RES: RES: [ANPPOM-L] Area academica e area tecnica

ja.mannis ja.mannis em uol.com.br
Qua Abr 11 10:15:33 BRT 2007


Caro Jorge,
 
Creio que sua colocação seja referente ao fato de que ENSINO TECNICO seja
ministrado numa instituição de ENSINO SUPERIOR.
 
Vc tem direito à sua posição quanto a esse aspecto e respeito sua opinião.
Porém, pessoalmente, tenho outra maneira de ver a situação, de analisar o
contexto e, assim, outra opinião.
 
Pessoalmente confesso que preferiria ver muitas instituições que
assegurassem uma formação básica eficiente em música antes da universidade.
Mas não acredito que isso venha a acontecer em breve. So sei que enquanto eu
tiver energia e puder fazer alguma coisa, vou tentar fazer o que posso para
melhorar o estado das coisas que me descontentam. Sei que posso de uma
maneira ou de outra empreender ações dentro dos meios e das possibilidades
que disponho.
 
O ENSINO TÉCNICO está nas instituições de ensino superior no Brasil. Isso é
um fato constatado.
 
Minhas colocações quanto à FORMAÇÂO MUSICAL partem desse fato evidente.
 
Porém, se o assunto é sobre o fato de ter ou não ensino técnico numa
universidade, acho estamos abrindo um outro debate, distinto do anterior e
paralelo.
 
A formação básica em música antes da universidade, ou seja, em nivel de
segundo grau, não atende à demanda em quantidade e muitas vezes, mas nem
sempre, em qualidade.
 
Lembro que nos dois primeiros anos de graduação os alunos tem matérias
básicas.
 
Portanto, o ENSINO TÉCNICO já é feito atualmente na Universidade, não como
tal, mas o conteudo é identico.
 
Não podemos deixar de reconhecer isso.
 
Não seria mais correto DESVINCULAR essa formação básica do ENSINO SUPERIOR?
 
Portanto, se é sobretudo na Universidade que esse ensino básico é ministrado
(por falta de instituições que atendam à demanda em nivel técnico e de
segundo grau), me parece pertinente que seja na Universidade (no lugar onde
esse ensino é praticado) que ele possa passar por um processo de adequação e
transformação. 
 
Cordial abraço,
 
José Augusto Mannis
 

  _____  

De: Jorge Antunes [mailto:antunes em unb.br] 
Enviada em: terça-feira, 10 de abril de 2007 18:57
Para: ja.mannis em uol.com.br; anppom-l em iar.unicamp.br
Assunto: Re: RES: [ANPPOM-L] Area academica e area tecnica


Caro Zé Augusto: 

Porque não ter UM COLEGIO TECNICO EM MUSICA em uma universidade, ...? 


Essa sua pergunta me desmonta, me aturde, destrói totalmente meus sonhos,
meus ideais, minhas convicções porque, com ela, você me leva a um triste
banho de realidade brasileira. 
Quando nos USA ou na Inglaterra alguém faz pergunta "Why not?", tem-se logo
respostas para argumentar por uma negativa. 
O mesmo acontece na França quando perguntam "Pourquoi pas?". Imediatamente
aparecem argumentos que demovem o perguntador de suas propostas. 
No Brasil, quando alguém pergunta "Por que não?" ficamos totalmente sem
argumentos. 


Grupos de adolescentes em algumas cidades do DF não têm lazer nos finais de
semana: vivem em locais sem salas de cinema, sem teatros, sem campos de
futebol, sem nada, sem playgrounds, sem shows, sem concertos, sem shoppings,
sem dinheiro para virem ao Plano Piloto, sem zoológico. A única diversão
então passa a ser o assalto, as pichações e as formações de gangs. Vivem em
barracos sobre a lama e sob um teto de um pai desempregado e bêbado ou de
uma mãe solteira desempregada ou prostituta. 
Próximo é criado um campus avançado da UnB. Que tal oferecer as dependências
da Universidade, nos finais de semana, para eles se divertirem? Claro! Por
que não? Que tal oferecer-lhes o campus, a piscina, nas madrugadas dos dias
úteis? Claro! Por que não? 


Uns mórmons que passam vêem o alto índice de criminalidade dos jovens e
começam a fazer trabalho de proselitismo, com encontros espiritualistas.
Falta espaço coberto e confortável. Que tal oferecer-lhes uma sala da
Universidade? Por que não? 


Grandes turmas de colégios se formam, e os pobres formandos, depois de tanto
sacrifício não têm onde fazer seus bailes de formatura e suas cerimônias de
diplomação. Coitados. Que tal oferecer-lhes o Theatro Municipal? Por que
não? 


