[ANPPOM-L] FW: Flo & Villa

Jos=?ISO-8859-1?B?6SA=?=Luiz Martinez rudrasena em uol.com.br
Seg Ago 13 22:49:44 BRT 2007


------ Forwarded Message From: Eduardo Guimarães Álvares
<eduardogalvares em uol.com.br> Date: Mon, 13 Aug 2007 22:22:42 -0300 To: José
Luiz Martinez <rudrasena em uol.com.br> Cc: silvio <silvio.ferraz em terra.com.br>
Subject: Re: Parar para se pensar!!!

Parar para se pensar!!!

Prezado Florivaldo

Como recebi um e-mail diretamente enviado por você, teço aqui minha opinião
baseada nos dados que ele continha:

Primeiro você reclama que toda a riqueza dos assuntos abordados em sua
entrevista foram ofuscados pelo seu comentário tecendo juízos de valor sobre
a obra de Villa-Lobos. Por que será?

Segundo, seu comentário sobre a quantidade e qualidade de obras boas e ruins
de Villa-Lobos é baseada em qual quantidade de música que você conhece por
partituras ou escutou, em gravações com um bom nível técnico e musical?
Quanto da obra do Villa é conhecida ou registrada em gravações com boa
qualidade ou estão disponíveis em partituras devidamente editadas e
revisadas?

Terceiro, seu comentário: "artistas pouco exigentes, como Villa-Lobos, e que
escreviam pelos cotovelos, apenas terão reconhecimento como "gênios" dentro
dos limites, bastante restritos, de nossa "nação brasileira". Bom, o Olivier
Messiaen, professor de Boulez, que eu não considero um compositor "menor",
fez alguns comentários positivos sobre alguns aspectos da música do Villa.
Ou seja, o interesse por sua música ultrapassou um pouco as nossas fronteira
nacionais.

Tenho certeza que, tanto para o bem quanto para o mal, a obra com altos e
baixos do Villa é referencial dentro da história da música brasileira.

Juízos muito gerais sobre compositores grandes ou menores, ou pior ainda
"geniais", só demonstram que tratamos a cultura musical brasileira sem a
devida seriedade, pois só a pesquisa, o estudo e a análise sérios poderão
avaliar sua real importância. Assim como é feito, penso eu, com as grandes
obras dos gênios internacionais.

Um abraço

Eduardo Guimarães Álvares


----- Original Message ----- From: Flo Menezes To: Lauro Machado Coelho Cc:
revistatropico em uol.com.br ; Humberto Pereira da Silva ; João Luiz Sampaio
Sent: Monday, August 13, 2007 9:32 AM Subject: Parar para se pensar!!!


Prezado Lauro Machado Coelho,

chegaram-me a meu conhecimento comentários (sempre benvindos quando vêm de
críticos de sua estatura) acerca de minha recente entrevista na UOL, pelas
vias de um blog e de uma recomendação a minha entrevista por parte do
jornalista João L. Sampaio, a quem tomo a liberdade de enviar uma cópia
desta minha mensagem, juntamente com outras pessoas que me são caras.

Refiro-me mais precisamente às linhas abaixo, escritas por você, transcritas
ao final desta minha mensagem.

Gostaria de registrar aqui minhas impressões, dada a responsabilidade de
homens da imprensa que são tanto vc quanto o João L. Sampaio.

Minha entrevista na UOL
(http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2880,1.shl), respondendo a
perguntas muito bem elaboradas pelo filósofo e crítico de cinema Humberto
Pereira da Silva (a quem tb envio esta mensagem, para seu conhecimento),
versa sobre diversos aspectos de minha postura estética e é, sem sombras de
dúvidas, uma das melhores que concedi até hoje, ao longo de meu percurso
criativo.

