[ANPPOM-L] Discurso da nova ministra da Cultura, Ana de Hollanda

magali kleber magali.kleber em gmail.com
Ter Jan 4 14:56:38 BRST 2011


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abaixo, envio as palavras de ANNa de Hollanda. Antes, Feliz 2011!!!

Vale lembrar que ela coordenou a Câmara Setorial de Música em 2005 e foi
convidada  do Congresso da ABEM do mesmo ano!

Temos uma história com ela e agora, precisamos fortalecer os laços, pois
teremos possibilidade de uma apoiadora de nossas causas pela Educação
Musical.
Vale a pena conferir - o destaque em amarelo foi feito por mim.


Abraços,

Magali



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***Discurso de posse proferido pela nova ministra da Cultura, Ana de
Hollanda
*
Excelentíssimos Srs. ministros e ministras, senadores e deputados,
demais autoridades presentes, caríssimos servidores do Ministério da Cultura
do Brasil,

Minhas amigas, meus amigos, boa tarde.

Antes de mais nada, quero dizer que é com alegria que me encontro aqui hoje.
Uma espécie de alegria que eu talvez possa definir como uma alegria densa.
Porque este é, para mim, um momento de emoção, felicidade e compromisso.

Sinto-me realmente honrada por ter sido escolhida, pela presidenta
Dilma Rousseff, para ser a nova ministra da Cultura do meu país.

Um momento novo está amanhecendo na história do Brasil – quando,
pela primeira vez, uma mulher assume a Presidência da República. Por
essa razão, me sinto também privilegiada pela escolha. Também é a primeira
vez que uma mulher vai assumir o Ministério da Cultura. E aqui estou para
firmar um compromisso cultural com a minha gente brasileira.

Durante a campanha presidencial vitoriosa, a candidata Dilma lembrou muitas
vezes que sua missão era continuar a grande obra do presidente Lula. Mas
nunca deixou de dizer, com todas as letras, que “continuar não é repetir”.

Continuar é avançar no processo construtivo. E quando queremos levar
um processo adiante, a gente se vê na fascinante obrigação de dar passos
novos e inovadores. Este será um dos nortes da nossa atuação no Ministério
da Cultura: continuar – e avançar.

A política cultural, no governo do presidente Lula, abriu-se em
muitas direções. O que recebemos aqui, hoje, é um legado positivo de
avanços democráticos. É a herança de um governo que se compenetrou de sua
missão de fomentador, incentivador, financiador e indutor do processo
de desenvolvimento cultural do país.

Sua principal característica talvez tenha sido mesmo a de perceber que
já era tempo de abrir os olhos, de alargar o horizonte, para
incorporar segmentos sociais até então desconsiderados. E abrigar um
conjunto maior e mais variado de fazeres artísticos e culturais. Em
consequência disso, muitas coisas, que andavam apagadas, ganharam relevo:
grupos artísticos, associações culturais, organizações sociais que se movem
no campo da cultura. E se projetou, nas grandes e médias cidades
brasileiras, o protagonismo colorido das periferias.

É claro que vamos dar continuidade a iniciativas como os Pontos de
Cultura, programas e projetos do Mais Cultura, intervenções culturais e
urbanísticas já aprovadas ou em andamento – como as ações urbanas previstas
no PAC 2, com suas praças, jardins, equipamentos de lazer e  bibliotecas. E
as obras do PAC das Cidades Históricas, destinadas a iluminar memórias
brasileiras. Enfim, minha gestão jamais será sinônimo de abandono do que foi
ou está sendo feito. Não quero a casa arrumada pela metade. Coisas se
desfazendo pelo caminho. Pinturas deixadas no cavalete por falta de tinta.

Quero adiantar, também, que o Ministério da Cultura vai estar organicamente
conectado – em todas as suas instâncias e em todos os seus instantes – ao
programa geral do governo da presidenta Dilma. Às grandes metas nacionais de
erradicar a miséria, garantir e expandir a ascensão social, melhorar a
qualidade de vida nas cidades brasileiras, promover a imagem, a presença e a
atuação do Brasil no mundo. A chama da cultura e da criatividade cultural
brasileira deverá estar acesa no coração mesmo de cada uma dessas grandes
metas.

Erradicar a miséria, assim como ampliar a ascensão social, é melhorar a
vida material de um grande número de brasileiros e brasileiras. Mas não pode
se resumir a isso. Para a realização plena de cada uma dessas pessoas, tem
de significar, também, acesso à informação, ao conhecimento, às artes.
É preciso, por isso mesmo, ampliar a capacidade de consumo cultural
dessa multidão de brasileiros que está ascendendo socialmente.

