[ANPPOM-L] Res: RES: Qualidade_formação_músicos_no_Brasil

silvioferrazmello silvioferrazmello em uol.com.br
Seg Abr 4 11:09:19 BRT 2011


Edilson Rocha tem razão.
Hoje saiu matéria no estadão sobre o caso OSB (matéria assinada por Eleazar Filho), anteontem Antonio Menezes assinou também matéria.
Imaginem duas situações:

Situação 1;
Contratata-se um bom músico q tem por volta de 25 anos, pago a ele um ótimo salário, coloco o dito cujo frente a um repertório de ponta (que inclui música do século XX...experimental, não água com açucar)...ou seja, dou a ele todas condições de crescer...10 anos depois submeto o cara a um programa de reavaliação.
ok, o cara teve todas condições e daí depende como vai ser a coisa.

Situação 2:
Contrata-se um bom músico q tem por volta de 25 anos, pago mal pra cachorro, permito que toque em todos os casamentos da cidade todos os dias depois do ensaio, faço tocar repertório B durante anos a fio, ou seja ...dou a ele toda condição de sucumbrir...40 anos depois, ele já velho e acabado, o submeto a um programa de reavaliação.
ok, o casa se ferra ou realmente era acima da média e por vias que desconheço e que não foram por mim favorecidas ele se sai bem.

Este é o problema da OSB, foi o problema da OSESP.

Roberto Mincsuk pode estar certo em querer ter uma boa orquestra, mas o pacto no início era o de pão com água...muitos músicos se acabaram na OSB, assim como aconteceu na velha OSESP.
Técnica de músicos é estudar todos os dias, é ter desafios de repertório novo, é ter desafio de concerto importante...um cara que passou a vida toda sendo jogado e um lado a outro com salário muito ruim, sem acesso a novas partituras, estudando em salas reverberantes, tocando em praças públicas com gente gritando...ora, é quase fatal que não tenha mais as condições de um jovem pescado em NY ou Berlim.

Estamos diante de um problema ético e não apenas técnico. O problema está em "renovar" uma orquestra...é como reformar casa antiga...melhor é criar uma nova orquestra, novo padrão, novas regras, outras condições...etc, para a qual se dá a oportunidade a qq pessoa de concorrer. O estado e as empresas tem de ter sensibilidade para isto e gastar um pouquinho mais mantendo dois organismos.

Abs,
Silvio Ferraz

On Apr 2, 2011, at 1:52 PM, Edilson Rocha wrote:

> Saudações a todos
> A questão das orquestras no Brasil é sistêmica. Ainda hoje, a música dita "erudita" não é considerada como valor (vide também Swanwick) pela nossa sociedade. Mal comparando, mas acreditando a comparação válida, me atrevo a lembrar do futebol. Do Brasil sai a maior quantidade de craques no mundo, porque o futebol aqui é praticado e disseminado por quase todos e em toda parte. Em geral, é mais valorizado ser bom de bola do que ser violoncelista, por isso aqueles ganham mais e são exaltados nos estádios por milhares. Pode-se dizer que na Venezuela, salvo engano, é o contrário: a música dita "erudita" se disseminou de tal forma em sua sociedade que possui o tal valor, e os resultados são os conhecidos. Nossas orquestras tem dificuldades em geral por este fator social, que torna a carreira difícil, pouco valorizada, mal remunerada, e dependente dos mecenas modernos, ou seja o Estado e as empresas.
> O desejo de se equiparar as nossas orquestras com as melhores do mundo, de maneira rápida conforme os patrocinadores gostam, leva à iniciativas consagradas mais pelos resultados do que pelos métodos, como a da OSESP, que acabou se tornando guia e exemplo para outras iniciativas. Todo mundo quer fazer igual, o que colaborou para muita tensão, e para o êxodo de músicos advindos da rica tradição "erudita" do leste europeu para nossas estantes. Isto poderia até nos fazer pensar se estamos mesmo montando boas orquestras brasileiras ou boas orquestras no Brasil. 