Nela falo de diversos aspectos de minha produção, elucidando inclusive
muitas das noções que introduzo em meus escritos e pelas vias de minha obra
musical:


a.. conceito de maximalismo b.. noção de "laborinto" (em Berio etc) c..
noção de "perder-se para achar e procurar" d.. referências a Trotsky e..
comentário sobre a relevância da tonalidade e sobre sua prática no dia a dia
f.. sobre os "sistemas" em arte e sobres seus "esgotamentos" g.. sobre o
capitalismo tardio h.. sobre a pertinência de novas proposições estéticas e
o Novo i.. noção de especulação no terremo na criação musical j.. a relação
entre música e afetos k.. noção de que "gosto se discute" em arte l.. noção
da música como "matemática dos afetos" m.. a música como a mais difícil das
artes n.. a questão da "tecnicidade musical" o.. a música como uma espécie
de "maçonaria" p.. a importância de se ouvir o silêncio q.. o papel inovador
de Cage r.. a relação novos meios / novos sons s.. a relação entre meios e
fins em arte t.. a relação entre sons e contexto u.. a defesa da
radicalidade estética (de cunho adorniano) v.. a relevância da autenticidade
na criação artística w.. a tripartição poundiana entre mestria, invenção e
diluição em arte x.. a questão em torno da genialidade e a noção de gênio
y.. comentários sobre a MPB z.. as diferenças e desavenças nos meandros da
Música Nova aa.. cometários sobre a música dos DJs ab.. música e sociedade
ac.. a importância dos ritos e sua relatividade ad.. a noção de u-topia ae..
a questão acerca da música "européia", que tanto me imputam af.. a proposta
utópica de uma nacionalidade post-mortem ag.. comentário sobre o
nacionalismo ah.. Freud e o Novo ai.. a perversão e o Velho aj.. sobre
Wagner ak.. defesa da pretensão em oposição à presunção e à prepotência al..
os resíduos da história e sua relação com a criação atual am.. Demócrito,
Merleau-Ponty, Barthes an.. a relação entre música e matemática ao.. a
relação entre a complexidade maximalista e a velocidade da luz ap.. a defesa
das simultaneidades, do labirinto criativo, das ramificações aq.. sobre o
acorde de Tristão e as entidades harmônicas ar.. relação entre ruptura e
progresso: noção de "transgresso" as.. a arte como campo flexível at.. os
baluartes da vanguarda musical au.. a situação da música no Brasil av..
comentário sobre Villa-Lobos aw.. aspectos (parâmetros) da textura sonora
ax.. o serialismo integral e a aversão cega dos nacionalistas ay.. a
diferença entre a complexidade em Berio e em Ferneyhough az.. balanço
crítico da Nova Complexidade de Ferneyhough ba.. a noção de Manoury sobres
arquipélagos da contemporaneidade bb.. sistemas de referência comum em
música e sua superação na atualidade bc.. a importância das novas
tecnologias bd.. sobre a divulgação da música be.. minhas atuações à frente
do Studio PANaroma bf.. a condenação das concessões em arte bg.. a
referência à imagem do "rio" em arte (Joyce, Berio, Heráclito etc)


Por tudo isto, espanta-me (sem surpreender-me!) como algumas pessoas se
ativeram ao "simples" e direto comentário que fiz acerca da obra de
Villa-Lobos e se silenciaram sobre todas as demais questões, a meu ver MUITO
mais importantes do que essa discussão. (Até mesmo email anônimo e
desrespeitoso cheguei a receber... não tiveram sequer a coragem de assinar a
mensagem).

Quando vc "sai em defesa" de Villa-Lobos (que vc afirma ser uma "chuva no
molhado", com o quê sinceramente discordo!), tece comentários bastante
pertinentes, e concordo com boa parte deles, especificamente com relação às
boas obras de sua autoria a que vc se referiu.

Minha opinião acerca do que vem a constituir um GRANDE compositor não se
altera, porém, substancialmente em nada: a proporção entre as obras
medíocres e as obras geniais tem de ser nitidamente favorável, na balança,
às obras geniais, e isto de modo muito claro e evidente, como foram os casos
de Webern, Berg, Schoenberg, Berio, Stockhausen, Stravinsky (e não de
compositore menores, tais como Shostakóvitch, Martinu e Milhaud, que vc cita
como exemplos - sei que estou pondo lenha na fogueira, mas é minha opinião
sincera...).

