[ANPPOM-L] Fundação Getulio Vargas destrincha a economia do funk

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Ter Jan 20 07:01:44 BRST 2009


Funk dos milhões
Levantamento da Fundação Getulio Vargas destrincha a economia do funk
e mostra que gênero movimenta R$ 10 mi por mês só no Estado do Rio

Hudson Pontes - 31.mar.08/Agência Globo

Público em baile no Castelo das Pedras, o "palácio do funk",
localizado em Rio das Pedras, na zona oeste da capital fluminense

BRUNA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Estudo realizado pelo instituto de pesquisa da Fundação Getulio
Vargas, o FGV Opinião, deixou as batidas e os versos provocativos do
funk de lado para analisar o gênero por sua perspectiva
socioeconômica.
Realizada entre 2007 e 2008 na região metropolitana do Rio, o berço do
"pancadão", a pesquisa ouviu agentes envolvidos na produção do funk,
como DJs, MCs (autores e intérpretes de suas faixas) e equipes de som
(que promovem os bailes e fornecem seus aparatos), além de camelôs que
faturam com as festas. As mais de 400 entrevistas mapearam relações e
mostraram que o gênero movimenta cerca de R$ 10 milhões por mês no
Estado do Rio.
Hermano Vianna, autor do pioneiro estudo "O Mundo Funk Carioca"
(1988), acredita que esse tipo de pesquisa ajuda a esclarecer o
funcionamento do gênero e que deveria ser mais frequente também em
outras áreas. "Não é um problema só do funk. A produção cultural
brasileira tem poucos censos econômicos. A cultura perde, com isso,
muitas oportunidades na comparação com outras atividades econômicas
mais organizadas", avalia.
"Conseguimos mostrar com essa pesquisa que o funk é um mercado de
trabalho e de produção econômica", diz Marcelo Simas, pesquisador da
FGV Opinião. O instituto já havia se debruçado sobre outro gênero, o
tecnobrega, em pesquisa compilada no livro "Tecnobrega: O Pará
Reinventando o Negócio da Música", de Ronaldo Lemos e Oona de Castro.
Fenômeno no norte do país -numa realidade econômica bem diferente-, o
tecnobrega movimenta R$ 5 milhões por mês em Belém, metade do que o
funk movimenta no Rio.

Cadeia produtiva
Os dados mostram que é o MC quem mais fatura na cadeia produtiva do
funk, ganhando, em média, R$ 4.140,19 mensais. "Até então, muitos
achavam que o dono da equipe de som era o principal articulador dessa
cadeia produtiva. Ele de fato arrecada o dinheiro e faz os pagamentos,
mas o MC é o agente mais lucrativo", diz a pesquisadora Elizete
Ignácio, da FGV.
A partir de 2003, os MCs começaram a se desligar das equipes de som e
a conquistar um espaço próprio. De acordo com o estudo, eles fazem uma
média de 35,2 apresentações por mês, enquanto DJs se apresentam 29,5
vezes no mesmo período.
Segundo Ignácio, uma das grandes queixas dos entrevistados é quanto à
instabilidade do mercado. "As pessoas entram e saem do funk a todo o
tempo. O tempo médio de carreira é muito baixo", diz. DJs e equipes de
som trabalham, respectivamente, 13 e 15 anos, em média. O tempo médio
de carreira do MC é mais curto -nove anos.
Os DJs, que até a década de 1990 tocavam de costas para o público nos
bailes, são apontados como os principais responsáveis pelas inovações
musicais e vêm diversificando suas funções -seja apresentando
programas de rádio, seja atuando como empresários de MCs, com quem
costumam ter uma relação mais harmoniosa do que com as equipes de som.
Segundo o estudo, a informalidade que rege cachês e contratos gera uma
série de atritos e acusações entre os agentes. Há dois anos, porém,
vêm surgindo associações que pleiteiam a formalização das relações
econômicas e de trabalho.
As equipes de som promovem uma média de 878 bailes por mês no Estado
do Rio de Janeiro. Para realizar mais de uma festa por noite,
dividem-se em subequipes e recorrem a aluguel de equipamentos.
Apesar de faturarem mais nos bailes em clubes (em geral quadras de
esportes ou danceterias da cidade) do que naqueles promovidos dentro
das chamadas comunidades (praças, quadras e escolas de samba), as
equipes não deixam estas últimas de lado. Entre as razões, estão a
"gratidão" pelo fato de as comunidades terem abrigado o funk quando
ele foi reprimido pelas autoridades do Rio, nos anos 90, e o fato de
elas ainda serem plataformas para lançamento de artistas e sucessos.
Os bailes também sustentam uma rede de camelôs -cerca de seis
vendedores por festa fora das comunidades. Com o funk, apontado no
estudo como sua principal fonte de renda, faturam por mês R$ 957,47.
"Todo esse mercado foi criado nas duas últimas décadas, sem ajuda da
indústria cultural estabelecida", diz Vianna. "Não conheço outro
exemplo tão claro de virada mercadológica na cultura pop
contemporânea. O funk agora tem números claros, que mostram uma
atividade econômica importante, que pode assim ser levado a sério pelo
poder público."

-- 
carlos palombini
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