RES: [ANPPOM-L] perfis conjugados

ja.mannis ja.mannis em uol.com.br
Seg Abr 9 11:09:30 BRT 2007


Caro Carlos,

Vc esta colocando algo justo e correto, mas que pretendia abordar
ulteriormente e de outra forma.

Procurei começar facilitando a apreensão e por isso iniciei por pensar em
disciplinas complementares para os cursos já existentes.

Isso seria, a meu ver, uma oportunidade de que todos possam conviver com uma
prática 'nova'. Muitas vezes o preconceito vem do desconhecimento. Fazendo,
convivendo com algo 'novo', pode-se apreender 'a coisa' melhor do que
explicando com nossos termos verbais que acabam ocultam parte significativa
do rico mundo dos sons. Segundo as práticas de/derivadas de Schaeffer,
fazendo se entende. A poética vem também do contato tátil com o meio/os
recursos/a midia que permite expressão.

Assim, acho produtivo que os interpretes, compositores e pesquisadores
pratiquem atividades complementares relacionadas a outras praticas e
metiers.

Como acho muito importante que um 'técnico' de som tenha atividades
complementares relacionadas à prática e ao metier da atividade fim à que
esteja se dedicando.

Após sua colocação, digo que é indispensável que se definam NOVOS PERFIS.
Cada perfil tem sua especificidade e deve ser respeitado.

O Engenheiro de Som não precisa ser um violinista. O que foi colocado foi um
mero exemplo e me desculpo se provoquei confusão.

Porém, sinto falta de um engenheiro de som que não PENSE SONS e PENSE MUSICA
somente em uma área restrita de práticas musicais, como é o que acontece
atualmente por aqui.

Assim, um Engenheiro de Som que tenha praticas amplas e domine aspectos
fundamentais da ATIVIDADE FIM à que está se dedicando é fundamental.

Se vai gravar uma orquestra/uma roda de jongo, precisa saber um minimo de
coisas para ter uma atuação eficiente.

Assim, se por acaso deixei entender que precisa "passar pela musica
clássica" para fazer os "metiers do som", não quiz dizer isso.

Mas, para fazer os "metiers do som" (E ISSO SERIA UM DESDOBRAMENTO DO QUE
DISSE EM MEU E-MAIL ANTERIOR) é preciso ter ALTERIDADE NOS OUVIDOS.
E para isso, cultura ampla e solidas bases são fundamentais.

Vc está falando de FORMAR PESSOAS em outros metiers além do de músico
'interprete, compositor'.

Deixo claro que sou a favor da reflexão e implementação desses NOVOS PERFIS
na formação acadêmica.

Mas sou totalmente contra formar TÈCNICOS pela metade. A formação destes,
deve ser COMPLETA. Não acho que posso neste momento discriminar tudo o que
cabe na palavra completa aqui. Preciso pensar a respeito. Mas sei que formar
PESSOAS com RECEITAS de DESEMPENHO não é desejável. Penso que devemos FORMAR
pessoas que estejam instrumentadas para CONTINUAR DE FORMANDO CONSTANTEMENTE
e que, para isso, tenham uma BAGAGEM MINIMA.

Portanto, acho indispensável que para formar um ENGENHEIRO DE SOM que deve
trabalhar, por exemplo, com orquestras, ele deve saber um certo numero de
coisas básicas e deve ter uma capacitação mínima, como por exemplo,
indentificar problemas de execução musical com ouvido apurado, propor
soluções criativas para problemas de produção QUE SEJAM PERTINENTES ao
estilo e genero do que está gravando. O mesmo ENGENHEIRO, para gravar uma
'cozinha' de jazz, deve dominar UM OUTRO TANTO DE COISAS. E ainda, para
gravar e produzir um SPOT publicitário, deve dominar ainda um OUTRO TANTO DE
COISAS. 

Gostaria de deixar claro que o que estou propondo não é que o TRONCO DOS
METIERS DO SOM seja a 'música erudita', mas que o TRONCO DOS METIERS DO SOM
tenha ramificações significativas e suficientes NAS PRATICAS MUSICAIS das
atividades fim às quais se dedicará.

E estou de acordo que existam atualmente NOVAS ATIVIDADES FIM, assim como o
foi a FOTOGRAFIA no inicio do final do séc. XIX inicio do Séc. XX, como 'um
ramo da pintura'. Essas novas atividades estão em formação e, de fato,
questionam meu modelo de abordagem, estou ciente disso. Mas precisamos
partir de algo que seja pelo menos um consenso inicial, senão estaremos
provocando uma fragmentação da qual não estou certo que seja o melhor
caminho.