Até aqui, essas pessoas têm consumido mais eletrodomésticos – e
menos cultura. É perfeitamente compreensível. Mas a balança não pode
permanecer assim tão desequilibrada. Cabe a nós alargar o acesso da
população aos bens simbólicos. Porque é necessário democratizar tanto a
possibilidade de produzir quanto a de consumir.

E aproveito a ocasião para pedir uma primeira grande ajuda ao Congresso, aos
senadores e deputados agora eleitos ou reeleitos pela população brasileira:
por favor, vamos aprovar, este ano, nesses próximos meses, o nosso Vale
Cultura, para que a gente possa incrementar, o mais rapidamente possível, a
inclusão da cultura na cesta do trabalhador e da trabalhadora. Cesta que não
deve ser apenas “básica” – mas básica e essencial para a vida de todos. Em
suma, o que nós queremos e precisamos fazer é o casamento da ascensão social
e da ascensão cultural. Para acabar com a fome de cultura que ainda reina em
nosso país.

A mesma e forte chama da cultura e da criatividade do nosso povo
deve cintilar, ainda, no solo da reforma urbana e no horizonte da
afirmação soberana do Brasil no mundo. Arquitetura é cultura. Urbanismo é
cultura. Na visão tradicional, arquitetura e urbanismo só são “cultura”
quando a gente olha para trás, na hora de tombamentos e restaurações. Isso é
importante, mas não é tudo. Arquitetura e urbanismo são cultura, também, no
momento presente de cada cidade e na criação de seus desenhos e
possibilidades futuras. Hoje, diante da crise geral das cidades brasileiras,
isso vale mais do que nunca.

O que não significa que vamos passar ao largo da vida rural, como se ela
não existisse. O campo precisa de um “luz para todos” cultural.

De outra parte, o Ministério da Cultura tem de realmente começar a pensar o
Brasil como um dos centros mais vistosos da nova cultura mundial.

Quero ainda assumir outro compromisso, que me alegra ver como uma homenagem
ao nosso querido Darcy Ribeiro. Estaremos firmes, ao lado do Ministério da
Educação, na missão inadiável de qualificar o ensino em nosso país. Se o
Ministério da Educação quer mais cultura nas escolas, o Ministério da
Cultura quer estar mais presente, mediando o encontro essencial entre
a comunidade escolar e a cultura brasileira. Um encontro que há muito o
Brasil espera – e onde todos só temos a ganhar.

Pelo que desde já se pode ver, o Ministério da Cultura, na gestão de
Dilma Rousseff, não será uma senhora excêntrica, nem um estranho no ninho.
Vai fazer parte do dia-a-dia das ações e discussões. Vai estreitar seus
laços de parentesco no espaço interno do governo. Mas, para que tudo isso se
realize, na sua plenitude, não podemos nos esquecer do que é mais
importante.

Tudo bem que muita gente se contente em ficar apenas deslizando o olhar pela
folhagem do bosque. Mas a folhagem e as florações não brotam do nada. Na
base de todo o bosque, de todo o campo da cultura, está a criatividade. Está
a figura humana e real da pessoa que cria. Se anunciamos tantos projetos e
tantas ações para o conjunto da cultura, se aceitamos o princípio de que a
cultura é um direito de todos, se realçamos o lugar da cultura na construção
da cidadania e no combate à violência, não podemos deixar no desamparo,
distante de nossas preocupações, justamente aquele que é responsável pela
existência da arte e da cultura.

Visões gerais da questão cultural brasileira, discutindo estruturas e
sistemas, muitas vezes obscurecem – e parecem até anular – a figura do
criador e o processo criativo. Se há um pecado que não vou cometer, é este.
Pelo contrário: o Ministério vai ceder a todas as tentações da criatividade
cultural brasileira. A criação vai estar no centro de todas as nossas
atenções. A imensa criatividade, a imensa diversidade cultural do povo
mestiço do Brasil, país de todas as misturas e de todos os sincretismos.
Criatividade e diversidade que, ao mesmo tempo, se entrelaçam e se resolvem
num conjunto único de cultura. Este é o verdadeiro milagre brasileiro, que
vai do Círio de Nazaré às colunatas do Palácio da Alvorada, passando por
muitas cores e tambores.

Sim. A riqueza da cultura brasileira é um fato que se impõe mesmo ao
mais distraído de todos os observadores. Já vai se tornando até uma espécie
de lugar comum reconhecer que a nossa diversidade artística e cultural é
tão grande, encantadora e fascinante quanto a nossa biodiversidade. E é
a cultura que diz quem somos nós. É na criação artística e cultural que a
alma brasileira se produz e se reconhece. Que a alma brasileira brilha para
nós mesmos – e rebrilha para o mundo inteiro.