> Naturalmente que não me oponho ao rico intercâmbio, necessário e desejável, mas este fato contribui ainda mais para o distanciamento no Brasil em relação à carreira de músico de orquestra. Não conseguimos ter a mesma prática do esterior, nem conseguimos adquirir com facilidade instrumentos tão bons, e ainda temos que disputar com grande nível de desigualdade as parcas oportunidades. Na hora que o salário aumenta, a turma é mandada embora. Minha experiência como regente, me indica que o caso é pior nas cordas e palhetas duplas, onde não temos grande tradição. A instrumentação de banda, que é grupamento disseminado no pais e tradicional, enfrenta com maior galhardia a competição.
> Outro dado curioso, é que, o jovem conhece um instrumento, se apaixona perdidamente a ponto de ficar com ele entre seis e oito horas por dia. Adquire nível, entra para a orquestra e definha. Que processo mórbido é este, que salvo as exceções de praxe, torna a orquestra não um meio de revigoramento de talentos, mas de cemitério, o que joga a qualidade musical de nossos grupos para baixo.
> Uma questão sistêmica se enfrenta de forma sistêmica. É necessário que tenhamos orquestras e coros bons de fato, para fazer bem feito, com nível internacional, a música internacional e a nossa. Para isso precisamos de muitas outras orquestras com o nível da OSESP ou melhores, assim como precisaremos deseperadamente das orquestras intermediárias, das de escola, das jovens, das infantís, de sindicato e etc. Por esta razão, não me oponho à iniciativa do senhor Minczuk, nem tampouco posso aplaudir as almas acomodadas, mas melhor seria se tal iniciativa fosse acompanhada de medidas que permitissem aos músicos ampla oportunidade de aprimoramento, com metas realistas e graduais. Num prazo de três ou quatro anos seria possível identificar quem não quer nada com seu próprio aperfeiçoamento e o de seu grupo, e estes claro, não poderão reclamar com justiça sua exclusão, posto que oportunidades e prazo foram dados. Os postos vagos poderiam ser ocupados por gente de fora, trazendo para nós algo que a gente não tem.
> Um plano inteligente de incentivo, em estima e numerário, ligado a resultados avaliados em colegiado, e o estímulo a outras inciativas de suporte seriam um santo remédio. Os resultados seriam melhores, mais amplos e benéficos para a sociedade. O problema é que demora um pouco: será que o patrocinador topa?
> Ao fim e ao cabo, não se trata somente de serem vencidas barreiras pessoais de amadurecimento musical: estas barreiras são de toda a nossa sociedade, que luta contra todo o tipo de atraso nos campos artístico e cultural.
> Abraços cá de São João del-Rei
>  
> Edilson Rocha
> Prof. Adjunto
> Dmusi - UFSJ
> Acesse o site:
> www.maestroedilsonrocha.cjb.net
> Pesquisa, regência, técnica vocal
> 
> 
> 
>   
> From: g_bortz em hotmail.com
> To: guilhermepozzi em yahoo.com; anppom-l em iar.unicamp.br; didierguigue em gmail.com
> Date: Wed, 30 Mar 2011 23:58:42 +0000
> Subject: Re: [ANPPOM-L] Res: RES: Qualidade_formação_músicos_no_Brasil
> 
> Caros,
> 
> Talvez muitos desta lista não tenham trabalhado em orquestra sinfônica no Brasil. Quando assinei o abaixo assinado contra a avaliação, escrevi, em poucas palavras nos comentários, que a estrutura vertical da orquestra não está adequada às mudanças ocorridas na sociedade moderna. Só para usar o exemplo das universidades:  o Conselho dos departamentos (ao menos funciona assim na Unesp) formado por professores, estudantes e funcionários está acima do chefe no organograma, que também faz parte do Conselho. Até o que eu saiba, em todas as orquestras no país, as comissões que representam os músicos apenas os representam, mas não têm nenhum poder de voto nas decisões, sejam elas artísticas ou administrativas. Ora, isso é descabido! Não estou sequer entrando na discussão se o Minczuk tem ou não razão (e eu penso que ele não tem), mas ele não poderia JAMAIS decidir isso sozinho sem o apoio dos próprios músicos. Isso é antidemocrático! Os músicos das orquestras são regidos pelo medo, sim, de perder o emprego, de serem humilhados em público, e se o corporativismo existe, também existem outras formas mais democráticas de dissolvê-lo. Cabe lembrar que a própria OSESP decidiu não se manifestar a respeito por medo de, no futuro, TER que dar de cara com o maestro em questão, que eles mesmos rechaçaram em voto oculto na atual sucessão de maestro titular. 