VOLTANDO A MINHA PROPOSTA ANTERIOR

Acredito que se nossos jovens estudantes puderem ter algumas ferramentas a
mais na sua formação eles poderão ter um desempenho melhor nas suas
atividades futuras e poderão aplicar com mais eficiência tudo o que
aprenderam e que puderam adquirir em decorrencia disso.

Não proponho CONJUGAR PERFIS no processo de formação, por exemplo,
COMPOSITOR-ENGENHEIRO DE SOM. Isso é um equivoco.

Mas proponho que o COMPOSITOR saiba o que se passa em outras atividades,
como por exemplo, na de ENGENHEIRO DO SOM. E vice-versa, que o ENGENHEIRO DE
SOM saiba o que se passa na COMPOSIÇÃO e nas ESCRITURAS MUSICAIS. E que cada
um tenha seu perfil especifico determinado.

Estou de acorco com o que Vc colocou, somente procuro expressar melhor o que
penso e o que quiz dizer.

Cordialmente

José Augusto Mannis












 



 

 


-----Mensagem original-----
De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br]
Em nome de carlos palombini
Enviada em: segunda-feira, 9 de abril de 2007 00:48
Para: anppom-l em iar.unicamp.br
Assunto: [ANPPOM-L] perfis conjugados


>  Foi por isso que chamei a atenção para o o fato de que "conjugar 
> perfis com necessidades de capacitação distintas me parece um equivoco".
Este equívoco está na base de nossas Escolas e departamentos de música, que
se devotam a instrumentistas, compositores, pedagogos e, só mais
recentemente, pesquisadores. Talvez este equívoco seja uma vantagem. 
Tenho minhas dúvidas.
> Acho que seria melhor ter um Engenheiro de Som que fosse violinista, e 
> que tivesse uma cultura musical ampla, do que um Engenheiro de Som 
> somente centrado em um segmento especifico da música. Para garantir a 
> diversidade, precisamos colocar no mercado pessoas com a mente aberta 
> e com visão musical ampla.
Concordo inteiramente com sua segunda asserção, mas discordo radicalmente da
primeira. O estudo do violino contribui muito remotamente para a formação do
produtor musical. Associar o estudo do violino com a certeza de uma
"formação musical ampla" é um equívoco. A idéia subjacente aqui me parece
ser a de que "engenheiros" de som são "meros" técnicos, e um violinista não.
De meu convívio com técnicos de gravação ou produtores musicais depreendo
exatamente o contrário: que são os ouvidos destes que estão abertos para a
generalidade do sonoro (aliás, isto está em Schaeffer: tema e versão).
> Acho melhor que o pianista que acabou indo trabalhar no comércio, que 
> pelo menos tenha a chance de atuar num campo onde a música esteja 
> presente.
> O compositor que teve que ir para o mercado editorial, que pelo menos 
> seja para o segmento de música e não que se ocupe com coisas alheias a 
> seu mundo; O pesquisador que acabou trabalhando na imprensa, que seja 
> uma função onde expresse sua capacitação em arte e cultura e não num 
> setor técnico básico.
Aqui você sugere que todos os que não são pianistas, compositores ou
pesquisadores, não o são por motivos alheios a sua vontade.  Sugiro a você
colocar-se noutra posição: quem hoje em dia é tolo o bastante para querer
ser pianista, compositor ou pesquisador?
> ter uma escuta trabalhada (saber analisar uma sensação sonora; e saber 
> analisar uma expressão sonora)
Muito importante e muito esquecido!
> (saber fazer uma escuta técnica e alternar para uma escuta estética 
> com o devido controle); ter senso crítico e saber se expressar diante 
> do que acabou de ouvir (comentar com pertinencia);
Muito importante e muito esquecido!
> saber como microfonar os instrumentos (hoje nos estudios se o 
> interprete não souber como é o campo acustico de seu instrumento corre 
> o risco de sair da gravação com um som de 'metálico' sem saber porque 
> e sem saber o que fazer, pois há técnicos que não sabem isso);
O músico pode saber isso, mas mais importante é formar técnicos nesta área.
>  1) MÚSICA : interpretação, composição, pesquisa
>  
> 2) PROFISSIONAIS/PESQUISADORES LIGADOS À MÙSICA: todos os que atuam 
> para a atividade fim MUSICA ou que estudam a MUSICA à luz de outras 
> áreas do conhecimento.
>  
> 3) MÚSICOS LIGADOS A OUTROS SETORES: música aplicada, multimeios, 
> intermidias.
Sua discriminação é cartesiana, mas conservadora. No cerne da música
estariam o intérprete, o compositor e o pesquisador. O grande feito da
tecnologia musical é ter colocado em questão esta hierarquia, este círculos
do paraíso musical, se vc me permite.

Carlos
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