Ademais, não vejo como pertinente a comparação entre a música que se
praticou a partir do início do século XX, em plena era da indústria cultural
e diante das "rupturas" com os velhos códigos, "promulgadas" por Schoenberg
e outros, com as práticas da música barroca, clássica e mesmo romântica: os
critérios de excelência, naquelas épocas (sobretudo na música barroca e
clássica) dobravam-se comumente às exigências de uma produção ininterrupta,
socialmente subalterna às "necessidades" religiosas ou das cortes. Algo,
pois, bem diverso da época dita "moderna", em que o critério da criação
autônoma, por mais relativa que possa ser tal autonomia, norteia o pensador,
e na qual se deve constantemente "parar para pensar", para que quando se
faça algo, se faça o MELHOR e sobretudo o que se DESEJA fazer! Pensemos, por
exemplo, em Berg, Webern ou Boulez, com o rigor de suas (poucas, porém
vastas, ao menos no que tange às suas ramificações posteriores) obras!!!

Concluindo, é preciso que acordemos para a discussão de tantos outros
aspectos mais interessantes do que nos sentirmos afetados ou agredidos
diante da constatação de que artistas pouco exigentes, como Villa-Lobos, e
que escreviam pelos cotovelos, apenas terão reconhecimento como "gênios"
dentro dos limites, bastante restritos, de nossa "nação brasileira".

Grande abraço a todos.

___ Comentário de Lauro Machado:

A respeito da entrevista de Flo Menezes: Ninguém é "forçado a venerar
Villa-Lobos como o gênio nacional", é claro. Mas é uma simples questão de
justiça reconhecer que o Brasil nunca produziu outro compositor tão
completo. A obra de Villa-Lobos é irregular, sim. Como todo compositor que
escreve com extrema facilidade, o excepcional, em sua obra, se acotovela com
o medíocre, é verdade. Isso acontece com outros autores do século XX (sem
mencionar os prolíficos autores do Barroco ou do Classicismo). Eu citaria
Dimitri Shostakóvitch, Bohuslav Martinu e Darius Milhaud, que são igualmente
ecléticos e desiguais. Mas nem por isso questionamos a genialidade deles.

Na verdade, que outro compositor brasileiro praticou todos os gêneros --
inclusive a ópera -- com igual número de acertos? (a afirmação de Flo
Menezes de que as peças medíocres superam as excepcionais não resiste,
acredito, a uma simples avaliação aritmética).

Não são só as Bachianas e os Chôros, no domínio da música orquestral. Os
quartetos de cordas estão entre as coleções mais importantes do século XX. E
a música para piano tem verdadeiras preciosidades, entre elas, coisas como
as Cirandas e o Guia Prático -- recentemente gravado pela Clara Sverner -
que mapeam a riqueza melódica e rítmica do cancioneiro luso-brasileiro. Há,
na música de câmara, coisas de uma originalidade gritante, como o Noneto. E
o repertório das canções é um setor a ser ainda explorado com mais
profundidade.

Sair em defesa de Villa-Lobos, a esta altura do campeonato, é chover no
molhado, eu sei. Só queria dizer que não preciso fazer esforço algum para me
orgulhar de o Brasil ter produzido um artista dessa estatura. ___

Flo Menezes CP 141 06803-971 - Embu - SP Brasil

- - - Compositor & Diretor Artístico do Studio PANaroma e do PUTS -
PANaroma/Unesp: Teatro Sonoro

Tel & Fax: ++55/11/4781-6775 Celular: ++55/11/8282-0960 Studio PANaroma:
++55/11/6166-6513 email: flomenezes em uol.com.br web:
http://flomenezes.sites.uol.com.br

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