> 
> Já que não temos sindicatos decentes, ao menos temos que ter conselhos que dissolvam o poder de decisão do maestro. 
> 
> A propósito, gostaria muito de ver, também, neste momento, uma avaliação de maestros, e que os maestros brasileiros também fossem comparados com os estrangeiros. Seria interessante compará-los nos critérios: técnica, conhecimento musical (história inclusive), dinâmica de ensaio, articulação verbal e educação. Seria bom saber que Clara é Schumann, e não Schubert. Acho que ouvido absoluto não precisaria entrar no ranking, mas o nome impressiona qualquer leigo.
> 
> Abraços a todos,
> 
> Graziela
> 
> Date: Tue, 29 Mar 2011 15:14:47 -0700
> From: guilhermepozzi em yahoo.com
> To: anppom-l em iar.unicamp.br; didierguigue em gmail.com
> Subject: [ANPPOM-L] Res: RES: Qualidade_formação_músicos_no_Brasil
> 
> Definição precisa!
> Pois aquelas instituições se dedicam em tempo integral a formação de músicos, enquanto as Universidades brasileiras se dedicam em tempo integral a atender as exigências estatísticas da Capes
> 
> abcs,
> Luiz Guilherme Pozzi
> De: Didier Guigue <didierguigue em gmail.com>
> Para: Mauricio Alves Loureiro <mauricio.alves.loureiro em gmail.com>
> Cc: Aurora Neiva <auroraneiva em gmail.com>; Lista ANPPOM <anppom-l em iar.unicamp.br>
> Enviadas: Sábado, 26 de Março de 2011 9:29:16
> Assunto: Re: [ANPPOM-L] RES: Qualidade_formação_músicos_no_Brasil
> 
> Colegas
> 
> Não conheço o maestro Minczuk e pouco acompanhei a celeuma em torno da OSB. Mas enfim, cair em cima de um regente só porque quer realizar audições para tentar reerguer uma orquestra falida...
> Aliás, não vejo nada demais naquela entrevista, e só podemos concordar com o maestro quando afirma que
> "não existe uma instituição que se compare a um
> conservatório europeu ou americano."
> Pois aquelas instituições se dedicam em tempo integral a formação de músicos, enquanto as Universidades brasileiras se dedicam em tempo integral a atender as exigências estatísticas da Capes, a diferença é esta.
> (E o modelo de maestro que conhecemos provem do séc. XIX, não XVII).
> 
> Abs
> 
> Didier
> 
> Em 20 de março de 2011 20:47, Mauricio Alves Loureiro <mauricio.alves.loureiro em gmail.com> escreveu:
> Prezados músicos desta lista,
> 
> Acho que o problema que ainda persiste nas orquestras brasileiras é
> exatamente aquilo que permite os Srs. Maestros, se chamarem de Maestros, e,
> obviamente, exigindo que todos o chamem assim. Talvez seja isso que faz com
> que soe perfeitamente natural essa declaração do Sr. Maestro Minczuk:
> “...ESTOU DANDO oportunidade para os músicos da própria OSB alcançarem
> posições acima das que ocupam hoje”.
> 
> Seria mais coerente com a real estrutura funcional de uma orquestra
> sinfônica se aos regentes fossem dado o nome de Sr. Sol, para homenagear
> Luis XVI, em cuja corte essa bizarra instituição foi inventada.