No carnaval, festa belíssima, a burguesia afrescalhada e os estilistas idem
constróem, costuram, com paetês, lantejoulas e pedras preciosas, algumas
belas fantasias para desfiles e concursos, mas não têm espaços para o
certame. Que tal oferecer-lhes o Theatro Municipal? Por que não? 


Na Universidade de Brasília vivi recentemente experiência interessante. Um
professor, nosso colega, começou a oferecer cursos de iniciação musical para
crianças aos sábados. Todas as dependências do Departamento de Música ficam
abarrotadas de crianças e de seus respectivos papais e mamães. De início eu
senti um choque de preconceito acadêmico. Como era possível aquilo, em uma
Universidade? Eu via o formigueiro de criancinhas de longe e não conhecia o
trabalho de perto: dezenas de crianças. 
Até que um dia cheguei perto, entrei em uma sala. Meus olhos se encheram de
lágrimas, fortemente emocionado. Vi cinco menininhos de uns 3 anos de idade
esfregando pequenos arcos nas cordas de violininhos. O trabalho é lindo,
emocionante. O professor se senta no chão, rodeado de criancinhas que batem
ritmos, criam, improvisam, tocam tambores, objetos, sons, ruídos. Hoje o
professor conta com 19 monitores e a meninada chega a centenas. Não dá para
chegar perto, sem o risco de pisar num neném. Sim! Agora ele trabalha também
com bebês. Dezenas e mais dezenas. 
Chorei, sim, porque fiz-me a seguinte pergunta: por que não? Ora, se o
professor não fizer isso, na Universidade, onde fará? 
Se o professor não continuar nesse sacerdócio admirável, quem dará educação
musical a essas centenas de crianças? 


Com esse raciocínio, essa humanidade, esse patriotismo, essa brasilidade,
essa emoção, essa magnanimidade, essa compaixão, essa tolerância, conhecendo
a triste realidade brasileira, claro, tudo deve ser feito para remendar
lacunas e sanar atrocidades cometidas pelo poder constituído que não oferece
condições de vida digna, não oferece emprego, nem educação de qualidade, nem
saúde, nem lazer, nem cultura, etc. 


Assim, evidentemente, por que não? A Universidade, com suas salas
confortáveis, seus aparelhos de ginástica, seus gramados, suas máquinas
xerox, seus computadores, seus sistemas de som, seus centros esportivos,
seus anfiteatros, seus pianos, pode, sim, abrigar cursos para DJs, técnicos,
copistas, assistentes de som, garçons, lutiers, jardineiros, pedreiros,
produtores, marceneiros, mestres de obras, técnicos em sonorização,
costureiras, afinadores de piano, etc, etc. São poucas as vagas oferecidas
nos Sesi e nos Sesc. 
Apesar de laica, a Universidade, nessa conjuntura de guerra civil, pode até
mesmo oferecer seus espaços para que jovens abracem religiões e credos, e
gritem, e se exorcizem, e orem em catarse, e rebolem em bailes funk, usando
essas atividades como meio e terapia para abandonarem o consumo de drogas. 
Então, nesse Brasil em situação de guerra, de pobreza, de desemprego, de
miséria, de injustiças, de escravidão, de falta de perspectivas futuras para
as novas gerações e para todo esse povo sofrido e fodido, claro, deveríamos
abrir os campi totalmente. 
Por que não? 


Abraço, 
Jorge Antunes 
  
  
  
  
  


"ja.mannis" wrote: 


  
Caro JORGE e Cara ADRIANA,

Colegas da Anppom,

Caro JORGE, sua iniciativa na UnB de oferecer aos estudantes atividades de
ciência e tecnologia aplicadas à musica, bem como música em contexto
multimeios é de fato muito boa.

Também procuramos desenvolver essas práticas na Unicamp, de diversos
aspectos.

O que defendo não é ATENDER À DEMANDA DO MERCADO. Isso já fazem as inúmeras
escolas e centros que TREINAM seus alunos. Eles aprendem rotinas, soluções
padrão e muitas atividades fim são de escopo fechado.  Falta FORMAR ALUNOS
que saibam se desenvolver e que tenham bagagem e ferramentas para isso. Os
treinados repetem as soluções que aprenderam nas apostilas. FALTAM
estruturas para FORMACÃO COMPLETA. Para treinamento já existem diversas
opções.

