[ANPPOM-L] Assuntos artisticos no DF

Jorge Antunes antunes em unb.br
Sáb Fev 3 12:11:22 BRST 2007


Assuntos artísticos
Jorge Antunes
Professor titular da UnB

O Diário Oficial do DF de 19 de janeiro de 2007, em sua página 18, tornou pública uma notícia alvissareira para as artes no Distrito Federal: o pianista Ira Philip Levin foi nomeado pelo governador Arruda para exercer o Cargo de Natureza Especial, símbolo CNE-05, de Assessor Especial para Assuntos Artísticos, da Secretaria de Estado de Cultura do Distrito Federal.
A Secretaria de Cultura do DF sempre foi carente de um especialista que pudesse orientar o detentor da pasta para um bom norteamento dos rumos artísticos na política cultural do governo local.
O senhor Philip é artista de grande experiência, tendo sido pianista correpetidor da ópera de Dusseldorf. Esse norte-americano de vivência internacional, freqüentador dos maiores museus, dos melhores shows, dos melhores teatros e salas de exibição do mundo, tem condições de ser um bom assessor para questões artísticas. Certamente ele está apto para apontar soluções para os sérios problemas que afligem o Museu de Arte de Brasília, o Espaço Cultural da 508 Sul, o Planetário, a Casa do Cantador, o Fundo de Apoio à Cultura, etc.
Para completar o bom cenário, agora só faltam serem escolhidas as pessoas certas para a direção daqueles espaços e ser nomeado um bom maestro para a Orquestra do Teatro Nacional.
Em 1990 e 1991, quando eu integrava o então recém-implantado Conselho de Cultura do DF como representante da comunidade cultural, por esta eleito, usei de importante prerrogativa legal de Conselheiro: propus a convocação de personalidades do governo para prestarem esclarecimentos sobre fatos referentes a seus cargos públicos. O primeiro convocado foi o Sr. José Roberto Arruda, então diretor do Pólo de Cinema e Vídeo. O outro convocado foi o Sr. Silvio Barbato, regente da Orquestra do Teatro Nacional.
O Sr. Arruda compareceu à reunião do Conselho especialmente convocada para aquele fim, com humildade e comunicabilidade. Sua chegada à reunião arrefeceu, de imediato, animosidades e durezas de perguntas. A questão em pauta era a inoperância do Pólo de Cinema. A lei determinava que o convocado não era obrigado a comparecer pessoalmente, podendo enviar esclarecimentos por escrito. A sua presença física, de peito aberto, deu lugar a expressivos silêncios e condescendências da maioria do Conselho. As perorações eloqüentes do convocado, com suas explicações, nada explicaram.
A argüição ao outro convocado, Sr. Silvio Barbato, era bem mais grave, porque se referia à ilegalidade de sua conduta: a programação da orquestra não vinha cumprindo a Lei nº 385, de 26 de janeiro de 1937, que "obriga a inclusão de obras de autores brasileiros em qualquer programa musical".
Barbato não quis comparecer à reunião do Conselho de Cultura: enviou seus esclarecimentos por escrito. A desfaçatez e a impudência caracterizavam seus argumentos. Para tentar justificar que as atividades da orquestra não fugiam muito do cumprimento da lei, relacionou as obras musicais brasileiras executadas em seus concertos. Nessa lista se destacavam o Hino Nacional Brasileiro, o Hino Oficial de Brasília e algumas obras de Villa-Lobos.
A inclusão de hinário cívico no relatório era cinismo, porque era flagrante o escárnio para com o espírito da lei protetora da vasta e rica produção da música sinfônica brasileira. Na galeria da majestosa produção musical nacional existem centenas de outros compositores brasileiros além de Villa-Lobos.
O corrente ano de 2007 deveria ser de festa nos palcos brasileiros, para a comemoração dos 100 anos de Camargo Guarnieri e de José Siqueira. Tendo em mente a necessidade de festejarmos esses compositores, acorre-me de imediato a pergunta: como será a programação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional este ano?
Urge que o Teatro Nacional seja colocado sob a administração técnica e artística de uma equipe que se comprometa com a tão rica produção musical nacional. Com a assessoria para assuntos artísticos, nomeada recentemente, e com um bom maestro para a orquestra, que seja engajado com a música brasileira, nosso Teatro Nacional poderá começar a dar vida ao sonho de termos Brasília como um importante centro cultural. Nosso majestoso teatro precisa de uma temporada de ópera. É vergonhoso vermos Manaus, Belo Horizonte e São Paulo à frente do Distrito Federal na tarefa de sustentação da tradição operística brasileira. Em 2006 foram estreadas, em São Paulo, cinco óperas novas de cinco compositores brasileiros.
Um bom comando para nossa orquestra há de levar esta unidade da federação às páginas da história da música brasileira. Precisamos não correr o risco de uma volta aos vícios do início dos anos 90, quando a música brasileira do repertório de nossa orquestra se restringia ao Uirapuru e ao Uvirundu.
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