> 
> Esses Maestrinhos jovens, que no contexto acadêmico seriam chamados de
> "recém-maestros", chegam a dar saudade da tirania do velho Eleazar de
> Carvalho...
> 
> Abraços
> 
> Mauricio Loureiro
> (assistente de primeira clarineta e requinta da OSESP Eleazarana)
> 
> 
> 
> De: Aurora Neiva [mailto:auroraneiva em gmail.com]
> Enviada em: domingo, 20 de março de 2011 18:10
> Para: undisclosed-recipients:
> Assunto: Qualidade_formação_músicos_no_Brasil
> 
> Prezados Colegas
> 
> Embora seja docente da área de Letras da UFRJ e não de Música, venho
> solicitar que os colegas avaliem a afirmação feita pelo Maestro Minczuk na
> revista Época (ver texto integral abaixo, especialmente trecho em amarelo)
> sobre a qualidade dos cursos de música no Brasil (“Um grande problema do
> Brasil é que nossas escolas não preparam bons músicos, com o nível de que as
> orquestras de excelência precisam”) e o uso indevido que ele está fazendo da
> OSB Jovem, como substituta da OSB profissional, conforme noticiado no
> próprio site oficial da OSB. O Sr. Minczuk, como vocês já devem saber, está
> encabeçando um processo de desintegração e desnacionalização da OSB.
> Como muitos de vocês, fiz meu doutorado no exterior, mas isso não significa
> que todos os estudantes de minha área de atuação só serão bons profissionais
> se também estudarem fora do Brasil.  Muito pelo contrário: foi feito um
> investimento em nossas formações no exterior para que pudéssemos ser
> multiplicadores de excelência em nossas áreas de atuação nas universidades
> do país, tanto nos cursos de pós como nos de graduação. E tenho certeza de
> que estamos fazendo nosso papel muito bem.
> 
>  Envio-lhes o link da petição pública contra as ações desse maestro e da
> administração da Fundação OSB. Talvez vocês concordem em se juntar aos 3314
> signatários já existentes:
> http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=OSB2011
> 
> Saudações universitárias,
> 
> Aurora Neiva
> Professora Associada
> Departamento de Letras Anglo-Germânicas
> Programa Interdisciplinar Linguística Aplicada
> Faculdade de Letras / UFRJ
> 
> Artigo da Época
> Roberto Minczuk: "Não existe desafio para os músicos"
> Em meio à revolta de mais da metade da Orquestra Sinfônica Brasileira, o
> regente afirma que só vai tocar na temporada quem for avaliado
> RAFAEL PEREIRA
> A Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) é uma das mais tradicionais do país.
> Foi criada há 70 anos por três professores da Escola Nacional de Música para
> ser a principal orquestra do país. Passou por fases gloriosas,
> principalmente sob a batuta do maestro Isaac Karabtchevsky, mas foi
> derrubada pela decadência financeira nos anos 90. A tradição ainda está lá,
> mas há muito deixou de estar entre as melhores. Quando chegou para assumir
> como maestro e diretor artístico, em 2005, Roberto Minczuk encontrou músicos
> com salários baixos e atrasados. Sua missão pessoal foi tirar a OSB do limbo
> artístico, e a fundação privada que administra a orquestra fechou
> patrocínios importantes para tornar isso possível.
> Em cinco anos, os salários dos músicos praticamente triplicaram, e Minczuk
> instituiu uma rotina maior de ensaios e concertos. Justamente quando tudo
> parecia ir bem, os músicos se insurgiram contra seu maestro. O motivo: para
> um novo salto de excelência, todos os quase 90 músicos deveriam ser
> avaliados individualmente, para ajustes técnicos. É uma medida rara,
> normalmente tomada para substituir músicos com rendimento abaixo do
> esperado. Foi o que aconteceu na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
> (Osesp), em 1997. Na ocasião, Minczuk era diretor artístico adjunto da
> Osesp, sob o comando do maestro John Neschling. O fantasma da demissão e a
> falta de participação nas decisões da instituição revoltaram os
> instrumentistas da OSB. “Discordamos do modo autoritário como a
> administração nos trata”, disse Luzer Machtyngier, presidente da comissão de
> músicos.