As praticas TÉCNICAS são, para mim, muito importantes. Eu mesmo formei minha
maneira de trabalhar e minha abordagem da matéria sonora através de
atividades técnicas. Agora é que estou formulando em formato ACADEMICO, com
um Doutorado, o que desenvolvi. Se tivesse feito outro caminho nao teria
descoberto muitas coisas importantes que descobri, justamente porque fiz
outro trajeto. E acredito que as atividades técnicas tem muitos subsidios à
dar à outras atividades, cientificas / artísticas.

Contudo, está claro para mim que seria um equívoco MISTURAR métodos de
ensino e pesquisa (desenvolvimento/criação) entre PERFIL TÉCNICO e PERFIL
CIENTÍFICO (no cientifico incluo o ARTISTA NA UNIVERSIDADE). Mas seria
também um equivoco ignorar e desprezar o FAZER ARTISTICO o FAZER TÉCNICO e
todo tipo de KNOW HOW dos chamados `TÉCNICOS`.

Já formei alunos que fizeram trabalhos de acústica em afinação de teclados.
E foi de fato uma atividade excelente. Foram comparados diversos tipos de
afinação e o aluno pode colocar como tal ou tal tipo de afinação se adequam
a tal ou tal estilo de música. A afinação de um teclado pode mesmo suscitar
uma tese de doutorado, dependendo da abordagem.
OK. Não é porque uma tese é feita que já se pode implementar uma DISCIPLINA
sobre a tese e mesmo... UM CURSO todo. Estou de acordo. Mas vejo que
simplesmente o que em um momento é do DOMINIO TÉCNICO num outro pode estar
envolvido em estágios avançados do dominio CIENTIFICO. 

Ao mesmo tempo NÃO CABE fazer uma graduação para (por exemplo) AFINADOR DE
PIANO, STAGE MANAGER, COPISTA... pois cada uma dessas atividades ainda não
têm estofo suficiente para isso. Mas isso não significa que a ACADEMIA deva
necessariamente ignorar o que eles fazem. Acho que há coisas muito
importantes na atividade de COPISTA. Eu mesmo fui copista das editoras
SALABERT na França. Aprendi muita coisa e tenho muitas facilidades em gerar
material musical devido a isso. E treino meus alunos em COPIAS e preparação
de material de orquestra. É uma produção bastante complexa.

Portanto o CONHECIMENTO INERENTE a essas atividades TÉCNICAS não deve ser
confundido com a ENVERGADURA DAS ATIVIDADES EM SÍ.

As atividades de um simples pedreiro nunca foram desprezadas pelos
cientistas, tecnologos, pesquisadores e estudantes de engenharia civil.

Existem técnicas que foram desenvolvidas no canteiro de obras e que passaram
ao dominio cientifico depois.

Talhar pedras pode parecer primitivo, mas chega a ser uma arte quando esse
TALHAR começa a se tornar expressivo.

Contudo, não me parece sensato fazer uma GRADUAÇÃO para MESTRE DE OBRAS (por
exemplo)

Mas é muito importante UM ESTUDANTE de ENGENHARIA CIVIL ver e saber o que
faz e como faz um MESTRE DE OBRAS.

Se os Mestres de Obras no Brasil tivessem um mínimo de formação, a
construção civil em nosso país seria diferente. A começar pelo desperdício
inutil de material e pelos atropelos de planejamento em um canteiro de
obras. De fato falta uma formação dessas!

Porque a Universidade não poderia assegurar uma atividade dessas EM NIVEL
TECNICO?

Na Unicamp temos um Colegio Técnico que forma TECNICOS em nivel de SEGUNDO
GRAU.

Porque não ter UM COLEGIO TECNICO EM MUSICA em uma universidade, com o por
exemplo faz a Pontifica Universidade Catoloca do Chile em Santiago. Os
alunos podem entrar com 12 anos. E se passarem por todas as avaliações
necessarias e exames etc. chegam ao Doutorado. Senão fazem o ingresso como
todos os outros e entram no curso pela metade, mas em nivel superior.

Acredito que a UNIVERSIDADE deva se preocupar com a FORMCAO TËCNICA EM NIVEL
TÉCNICO.

Mais uma vez: Não conjugar PERFIS DIFERENTES: TECNICO é TËCNICO, CIENTIFICO
é CIENTIFICO. CONTUDO não ISOLAR os conhecimentos entre ambos, e sim
integrá-los, de modo que UM SAIBA DO OUTRO.

Assim, um AFINADOR DE PIANO poderia ser formado numa universidade. A
Proposta da ADRIANA é muito boa: poderia ser uma atividade de EXTENSÃO.
Algumas atividades técnicas poderiam ser um MESTRADO PROFISSIONALIZANTE,
como por exemplo, ENGENHEIRO DE SOM. 

