudita contemporânea pudesse ter lugar no Ano do Brasil. Gautier me confidenciou que André Midani esteve sempre relutante com relação a isso. O governo brasileiro só estava interessado em investir e mostrar as manifestações culturais brasileiras que pudessem dar interessantes resultados para a indústria do turismo.
Enfim, agora, em agosto de 2005, vemos o triste resultado. Gautier não conseguiu convencer Midani. O Ano do Brasil na França não mostra a música contemporânea brasileira. Está perplexo todo o largo público do Festival Présences, dos concertos do GRM e de todos os festivais franceses de música contemporânea: Lille, Bourges, Lyon, Crest, Marseille etc.
Os projetos encaminhados pelo Maestro Edino Krieger, em nome da Academia Brasileira de Música, foram todos rechaçados. O grande público francês fica cada vez mais convencido de que este não é um país sério. Para o povo francês vai ficar a impressão de que não passamos de uma nação com artistas plásticos que só produzem instalações bundas. Que somos um país com cineastas que só retratam miséria, violência, araras, favela e bundas. Que nosso povo vive trezentos e sessenta e cinco dias de carnaval cheio de porta-bundeiras e bandas.
Em outras palavras, a Saison Brésil não mostra a cultura brasileira. Ela mostra apenas a arte oficial brasileira, a cultura autóctone anterior à invasão de 1500 e a indústria cultural brasileira. Ninguém melhor para implementar essa política que André Midani, o histórico homem da indústria do disco que esteve sempre à frente na comercialização de bossa nova, tropicalismo e rock.
O governo bufão, que cercou-se de corruptos, pop-bufões, corruptores e empresários usurpadores, não poderia deixar de escolher ninguém melhor para seu projeto do que o Sr. Midani, eterno homem das multinacionais EMI, Universal e Warner. Também na cultura, o governo Lula privilegia o capital internacional.
Monsieur Gautier desceu comigo até a calçada da avenue de Villars e, antes da despedida, informou que na semana seguinte aconteceria reunião decisiva. Confessou-me que aguardava ansioso a chegada de Monsieur Midani.
Dei tratos à bola para entender as razões daquela ansiedade. Era aguardada com expectativa a chegada do representante cultural do governo brasileiro a Paris. Por que seria tão importante a chegada, em Paris, de André Midani? Entre minhas hipóteses destacou-se uma: o representante do ministro brasileiro era um franco-sírio que há 50 anos chegara ao Brasil, tendo se evadido da França para não ir para a guerra da Algéria.
Lula, através de golpe publicitário, nomeou um déspota pouco esclarecido para o Ministério da Cultura. À frente do MinC continuamos a ter um cantor de solos em falsete que desconhece totalmente a moderna arte brasileira. A cultura brasileira agora paga o pato. Se o MinC fosse ocupado por um economista competente ou por um sociólogo brasileiro, estaríamos em melhores mãos.
O déspota pouco esclarecido grita aos quatro ventos da França: ?La culture c'est moi! Isaac Karabtchevsky, também pop, entra na onda e assume papel de Mazarin: coloca a Orchestre National des Pays de la Loire à disposição de importante solista brasileiro: o próprio, ele mesmo, o ministro.
A difusão da cultura brasileira entra em pane. O povo francês, que se engane! Caetano, Lenine, Djavan e Gil querem Midani. Martinho, Milton e Maria Rita querem Midani. A música popular comercial brasileira quer Midani. Eu, que me dane! A música erudita contemporânea brasileira que se dane!




Thais Andrade wrote:

>  Acho que nós dos Fóruns Estaduais e do Forum Nacional deveríamos fazer uma manifestação "FICA GIL".Quando falo Foruns Estaduais não falo só o de Musica mas os de todas as linguagens.Tem que se uma manisfetação de ambito nacional, com imprensa e tudo mais. Thais AndradeFPM-CE
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