> Em um primeiro momento, os músicos exigiram mudanças no processo de
> avaliação. O tempo de dois meses de preparo foi considerado insuficiente.
> Além disso, pediram à direção uma reunião para discutir o repertório das
> avaliações. Logo depois, porém, reunidos em assembleia, decidiram não
> participar das audições individuais, realizadas entre os dias 10 e 18 de
> março. A comissão de músicos pediu a suspensão das avaliações, mas o pedido
> foi negado em segunda instância. Mesmo assim, mais da metade dos músicos não
> apareceu para a avaliação, e a situação segue sem solução. O caso virou tema
> internacional nas redes sociais.
> Em entrevista a ÉPOCA, Minczuk disse que os músicos que faltaram estão sendo
> contatados para uma segunda chamada. A temporada de ensaios e concertos da
> OSB começará em agosto, mas o impasse prosseguirá. Na retomada dos
> trabalhos, Minczuk afirma que contará apenas com músicos que passaram pela
> avaliação.
>   ENTREVISTA - ROBERTO MINCZUK  
> QUEM É
> Maestro e diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira, do Rio de
> Janeiro. Nasceu em São Paulo, em 23 de abril de 1967. Foi trompista prodígio
> e tornou-se profissional aos 14 anos. Foi regenteassociado da Filarmônica de
> Nova Yorke regente adjunto da Osesp, em São Paulo
> O QUE FEZ
> Depois de cinco anos à frente da OSB,exigiu avaliações individuais
> dosmúsicos para o que chamou de “salto dequalidade”, provocando revolta no
> grupo
> ÉPOCA – O senhor esperava tanta reclamação ao exigir avaliações individuais
> de seus músicos? 
> Roberto Minczuk – Estranhei porque, como músico, não faria isso. Não estou
> pedindo isso a troco de nada. A proposta é ter aquilo que sempre se sonhou e
> nunca se teve na OSB. E me dói muito, porque a maior parte das acusações não
> tem fundamento algum.
> ÉPOCA – O que os músicos ganham com isso? 
> Minczuk – Não estamos fazendo avaliações sem dar nada em troca. O piso
> salarial vai aumentar de R$ 6.200 para valores entre R$ 9 mil e R$ 11 mil.
> Atualmente tenho 13 posições abertas na orquestra. Por meio das avaliações,
> estou dando oportunidade para os músicos da própria OSB alcançarem posições
> acima das que ocupam hoje. Um violista que ouvimos nesse processo já foi
> promovido dentro do grupo. Vai ganhar mais, vai sentar mais à frente.
> ÉPOCA – Houve recusa de fazer testes? 
> Minczuk – Houve, e não era facultativo. Teremos um calendário maior, com
> ensaios à tarde – coisa que não existia – e uma exigência de dedicação
> maior. Alguns músicos não têm interesse ou disponibilidade para esse grau de
> dedicação. Nós apresentamos um programa de demissão voluntária para quem não
> estiver de acordo tomar a iniciativa de sair. As audições estão ocorrendo
> bem, mas pouco mais da metade dos músicos não está vindo.
> ÉPOCA – O medo dos músicos é da demissão. Algum músico pode ser demitido se
> não for bem durante a avaliação? 
> Minczuk – As audições não são para demitir ninguém. Nunca foi dito que isso
> aconteceria. Esse receio existe, é claro, porque pessoas já foram demitidas
> no passado recente, mas não é o caso do processo atual. Além disso, as
> avaliações são compostas de repertório que todos já tocaram e têm debaixo
> dos dedos.
> "Alguns não têm instrumento de qualidade superior. Vão ter de comprar"
> ÉPOCA – Quando o senhor demitiu algum músico da OSB? 