E aqui me permitam a nota pessoal. Mas é que não posso trair a mim mesma.
Não posso negar o que vi e o que vivi. Arte e cultura fazem parte – ou
melhor, são a minha vida desde que me entendo por gente. Vivência
e convivência íntimas e já duradouras. Nasci e cresci respirando esse ar.
Com todos os seus fluidos, os seus sopros vitais, as suas revelações, os
seus aromas, as suas iluminuras e iluminações… E nesse momento eu não
poderia deixar de agradecer ao meu pai e à minha mãe, que me abriram a
mente para assimilar o sentido de todas as linguagens artísticas e
culturais. É por isso mesmo que devo e vou colocar, no centro de tudo, a
criação e a criatividade. O grande, vivo e colorido tear onde milhões de
brasileiros tecem diariamente a nossa cultura.

A criatividade brasileira chega a ser espantosa, desconcertante, e
se expressa em todos os cantos e campos do fazer artístico e cultural:
no artesanato, na dança, no cinema, na música, na produção digital,
na arquitetura, no design, na televisão, na literatura, na moda, no teatro,
na festa.

Pujança – é a palavra. E é esta criatividade que gira a roda, que
move moinhos, que revela a cara de tudo e de todos, que afirma o país, que
gera emprego e renda, que alegra os deuses e os mortais. Isso tem de
ser encarado com o maior carinho do mundo. Mas não somente com carinho. Tem
de ser tratado com carinho e objetividade. E é justamente por isso que, ao
assumir o Ministério da Cultura, assumo também a missão de celebrar
e fomentar os processos criativos brasileiros. Porque, acima de tudo, é
tempo de olhar para quem está criando.

A partir deste momento em que assumo o Ministério da Cultura, cada
artista, cada criadora ou criador brasileiro, pode ter a certeza de uma
coisa: o meu coração está batendo por eles. E o meu coração vai saber se
traduzir em programas, projetos e ações.

Sei que, neste momento, a arte e a cultura brasileiras já nos brindam
com coisas demais à luz do dia, à luz da noite, em recintos fechados e ao ar
livre. E vamos estimular e fortalecer todas elas. Objetivamente, na medida
do possível. E subjetivamente, na desmedida do impossível. Mas sei,
também, que coisas demais ainda estão por vir, das extensões amazônicas à
amplidão dos pampas, passeando pelos assentamentos da agricultura familiar,
por fábricas e usinas hidrelétricas, por escolas e canaviais, por vilas e
favelas, praias e rios – entre o computador, o palco e a argila. Porque, no
terreno da cultura, para lembrar vagamente, e ao inverso, um verso de
Drummond, todo barro é esperança de escultura.

É preciso descentralizar, sim. Mas descentralizar sem deserdar. É preciso
dar formação e ferramentas aos novos. Mas garantindo a sustentação
objetiva dos seus fazeres. Porque, como disse, muita coisa ainda se move em
zonas escuras ou submersas, sem ter meios de aflorar à superfície mais viva
de nossas vidas. É preciso explorar essas jazidas. Explorar a imensa
riqueza desse “pré-sal” do simbólico que ainda não rebrilhou à flor das
águas imensas da cultura brasileira.

Por tudo isso é que devo dizer que a atuação do Ministério da Cultura
vai estar sempre profundamente ligada às raízes do Brasil. Pois só assim
vamos nos entender a nós mesmos. E saber encontrar os caminhos mais claros
do nosso futuro.

Minhas amigas e meus amigos, antes de encerrar, quero me dirigir
às trabalhadoras e aos trabalhadores deste Ministério. De uma forma
breve, mais breve do que gostaria, mas a gente vai ter muito mais tempo
para conversar. De momento, quero apenas dizer o seguinte: seremos todos,
aqui, servidores realmente públicos. Vou precisar, passo a passo, da
dedicação de todos vocês. Vamos trabalhar juntos, somar esforços,
multiplicar energias, das menores tarefas cotidianas, no dia-a-dia deste
Ministério, às metas maiores que desejamos realizar em nosso país.

Em resumo, é isso. O que interessa, agora, é saber fazer. Mas, também, saber
escutar. Quero que a minha gestão, no Ministério da Cultura, caiba em poucas
palavras: saber pensar, saber fazer, saber escutar. Mas tenho também o meu
jeito pessoal de conduzir as coisas. E tudo – todas as nossas
reflexões, todos os nossos projetos, todas as nossas intervenções –, tudo
será feito buscando, sempre, o melhor caminho. Com suavidade – e firmeza.
Com delicadeza – e ousadia.

Mas, volto a dizer, e vou insistir sempre: com a criação no centro de tudo.
A criação será o centro do sistema solar de nossas políticas culturais e do
nosso fazer cotidiano. Por uma razão muito simples: não existe arte sem
artista.

Muito obrigada.

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