E considero que a integração de um DJ seria muito importante. O FAZER do DJ
é muito importante. Vem do fazer do RADIO, das tradicoes ORAIS. É o fazer
sobre a MIDIA. É a poética que brota do suporte. Não cabe uma GRADUACAO em
DJ. Por enquanto isso é óbvio. Mas gostaria muito de pensar em uma discplina
onde os alunos possam saber quais são as bases da expressão de um DJ. E a
partir daí poderem extrair metodos expressivo, tecnicas de ação, gestos de
linguagem. De fato, os produtos de um DJs de modo geral são pertinentes a
estilos e estietcias particulares. Mas se mudarmos o material e os
objetivos, temos um novo instrumento (no sentido tradicional do termo e não
no sentido schaefferiano).

Considerando os CURSOS SUPERIORES DE MUSICA no Brasil há uma falta evidente
de estruturas para assegurar formação solida em musica em nivel de segundo
grau.

Os alunos acabam tendo que fazer um CURSO SUPERIOR de 5 ANOS no qual os 2
primeiros são o CONSERVATORIO 'espremido'.

A Universidade poderia assegurar a FORMACAO DE SEGUNDO GRAU especializada,
associada `as escolas de sua cidade, e depois, pouco a pouco, a GRADUACÃO se
reduziria de 5 anos para 3 anos. Nossos alunos estariam com Pos-Graduacao
completa (Ms + Dr) aos 25 anos. Isso não ocorre muito agora.

Assim, ao escolher um curso técnico em música, um estudante de segundo grau
poderia OPTAR por TECNICO EM MUSICA em uma MODALIDADE "X" na qual ele possa
adquirir conhecimentos para AFINADOR DE PIANO entre outros. Poderia também
EVIDENTEMENTE fazer uma MODALIDADE TECNICA "Y" para INTERPRETE
INSTRUMENTISTA. Ou Talvez "W" para COMPOSICAO. Ou mesmo "Z" para
Etnomusicologia básica, etc. Há muitas possibilidades. Não estão todas aqui,
somente algumas para exemplificar. Talvez nem sejam as denominações certas,
pois estou pensando junto com Vcs. Mas seria algo nesse caminho o que vejo.

Cordial abraço

Mannis


















































 
  _____  

De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br]
Em nome de Lopes Moreira 
Enviada em: terça-feira, 10 de abril de 2007 08:52 
Para: ANPPOM 
Assunto: Re: [ANPPOM-L] Area academica e area tecnica 
 
Caros colegas, Não seria papel da extensão universitária o oferecimento de
cursos para a formação de Técnicos, Copistas, DJs, Técnicos em sonorização,
Afinadores de Piano, Produtores, Redator de Release, Assistente de som, etc?
Abraços a todos,Adriana Lopes Moreira (USP)
  _____  

De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br]
Em nome de Jorge Antunes 
Enviada em: segunda-feira, 9 de abril de 2007 11:55 
Para: anppom-l em iar.unicamp.br 
Assunto: [ANPPOM-L] Area academica e area tecnica 
 
Caro Mannis: 

Acho que estamos quase de acordo. 
Mas existe um aspecto que, por ser comum em minha seara, pensei que fosse
óbvio e também comum nas outras Universidades brasileiras. 
Aqui na UnB o estudante que faz o curso de Composição faz, além das
disciplinas tradicionais (harmonia, contraponto, fuga, análise,
instrumentação, orquestração, etc), estas outras: Prática de Gravação,
Tecnologia Musical (síntese, análise, ressíntese, C-sound, softwares),
Acústica Musical (a Física do som, Psicoacústica e Acústica de Salas),
Música Eletroacústica (softwares de gravação, processamento, montagem,
edição, mixagem). 
A penúltima vez que ministrei Estágio Supervisionado em Composição Musical
(disciplina do último semestre, em que se prepara o concerto de formatura),
fizemos realização conjunta com o Departamento de Comunicação: os formandos
em Composição Musical compuseram as trilhas sonoro-musicais para os filmes
dos formandos em Cinema. 
O que temo é, na Universidade, para atender à demanda do mercado, começarmos
a abrir cursos de um e dois anos para formação de Técnicos, Copistas, DJs,
Técnicos em sonorização, Afinadores de Piano, Produtores, Redator de
Release, Assistente de som, etc. 
Profissionais nessas áreas, com excelência, devem ser formados. Mas não na
Universidade. Técnicos na área musical, aqui em Brasília, são formados no
Ensino Médio: na Escola de Música de Brasília. 
Em todas as Unidades da Federação deveria haver Ensino Médio e Técnico
nessas áreas técnicas. 
Abraço, 
Jorge Antunes

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