> Minczuk – Quando assumi a orquestra, em agosto de 2005, trabalhei 18 meses
> com eles e, depois dessa primeira fase, detectamos que a OSB era muito
> desigual, com músicos muito bons e outros com menos qualidade. Fizemos esse
> ajuste no começo de 2007 e, dos mais de 80 músicos, 14 não estavam aptos
> para acompanhar o crescimento da orquestra.
> ÉPOCA – Como os músicos reagiram? 
> Minczuk – É sempre difícil demitir, e houve muita reclamação, evidentemente.
> Uma foi sobre a falta de avaliações: “Maestro, poderia ter havido uma
> avaliação para essas pessoas antes da decisão”. Foi um dos motivos que me
> levaram a fazer as avaliações atuais, para todos.
> ,
> PROTESTO
> Os músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira em protesto que fizeram na
> semana passada contra a decisão do maestro de testá-los
> ÉPOCA – Se as avaliações atuais não são para demitir músicos com baixo
> rendimento, para que servirão?
> Minczuk – Por exemplo, em um naipe de 16 primeiros violinos, precisamos
> ouvir um por um para detectar pequenos problemas rítmicos, de afinação ou
> sonoridade. Precisamos de uma unidade perfeita. Nas avaliações que já
> fizemos, detectamos alguém que tem tendência a uma afinação mais alta, e
> outra pessoa, ao contrário, mais baixa. Em termos de ritmo, alguns são mais
> lentos e outros mais rápidos. Até em relação à sonoridade. Alguns não têm
> instrumento de qualidade superior, para a sonoridade que queremos. Com a
> nova remuneração, essa pessoa terá de investir em um novo instrumento.
> Podemos dar esse retorno ao músico e ajustar esses detalhes, fundamentais
> para o passo de qualidade que queremos. O que mais dá força em uma orquestra
> é essa uniformidade, quando ouvimos várias pessoas tocando como uma só.
> ÉPOCA – A mudança técnica de patamar pode levar a OSB a recuperar o
> prestígio que perdeu no mercado nacional?
> Minczuk – É fundamental para manter uma posição competitiva com outras
> orquestras. Com São Paulo, por exemplo. Para você atrair bons músicos,
> precisa oferecer salários atraentes. Por isso os seguidos aumentos. Se você
> compara nossa agenda com a da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, a
> Osesp, temos muito menos ensaios e concertos. Eles ganham mais em São Paulo,
> mas, proporcionalmente ao número de dias trabalhados, os músicos da OSB
> ganham mais. Nossa proposta atual é equiparar os salários com a Osesp.
> Queremos instituir a gratificação por espetáculo, o que vai aumentar sua
> renda e estimular a produtividade.
> ÉPOCA – Os músicos reclamam do pouco tempo que tiveram para se reciclar
> antes das avaliações, de dois meses. É pouco? 
> Minczuk – Para o que pretendemos, não. Na Osesp, foi uma audição para ver
> quem ficaria ou não. Lá também tivemos revolta. Os dois meses de
> antecedência dados aqui foram o período de férias, em janeiro e fevereiro,
> pagos pela orquestra. A questão não é ouvir o músico tocando uma sinfonia de
> Brahms com seis meses de treinamento, porque tocamos uma sinfonia nova toda
> semana. Quero ouvir a realidade, em que toda semana temos de preparar um
> programa de 75 minutos.
> ÉPOCA – A temporada da OSB em 2011 vai começar só com músicos avaliados? 
> Minczuk – Sim. É uma condição da instituição.
> ÉPOCA – O senhor está preparado para uma debandada? 
> Minczuk – Espero que isso seja resolvido da melhor maneira. Ainda mais
> agora, com as audições já acontecendo. Já tivemos hoje um violinista que
> faltou à primeira chamada, mas veio na segunda. Foi uma decisão sábia, e ele
> foi muito bem avaliado, correu tudo bem.
> ÉPOCA – Como o senhor compara a qualidade artística das orquestras
> brasileiras com as grandes orquestras do mundo? 
> Minczuk – Um grande problema do Brasil é que nossas escolas não preparam
> bons músicos, com o nível de que as orquestras de excelência precisam. Temos
> bons professores, mas não existe uma instituição que se compare a um
> conservatório europeu ou americano. Grande parte dos músicos, de qualquer
> orquestra profissional brasileira, aperfeiçoou-se fora do país.
> ÉPOCA – É impossível ser um músico excelente estudando em escolas
> brasileiras? 
> Minczuk – É difícil. Não pela questão técnica. O que distingue o ótimo do
> soberbo são os detalhes, o estilo, a abordagem distinta que precisamos dar a
> compositores diferentes como Mozart ou Tchaikovsky. O que faz a diferença é
> viver em um ambiente onde se dá atenção às nuances. Isso se aprende com
> professores fantásticos e com músicos que te desafiam. Quando eu e meu irmão
> começamos a estudar música na Escola Municipal de Música de São Paulo, eu
> com 9 e ele com 12 anos, estávamos na mesma classe de solfejo. Nós dois
> éramos os únicos com ouvido absoluto na sala de aula, entre mais de 20
> alunos, todos mais velhos. Quando fui estudar na escola Juilliard, nos
> Estados Unidos, na minha classe de solfejo, de 15 alunos, pelo menos dez
> tinham ouvido absoluto. O desafio é constante. No Brasil ainda não existe
> desafio para os músicos clássicos. Existe para os músicos populares. Temos
> os melhores músicos de choro, e todos vêm para o Rio aprender.
> ÉPOCA – É destino dos maestros serem vistos como déspotas? 
> Minczuk – As pessoas gostam da imagem do vilão da novela... Tem gente que
> não me conhece e fala barbaridades sobre mim. O maestro tem essa
> responsabilidade. São 90 músicos, e seguem um comando único. É uma relação
> de amor e ódio que cria uma tensão que faz bem à música. Nosso objeto de
> trabalho é a vida, o desespero, o sublime... É evidente que isso influencia
> o relacionamento. Se essa tensão for canalizada para o lugar certo, ela faz
> bem à grande arte.
> O que os músicos querem
> As reivindicações dos integrantes da Orquestra Sinfônica Brasileira
> Discutir o programa dos concertos com o maestro 
> Os músicos querem participar da escolha das obras a serem tocadas nas
> avaliações. Segundo eles, em nenhum momento foram consultados 
>  
> Mais tempo de ensaio 
> O período de ensaios foi de dois meses, e o tempo de avaliação é de cerca de
> 30 minutos para cada um. Segundo os músicos, é muito pouco 
>  
> Dividir o poder com o maestro 
> Os músicos questionam o poder de Minczuk, que ocupa simultaneamente os dois
> cargos mais importantes da OSB: maestro e diretor artístico. Eles querem
> participação nas decisões de ambas as funções
> Nenhum vírus encontrado nessa mensagem recebida.
> Verificado por AVG - www.avgbrasil.com.br
> Versão: 9.0.894 / Banco de dados de vírus: 271.1.1/3518 - Data de
> Lançamento: 03/20/11 04:34:00
> 
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
> 
> 
> 
> -- 
> Didier Guigue
> UFPB--Departamento de Música
> Programa de Pós-Graduação em Musica
> -- http://www.cchla.ufpb.br/ppgm
> MUS3--Musicologia, Sonologia e Computação
> -- http://www.cchla.ufpb.br/mus3
> COMPOMUS -- http://www.compomus.mus.br
> Didier Guigue chez l'Editeur Harmattan - http://www.harmattan.fr/index.asp?navig=auteurs&obj=artiste&no=17542
> 
> 
> LATTES: http://lattes.cnpq.br/2072946162282636
> 
>  
> ________________________________________________ Lista de discuss�es ANPPOM http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l________________________________________________ 
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